quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

ANSEIOS E DEVANEIOS


A tua sensualidade me enlouquece
E me leva ao desespero toda vez
Que meus olhos devoram teus traços
E, tomado pelo desejo, anseio teus braços

Fitar-te ou pensar em ti me aquece
O sangue e me faz arder sob a tez
Então, desejo-te nua em meu regaço
E louco de desejo não sei o que faço

Assim, na solidão de meus devaneios
Eu procuro uma compensação
E arrefeço a chama incipiente
Que me queima intensamente

Tento inutilmente combater tais anseios
Sem deixar que tudo acabe em devaneios
Mas a realidade é perigosa e inconstante
E também, às vezes, tão irreal e distante

domingo, 22 de dezembro de 2013

UM LONGO CAMINHO A SE PERCORRER


Embora tenham sido os homens -- esses seres falhos e demasiado humanos -- os autores de nossas leis, são também eles que se apegam à lógica, ao rigor e a imparcialidade das mesmas, deixando de lado o bom senso -- o que nos é de mais humano --, como se a frieza e a verdade de um artigo fosse mais relevante. Ah, quantas injustiças são cometidas quando se esquece o humano e suas fraquezas! E o triste em tudo isso é que nem sempre a lei pune o infrator como se acredita, mas tão somente satisfaz àqueles que exigem a qualquer preço a justiça (a reparação do dano causado). Se todos aqueles envolvidos em condenar um réu (juízes, advogados, membros do juri e o próprio sistema prisional) entendessem um pouco mais de psicologia, as penas seriam mais eficientes e a própria criminalidade seria consideravelmente reduzida. Mas para isso é preciso uma completa reforma no sistema judiciário -- inclusive nas leis – e ainda não estamos preparados para isso. Ainda há um longo caminho a se percorrer.

sábado, 21 de dezembro de 2013

O SORRISO DE UMA BELA MANHÃ


A aurora que te faz despertar
Com o sorriso de uma bela manhã
É a força que te permite levar
Essa alegria ao longo do dia
Por todos os cantos que você passa

Mas quando a noite chega
E o cansaço invade-te a alma
Tua alegria já não tem mais
A mesma força e beleza
Então o sono vem te socorrer

Mas no noutro dia a aurora
Te desperta novamente
E tua alegria contagiante
Recomeça tão renovada
Para mais uma longa jornada...

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

A OPÇÃO PELOS CAÇAS SUECOS


Depois de 15 anos de idas e vindas, finalmente saiu a decisão quanto à fornecedora de 36 caças para a Força Aérea Brasileira. A decisão foi pelos aviões suecos, o que causou grande surpresa, uma vez que o ex-presidente Lula quase chegou a anunciar que os franceses seriam os vencedores. O próprio presidente francês veio pessoalmente ao Brasil para tentar fechar o negócio, mas no fim o governo brasileiro acabou optando pelos supersônicos Gripen NG, numa transação bilionária. O que pesou de fato não foi a capacidade dos aviões, uma vez que os concorrentes franceses e norte americanos eram melhores, mas o custo tanto das aeronaves quanto a manutenção das mesmas e principalmente a transferência de tecnologia, algo que os fabricantes franceses ofereciam menos e a Boeing, fabricante dos aviões norte americanos, descartou. Embora o Brasil não pretenda ser um grande exportar desse tipo de aeronave, o fato de ter a tecnologia para fabricá-los aqui torna o país menos dependente do mercado externo. Se por um lado não foi possível adquirir os melhores aviões pelo menos terá condições de fabricá-los aqui. Foi uma decisão difícil, técnica e não política como costuma acontecer, mas sem dúvida foi a decisão mais acertada.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

DEVO SER ALGUÉM MUITO ESPECIAL


Eu nem acredito em destino ou coisa assim
E o acaso me parece bem mais racional
Mas quando penso na minha sorte,
Na quase infinita possibilidade de estar
No mesmo lugar e naquele exato momento
Para que nossos olhos pudessem se cruzar
E fazer o nosso amor despertar,
Tenho certeza de que houve mais que um simples acaso


