quinta-feira, 31 de outubro de 2013

A MUSA INALCANSÁVEL



















Eu vivo esse sonho impossível
De um dia tê-la em meus braços
Vejo-a mostrar sua beleza irresistível
E fico louco. Não sei o que faço.

Meu coração dispara imediatamente
Perco a naturalidade e a razão
E o desejo invade-me a mente
Incendiando-me a alma de paixão

Ah, se conquistá-la fosse possível
E ocupar-lhe no coração todo o espaço,
Tornaria seu futuro em algo tão incrível
Que faria de seu mundo meus abraços

Mas tudo isso são sonhos infelizmente
Desejos que jamais se realizarão
Nossos mundos são tão diferentes
E a outro pertence o seu coração.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

ADEUS À INOCÊNCIA - CAP. 40


Pouco depois, lá fomos nós pescar. Marcela e Ana Paula resolveram nos acompanhar. Queriam ver se Luciana realmente conseguiria pegar alguma coisa. E essa ideia, que partiu de Ana Paula, não me agradou, pois Marcela teria de me assistir pegando na mão da outra para ensiná-la a fazer pontaria. E essa imagem de mim colado em Luciana, a qual jazia nua, provocava-me um grande desconforto porque sabia que Marcela nos veria como um casal em perfeita sintonia e certamente concluiria que estaríamos namorando, uma vez que Luciana não saia de perto de mim. Por mais boba e ingênua que pudesse ser – o que Marcela não era – haveria de concluir que eu perdera definitivamente o interesse por ela.
Fomos ao mesmo local onde anteriormente consegui apanhar um peixe. Não sei se o amigo leitor recorda, mas tratava-se de um lugar cheio de pedras, onde se podia ver os peixes nadando.
Tanto Ana Paula quanto Marcela não quiseram se arriscar por entre as pedras, o que teriam de fazer até chegar onde se podia ver os peixes. Preferiram ficar à distância apenas nos observando e fazendo comentários quando, ao lançar o dardo, Luciana errava o alvo e deixava o peixe fugir. Aliás, aproveitavam a oportunidade para rirem e provocar Luciana que, nas primeiras vezes, levou na esportiva, mas aos poucos começou a irritar-se a ponto de gritar com as duas que se não parassem lançaria aquele dardo contra uma delas e com certeza a trespassaria. Assustadas, ambas silenciaram-se e pouco depois afastaram-se sem dizer palavras.
--Assim é melhor! -- exclamou Luciana. -- Elas estavam me tirando do sério. Faltava pouco para enfiar essa vara nas duas. Qualquer hora elas vão se ver comigo de verdade – acrescentou por fim.
Não respondi. Fiz de conta que não ouvira.
Deixei-a tentado fisgar o peixe e me afastei para encontrar outros que fossem maiores. Certamente os acharia.
Esqueci Luciana por algum tempo e procurei me concentrar na pescaria, embora de quando em quando eu a ouvia esbravejar por ter pela enésima vez errado o alvo.
-- Quer saber de uma coisa? Não quero mais saber desse negócio de pegar peixe. Isso não é para mim. Tenho de reconhecer que não levo jeito para isso. Sei pegar numa vara e usar ela direitinho, mas não nesse tipo de vara – acrescentou em tom jocoso. -- Vou voltar para a cabana. Te espero lá.
Nisso ouvi dois passos e um som mais alto, como o de uma queda. Súbito, o grunhido de dor penetrou-me nos ouvidos, levando-me virar imediatamente a cabeça em direção de Luciana, a qual jazia caída sobre as pedras, tentando levantar-se.
-- O que aconteceu? -- perguntei-lhe.
-- Acho que machuquei o pé – foi o que ela disse com dificuldade, demonstrando está sentindo muita dor.
Corri em sua direção e a ajudei a se sentar.
Ajoelhei-me de frente e peguei-lhe na perna ferida. E ao tocar-lhe o tornozelo, Luciana gemeu de dor, como se esta fosse insuportável.
-- Acho que você torceu mesmo o pé – deduzi, embora não tivesse certeza.
-- E agora? O que faço? -- foi a vez dela indagar.
-- O jeito é eu te levar até a cabana. Pelo jeito você vai ter de ficar de repouso até ele melhorar.
Para tirá-la do meio das pedras, peguei-a no colo. A dor talvez muito intensa, arrancava-lhe lágrimas dos olhos, tornando-a frágil como um bebezinho, o que não lembrava em nada a mulher durona, altiva e impositora dantes. Aliás, ao vê-la assim, tão frágil e incapaz, senti um que de prazer em perceber que enquanto estivesse impossibilitada não seria uma ameaça para ninguém, não me obrigaria a possuí-la contra a vontade e nem me impediria de me aproximar de Marcela, por quem continuava apaixonado. Minhas esperanças que jaziam perdidas, ganharam um novo alento. Nisso me vi caminhando ao lado de Marcela, se afastando da cabana. E num ponto distante, eu a tomava nos braços e nossos lábios se encontravam num beijo intenso, cheio de ternura e paixão. Roberta poderia controlar tudo a sua volta, mas não meus pensamentos. E ali no meu colo, tão impotente e incapaz de exercer seu domínio sobre mim, não imaginava o que se passava nos meus pensamentos.
