segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

ADEUS À INOCÊNCIA - CAP. 50


-- O que foi? -- perguntou Marcela, levantando-se, ao nos ver entrar. Apesar da escuridão, a cabana estava iluminada. Aliás, a luz da fogueira era tão intensa, que se via em nossas faces, talvez mais na minha do que na de Luciana, que algo acontecera.
-- Nada. Por quê? -- dissimulou Luciana.
-- Vocês estão ai, com uma cara estranha – disse ela.
Ana Paula, deitada do outro lado, parecia dormir um sono profundo.
-- Rasguei a sunga – asseverei envergonhado. Afinal não adiantava dissimular, pois mais cedo ou mais tarde todas acabariam percebendo.
-- Eu desequilibrei – adiantou-se Luciana, talvez me achando incapaz de inventar uma desculpa convincente. -- E fui tentar me agarrar nele para não estatelar no chão, minha mão escorregou e acabei puxando a sunga dele – acrescentou.
Ou para não criar problemas ou por pura inocência, Marcela não demonstrou desconfiança. Preocupou-se por outro lado em saber se Luciana não tinha se machucado.
-- Está tudo bem. Só me sujei de areia. Mas entrei na água e o Sílvio me ajudou a me lavar – explicou. Em seguida, ajudei-a a dar mais três passos e sentar-se no chão.
Enquanto auxiliava-a a se sentar, olhei para Marcela. Surpreendi-a com os olhos no rasgo, o qual se abriu ao curvar o dorso para ajudar Luciana. Envergonhada por ter sido surpreendida, disfarçou, apanhou um graveto e cutucou a fogueira. “Ela tá olhando. O que faço? Pôr a mão? Tapar ele? Vou virar”, pensei.
Nisso, Ana Paula acordou.
-- Pô! Não dá para vocês falar mais baixo? Tô querendo dormir – disse Ana Paula, fazendo que ia se levantar. No entanto, apenas virou de frente para nós e se encolheu numa posição fetal, voltando a dormir.
Apenas silenciamos por algum tempo.
-- É você quem vai tomar conta da fogueira primeiro? -- sussurrei para Marcela, procurando manter o rasgo longe do ângulo de visão dela.
-- É – respondeu-me ela baixinho.
-- Então vou dormir um pouco. Quando tiver na minha hora, você me acorda.
Luciana havia se deitado na outra extremidade, deixando-me como única opção o meio entre ela e minha prima. Foi ali que fui repousar.
Não adormeci de imediato. E até que o sono chegasse, fui tomado por devaneios com Marcela. Aliás, não poderia ser diferente. Estando apaixonado, o objeto de nossa paixão se torna inevitavelmente a fonte de nossos pensamentos.
Embora o longo tempo transcorrido entre os fatos narrados e o momento que faço esta narrativa possa ter apagado alguma coisa, uma parte significante daqueles devaneios ainda me permanecem vivos, como se de fato o tempo não tivesse passado. Ainda me lembro de imaginar eu e Marcela em algum ponto afastado daquela ilha, sobre a faixa de areia. Estamos frente a frente e de mãos dadas. Súbito, tomo-a nos braços e nos beijamos demoradamente. Isso me excita. E então minhas mãos percorrem-lhe o dorso quase nu. De repente, escorrego-lhe uma delas até o seio e o acaricio. Marcela cola ainda mais seu corpo ao meu. Pouco depois porém, ela para de me beijar e dar um passo para trás, empurrando minha mão. No entanto, não diz nada, nem uma palavra de reprovação. Nossos olhos permanecem fixos uns nos outros. Deixo escapar um sorriso. Tímida, ela abaixa os olhos. Então seus olhos esbugalham-se quando me fitam o falo, o qual escapara pela abertura, provocada pelo rasgo que Luciana fizera. Fico envergonhado e penso recolocá-lo para dentro. Mas antes que fizesse, Marcela pega-o delicadamente e o observa. A curiosidade a leva a acariciá-lo, o que me provoca intenso prazer. Instintivamente, levo-lhe a mão ao meio das pernas e também a acaricio com os dedos, talvez como um sinal de retribuição. Ela solta um suspiro, ergue a cabeça e nossos lábios se encontram novamente. Pego em sua mão (a que ainda mantém em meu falo) e a tiro dali. Em seguida, tento introduzi-lo no meio das pernas dela. Ao fazê-lo, quase perco o equilíbrio, o que nos faz interromper o beijo. Um tanto tímido, mas queimando-me nas chamas da