Eu sou uma pessoa privilegiada nesse mundo
Por ter você, meu amor
Devo ser alguém muito especial
Para merecer você, meu amor

Quando eu penso no tamanho do universo
E na infinita extensão do tempo
Tudo me parece tão absurdo e inacreditável
E no entanto você está aqui
No mesmo espaço e tempo que eu,
Experimentando as mesmas dores a alegrias
Que ninguém, além de nós, pode experimentar

Oh, sim... Eu sou uma pessoa privilegiada
Por ter você, meu amor.
Devo um ser iluminado
Para merecer alguém assim tão especial

Quando eu penso que apesar de o destino
Ter nos posto um diante do outro
Ainda sim poderíamos ser dois estranhos
Se o encontrar de nossos olhares
Não tivesse produzido em nós
Um prazer e um sentimento inexplicável,
Um sentimento chamado amor...

Oh, sim... Eu sou uma pessoa privilegiada
Por ter você, meu amor.
Devo um ser iluminado
Para merecer alguém assim tão especial

domingo, 1 de dezembro de 2013

A SAUDADE É TUDO ISSO





















A saudade não é minha inimiga
E também não me faz sofrer;
É na verdade minha amiga;
Pois me faz pensar em você
Que está ai tão distante.

A saudade não me deixa esquecer
Nenhum traço de teu sorriso;
Ela me faz a todo instante ver
Que você é quem eu mais preciso
Quando a solidão vem de repente.

A saudade é quem mantém acesa
A chama desse nosso amor;
É quem nos faz ver na tristeza
E na ausência e na dor
Como se pode viver plenamente.

A saudade é o elo de nosso amor
E a força a me arrancar esses versos;
É o querer-te tanto, meu amor,
Mais do que as estrelas do universo;
É porém o te esperar incansavelmente.

sábado, 30 de novembro de 2013

EU NÃO TRATO AS PALAVRAS COM OBJETO...

"Eu não trato palavras como objetos, pra mim elas sãos mais do que simples palavras, elas carregam significado. E o significado de uma palavra é significante com a própria palavra"

Embora tenha gente usando essa citação como sua, na realidade é trecho de uma carta de amor (“Carta de uma Alma em Prantos”) de minha autoria. É lamentável que algumas pessoas, por falta de talento e criatividade, tenham de cometer esse tipo de crime. 

sábado, 9 de novembro de 2013

VOCÊ, MINHA ÚNICA CERTEZA


Eu posso não ter a certeza de nada
Mas sei que o que sinto por você
É algo que a compreensão não afaga
Eu apenas te quero, sem um porquê

Eu me surpreendo pensando em ti
Em todos os momentos do dia
E a tua presença causa em mim
Uma inexplicável e desmedida alegria

Eu te desejo sem saber o motivo
Num prazer gostoso e ardente
E assim, nessa vontade eu vivo
Querendo-te inconsequentemente

Por que buscar as respostas
Para este querer sem explicação
Se em meus braços tu me confortas
E as incertezas desaparecem então?

