Embora
não me fosse a primeira vez a entrar naquela mata, só o fato de ter
de voltar ali para procurar uma vara para pescar, causava-me
calafrios. E quando demos os primeiros passos para
adentrá-la,
seguindo a mesma trilha pela qual passamos há dois dias, não só a
lembrança daquele som vindo não sei de onde, o qual quase me fizera
morrer de medo, como também a imagem de um ser monstruoso me fizer
as pernas bambearem. E nem mesmo Luciana ao meu lado deixava-me com
menos medo, pois o medo independe de termos ou não alguém para
nos proteger.
Quando se instala em nós, a presença de outrem ou as mais
convincentes provas de que não há nada a temer pouco ou nenhum
efeito tem sobre o medroso, pois o medo é como o ciúme: preferimos
acreditar em nossa fantasia do que nos fatos. E para ser sincero,
Luciana, vendo-me reticente, com os olhos e ouvidos mais que atentos,
feito um cão caçador ou como quem espreita o inimigo, insistia de
forma um tanto jocosa, chamando-me
de fracote e bichinha, para deixar de bancar o idiota pois não havia
nada ali.
Para
não mais ser humilhado, procurei me controlar, embora só
externamente, e passei a concentrar na busca de algo para fazer a tal
vara de pescar. Sabia não ser difícil encontrar uma, pois em alguns
pontos, misturado aos grandes troncos, encontrava-se árvores ainda
muito jovens, com pouco mais de um metro de altura e
cujos
troncos tortos não me serviam. E foi tão somente há alguns metros
dali, numa pequena subida mais acentuada que avistei o que estávamos
a procurar.
--
Ali! – apontei. -- Achei!
Luciana
sem me esperar correu por entre a vegetação, como que desembestada.
Na pressa, a peça inferior do biquíni prendeu-se num galho caído
ao chão, arrebentou-se e desprendeu-se-lhe do corpo. Vi quando ela
tentou segurá-lo, mas este ficou dependurado alguns centímetros de
seu corpo.
--
Merda! -- Foi a única coisa que disse antes de apanhá-lo para ver
onde havia rompido. E após examiná-lo disse: -- Arrebentou bem
aqui. Não sei se vai ter jeito. Já está ficando podre, isso sim!
--
E agora? -- perguntei ao me aproximar.
--
Por enquanto vou ter que ficar assim. Quando chegar na cabana vejo
com as meninas se tem como dar um jeito. Se não tiver paciência –
asseverou ela com naturalidade, como se andar nua
aos olhos de todos não lhe causasse nenhum embaraço.
--
Mas você vai andar assim, pelada?
--
E qual o problema? Se tivesse de quem esconder ela, seria de você.
Mas... Bem... De você não tem mais o que esconder, né?
--
deu uma risada. -- Você já
até comeu ela, né,
safadinho?
-- Mais uma vez Luciana não perdeu a oportunidade de fazer piadas.
Parecia-me que ela sentia prazer em me deixar envergonhado. -- Além
do mais. Não dou mais três dias para o biquíni delas caírem aos
pedaços. A tua sunga é que vai durar um pouco mais. Até é melhor.
Não quero aquela franguinha da Marcela de olho nesse troço aí. --
Vermelho eu estava e mais ainda fiquei. -- O que foi? Só porque
falei nele e você já ficou todo cheio de vergonha? -- Num movimento
rápido e inesperado, agarrou-me a sunga e puxou-a para baixo. -- Não
é meu brinquedinho? Já
te avisei. E não tente me enganar. Enquanto a gente estiver nessa
ilha, e pelo jeito vamos ficar aqui por um bom tempo, ele é só meu.
Se você transar com aquela idiota, sou capaz de quebrar ela toda.
Viu bem? Nem tente! -- Ameaçou ela mais uma vez, olhando com olhos
faiscantes, como que possuída por uma raiva incontrolável.
--
Não vou tentar – menti,
após um breve silêncio.
Ah!
Como me custou proferir tais palavras, mesmo
não sendo sinceras.
Talvez o aperto no coração me fosse tanto ou maior do que no peito
daquele crente fervoroso que, para salvar seus entes queridos, renega
a própria fé. Se havia alguma dúvida quanto a impossibilidade de
tentar alguma coisa com Marcela, estas se
reduziam a cada dia.
Luciana
estava conseguindo nos separar, e eu sabia disso. Por
amá-la não poderia por a sua vida em risco. Luciana era capaz de
cumprir suas promessas, pois não havia nada a impedi-la disso.
--
Também não sei o que você viu naquela fedelha. -- Enquanto falava,
Luciana desatou a parte superior do biquíni e, inteiramente nua,
acrescentou: -- Olha os meus peitos! Não são maiores e mais bonitos
que os dela? Veja como são volumosos. -- Olhei. Não havia outra
coisa a fazer. Súbito, virou de costas e voltou a fazer comparações.