volúpia, deixo escapar um sorriso contido. Ela o retribui, o que me instiga a seguir em frente. Agarro-a pela cintura e tento pô-lo novamente no meio das pernas dela. Marcela por sua vez facilita as coisas e as afasta. Mas, ao senti-lo ali, sobre a vulva, separando-os apenas as duas tiras que une os pedaços de pano e as quais anteriormente eram usados para cobrir-lhe os seios, experimenta o prazer. Abraça-me fortemente e aguarda que eu tome a iniciativa. Movo os quadris para frente e para trás com certa dificuldade, já que estamos de pé. Ela percebe isso e se solta, dá um passo para trás e finalmente o silêncio é interrompido pela sua voz meiga e apaixonada: “Vem cá! Vamos deitar”. Ela senta e em seguida se deita sobre a areia. Desata o nó e retira aquela peça usada como tapa-sexo. Retiro a minha sunga e me deito sobre ela. Abraço-a e penetro-a quase ao mesmo em que nossos lábios se encontram, como se o ato sexual não compreendesse só a penetração do falo mas também o acariciar das línguas. Lembro-me de sentir um prazer infinitamente maior do que aquele que senti ao penetrar Luciana. Lembro-me também de vê-la suspirar pouco depois, com os lábios rente ao meu ouvido: “Te amo! Te amo! Te amo...” Aliás, estas são as últimas lembranças daqueles devaneios. Talvez o que veio a seguir tenha se perdido com o tempo, embora eu ache improvável. Acredito todavia que a explicação é de que eu tenha adormecido, uma vez que o sono costuma vir justamente na melhor parte de nossas fantasias, levando-as para as partes mais inacessíveis de nossas memórias.
Na lembrança seguinte, ouço a voz dela, acordando-me para assumir o seu lugar. Diz que já deve ter passado mais de duas horas, desde o momento em que deitei.
-- Já não estou aguentando mais. Meus olhos não conseguem ficar abertos – confessou ela em seguida.
Levantei-me com dificuldade e ainda sonolento e disse-lhe para se deitar no meu lugar.
-- Vou ficar um muncado e depois acordo a Ana Paula – acrescentei, pronunciando erradamente a palavra “bocado”.
Observei-a a se deitar e as lembranças de meus devaneios que tivera ao ocupar aquele lugar antes dela me voltam à memória, o que me faz pensar: “Será que ela vai pensar em mim como eu pensei nela? Talvez. Ela pode pensar na família dela, nas pessoas que está procurando a gente, numa forma de sair daqui, no pé da Luciana. Em tanta coisa. Mas ela pode pensar em mim. Na gente. Nem que seja um pouquinho...”
Quando a observei novamente, ela estava imóvel. Então deduzi que adormecera.
Voltei a pensar em Marcela enquanto ficava sentado diante da fogueira ou de cócoras com uma vareta na mão cutucando-a. Todavia, diferentemente dos devaneios que tive antes de adormecer, estes não estavam envolto num manto de volúpia. Não que não tenha existido um quê de sensualidade, pois de fato houve; mas apenas num momento ou noutro. Meus pensamentos, a bem da verdade, focavam-se em encontrar uma solução se não definitiva, pelo menos temporária, capaz de me tirar das garras de Luciana e assim me dar mais liberdade de ficar com Marcela sem medo da outra.
Dentre todas as possibilidades, a mais terrível e a qual provavelmente eu jamais teria coragem de pôr em prática, implicava em cometer um dos atos mais revoltantes e condenáveis pela humanidade: o assassinato. Essa possibilidade inclusive me ocorreu depois de muito ponderar e chegar a conclusão de que, se de fato Luciana pusesse a vida de Marcela ou de minha prima em perigo eu não teria outra saída a não ser fazer uma encolha entre ela e as outras duas. O amigo leitor não teria dúvida de quem eu escolheria para sacrificar.
Antes porém de pensar nessa possibilidade, relembrei todas as ameaças que Luciana me fizera nos últimos dias. E então cheguei a conclusão de que estas se tornaram mais violentas e mais reais nos últimos dias. E sabia perfeitamente, embora ainda fosse um garoto, que estas não só não parariam como se aproximariam cada vez mais do insustentável, daquele momento onde a convivência entre Luciana, Ana Paula e Marcela seria impossível.