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

LINUX: TÁ NA HORA DE COMEÇAR A PENSAR NELE


Para a grade a maioria dos usuários de computador, o Linux é algo estranho, inacessível e só usado por nerds, ou seja: por quem entende realmente de computadores. De fato, isso era verdadeiro quando o Linux nasceu em 1997. E por alguns anos foi acumulando essa fama de sistema complicado e difícil, fama essa que perdura até hoje. Mas isso faz parte do passado e há pelo menos 7 ou 8 anos que essa fama não tem mais razão de ser. Mesmo com a grande pressão da Microsoft sobre os fabricantes de computadores e o boicote da maioria deles em colaborar para que o Linux fosse compatível com os mais variadas partes de seus computadores, o Linux, graças principalmente a grande comunidade de usuários e entusiastas ao redor do mundo, tornou-se um sistema fácil de usar e de ser instalado no computador. De forma que o mais leigo dos usuários é capaz de instalá-lo de forma fácil, bem mais fácil que o próprio Windows. Aliás, durante muitos anos o Linux seguiu os passos do Windows, procurando imitá-lo naquilo que ele tinha de melhor como a interface gráfica por exemplo, mas hoje, por ironia do destino, a coisa mudou de figura e é o Windows quem vem imitando o Linux naquilo que ele tem de melhor, como ocorreu no visual do Windows 7 – embora para muitos trata-se tão somente de uma coincidência – e criação de uma Central de Programas, que já existe no Linux há mais de uma década. Nossa! Como é estranho para um usuário do Linux instalar programas no Windows! Seja qual for o aplicativo, basta tão somente acessar a Central de Aplicativos, como ocorre nos celulares e tablets, e baixar o aplicativo que você queira, seja ele um editor de imagens, um navegador web, um processador de textos ou um jogo. Mas e no Windows, como isso é feito? Se não se tem o CD ou DVD dele, terá de procurar na Internet e ainda por cima baixar uma cópia pirata, o que é crime, embora a maioria dos usuários Windows o faça. No Linux, praticamente todos os aplicativos são gratuitos, assim como o próprio sistema operacional. Diferentemente do Windows, o Linux é conhecido por ser um sistema seguro, estável e praticamente imune a a essa praga chamada vírus, evitando que você tenha de instalar vários programas de segurança, os quais deixam o computador mais lento, mesmo nas máquinas mais modernas. Por ser um sistema aberto, onde qualquer um pode ter acesso a todos os seus componentes, o Linux é mais seguro e capaz de se adaptar aos mais variados tipos de computadores. Não é como o Windows que é um sistema único, independentemente da máquina onde será instalado. Por exemplo, não existe uma mesma versão Windows para um computador que acabou de ser lançado e outro para um computador digamos de 2008. Por isso a uma versão nova do Windows não roda em computadores mais velhos. Isso não ocorre com Linux, uma vez que o sistema pode ser ajustado para máquinas com processadores mais lentos e que tenham pouca memória, sem ter de abrir mãos dos aplicativos mais recentes. Aliás, é por se tratar de um sistema aberto, flexível e seguro que o Linux serve de base para o Android do Google, o FirefoxOS da Fundação Mozilla, o Ubuntu Touch da Conical, o Tizen da Samsung e Intel e o SailFish da Jolla; todos esses sistemas para smartphones e tablets estão no mercado ou serão lançado nos próximos meses, como é o caso do Ubuntu Touch, do Tizen e do Sailfish que virão se juntar ao IOS da Apple, o Android do Google, o Windows Phone da Microsoft e FirefoxOS da Mozilla que já embarcam dispositivos móveis disponíveis no mercado. Dessa lista de sistemas, apenas o Windows Phone e o IOS não tem como base o Linux, os demais são modificações do Linux. Portanto, se você nunca ouviu falar do Linux ou não se interessou por ele ainda, talvez esteja na hora de rever sua posição. Claro que ainda é muito cedo para se falar de um mundo sem Windows, mas dada a dificuldade que a Microsoft vem enfrentando para entrar no mercado de dispositivos móveis; a queda acentuada na venda de computadores pessoais, onde o Windows ainda reina absoluto; na falta de inovação e na falta de aceitação que a última versão do Windows vem enfrentando, talvez esse dia esteja mais próximo do que muita gente imagina. Não por acaso, as grandes empresas de tecnologia como o Google, Intel, HP, Dell, IBM, AMD, LG, Siemens, Motorola, Samsung e tantas outras são parceiras da Linux Fundation – uma organização que ajuda a desenvolver e a divulgar o Linux --, sem falar na Valve que desenvolve jogos para computadores e que é dona, por exemplo, do Half-Life, Counter-Strike e Left 4 Dead, que não só disponibilizou a maioria de seus jogos para Linux como resolveu desenvolver uma versão própria do Linux chamado de StreamOS para ser usado nos seus consoles de videogame que serão lançados em 2014. Aliás, diga-se de passagem, hoje é bem mais difícil viver sem o Google do que sem a Microsoft, o que seria impensável há 8 ou 10 anos atrás.

 Debain 7 - Uma das mais antigas e populares distros Linux. Deu origem a várias outras como o Ubuntu por exemplo.


