terça-feira, 3 de julho de 2012

ADEUS À INOCÊNCIA - CAP. 27

Encontrei-a uns dois quilômetros depois. Agachada sobre a areia, de frente para o mar, estava fazendo xixi. Parecia distante, compenetrada, pois não me viu se aproximar.
Parei para observá-la, para ver como as mulheres faziam suas necessidades. Apenas reparei em suas costas e depois em suas nádegas brancas. Estava um pouco longe. Queria aproximar, ver com mais detalhes por que todas as mulheres se agacham para fazer o que nós homens o fazemos de pé. “Por que elas não fazem como a gente?”, fiz-me essa pergunta ao se aproximar. “Será porque elas não têm pinto como a gente? É, deve ser. E se fizer de pé, vai escorrer pelas pernas”, conclui. Aliás, aquela imagem remeteu-me à outra mais antiga, quando vi uma garotinha fazendo xixi na calçada. Ela deveria ter uns quatro anos e estava inteiramente nua. Ao vê-la fazer xixi daquele jeito, fiquei deveras impressionado. Não pela sua nudez, pois a minha inocência passava ao largo de qualquer obscenidade, contudo, o fato de estar agachada foi o que me impressionou. Durante o jantar por pouco não indaguei minha mãe, mas faltou-me coragem. E essa dúvida acabou caindo no esquecimento, vindo à tona ao observar Luciana, embora a inocência não fosse mais a mesma.
Ela se levantou, despiu-se completamente e foi caminhando em direção ao mar, carregando sua única peça de roupa na mão direita. Fiquei olhando-a dar suas passadas lentas, despreocupadas, como se a vida fosse infinita. Eu olhava para suas nádegas, nos movimentos que faziam a cada passada de suas pernas e ficava admirado com a delicadeza daqueles passos. Dir-se-ia andar numa passarela. Até quando estão andando naturalmente algumas mulheres parecem desfilar. E Luciana fazia isso tal qual uma modelo. Ela ia se afastando, se aproximando do mar e eu continuava olhando, afetado, com o corpo incendiando, com os pensamentos revoltos, tomados por lembranças, lembranças de nós dois deitados na areia. E essas lembranças tinham o poder de criar novas imagens, dando asas a minha imaginação.
Ela entrou lentamente na água e, quando esta lhe atingiu os quadris, deu um salto para frente e mergulhou. Pensei em me esconder atrás de uma enorme palmeira e ficar olhando-a indefinidamente, vendo o nadar de seu corpo esguio, o bater de seus braços e suas pernas, o envergar de seu dorso ao saltar uma onda ou dar um mergulho e emergir em seguida; mas meu corpo, como se puxado por um cabo invisível, sentia-se arrastado, atraído em sua direção.
Dei alguns passos e disse-lhe um “oi!” para não assustá-la quando estivesse mais perto. Ela virou e minha direção e, talvez surpresa, perguntou:
-- O que você está fazendo aqui?
-- Cheguei na cabana e não te vi. Perguntei as meninas e eles disseram que você tinha vindo por essas bandas. Então resolvi vir atrás – falei. Entrara na água e agora me aproximava.
-- Resolvi andar um pouco – Foi o que ela disse. – E aí? Desistiu de pescar?
-- Não. Peguei um peixe enorme. – Cheguei onde ela estava e vi em sua mão a parte inferior do biquíni.
-- Hum... Que bom! Então hoje vamos comer algo decente – afirmou, fitando-me e sorrindo em seguida, um sorriso que parecia ter algo mais.
-- Acho que vamos ter peixe para o almoço – brinquei, retribuindo-lhe o sorriso. No entanto, olhava com insistência para a parte inferior de seu corpo, embora esta estivesse submersa e pouco visível; aliás, o movimento da água distorcia quase que totalmente os contornos de seu corpo do umbigo para baixo. Sentia meu coração palpitar, o peito arfar e o rosto quente, mas não conseguia parar de olhar.
-- O que foi? – perguntou ela. -- Parece inquieto?
-- Nada – desconversei ainda mais rubro.