Ao atingirmos a faixa de areia, eu a pus de pé e, abraçando-a enquanto ela se apoiava em meu ombro, fomos caminhando de volta à cabana.
Ela realmente não conseguia por o pé no chão. Tentou por duas vezes mas a dor foi tamanha que seus gritos ecoaram. “Bem feito! Foi castigo de Deus! Ele quis se vingar dela o que ela andava fazendo com a gente”, pensei com satisfação, sem no entanto atinar que, assim como a maioria das pessoas incultas, atribui a Deus características humanas como se em alguns momentos Este fosse menos deus e mais humano.
Ao chegarmos a cabana, não encontramos Ana Paula e Marcela. Certamente, chateadas com as ameaças de Luciana, haviam ido para algum lugar da ilha.
– Deixa eu te ajudar a sentar. Aí você deita para não forçar o pé – sugeri.
Foi o que Luciana fez. No entanto acrescentou em seguida:
-- Nossa! Como dói! Será que isso vai demorar a passar?
-- Não sei. Talvez uns dois ou três dias, quem sabe.
Fez-se um rápido silêncio. Nesse ínterim não pude evitar sentir prazer na dor daquela jovem ao meu lado que, embora fosse mais velha que eu, parecia agora uma criança pequena necessitando de todos os cuidados. Sabia que provavelmente não sairia da cama por alguns dias, todavia não fui capaz de atinar que, por causa disso, ela me faria de seu escravo, de alguém que teria de estar a sua disposição o tempo inteiro para ajudá-la inclusive nas necessidades mais básicas.
-- Vou atrás das meninas e contar o que aconteceu – falei.
-- Mas você vai me deixar aqui sozinha?
-- O que tem? Não vou demorar.
-- Deixe elas para lá. Eu não quero ficar sozinha. Vem cá. Deite aqui do meu lado – ordenou, fazendo gestos com a mão.
Pensei em não obedecer. Mas ao vê-la naquele estado, senti compaixão por aquela pobre infeliz. De mais a mais, não queria contrariá-la na primeira oportunidade. Isso poderia irritá-la e levá-la a fazer alguma besteira mesmo naquele estado. De forma que acabei fazendo o que ela pedira. Então Luciana, com certa dificuldade, rolou para o lado e se aninhou nos meus braços como se eu fosse seu amante e protetor.
Minutos depois ouvi vozes ao longe. Ana Paula e Marcela retornavam. Como num gesto instintivo, procurei me desvincilhar de Luciana para que elas não nos vissem assim, contudo Luciana apercebendo minhas intenções adiantou-se:
-- Por que está fugindo? Só porque aquela vadiazinha está vindo?
-- Não. Não é por causa disso. Preciso procurar alguma coisa pra gente comer – menti.
-- Já te avisei. Se você se engraçar com ela, acabo com a raça dela num piscar de olhos.
-- Já disse que não vou. Que merda! Quer que a gente morra de fome? -- esbravejei.
-- Então vá, mas sozinho.
Ao sair deparei com as duas do lado de fora da cabana. Notando algo de errado, Ana Paula indagou:
-- O que aconteceu?
-- Luciana torceu o pé e não está conseguindo andar – expliquei.
-- Bem feito! -- exclamou baixinho para a outra não ouvir. -- Tomara que fique assim um bom tempo.
-- Também não fale assim. Não se deve desejar o mal para outros – interveio Marcela.
-- Falo mesmo! Tomara que fique aleijada para o resto da vida.
-- Bem. Só não vão arrumar briga como já fizeram antes. Vou voltar lá nas pedras e ver se pego alguma coisa para a gente comer. Se não conseguir, vamos ter de comer frutas novamente.
-- E o pior que já estou ficando com fome – acrescentou Ana Paula.
Afastei e voltei onde havia deixado as lanças. Apanhei-as e voltei a posição onde jazia antes de Luciana se machucar. Agora sozinho, sem ninguém para me tirar a concentração, poderia ser melhor sucedido. Haveria de pescar dois ou três peixes grandes para passarmos o resto daquele dia de barriga cheia. E provavelmente tornaria a fazer o mesmo no dia seguinte, no outro e nos outros, até sairmos daquela ilha, pois nenhum de nós acreditávamos que ficaríamos ali para sempre.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