Ubuntu 13.10 - Talvez a distro Linux mais usada atualmente. Recentemente foi lançada uma versão para celulares e tablets cujo maior trunfo é ser igual a usada em computadores. Usa o ambiente gráfico Unity


Fedora 19 - Distro open source da Hed Hat, uma das mais bem sucedidas empresas do ramo.Usa o ambiente gráfico GNOME


Lubuntu 13.10 - É um Ubuntu para computadores mais antigos ou que tenham pouca memória e pouco poder de processamento. É bastante rápida e leve. Usa o ambiente gráfico LXDE

Linux Mint 15 - Distro derivada do Ubuntu cujo maior trunfo é a beleza, elegância e a facilidade de uso. Sua popularidade vem crescendo muito nos últimos anos. Usa o ambiente gráfico Cinnamon


Elementary OS Luna - Também é derivada do Ubuntu e é atualmente a distro mais badalada do momento por sua beleza e velocidade. Usa o ambiente gráfico Pantheon.

 ROSA Desktop Fresh - É a minha distro preferida e a qual uso. Usa o ambiente gráfico KDE é também é considerada uma das distros mais bonitas do mundo Linux.
 

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

A MUSA INALCANSÁVEL



















Eu vivo esse sonho impossível
De um dia tê-la em meus braços
Vejo-a mostrar sua beleza irresistível
E fico louco. Não sei o que faço.

Meu coração dispara imediatamente
Perco a naturalidade e a razão
E o desejo invade-me a mente
Incendiando-me a alma de paixão

Ah, se conquistá-la fosse possível
E ocupar-lhe no coração todo o espaço,
Tornaria seu futuro em algo tão incrível
Que faria de seu mundo meus abraços

Mas tudo isso são sonhos infelizmente
Desejos que jamais se realizarão
Nossos mundos são tão diferentes
E a outro pertence o seu coração.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

