terça-feira, 16 de setembro de 2014

ADEUS À INOCÊNCIA - CAP. 47

    Embora os fatos narrados aqui façam parte de um passado distante, o que de certa forma acaba comprometendo a veracidade de uma coisa ou outra, uma vez que a memória humana tem o dom do esquecimento e sem o qual a vida se tornaria insuportável (pelo menos assim penso), muita coisa – principalmente alguns fatos marcantes – ficou gravada tão profundamente que o tempo não foi capaz de apagá-las. Aliás, para um garoto feito eu, passando por uma experiência daquelas, cuja maioria delas me provocaram sensações que até então não havia experimentado, não poderia deixar de mantê-las vivas na memória ao longo de todos esses anos.
    Se por um lado a imagem de tio Jamil tenha me desaparecido quase que completamente da lembrança, feito uma fotografia que vai se apagando com o tempo, por outro aquele abraço e os atos que desencadeou mantêm-se tão vivos como se tudo ocorresse no exato instante em que escrevo estas palavras. Obviamente ela não está aqui para dividi-los, pois como o amigo leitor saberá no futuro, a ilha acabou sendo sua última e eterna morada. De forma que só me resta confiar na lembrança para contar o que se passou.
    Por um momento cheguei a temer que ela não aceitasse o meu pedido. No entanto, quando estendeu seus braços, abracei-a fortemente. E o contato de seu corpo no meu provocou-me sensações indizíveis, as quais me deixaram profundamente confuso. Algo parecido já havia me ocorrido, mas não naquela intensidade. Aliás, não desejava mais do que aquele abraço. Só de tê-la nos meus braços me deixava satisfeito, porque eu sabia que estava apenas dando mais um passo para tê-la em definitivo, mais até do que o que dera dias atrás.
    Não posso afirmar de forma convicta, mas acredito porém que meu estado de afetação acabou por envolvê-la. De repente nossos rostos se afastaram e os olharem se cruzaram sem saber o que de fato procuravam. Talvez tenham sido aqueles olhos fixos nos meus, e que pareciam tentar adivinhar  quais eram as minhas verdadeiras intenções, que me hipnotizaram, que me fizeram refém dos instintos, os quais, numa batalha intensa, empurraram-me os lábios na direção dos dela.
    Se Marcela não estivesse inebriada, talvez teria feito como fizera antes e em pedido para apanharmos o galho e voltarmos para junto de Ana Paula. Porém não foi isso que ela fez. Pelo contrário: deixou que seus lábios buscassem os meus. E numa intensidade de sensações, nós nos entregamos ao mais delicioso beijo que já experimentei. Um beijo longo e apaixonado, muito diferente daqueles que trocara e que viria a trocar no futuro com Luciana. E até mais intenso que da primeira vez em que a beijei, talvez porque agora não havia toda aquela tensão que quase sempre impede que aproveitamos as sensações de uma primeira vez. As mais diversas reações ocorreu-nos. Digo “ocorreu-nos” porque Marcela, pela primeira vez, entregou-se completamente àquele beijo, envolvendo-me e apertando-me contra si, como se quisesse dissolver-se em mim ou que eu me dissolvesse em si para formarmos um corpo só.
    Numa reação natural e impensada, provavelmente fruto de algum instinto que acabara de dominar os demais, escorreguei-lhe uma das mãos pelos quadris e esta foi subindo até encontrar-lhe o seio. Apalpei-o. Porém sem o temor que me invadira no outro dia. Mas isso não provocou o fim do beijo. Nossos lábios mantiveram-se colados embora o toque no seio dela me fizesse ter consciência de acariciá-lo, o que fez com que minhas sensações fossem divididas em duas experiências simultâneas. Como uma sensação só pode ser experimentada com toda a intensidade quando todas as demais são anuladas, a reação a uma nova acaba inevitavelmente anulando ou reduzindo consideravelmente os efeitos da primeira. E apesar do beijo ter-me causado um prazer incapaz de ser medido pouco antes, a carícia no seio acabou não só me fazendo ter consciência de que a beijava como a acariciava, permitindo-me escolher entre um e outro para o qual desviar minha atenção. E então pude pensar, coisa que não fizera desde o momento em que senti seu beijo, e concluir o melhor a fazer para que ela não me fizesse parar. O beijo prosseguiu embora eu desejasse findá-lo e então chupar-lhe o mamilo, o qual me daria muito mais prazer.