-- E minha bunda? Também não é maior? Mais bem delineada? --
Lembro-me desta palavra porque era a primeira vez que a ouvia.
Delineada.
O
que ela queria dizer com delineada?
Tive vontade de perguntar-lhe, mas a timidez não deixou. -- Agora
olha para ela
– pediu virando-se de frente. -- Duvido que ela tenha uma assim,
igual a minha. Vai ver que nem pelos tem ainda. Você não gosta
dela?, de enfiar ele nela?
Não
respondi. Apenas fitei-lhe as partes íntimas por alguns instantes e,
como quem tenta mudar o rumo da conversa a qual o desagrada, parti em
direção à fina, comprida e jovem árvore, a qual seria quebrada
rente ao chão e transportada até a cabana, onde, com o auxílio da
“faca”, apontada numa das extremidades para que pudesse fisgar
peixes. Luciana por sua vez não desistia, parecia obstinada em me
seduzir e fazer comigo o que não conseguira mais cedo. Talvez
estivesse excitada, com as chamas da volúpia a queimar-lhe as
entranhas. Embora essa possibilidade não me tenha passado pela
cabeça em nenhum momento enquanto estávamos ali, hoje não vejo
outra explicação para tanta insistência. Dizem que existem
mulheres piores que homens, cujo fogo entre as pernas é uma chama
constante, incapaz de ser apagada.
--
Só de me ver assim ele não cresce? -- perguntou.
--
As vezes – respondi. Embora muitas mulheres podem até pensar que a
nudez feminina é suficiente para excitar um homem, isso nem sempre é
verdade. Muitos homens, principalmente os mais jovens, realmente não
precisam de tanto.
Um par de seios a mostra, uma roupa sensual já é o bastante para
incitar a imaginação. No entanto, é preciso uma predisposição
para isso. Qualquer coisa capaz de impedir a fixação na fonte de
excitamento impede que as imagens sejam processadas pelo cérebro e
os mecanismos que provocam o excitamento disparados. No meu caso, o
que impedia era o medo, o medo de estar
naquela mata e súbito
deparar
com não sei o que. Por mais que tentassem me convencer de que ali
não havia nada, por mais que houvéssemos penetrado naquela floresta
dois dias atrás a procura de algo e nada encontrado, ainda sim
mantinha a convicção de haver algo horripilante a espreita, pronto
para nos arrebatar. E não seria Luciana, Marcela ou todas elas
juntas quem me excitariam naquele lugar com a sua nudez. Poderiam
insistir o quanto quisessem., todas as tentativas seriam em vão.
--
O que tenho que fazer para ele crescer?
--
Nada.
--
Como nada? Ele não cresce sozinho, que eu sei – tornou ela,
pegando-me no pequenino e encolhido falo, tão encolhido quanto um
animal amedrontado. -- Se mexer com ele assim, ele não cresce?
--
Não. Para! Num
quero – pedi, empurrando-lhe a mão.
--
Por que você não quer? Você não gosta de fazer comigo?
--
Não é isso.
--
É o que então? -- indagou ela com irritação.
--
É que estou com medo. Sei que tem alguma coisa aqui dentro dessa
floresta. Sinto que estamos sendo observados.
--
Você de novo com essa história. Ô
moleque idiota! Estou
começando a achar que você está usando isso como desculpa para não
transar comigo. É isso?
--
Não. Não é.
--
Não mesmo! -- insistiu.
--
Já falei que não.
--
Então se o problema é esse, apanha logo essa vara e vamos sair
daqui. Lá na arei você não terá do que ter medo.
Obedeci.
Enquanto tentava arrancar a arvorezinha, pois tombara-a de um lado
para outro sem sucesso, pensava numa forma de escapar quando
retornássemos à faixa de areia. Correr não daria certo. Só faria
aumentar sua raiva e mais cedo ou mais tarde me pegaria as sós e
então estaria em suas mãos. Minha única chance -- embora pequenina
-- era deparar com uma das meninas. Como aquela trilha não era muito
distante da cabana, talvez Ana Paula ou Marcela tivesse saído para
uma caminhada. E se encontrássemos com uma delas, Luciana não
poderia me culpar.
Depois
de muito insistir e com a ajuda de Luciana conseguimos arrancar a tal
vara. Quebramos os galhos ali mesmo e tomamos a trilha de volta.
No
caminho, ainda lhe perguntei:
--
Não vai cobrir os peitos?
--
Não. Para que?, se embaixo não tem nada tampando? Fica até
esquisito. Agora vou ficar é assim feito Eva. Não era assim, meu
Adão, no paraíso? Não é isso que está escrito naquela história
idiota da bíblia?