sábado, 27 de abril de 2013

ADEUS À INOCÊNCIA - CAP. 36

É possível que eu tenha corrido uns cinco minutos antes de tomar ciência de que, se continuasse, acabaria dando voltas na ilha. Só então parei e, confuso, comecei a atinar acerca do que fazer; pois ficar plantado ali também de nada adiantaria. Olhei para trás e nenhum sinal da Luciana. “Ela não me seguiu”, conclui. “Voltar para a cabana? E o que vou dizer para as duas?”, indaguei-me, sentando sobre a areia para recuperar o fôlego. “Não posso chegar lá sem as goiabas. Vou ter que voltar. Elas estão esperando...”, continuei a pensar. Aliás, estava mais preocupado em não retornar de mãos vazias e em ocultar o incidente do que com o que a Luciana poderia fazer comigo. Só alguns instantes depois, quando principiei a retornar, o temor de encontrá-la me impeliu para trás feito um vento contrário.
O medo, na realidade, não era de um ato violento, de uma agressão física ou coisa parecida e sim do seu julgamento. Se ela rira de mim por causa do tamanho do pênis, o que não faria agora que fugira dela? “Idiota! Como pude bancar o idiota?” Seu riso, seu escárnio seriam como punhaladas no peito, um ferimento mortal no meu orgulho masculino. Contudo, não retornar, não encará-la seria ainda pior. E já que teria de fazê-lo, então que o fizesse enquanto estávamos as sós; pois na frente das meninas ser-me-ia ainda mais humilhante e insuportável, seria dar o passo definitivo para a minha desgraça. Não, não. Antes sucumbir sob a espada do inimigo do que suportar o peso da covardia.
Luciana parecia ter adivinhado que eu retornaria. Cerca de quinhentos metros depois, onde jazia as goiabeiras, estava ela de pé, com as mãos sobre os quadris, olhando para cima, aparentemente procurando as frutas entre as folhas verdes. Embora parecesse compenetrada, viu-me aproximar cabisbaixo, feito um cãozinho que, após uma travessura, sabe que será castigado.
-- Voltou, seu fracote! -- Foi o que me disse quando parei ao seu lado.
-- Eu não sou fracote – respondi, ainda sem coragem de olhá-la de frente.
-- Não. Então o que é então? E por que fugiu de mim? -- Luciana olhava-me com uma expressão de fúria, feito aquele que, provocado ao extremo, age como se estivesse pronto a agredi-lo violenta e irracionalmente.
-- Porque você ficou rindo do meu pinto – respondi, extremamente envergonhado.
-- Além de frouxo ainda é complexado! 'Tadinho dele!-- exclamou, soltando uma risada. -- E o que eu queria que você fizesse, seu idiota? Nunca tinha visto ele tão pequenininho assim – mostrou com os dedos. -- Até parecia com o do meu irmãozinho de oito anos.
Ah, querido leitor! Fiz o possível para me conter, para não não demonstrar mais fraqueza e ser ainda mais ridículo; contudo, não tive forças. E as lágrimas vieram, como se o choro fosse então uma forma de pôr para fora tudo que estava sentindo. E então danei a chorar feito uma criança pequena.
Luciana, de forma surpreendente, tomou-me nos braços, apertou-me fortemente e acariciando a nuca, pediu:
-- Pare, vai.... Desculpe. Não queria te magoar assim. Não fiz por maldade. Eu juro! Só achei engraçado ele tão encolhidinho. -- Houve um breve silêncio. Foi como se ela esperasse alguma resposta, alguma palavra de minha parte. Contudo, eu apenas tentava encontrar forças para conter o choro. -- Olha para mim – pediu ela, deixando cair os braços. Lentamente ergui a cabeça. Então Luciana enxugou-me as lágrimas carinhosamente, perpassando delicadamente os dedos ao longo da trilha formada pelas lágrimas. -- Vem! Vamos ver se a gente apanha algumas goiabas. Vi umas ali naquele pé – apontou, -- bem ali.
Com um sorriso, enxuguei os olhos e feito uma criança perdoada depois de ser severamente repreendida, corri em direção à goiabeira e perguntei-lhe em que galho ela vira as frutas. Luciana apontou e subi na árvore para apanhá-las.
No retorno à cabana, Luciana não fez referência ao incidente. Apenas fez comentários acerca da escassez de frutas. Disse que seria preciso pescar ao menos um peixão para matar nossa fome. Assenti prometendo-lhe fazer isso ao retornarmos.
-- Eu também quero aprender a pescar. Você me ensina? -- perguntou ela.
Titubeei num primeiro momento, contudo suas palavras meigas e a forma como ela pôs um ponto final àquele incidente me fez sentir na obrigação de retribuir-lhe tamanha gentileza. Digo isso com a certeza de não ter agido de outra forma. Toda a minha educação, amparada nos preceitos cristãos, fora no sentido de que o bem se paga com o bem. Contudo, hoje eu agiria de forma oposta. Por que retribuir um favor com outro? Um favor não é uma dívida, não é uma obrigação. Naquele momento porém acabei por responder:
-- Ah, sim! Ensino. Mas você vai ter que arrumar uma vara pra você.
-- Eu arrumo. Mas você vai ter que me ajudar a encontrar uma.
Só então percebi ter cometido um erro. Entrar naquela floresta novamente? Com ela ainda por cima? “E se ela quiser ver meu pinto de novo? E se quiser brincar com ele? Ele ficar grande e ela vai querer fazer aquilo”, pensei no momento em que entrava pela porta da cabana. Aliás, meus pensamentos desfizeram-se no ar quando olhei para Marcela que, deitava sobre a cama, brincava com uma concha provavelmente encontrada enquanto estive fora, desviou o olhar em minha direção e em seguida para Luciana. Parece ter percebido algo de estranho, sem no entanto fazer muito caso, pois em seguida voltou a atenção para concha. Aliás, ao chegar a essa conclusão, entristeci. Se ela não se importava com isso, só poderia ser porque também eu lhe significava muito pouco ou quase nada. “Sou um idiota mesmo!”, lembro-me de pensar. “Ela não está nem aí para mim”, conclui. E cabisbaixo sentei num canto enquanto Luciana depositava as goiabas sobre uma folha de bananeira usada para forrar o solo.
-- Só conseguimos essas – disse ela em seguida. -- O jeito vai ser você pegar um peixe – virou em minha direção – Isso não mata a fome de ninguém. -- E depois de uma pausa continuou: -- E você? Vai me ensinar a pescar ou não?
-- Vou sim – respondi de forma tímida, como que constrangido, pois tanto Ana Paula quanto Marcela ficaram surpresas. -- E vou ensinar vocês duas também. Assim a gente pode pegar bastante peixe.
Pois então foi a vez de Luciana olhar-me torto, com um olhar faiscante, como que enraivecida. Abaixei a cabeça e desconsertado, certo de que ela não ia deixar isso por menos. Então pensei: “Ela vai se vingar de mim...”