Não era a primeira vez que eu pensava em assassinar Luciana. Contudo, nunca pressenti o aproximar desse momento quanto naquela noite. Haveria de adiar esse terrível momento até que não houvesse mais saída, mas teria de ser feito. Ou Luciana morria ou ela mataria Marcela ou minha prima.
E pensando ter de executar essa terrível tarefa, cheguei a traçar alguns planos. Sabia que não poderia falhar, pois caso acontecesse eu próprio estaria em apuros. Desta feita, cheguei a conclusão de que teria de executá-lo longe das meninas, pois se fizesse diante delas, provavelmente tentariam me impedir, mesmo pondo a própria vida em risco. E mesmo que não impedissem, tal cena seria traumático por demais para minha prima. Éramos todos novos para presenciar uma cena dessas, minha prima, por ainda ser uma criança, não deveria sob hipótese alguma presenciá-la. Quanto a isso eu não tinha a menor dúvida.
Ocorreu-me que o melhor momento para fazê-lo era quando Luciana estivesse dormindo, o que seria executado na presença das duas. Se não fossem assim, teria de me afastar com Luciana da Cabana. Eu teria de me aproveitar dum momento de fraqueza dela, quando estivesse nos meus braços para matá-la, como já havia pensado dois dias antes. Foi então que tive uma nova ideia: “Poderia afogar ela? Quando ela desse um mergulho ou se abaixasse para se molhar. Era só agarrar no pescoço dela e segurar ela embaixo d'água. Ela ia se debater, mas ia se afogar.”
Naquele momento não pensei na possibilidade dela se escapar. Pelo menos não me recordo de ter pensado. Todavia, quando, dias depois, ponderei acerca dessa possibilidade com mais seriedade, isso me ocorreu.
Gostaria de ter pensando nessas alternativas com mais seriedade, já que dispunha de todo o tempo do mundo. Contudo, nossos pensamentos, diante de um fato novo e mais urgente, absorve esses fatos e muda completamente do rumo e de foco, dando lugar a outros pensamentos sem a menor relação com o anterior.
E a causa dessa mudança foi um ruído, o qual eu não sabia de onde via, mas que me fez gelar a espinha, o coração disparar e a sensação de medo invadir-me a alma de tal forma que por pouco não corri para junto das meninas e as acordei.
Durante um bom tempo, talvez uma meia hora, não fui capaz de me mover. Temia que um único movimento poderia chamar a atenção daquele que produzira aquele ruído. Imaginando que um grande monstro ou mesmo um animal feroz estivesse a espreita, elevei o pensamento para que, naquele momento, nenhuma das meninas se mexesse ou produzisse algum som.
Embora Ana Paula e Marcela tenham entrado naquela mata mais de uma vez e Luciana também embrenhara comigo a fim de me mostrar que naquela ilha não havia mais ninguém além de nós, ainda sim eu continuava a acreditar que algo nos observava. Talvez aquele ruído fosse um sinal de Deus por causa de meus pensamentos. Não era a primeira vez a pensar nessa possibilidade. Apesar de levar isso a sério, a existência de algo naquela ilha, procurando se ocultar da gente, pesava mais.
Acho que teria ficado imóvel a noite toda se Luciana não houvesse acordado e, vendo-me com aquela cara de assustado, indagado:
-- O que aconteceu?
-- Ouvi um barulho muito esquisito lá fora. Parecia o ruído de um bicho grande se aproximando – expliquei com a voz titubeante.
-- Mas já vem você de novo com essa história! Será que você é tão idiota assim para entender que não tem nada nessa ilha? Quantas vezes já não te disse isso? Enfia uma coisa nessa cabecinha: não tem mais ninguém além da gente aqui! -- disse ela, alterando a voz.
-- Eu sei que tem alguma coisa lá fora. Você ainda vai ver que eu tenho razão.
-- Me ajuda a levantar – pediu – que eu vou tomar conta dessa merda de fogueira para você dormir. Não estou com mais sono mesmo.
Ajudei-a e depois a sentar-se diante da fogueira. Só então deitei onde ela estivera deitada momentos antes e, minutos depois, cai no sono.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

SE VOCÊ QUER PARTIR DA MINHA VIDA

Se você quer partir da minha vida
Não há nada que eu possa fazer
O amor muitas vezes abre feridas
Que só o tempo é capaz de conter

Obrigar-te a ficar comigo agora
Como um dever e contra a tua vontade
Só te faria sofrer, embora
Sem ti sofrerei eu na realidade

Mas o meu sofrer é uma ferida
Cuja cicatriz tende a desaparecer
A tua, renunciando a tua vida,
É uma dor que só se faz crescer

Assim, vá quando chegar a hora
E leve contigo um quê de saudade
Melhor te ver feliz mundo afora
A sofrer feito uma ave enjaulada.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

SOB O VENTO DAS EMOÇÕES

























Eu procuro uma razão para me atirar aos teus braços
Mas o coração só conhece a linguagem dos sentimentos
Cuja lógica a razão desconhece. Não sei o que faço
Para conciliar mundos distintos e sem parâmetros.

As verdades do coração são um salto no abismo
De infinitas possibilidades; e provocam sensações
Que nos fazem dizer sim a todo paroxismo
Dos quais o futuro é uma fonte de recriminações

Mas a vida não é um viver nesse instável espaço
Das sensações? Viver não é sentir a cada momento
Emoções intensas como se tratasse do último passo?
Para o amor, buscar razões não tem cabimento.

Então que se dane todo esse meu preciosismo
Em procurar lógica em sentimentos e emoções
Atirar-me-ei aos teus braços sem o menor casuísmo
E então me deixarei guiar pelos ventos das sensações

domingo, 30 de novembro de 2014

ADEUS À INOCÊNCIA - CAP. 49


-- Acaba de tirar isso aí – ordenou ela, empurrando-me a sunga para baixo com certa violência. Nisso, desequilibrou-se e, ao tentar segurar-se naquela peça de roupa para não cair, acabou por rasgá-la. -- Merda! -- deixou escapar em seguida.
A princípio, eu não percebi. Até porque estava escuro e Luciana estava em minha frente, atrapalhando-me a visão.
-- O que foi? -- perguntei, achando que ela tinha se machucado mais uma vez. Aliás, pensei na torção do pé. -- Machucou o pé de novo?
Luciana encarou-me com um olhar faiscante, profundamente contrafeita.
-- Não, seu idiota! Rasguei essa merda aí.
-- Ah! Ela já estava rasgada do lado. Também com ela todos esses dias. Só podia acontecer isso mesmo!
-- Eu sei. Não precisa me dizer. Não sou uma idiota feito você. O problema é que rasgou bem na frente. E eu não quero você andando com isso aí aparecendo. Não quero que aquela cadela veja.
Magoado e ofendido, pois ela me tratara como se eu fosse um inútil, terminei de retirar a sunga e abaixei para apanhá-la. Aproximei-a dos olhos e então vi o rasgo diagonal, o qual se estendia de uma extremidade a outra. Embora fosse apenas um rasgo, de fato ficaria difícil evitar que o falo não escapasse por ali. E ao me aperceber disso, fiquei enrubescido. “E agora elas vão ficar olhando para ele. Marcela. Ela vai ficar imaginando coisas com ele. Aposto! Até minha prima também. Será? Não, ela não. É uma criança ainda...”, pensei. A bem da verdade, não foi Luciana quem me preocupou naquele momento, mas Marcela. Ela ainda não vira, e das primeiras vezes seria constrangedor. Pelo menos até que eu me acostumasse.
-- É! Rasgou muito – exclamei.
-- Temos que dar um jeito de emendar ele, senão essa coisa ai vai ficar para fora – disse Luciana.
-- Acho que num vai ter não. Tá muito velha. Vai é rasgar mais. Que nem o biquíni de vocês.
-- Pode deixar que eu vou encontrar um jeito. Ele é só meu. E se eu pegar aquela vadia de olho nele, juro que quebro ela todinha – ameaçou. Nisso levou-me a mão aos testículos e os apertou.
-- Aiiii!!! Tá doendo – protestei.
Ela o soltou e eu dei um passo para trás.
-- Me dá ela. Deixa eu vestir assim mesmo. E vamos voltar – falei.
-- Que voltar? A gente só vai voltar depois que você se deitar comigo – disse com convicção. Enquanto isso, Luciana sentou-se na areia e deitou-se de lado, virando-se para cima. -- Vem cá! -- estendeu-me as mãos. -- Deita em cima de mim. Mas cuidado com o meu pé!
Fitei-a. Apesar da escuridão, via-se seu corpo branco e nu. Meus olhos fixos naquele par de seios, escorregaram-lhe através do dorso até alcançar os meios das pernas dela, onde jazia uma mancha negra.
-- Mas num vai machucar o teu pé? -- argumentei, na esperança de demovê-la.
-- Não, num vai, idiota! -- disse ela imitando o meu “num”, para me repreender. -- Vou afastar elas bastante. Assim, ó! -- Abriu as pernas. -- Vem logo, seu imprestável! Tá esperando o quê?
Ajoelhei entre suas coxas e lentamente fui deitando-lhe em cima. Nisso Luciana estendeu o braço e agarrou-me o falo, o qual perdera parte da rigidez.
-- Vai, moleque! Faz isso ficar duro direito! Será que nem para isso você presta?
Sem lhe dizer nada. Ajeitei-me no meio de suas pernas e o contato de meu falo com a vulva úmida dela me excitou. Penetrei-a. Aliás, tive um pouco de dificuldade no começo, mas a mão dela no meu falo colocou-o no lugar certo
O gozo, como era de se esperar, não demorou.
Embora não fosse uma mulher experiente, Luciana o pressentiu momentos antes. E quando minhas forças faltaram-me, eu tentei erguer os quadris para que meu gozo não ocorresse dentro dela, mas ela segurou-me pelas nádegas e não pude fazer nada. Até o meu jovem e imaturo sêmen lhe pertencia. Em seguida porém, tentei escapar, mas ela ordenou-me:
-- Não gozei ainda. Continua. -- Ela falava comigo como se falasse com um garoto de programa. Aliás, senti-me usado, pois ela parecia pensar só em si e não dar a mínima para os meus sentimentos.
Como me foi difícil fazer aqueles movimentos! O prazer jazia extinto e eu só pensava em escapar-lhe dos meios das pernas, fugir dali. Mas não! Tinha de continuar. Até porque não me restava outra alternativa mesmo. E continuei.
Finalmente ela teve o seu gozo. E não fez questão de escondê-lo. Fiquei inclusive com medo de tê-la machucado. Pois ela gemia alto como se eu a perfurara por dentro. Lembro-me perfeitamente. Com os primeiros gritos, cheguei a parar e a fazer que ia me levantar. Mas ela porém me deu uma bofetada e disse:
-- Continua, seu idiota!
Quando tudo acabou, fez-se um longo silêncio. Estava desesperado para sair dela e fugir dali, mas temia que me agredisse novamente. Desta feita, decidi conter a repulsa e permanecer-lhe sobre, feito um cãozinho obediente e temeroso, que sabe o quanto o dono é violento.
Súbito, o silêncio findou. Ela encarou-me e disse:
-- Pelo menos para isso você presta.
Não disse palavra. Apenas encarei-a. Então Luciana pediu-me para se levantar. Obedeci. Aliás, ela exercia um poder tão forte e avassalador sobre mim que eu temia fazer movimentos bruscos. Eu não tinha mais dúvida: enquanto permanecêssemos naquela ilha ela faria de mim o que bem entendesse. Eu não era só um brinquedinho em suas mãos, era seu escravo. Talvez até me restasse alguma chance de acabar com aquilo, mas estas eram mínimas. Aliás, se de fato havia alguma, esta estava naqueles dias em que Luciana dependia de mim para se locomover. Enquanto o pé a impedisse de andar sozinha, eu teria alguma liberdade e a oportunidade de pensar numa forma de acabar àquele poder e com a minha submissão embora o problema em si não fosse Luciana, mas eu mesmo! Se eu não fosse tão fraco, não a teria deixado me dominar dessa forma. Mas sempre fui assim. Ali eu me submetia aos seus caprichos da mesma forma que Fabrício me submetera a quase dois anos antes.
Apanhei a sunga e dei dois passos em direção à água, mas ela me pediu para ajudá-la a se levantar. Em seguida, disse-me que também precisava se lavar.
Se a coragem não me faltasse e se ela não tivesse me reduzido naqueles poucos dias a um completo idiota, talvez tivesse deixado-a ali, sozinha e então ela teria de retornar com as próprias pernas, o que seria uma vingança, mas não, fui ajudá-la, como teria feito qualquer idiota que, mesmo escorraçado injustamente, cai de joelhos e pede perdão.
A água do mar estava bastante fria. Não chegava a estar gelada, talvez por causa do verão, onde o dia era bastante quente, mas quase chegava a provocar calafrios. Luciana não se importou. Entrou e pediu-me para levá-la mar adentro, até que a água nos atingiu os quadris. Então eu a soltei, pois o seu peso não lhe exercia mais tanta pressão no pé. Ela se lavou. Eu também. Inclusive, depois de me acostumar com a temperatura, dei um mergulho.
-- Vamos voltar – disse ela algum tempo depois, com aquele ar de imponência que parecia se acentuar a cada dia.
Saímos da água e apanhei a sunga sobre a areia. Voltei alguns passos e mergulhei-a para retirar a areia. Só então eu a vesti.
-- Deixa eu ver.
Parei diante dela. De fato o rasgo era grande e meu falo, o qual se encontrava encolhido, escapava por ali.
-- Bem. Agora vai ter que ficar assim mesmo. Mas vou avisando: Se aquela cadela ficar de olho nele, furo os olhos dela. -- Nisso senti um calafrio. Sabia que Luciana era capaz de fazer isso mesmo. -- E você também. Se eu pegar ele duro por causa dela, arranco ele fora.
Ao fim dessas palavras senti uma dor tão forte nos testículos que não pude resistir e caí ao chão.
Talvez Luciana não pudesse imaginar que, ao bater-me de baixo para cima, com a palma da mão, como se me desse uma bofetada, fosse doer tanto. Contudo, nada provoca mais dor do que acertar os testículos dessa forma, pois atinge-os em cheio. Gritei de dor enquanto as forças nas pernas me faltavam. Em seguida, fui tomado pelo choro.
Vendo-me contorcer de dor, ajoelhou-se ao meu lado e, acariciando-me na face, coisa que não fizera desde que saímos da cabana, pediu-me desculpas. Confessou que não sabia que doía tanto.
Não lhe dei ouvidos. Continuei a chorar, até porque a dor era intensa demais. E ainda hoje, depois de todos esses anos, quando me lembro daquele momento, é como se a dor voltasse. Chego a senti-la como se meus testículos fossem novamente atingidos.
Mais tarde porém a dor passou e o choro cessou. No entanto, permaneci mais algum tempo deitado, desejando matá-la. Ah, se eu tivesse coragem! Levantaria naquele instante e me atiraria sobre ela e a esmurraria até que ela perdesse a consciência. Se a raiva ainda permanecesse, continuaria. Pois tomado pela ira, o homem se torna um animal selvagem, e dos mais violentos.
-- Levanta. Vamos nos lavar de novo e depois voltar. Aposto como elas já estão estranhando a nossa demora.
Pensei em Marcela e na minha prima. “Será que elas tão desconfiadas de alguma coisa? Tão estranhando a nossa demora. Ana Paula sabe. Imaginando. Ela pode estar. E se ela contar pra Marcela? Não. Isso ela num vai fazer. Proibi ela. Ali na mata quando derrubei ela no chão. Ameacei. Não ela não vai... Mas Marcela também tá desconfiada. Num chamou a Luciana de puta à toa.”
Entramos rapidamente na água e tiramos a areia. Retornamos em silêncio.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