A ERA DA INCERTEZA


Vivemos uma época de incertezas, onde as pessoas perderam completamente o controle de tudo a sua volta. Tem-se a impressão de que o homem se alienou de tal forma que nem mesmo o velho Marx foi capaz de imaginar. Se durante o século IXX, a alienação passou do processo de fabricação da mercadoria para outros ramos de atividade econômica, no século XX, chegou à cultura e à religião. E agora no século XXI chegou ao ponto em que a alienação nos levou a perder a crença em tudo e todos. O velho deus morreu, os velhos ideais viraram pó e o futuro virou um ponto de interrogação. Nem mesmo as leis e a justiça escaparam da nossa indiferença e se tornaram hoje motivo de descrença. A ciência avançou muito nas últimas décadas, mas em vez de respostas, ela só derrubou as velhas convicções, nas quais a humanidade procurava se sustentar, e em seu lugar, em vez de plantar novas certezas, plantou apenas incertezas. Assim, o homem tornou-se desconfiado, tão mais talvez que nossos primeiros ancestrais, e hoje desconfiamos de tudo e de todos. Cada um de nós passou a desconfiar de si próprio, pois descobrimos que em nós habitam muitos "eus" os quais estão constantemente em conflito. A tecnologia nos tornou tão dependentes dela que a máquina está se tornando mais importante que o homem. Os novos lançamentos de aparelhos eletrônicos provocam euforia e corrida às lojas como jamais se viu, dando a impressão de tratar-se de um novo deus, de um novo salvador. É meus amigos, vivemos uma época ímpar embora prevista por homens tão distintos quanto Marx e Nietzsche. Talvez tenhamos ultrapassado a Era conhecida até então como Contemporânea e entrado numa nova chamada de Era da Incerteza. Talvez estejamos caminhando para um abismo, um abismo construído por nós mesmos, os homens.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

QUANDO VOCÊ CRESCER

Quando você crescer
O mundo te mostrará
O esplendor da existência
E então você vai conhecer
A vida em inconsistência

Você vai descobrir
Os pequenos prazeres
Do dia a dia
E então vai conhecer
O sentido da palavra alegria

E você também vai descobrir
O outro lado do viver
Onde a incompreensão
E o orgulho desmedido
Machucar-te-á o coração

Mas não leve tudo tão sério
E procure apenas reter
O que te alegra o coração
Pois o homem, apesar de racional,
Segue o instinto e não a razão

domingo, 6 de outubro de 2013

SEM PUDOR, SEM FALSIDADE




















Meu amor
Eu não quero o teu pudor
Não, não quero não
Só quero o teu tesão
E não venha me dizer
Que te prometi amor e paixão
Não, não prometi não
Mas quero te esclarecer
Que sem prazer
A vida não tem razão
Não, não tem não
E não me peça uma explicação
Por eu pensar assim
Eu apenas te quero enfim
Sem lógica e sem porquê
Mas se você quer saber
Na verdade
Buscamos o prazer
Até mesmo sem saber
Então..
Quero o teu corpo e tua sensualidade
Quero o ápice da tua sensibilidade
Quero apenas por querer
Quero, apenas quero
Tua sensualidade
Tua imoralidade
Sem pudor, sem falsidade
Quero, apenas quero

sábado, 5 de outubro de 2013

OS MOVIMENTOS IRANIANOS NO TABULEIRO DE XADREZ

Durante décadas o inimigo número um do Irã foi os EUA, tanto que eles estão de relações diplomáticas rompidas desde 1979. No entanto, após a Primavera Árabe e após a comunidade internacional passar a pressionar Israel para chegar um acordo de paz com os palestinos e consequentemente a uma solução de dois estados, o Irã elevou Israel ao estatuo de maior inimigo e não mais os EUA como até então. Assim, para isolar ainda mais o Estado judeu e levá-lo a fazer concessões aos palestinos, estes apoiados pelo Irã, concessões essas impensável há poucos anos, o governo de Teerã está disposto a reatar relações com os Estados Unidos e chegar a um acordo com a comunidade internacional acerca do seu programa nuclear – até porque mais cedo ou mais tarde terá de fazê-lo de qualquer jeito uma vez que o embargo econômico ao país vem afetando profundamente sua economia –, tudo para prejudicar Israel. O governo iraniano sabe que uma aproximação e um reatamento das relações com os EUA vai levar os Estados Unidos a reaver seu apoio incondicional aos israelenses – apoio esse que já não é mais tão incondicional quanto antes --, até porque senão num primeiro momento mas não muito depois os iranianos vão cobrar isso dos EUA. Por outro lado, Israel está em pavor, uma vez que a aproximação do Irã com os EUA era o pior que poderia acontecer. Por isso, o governo israelense vem insistindo que os iranianos estão mentindo e que só querem ganhar tempo a fim de construir uma bomba atômica, embora os iranianos sejam signatários do acordo de não proliferação de armas de destruição em massa enquanto Israel não é e não demonstra o menor interesse em sê-lo. Enfim, cada movimento, tanto Irã  quanto  de Israel é muito mais calculado do que aqueles que os maiores mestres do xadrez fazem. Ninguém quer dar um passo em falso. No momento porém, parece que os iranianos estão levando uma ligeira vantagem. E se Israel não souber lidar com essa nova realidade poderá levar um xeque mate do seu maior inimigo.