quinta-feira, 25 de abril de 2013

UMA OPORTUNIDADE PERDIDA

Ninguém em sã consciência não é capaz de reconhecer que o sistema político brasileiro -- fruto de uma Constituição parlamentarista, cujo sistema não foi aprovado no plebiscito de 1993 -- é distorcido e tem uma grave anomalia ao permitir tanto a criação quanto a eleição de pequenos partidos e cuja única finalidade é atender interesses escusos. Uma reforma política, a qual dificulta não só a criação desses pequenos partidos (tal qual a que está tramitando pelo Congresso) como também exige um cociente mínimo para que um partido tenha direito a assento no parlamento é de extrema necessidade a fim de acabar tanto com a ingovernabilidade pela qual o Brasil vem caminhando a cada eleição quanto com a corrupção e o toma lá dá cá, como a compra de parlamentares pelo PT no Governo Lula e a aprovação da emenda da reeleição no Governo Fernando Henrique Cardoso. Estes são apenas dois exemplos de como essas distorções fazem tão mal à democracia brasileira. Países tão distintos politicamente e de tão longa democracia como a Alemanha, os EUA e o Reino Unido entre outros adotam mecanismo que impedem partidos casuístas e inexpressivos de ocuparem cadeiras nos respectivos parlamentos. No entanto, no Brasil, qualquer um pode criar um partido; usar o prestígio pessoal; enganar os eleitores, os quais muitas vezes são analfabetos funcionais; e enfim se elegerem com o único objetivo de cuidar de seus interesses pessoais. E o projeto aprovado pela Câmara e agora suspenso pelo Ministro Gilmar Mendes a pedido do PSB, por suspeita de inconstitucionalidade, seria uma avanço. Contudo, a maneira como este foi e feito a sua rápida tramitação pelas comissões e pela Câmara dos Deputador, num momento em que novos partidos são criados, passa-se a sensação de que se trata de um casuísmo, o que na realidade é. Mas este é justamente o maior problema de nosso país: muitas vezes as leis (necessárias diga-se de passagem), cuja necessidade é de fato, são questionadas ou não entrando nem em vigor justamente pelo casuísmo, por essa pressa em aprová-las a fim de beneficiar alguém ou algum grupo. E talvez mais uma vez se está perdendo uma grande oportunidade de moralizar a forma de fazer política e tornar esse país governável e não refém de um grupo espalhado por pequenos partidos que não respeitam nem a identidade ideológica e muito menos o eleitor.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