Se aquele episódio tivesse acontecido com uma das outras meninas, a coisa teria terminado por ali. Provavelmente eu teria virado para o lado e aguardado até ela se vestir. Todavia, era Luciana quem estava bem ali na minha frente, com um olhar diferente, com os lábios ocultando alguma intenção, alguma travessura, reflexo de sua curiosidade destemida, consciente de que o mundo é dividido entre aqueles que dominam e aqueles que são dominados, usados por uma pequena minoria como objetos, como meio de atingir seus objetivos. Talvez ela não fizesse a menor ideia do porquê que alguns sentem prazer em dominar, em usar os mais fracos para sua própria satisfação; mas ela sabia que entre nós dois, era ela quem ditava as regras e quem comandava o jogo. Se eu lhe tinha algum poder sobre si era porque ela permitia, porque ela precisava desse poder para se proteger, para sobreviver.
-- Nada! Sei.. – E, não demonstrando constrangimento, deu dois passos, parou bem próxima de mim, afundou a mão n’água e agarrou-me os genitais por cima da sunga. – To vendo – acrescentou imediatamente. – Então por que ele está assim?
-- Assim como? -- Foi uma reação espontânea. Dir-se-ia inclusive uma atitude insensata, palavras que só um idiota seria capaz de proferir.
-- Não se faça de bobo! Você sabe muito bem!
-- Ah... sei lá! -- Foi o que consegui responder, dando um passo para trás.
Pensei em virar e sair correndo, afastar-me, ir para um lugar onde pudesse ficar sozinho e usar o que eu sabia para tirar-me daquele estado, e fazer com que aqueles pensamentos que atormentavam minha alma findassem. Todavia, uma parte de mim, aquela parte onde habita um diabinho vermelho de rabo em forma de flecha e orelhas e chifres grandes, sussurrava insistentemente para ficar e explorar aquele vasta e desconhecida ilha chamada mulher, uma ilha repleta de segredos, de mistérios. E por que não de perigos também? Então eu fiquei, pois a voz que me cochichava do outro lado para não ficar, para sair dali soava fraca, quase inaudível.
-- Pensa que me engana, é? Você está assim porque sabe que eu estou pelada – disse ela com naturalidade. Em seguida tornou a se aproximar e sem dizer palavra arrancou-me o falo para fora. -- Nossa! Como está duro! -- exclamou.
Eu não disse palavra; apenas fitei-a e esperei, como se num jogo aguardasse que o adversário terminasse sua jogada. De novo pensei em fugir, em escapar de seu poder, de suas brincadeiras sem graça. Mas alguma coisa me prendia a ela e me impedia de escapar. Aliás, se eu pudesse prever o futuro, jamais teria de me aproximado dele naquele momento.
-- Vem cá. Me abraça e me beija – pediu. Todavia, não esperou; jogou-me os braços em volta do pescoço e puxou-me para junto de si, cerrou os olhos e ofereceu seus lábios. E sem ter como recusar, aceitei-os.
Foi um beijo estranho, apesar do desejo. Meu coração palpitava, minhas mãos tremiam, meus pensamentos tombavam e davam cambalhotas, como se arrastados por uma onda gigantesca. Talvez eu até quisesse, mas naquele instante não conseguia aproveitar o momento. É possível que naquele momento supusesse aonde ela estava querendo chegar, apesar da minha inocência. Eu ainda era um garoto e não estava preparado para ir tão longe. Achava que fazer essas coisas era cometer pecado, era provocar a ira de Deus; pois a ideia que tinha de Deus não diferia muito da ideia acerca de meus pais. E se meus pais se aborreceriam quando soubessem que andei fazendo aquelas coisas, então Deus também se aborreceria. Por isso fiquei confuso, e mais confuso ainda ao sentir uma de suas mãos segurar-me o pênis ereto, empurrá-lo para baixo e introduzi-lo no meio de suas pernas, em tom de brincadeira.
Não sei explicar o que se passou, embora acredito que não tenha acontecido nada. Lembro-me tão somente de sentir-lhe as mãos seguraram-me os quadris e empurrá-los e depois tornar a puxá-los dezenas de vezes. Nesse ínterim, depois de conseguir me livrar do pensamento de que Deus me castigaria por aquilo, aproximei-lhe os lábios dos seios e sorvi-lhe os mamilos, ora um ora o outro.
E quando finalmente tomara gosto, esquecera o desejo de escapar, esquecera Deus e sentia prazer naquilo – aliás, um prazer crescente, um prazer que aos poucos me fazia esquecer não só Deus como tudo a minha volta, como se o mundo de repente transformara-se apenas num mundo de sensações e prazer –, Luciana soltou-me os quadris e disse para sairmos da água e ir para a areia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário