domingo, 21 de julho de 2013

J. M. SIMMEL E A MINHA OPÇÃO PELA LITERATURA



Quando se é um leitor voraz como eu fui na juventude, embora ainda leio bastante hoje em dia, inevitavelmente passou-lhe pelas mãos as mais variadas obras, inclusive obras de valor literário duvidoso. Comigo não foi diferente. Nos primeiros anos da juventude, quando adquiri o gosto pela leitura, li os mais variados autores sem se preocupar com a qualidade da obra. Aliás, a leitura não passava de um prazer, ainda para um menino tímido que não gostava de baladas e preferia mil vezes ficar em casa na companhia de um livro. E diferentemente do que ocorre hoje em dia, naquele tempo, nos primeiros anos da abertura política promovida pelo então presidente João Batista Figueiredo, as bancas de jornais lançavam coleções a preços baixos. Embora não fosse um garoto de posses, gastava todo o dinheiro que tinha na compra dessas coleções. Lembro-me de várias delas, como “Obras Primas”, “Grandes Sucessos”, “Grandes Romacistas”, “Best Sellers” e “Os Pensadores” da Editora Abril; “Super Sellers” da Editora Record; e “Best Quality” da Rio Gráfica entre outras que me fugiram à memória. Cada uma dessas coleções tinham em média 50 livros. Obviamente, não li todos esses livros, mas as páginas de uma grande maioria passaram pelos meus olhos. Além dessas coleções, sempre que podia, ainda ia a uma livraria – como faço ainda hoje – e comprava uma obra de algum autor que me agradara bastante. Naquela época eu tinha preferência por alguns autores, como Sidiney Sheldon, J. M. Simmel, Robbin Cook, Agatha Crhistie, Harold Robbins, Morris West, e mais uns três ou quatro que não me lembro agora. Dessa lista, sem dúvida J. M. Simmel era de longe o meu preferido. Tanto é verdade que consegui, ao longo de 10 anos, comprar e ler todas as obras dele. Alguns como “Ainda Estamos Vivos”(1985), “Não matem as Flores”(1983), “Viver é Amar”(1980) e “Ainda Resta uma Esperança”(1950) acabei lendo-os duas vezes em período distintos. E embora alguns eu tenha lido há mais de duas décadas, ainda me recordo perfeitamente da história. Dentre todas as obras de J. M. Simmel, a que mais me marcou foi “Viver é Amar”, a qual envolve espionagem, assassinato, roubo de identidade e uma descoberta científica que leva o personagem principal, Adrian Lindhout, a ganhar o prêmio Nobel de medicina enquanto ele trava uma luta desesperada contra os efeitos perniciosos da droga. “Ao mesmo tempo, surge um painel da reconstrução do Ocidente após a Segunda Guerra Mundial, os novos conflitos e uma visão lúcida das doutrinas políticas”*. Como na maioria dos seus romances, J. M. Simmel dosa emoção e suspense enquanto nos dá uma mensagem otimista, impregnada porém de realismo e com uma preocupação humanística, provando muitas vezes emoção no leitor. E, indiferentemente das qualidades literárias de algumas de suas obras, ele não foi só o meu autor preferido daqueles anos – ainda hoje tenho um carinho especial por suas obras --, como foi sem dúvida um dos autores que me influenciaram e me incentivaram a me tornar um escritor. Aliás, o meu gosto pela literatura e filosofia alemã se deve muito a ele, embora fosse austríaco. Falo de J. M. Simmel, porque ele faleceu em janeiro de 2009 praticamente esquecido apesar de ter vendido mais de 73 milhões de livros e sua obra traduzida para mais de 30 idiomas. Johannes Mario. Simmel, ou J. M. Simmel como ficou mundialmente conhecido, nasceu em Viena, no dia 7 de abril de 1924 e publicou a primeira obra “Encontro no Nevoeiro” em 1947, mas só focou famoso ao publicar “Nem só de Caviar vive o Homem” em 1960, livro que vendeu mais de 30 milhões de cópias em todo o mundo. Dentre suas obras mais conhecidas podemos destacar, além das já citadas acima, “Amanhã é outro dia”(1978), “Amor é só uma palavra”(1963), “Deus protege os que amam”(1957), “E Jimmy foi ao Arco Íris”(1970), “É proibido Chorar”(1971), “Matéria dos Sonhos”(1971), “Mesmo sorrindo, preciso chorar”(1994), “Na primavera, o último canto da cotovia”(1990), “Ninguém é uma ilha”(1975), “Ocultos na escuridão”(1986), “Pátria Amada”(1965), “Só o vento sabe a resposta”(1973) entre outros. Talvez o amigo leitor nunca tenha ouvido falar desse autor, mas apesar de hoje ser um leitor bem mais exigente e preferir na mais das vezes os clássicos, ainda sim recomendaria a maioria das obras de J. M. Simmel que, para mim, foi muito importante na minha formação e me proporcionou momentos inesquecíveis ao navegar pelas páginas de suas obras.

Nota
* Viver é Amar, pag. 614, Círculo do Livro, 1985

terça-feira, 9 de julho de 2013

NEM COM A MÃO DO DESTINO

Quando amiúde o destino
Colocou-nos cara a cara
Sorri-lhe como um menino
Ao ganhar um pacote de balas

Debalde tento esconder a emoção
E o deleite de tê-la tão perto
Pois frente às tempestades da paixão
Meus atos são como um mar incerto

Daqueles lábios divinos,
Cujo beijar é a minha tara,
Escapa um sorriso pequenino
Que me traz o rubor à cara

Mas ela afasta, sem aparente razão,
Pondo-me a alegria num deserto
Onde a alma sem explicação
Fraqueja, quando tudo dava tão certo.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

VÃO NOS ILUDIR MAIS UMA VEZ?

É difícil prever quais serão de fato os resultados práticos dos últimos protestos na maioria das cidades brasileiras com as mais variadas reivindicações. Quando o tema se resumia ao aumento dos transportes públicos e na melhora desses serviços, houve algum resultado de imediato. Boa parte dos municípios acabaram ou cancelando o aumento ou promovendo algum tipo de redução na tarifa. Todavia, quanto à melhoria dos transportes públicos, isso só será possível avaliar em médio e longo prazo. Por outro lado, não se deve esperar uma melhoria significativa nesses serviços, uma vez que, além dos custos, há uma série de medidas que devem ser tomadas tanto pelas empresas quanto pelo setor público, as quais vão esbarar tanto na má vontade dos empresários quanto dos órgãos públicos para aumentar os gastos. E mesmo que alguma melhora venha a ocorrer, ainda sim está ficará muito aquém dos anseios daqueles que saíram às ruas para reclamar. Agora quanto às demais reivindicações, onde muitas delas dependem tanto dos governos estaduais e federais, e principalmente da Câmara dos Deputados e do Senado, estas serão ainda menos atendidas. Num primeiro momento, a fim de calar as ruas e diminuir os protestos, aquelas reivindicações que não afetam diretamente o bolso e o direito dos parlamentares serão atendidas. Foi o que aconteceu com a PEC 39, os royalties do petróleo para a saúde e educação e o projeto da “cura gay” por exemplo. No caso da “cura gay” e da PEC 39, a população exigia a rejeição das mesmas, o que de fato aconteceu. Por outro lado, os manifestantes e a própria presidenta Dilma queriam 100% dos royalties para a educação e o Congresso acabou aprovando apenas 75%, dando os outros 25% para a saúde, e assim contrariando em parte o clamor das ruas. Isso tudo não passa de uma forma de iludir a população a fim de desviar a atenção do problema mais grave, que é na verdade a questão política e a de representatividade. O abismo que há entre o parlamentar e o povo foi de certa forma um dos combustíveis das manifestações. Dir-se-ia que os nossos representantes vivem num mundo à parte como se não houvesse ligação entre a realidade deles e a de seus eleitores. E isso só pode ser corrigido numa ampla reforma política e eleitoral, onde o eleitor possa dispor de melhores mecanismos para cobrar dos eleitos as promessas de campanhas. E ao que tudo indica é justamente isso que os nossos deputados e senadores não querem de forma alguma. Vão fazer muito discurso, criar uma infinidade de obstáculos e no fim das contas, apresentar uma mudança ou outra sem importância apenas para deixar as coisas continuarem com sempre foram. Talvez, num futuro próximo, o povo tenha de voltar ás ruas. Para o bem do país, esperamos que não.