O NOSSO TALIBÃ

Muitos se indignaram (inclusive eu) com o fato de um pastor evangélico e declaradamente racista e contra os homossexuais ter assumido uma comissão que trata exatamente das questões dos direitos dessas minorias. Embora este tenha sido o caso de maior repercussão na mídia é bom lembrar que se trata tão somente da ponta de um iceberg. A questão é muito mais profunda e séria. É bom lembrar que o Brasil sempre esteve na vanguarda da tolerância racial e no respeito aos direitos dos homossexuais, inclusive durante o Regime Militar, onde o alvo não era essas minorias, mas os chamados “subversivos” ou aqueles de orientação marxista, os quais combatiam o regime. No entanto, com a redemocratização e com os partidos de centro-esquerda no poder, o alvo dos movimentos “religiosos” e de direita passaram a ser essas minorias. E para combatê-las, nada melhor do que o poder legislativo, onde as leis são feitas de fato. E foi aí que as igrejas, principalmente as evangélicas, se uniram não só para proteger seus interesses como para combater o homossexualismo, o aborto e a “imoralidade que se abateu sobre a sociedade brasileira”. Um prova de que essa estratégia vem dando resultado é o fato de o Brasil ter ficado para trás nessas questões, sendo ultrapassado inclusive por Argentina e Uruguai onde o união civil de pessoas do mesmo sexo tornou-se lei. E para mostrar o quanto o Brasil caminha para trás, a bancada evangélica (sempre ela) quer proibir que solteiros entre em motéis. O projeto é de autoria do deputado Josias Macieira (DEM-TO) que estabelece a obrigatoriedade da apresentação da certidão de casamento nas recepções de motéis. Não, isso não é piada! Pelo jeito querem transformar o Brasil numa Arábia Saudita, num Irã ou num Afeganistão. Aliás, se o Afeganistão tem o seu Talibã, pelo jeito o Brasil também tem o seu: os fundamentalistas evangélicos. E do jeito que eles vem atuando nos bastidores e usando as igrejas para enganar o povo, em poucos anos voltaremos à Idade Média, a mesma que muitos países do Oriente Médio vivem mergulhados.

domingo, 7 de abril de 2013

MÃE, PARA VOCÊ

Mãe, eu tenho de reconhecer 
Que não estaria aqui sem tua gestação 
E mesmo depois de nascer 
Não sobreviveria sem tua dedicação; 
Pois com teus cuidados, vim a crescer 
E com paciência, deu-me educação. 

Mãe, você fez o melhor possível 
Para me proteger quando eu era incapaz; 
E mostrou-me que um obstáculo intransponível 
Ultrapassá-lo sempre é capaz; 
E explicou-me que amar é incrível 
Principalmente para um jovem rapaz. 

Mãe, eu cresci como se pode notar 
E hoje tudo que sou, devo a você 
Aprendi que só é feliz quem sabe amar, 
E que na honestidade está o maior prazer, 
E que amor de mãe maior não há 
Como o seu, que não sei como agradecer.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

A DESCOBERTA DO AMOR


Algo acontece em mim
Que eu não sei explicar o quê.
Pode ser uma dor enfim
Que dói sem ter um porquê.

Estaria eu talvez amando
Pela primeira vez na vida?
O amor é um desatinando
Se não se é correspondida?

Eu o vejo sorrir para mim
E sinto o chão desaparecer
E sempre acontece assim
Sem que algo eu possa fazer.

Parece que estou sonhando
Como se assim fosse a vida
E isso está me assustando
Pois me sinto tão perdida...