Quando
se é um leitor voraz como eu fui na juventude, embora ainda leio
bastante hoje em dia, inevitavelmente passou-lhe
pelas
mãos as mais variadas obras, inclusive obras de valor literário
duvidoso.
Comigo não foi diferente. Nos primeiros anos da juventude, quando
adquiri o gosto pela leitura, li os mais variados autores sem se
preocupar com a qualidade da obra. Aliás, a leitura não passava de
um prazer, ainda para um menino tímido que não gostava de baladas e
preferia mil vezes ficar em casa na companhia de um livro. E
diferentemente do que ocorre hoje em dia, naquele tempo, nos
primeiros anos da abertura política promovida pelo então presidente
João Batista Figueiredo, as bancas de jornais lançavam coleções a
preços baixos. Embora não fosse um garoto de posses, gastava todo o
dinheiro que tinha na compra dessas coleções. Lembro-me de várias
delas,
como “Obras Primas”, “Grandes Sucessos”, “Grandes
Romacistas”, “Best Sellers” e “Os Pensadores” da Editora
Abril; “Super Sellers” da Editora Record; e “Best Quality”
da Rio Gráfica entre outras que me fugiram à memória. Cada uma
dessas coleções tinham em média 50 livros. Obviamente, não li
todos esses livros, mas as páginas de uma grande maioria passaram
pelos meus olhos. Além dessas coleções, sempre que podia, ainda ia
a uma livraria – como faço ainda hoje – e comprava uma
obra de algum autor que me agradara
bastante. Naquela época eu tinha
preferência por alguns autores, como Sidiney
Sheldon, J. M. Simmel, Robbin Cook, Agatha Crhistie, Harold Robbins,
Morris West, e mais uns três ou quatro que não me lembro agora.
Dessa lista, sem dúvida J. M. Simmel era de longe o meu preferido.
Tanto é verdade que consegui, ao longo de 10 anos, comprar e ler
todas as obras dele. Alguns como “Ainda Estamos Vivos”(1985),
“Não matem as Flores”(1983),
“Viver é Amar”(1980) e
“Ainda Resta uma Esperança”(1950)
acabei lendo-os
duas vezes em período distintos. E embora alguns eu tenha lido há
mais de duas décadas, ainda me recordo perfeitamente da história.
Dentre todas as obras de J. M. Simmel, a que mais me marcou foi
“Viver é Amar”, a qual
envolve espionagem, assassinato, roubo
de identidade e uma descoberta científica que leva o personagem
principal, Adrian Lindhout, a ganhar o prêmio Nobel de medicina
enquanto
ele trava uma luta desesperada contra os efeitos perniciosos da
droga. “Ao mesmo tempo, surge um painel da reconstrução do
Ocidente após a Segunda Guerra Mundial, os novos conflitos e uma
visão lúcida das doutrinas políticas”*. Como na maioria dos seus
romances, J. M. Simmel dosa emoção e suspense enquanto
nos dá uma mensagem otimista,
impregnada porém de realismo e
com uma preocupação
humanística, provando muitas vezes emoção no leitor. E,
indiferentemente das qualidades literárias de
algumas de suas obras, ele não
foi só o meu autor preferido daqueles anos – ainda hoje tenho um
carinho especial por suas obras --, como foi sem dúvida um dos
autores que me influenciaram e me incentivaram
a me tornar um escritor. Aliás,
o meu gosto pela literatura e filosofia alemã se deve muito a ele,
embora fosse austríaco.
Falo de J. M. Simmel, porque ele
faleceu em janeiro de 2009 praticamente esquecido apesar
de ter
vendido mais de 73 milhões de livros e sua obra traduzida para mais
de 30 idiomas. Johannes
Mario.
Simmel, ou J. M. Simmel como
ficou mundialmente conhecido,
nasceu em Viena, no dia 7 de abril de 1924 e publicou a primeira obra
“Encontro no Nevoeiro” em 1947, mas só focou famoso ao publicar
“Nem só de Caviar vive o Homem” em 1960, livro que vendeu mais
de 30 milhões de cópias em todo o mundo. Dentre suas obras mais
conhecidas podemos destacar, além das já citadas acima, “Amanhã
é outro dia”(1978), “Amor é só uma palavra”(1963), “Deus
protege os que amam”(1957), “E Jimmy foi ao Arco Íris”(1970),
“É proibido Chorar”(1971), “Matéria dos Sonhos”(1971),
“Mesmo sorrindo, preciso chorar”(1994), “Na primavera, o último
canto da cotovia”(1990), “Ninguém é uma ilha”(1975), “Ocultos
na escuridão”(1986), “Pátria
Amada”(1965), “Só o vento sabe a resposta”(1973) entre outros.
Talvez o amigo leitor nunca tenha
ouvido falar desse autor, mas apesar de hoje ser um leitor bem mais
exigente e preferir na mais das vezes os clássicos, ainda sim
recomendaria a maioria das obras de J. M. Simmel que, para mim, foi
muito importante na minha formação e me proporcionou momentos
inesquecíveis ao navegar pelas páginas de suas obras.
Nota
*
Viver é Amar, pag. 614, Círculo do Livro, 1985