ADEUS À INOCÊNCIA - CAP. 40


Pouco depois, lá fomos nós pescar. Marcela e Ana Paula resolveram nos acompanhar. Queriam ver se Luciana realmente conseguiria pegar alguma coisa. E essa ideia, que partiu de Ana Paula, não me agradou, pois Marcela teria de me assistir pegando na mão da outra para ensiná-la a fazer pontaria. E essa imagem de mim colado em Luciana, a qual jazia nua, provocava-me um grande desconforto porque sabia que Marcela nos veria como um casal em perfeita sintonia e certamente concluiria que estaríamos namorando, uma vez que Luciana não saia de perto de mim. Por mais boba e ingênua que pudesse ser – o que Marcela não era – haveria de concluir que eu perdera definitivamente o interesse por ela.
Fomos ao mesmo local onde anteriormente consegui apanhar um peixe. Não sei se o amigo leitor recorda, mas tratava-se de um lugar cheio de pedras, onde se podia ver os peixes nadando.
Tanto Ana Paula quanto Marcela não quiseram se arriscar por entre as pedras, o que teriam de fazer até chegar onde se podia ver os peixes. Preferiram ficar à distância apenas nos observando e fazendo comentários quando, ao lançar o dardo, Luciana errava o alvo e deixava o peixe fugir. Aliás, aproveitavam a oportunidade para rirem e provocar Luciana que, nas primeiras vezes, levou na esportiva, mas aos poucos começou a irritar-se a ponto de gritar com as duas que se não parassem lançaria aquele dardo contra uma delas e com certeza a trespassaria. Assustadas, ambas silenciaram-se e pouco depois afastaram-se sem dizer palavras.
--Assim é melhor! -- exclamou Luciana. -- Elas estavam me tirando do sério. Faltava pouco para enfiar essa vara nas duas. Qualquer hora elas vão se ver comigo de verdade – acrescentou por fim.
Não respondi. Fiz de conta que não ouvira.
Deixei-a tentado fisgar o peixe e me afastei para encontrar outros que fossem maiores. Certamente os acharia.
Esqueci Luciana por algum tempo e procurei me concentrar na pescaria, embora de quando em quando eu a ouvia esbravejar por ter pela enésima vez errado o alvo.
-- Quer saber de uma coisa? Não quero mais saber desse negócio de pegar peixe. Isso não é para mim. Tenho de reconhecer que não levo jeito para isso. Sei pegar numa vara e usar ela direitinho, mas não nesse tipo de vara – acrescentou em tom jocoso. -- Vou voltar para a cabana. Te espero lá.
Nisso ouvi dois passos e um som mais alto, como o de uma queda. Súbito, o grunhido de dor penetrou-me nos ouvidos, levando-me virar imediatamente a cabeça em direção de Luciana, a qual jazia caída sobre as pedras, tentando levantar-se.
-- O que aconteceu? -- perguntei-lhe.
-- Acho que machuquei o pé – foi o que ela disse com dificuldade, demonstrando está sentindo muita dor.
Corri em sua direção e a ajudei a se sentar.
Ajoelhei-me de frente e peguei-lhe na perna ferida. E ao tocar-lhe o tornozelo, Luciana gemeu de dor, como se esta fosse insuportável.
-- Acho que você torceu mesmo o pé – deduzi, embora não tivesse certeza.
-- E agora? O que faço? -- foi a vez dela indagar.
-- O jeito é eu te levar até a cabana. Pelo jeito você vai ter de ficar de repouso até ele melhorar.
Para tirá-la do meio das pedras, peguei-a no colo. A dor talvez muito intensa, arrancava-lhe lágrimas dos olhos, tornando-a frágil como um bebezinho, o que não lembrava em nada a mulher durona, altiva e impositora dantes. Aliás, ao vê-la assim, tão frágil e incapaz, senti um que de prazer em perceber que enquanto estivesse impossibilitada não seria uma ameaça para ninguém, não me obrigaria a possuí-la contra a vontade e nem me impediria de me aproximar de Marcela, por quem continuava apaixonado. Minhas esperanças que jaziam perdidas, ganharam um novo alento. Nisso me vi caminhando ao lado de Marcela, se afastando da cabana. E num ponto distante, eu a tomava nos braços e nossos lábios se encontravam num beijo intenso, cheio de ternura e paixão. Roberta poderia controlar tudo a sua volta, mas não meus pensamentos. E ali no meu colo, tão impotente e incapaz de exercer seu domínio sobre mim, não imaginava o que se passava nos meus pensamentos.
Ao atingirmos a faixa de areia, eu a pus de pé e, abraçando-a enquanto ela se apoiava em meu ombro, fomos caminhando de volta à cabana.
Ela realmente não conseguia por o pé no chão. Tentou por duas vezes mas a dor foi tamanha que seus gritos ecoaram. “Bem feito! Foi castigo de Deus! Ele quis se vingar dela o que ela andava fazendo com a gente”, pensei com satisfação, sem no entanto atinar que, assim como a maioria das pessoas incultas, atribui a Deus características humanas como se em alguns momentos Este fosse menos deus e mais humano.
Ao chegarmos a cabana, não encontramos Ana Paula e Marcela. Certamente, chateadas com as ameaças de Luciana, haviam ido para algum lugar da ilha.
– Deixa eu te ajudar a sentar. Aí você deita para não forçar o pé – sugeri.
Foi o que Luciana fez. No entanto acrescentou em seguida:
-- Nossa! Como dói! Será que isso vai demorar a passar?
-- Não sei. Talvez uns dois ou três dias, quem sabe.
Fez-se um rápido silêncio. Nesse ínterim não pude evitar sentir prazer na dor daquela jovem ao meu lado que, embora fosse mais velha que eu, parecia agora uma criança pequena necessitando de todos os cuidados. Sabia que provavelmente não sairia da cama por alguns dias, todavia não fui capaz de atinar que, por causa disso, ela me faria de seu escravo, de alguém que teria de estar a sua disposição o tempo inteiro para ajudá-la inclusive nas necessidades mais básicas.
-- Vou atrás das meninas e contar o que aconteceu – falei.
-- Mas você vai me deixar aqui sozinha?
-- O que tem? Não vou demorar.
-- Deixe elas para lá. Eu não quero ficar sozinha. Vem cá. Deite aqui do meu lado – ordenou, fazendo gestos com a mão.
Pensei em não obedecer. Mas ao vê-la naquele estado, senti compaixão por aquela pobre infeliz. De mais a mais, não queria contrariá-la na primeira oportunidade. Isso poderia irritá-la e levá-la a fazer alguma besteira mesmo naquele estado. De forma que acabei fazendo o que ela pedira. Então Luciana, com certa dificuldade, rolou para o lado e se aninhou nos meus braços como se eu fosse seu amante e protetor.
Minutos depois ouvi vozes ao longe. Ana Paula e Marcela retornavam. Como num gesto instintivo, procurei me desvincilhar de Luciana para que elas não nos vissem assim, contudo Luciana apercebendo minhas intenções adiantou-se:
-- Por que está fugindo? Só porque aquela vadiazinha está vindo?
-- Não. Não é por causa disso. Preciso procurar alguma coisa pra gente comer – menti.
-- Já te avisei. Se você se engraçar com ela, acabo com a raça dela num piscar de olhos.
-- Já disse que não vou. Que merda! Quer que a gente morra de fome? -- esbravejei.
-- Então vá, mas sozinho.
Ao sair deparei com as duas do lado de fora da cabana. Notando algo de errado, Ana Paula indagou:
-- O que aconteceu?
-- Luciana torceu o pé e não está conseguindo andar – expliquei.
-- Bem feito! -- exclamou baixinho para a outra não ouvir. -- Tomara que fique assim um bom tempo.
-- Também não fale assim. Não se deve desejar o mal para outros – interveio Marcela.
-- Falo mesmo! Tomara que fique aleijada para o resto da vida.
-- Bem. Só não vão arrumar briga como já fizeram antes. Vou voltar lá nas pedras e ver se pego alguma coisa para a gente comer. Se não conseguir, vamos ter de comer frutas novamente.
-- E o pior que já estou ficando com fome – acrescentou Ana Paula.
Afastei e voltei onde havia deixado as lanças. Apanhei-as e voltei a posição onde jazia antes de Luciana se machucar. Agora sozinho, sem ninguém para me tirar a concentração, poderia ser melhor sucedido. Haveria de pescar dois ou três peixes grandes para passarmos o resto daquele dia de barriga cheia. E provavelmente tornaria a fazer o mesmo no dia seguinte, no outro e nos outros, até sairmos daquela ilha, pois nenhum de nós acreditávamos que ficaríamos ali para sempre.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