    Há uma corrente de pensadores que afirma que o ato mais racional não passa de fruto dos instintos, os quais numa luta constante, acaba por refletir em todos os nossos atos. Não sei até que ponto isso é verdadeiro, pois aquele período na ilha ensinou-me muito sobre o homem e a vida, talvez mais do que todos os livros. E ali eu aprendi que todas as tentativas de explicar a vida não passam de desperdício de tempo, pois há coisas que não podem ser explicadas da forma que ainda se faz hoje em dia. A vida é uma sequência de acasos, os quais são apenas um instante na eternidade. Não tem objetivo algum diferentemente do que nos ensinam as religiões. Não se vem e não se vai para lugar algum. E embora nos consideramos superiores a todos os demais seres vivos – inventamos inclusive uma alma para melhor suportarmos o fato de que iremos morrer – somos bem mais macaco do que admitimos. Portanto, o predomínio dos instintos me leva a crer que o pensamento só ocorre quando um instinto o estimula. Sendo assim, tenho de admitir que o pensamento de tocá-la no meio das pernas não surgiu por acaso. Possivelmente a excitação sexual tenha me feito pensar em praticar tal ato afim de obter o prazer, pois o prazer é o que todo instinto busca. Mas havia outro porém: o que a cobria ali, não era a tanga, mas a parte de cima que ela improvisara e a qual mal ocultava o sexo; parte dos negros pelos pubianos ficavam a mostra. E então, num ato quase involuntário, minha mão soltou-lhe o seio e escorregou-lhe até o meio das pernas, indo parar por baixo do folgado biquíni.
    Foi um ato rápido. Coisa de segundos. E então toquei-a naquela parte do corpo que ela fazia o possível para manter-se escondida. Não tive a menor dificuldade em introduzir a mão por baixo do pano, depois de certa relutância não só pelo temor de que ela se ofendesse como também por ter consciência de estar fazendo algo errado e -- como acreditava na época – cometendo um grave pecado.
    Minha mão fê-la interromper o beijo. Por um instante cheguei a pensar que fosse se zangar e mandar-me tirar a mão imediatamente. No entanto, sem me fitar, talvez por timidez, tombou a cabeça sobre meu ombro e deixou que eu continuasse embora, com a mão trêmula, eu não soubesse exatamente como proceder. Ocorreu-me somente de tentar introduzir o dedo entre os grandes lábios, o que não consegui devido a tira que prendia e mantinha unida os dois pedaços de pano que anteriormente cobriam-lhe os seios. Nervoso e afoito como um garoto inexperiente que ao ser levado a um prostíbulo para a sua primeira vez tenta ocultar esse fato da prostituta procurando penetrá-la o mais rápido possível mas sem sucesso.
    E talvez eu até tivesse conseguido se não chegasse aos nossos ouvidos os gritos de Ana Paula para nos apressarmos que não ia ficar trepada na goiabeira o dia inteiro a nossa espera. Marcela levantou a cabeça e então me encarando disse:
    – Chega! Vamos voltar.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

A PAZ MUNDIAL SÓ SERÁ POSSÍVEL...

Acreditar na paz entre todas as nações do mundo, de forma que os povos vivam em harmonia é uma utopia sem tamanho. No entanto, quem em algum momento não sonha ou já sonhou com isso? E cada um de nós, a esperança de que as nações deixem as diferenças de lado, tem lá sua receita para acabar as guerras e a matança injustificada. A minha receita seria mais ou menos assim:


A paz mundial só será possível quando
As religiões desaparecerem
E o ódio religioso não ter mais razão de ser;
Quando o homem se importar mais
Com a realidade que lhe cerca
Do que com o que lhe acontecerá
Depois da morte.

A paz mundial só será possível quando
A cor da pele não fazer a menor diferença
E o ódio racial não ter mais razão de existir;
Quando o homem se importar mais
Com o futuro da humanidade
Do que com seus desejos mesquinhos
De explorar o seu semelhante.

Mas a paz mundial só será mesmo possível
Quando não houverem mais nações
Pelas quais se guerrear;
Quando não houver mais discriminações
E nem razões para ofensas e humilhações
E compreender de uma vez por todas
Que no fundo somos todos iguais...