A ERA DA INCERTEZA


Vivemos uma época de incertezas, onde as pessoas perderam completamente o controle de tudo a sua volta. Tem-se a impressão de que o homem se alienou de tal forma que nem mesmo o velho Marx foi capaz de imaginar. Se durante o século IXX, a alienação passou do processo de fabricação da mercadoria para outros ramos de atividade econômica, no século XX, chegou à cultura e à religião. E agora no século XXI chegou ao ponto em que a alienação nos levou a perder a crença em tudo e todos. O velho deus morreu, os velhos ideais viraram pó e o futuro virou um ponto de interrogação. Nem mesmo as leis e a justiça escaparam da nossa indiferença e se tornaram hoje motivo de descrença. A ciência avançou muito nas últimas décadas, mas em vez de respostas, ela só derrubou as velhas convicções, nas quais a humanidade procurava se sustentar, e em seu lugar, em vez de plantar novas certezas, plantou apenas incertezas. Assim, o homem tornou-se desconfiado, tão mais talvez que nossos primeiros ancestrais, e hoje desconfiamos de tudo e de todos. Cada um de nós passou a desconfiar de si próprio, pois descobrimos que em nós habitam muitos "eus" os quais estão constantemente em conflito. A tecnologia nos tornou tão dependentes dela que a máquina está se tornando mais importante que o homem. Os novos lançamentos de aparelhos eletrônicos provocam euforia e corrida às lojas como jamais se viu, dando a impressão de tratar-se de um novo deus, de um novo salvador. É meus amigos, vivemos uma época ímpar embora prevista por homens tão distintos quanto Marx e Nietzsche. Talvez tenhamos ultrapassado a Era conhecida até então como Contemporânea e entrado numa nova chamada de Era da Incerteza. Talvez estejamos caminhando para um abismo, um abismo construído por nós mesmos, os homens.