ADEUS À INOCÊNCIA - CAP. 48


Após colher as duas goiabas e mais três que Ana Paula achou enquanto eu e Marcela nos ausentamos, retornamos à cabana com o sol escondendo por trás da montanha. Marcela passou a maior parte do tempo silenciosa e pensativa, como se procurasse entender os seus próprios sentimentos. Vez ou outra, fitava-me e, em seguida, abaixava a cabeça tímida; aliás, tão envergonhada quanto eu que não deixava de me corar toda vez que nossos olhos se cruzavam. No entanto, aquela insistência em me fitar mostrava uma mudança de comportamento. Da outra vez ela procurava não me encarar, mas agora, apesar do silêncio, parecia não estar ofendida com a minha falta de compostura. Talvez encarara minha ousadia como um ato deliberado, fruto do momento. Ou, por ter experimentado o gosto do deleite, tenha encarado aquilo tudo de forma positiva. Enfim, seja lá qual for, a verdade é que isso acabou reacendendo as minhas esperanças.
Embora Ana Paula tagarelasse a maior parte do tempo, eu mal prestava atenção às palavras De fato, não me recordo de nada que ela tenha dito. Sei apenas que ela estava alegre, contrastando com seu estado melancólico de mais cedo, quando a saudade nos afetara a todos. Compenetrado em meus pensamentos, eu ficava revendo o momento onde a troca de experiências foi uma experiência inesquecível. Aliás, ainda hoje consigo rever aquele instante como se este ocorresse agora e não num passado distante. E foi mergulhado nesses pensamentos que finalmente chegamos à cabana.
-- O que vocês trouxeram? -- apressou em perguntar Luciana, recostada a um canto da cabana, demostrando alegria com a nossa chegada – Estou com uma fome de lobos – acrescentou.
-- Não muita coisa – adiantou-se Marcela, possivelmente para evitar que Ana Paula abrisse a boca e iniciasse uma nova discussão com Luciana, dado o desafeto entre as duas. -- Só 5 goiabas. Não vai dar nem para dividir direito.
-- Quem é menor come menos – declarou com o intuito de provocar Ana Paula, já que esta era a menor e mais nova.
-- Eu fico com uma pequena – antecipei, antes que um tumulto se iniciasse. Aliás, de qualquer forma teria feito isso, não só pela minha prima como por Marcela também. Quanto à Luciana, certamente sentiria um quê de prazer em deixá-la com menos, mas devido ao seu estado enfermo provavelmente não faria isso naquele momento. -- Não estou com fome mesmo!
-- Eu é que num vou dar a minha parte pra essa vadia esfomeada – interveio Ana Paula incisiva, deixando claro que o fato de Luciana está enferma não a comovia. Aliás, seu tom de voz era desafiador. -- Ela num é melhor do que ninguém.
-- Vadia é você, sua pirralha! Se eu não estivesse com o pé machucado, ia quebrar tua cara agora mesmo – esbravejou Luciana fazendo gestos para se levantar.
-- Mas que merda! Será que vocês não conseguem ficar um minuto sem brigar? Pode parar as duas. -- intervi.
Fez-se um breve silêncio. Emburrada, Ana Paula jogou ao chão as goiabas que trazia nas mãos e sentou-se ao lado da porta, feito uma criança contrariada. Luciana, pelo contrário, denotava uma satisfação íntima, como se sentisse prazer em ver a outra naquele estado. No entanto, não deixou de sussurrar como se pensasse alto:
-- Deixa meu pé melhorar. -- E isso soou como uma ameaça.
Nisso, Marcela abaixou-se em silêncio e catou as goiabas. As outras duas encontravam-se em meu poder.
-- Vamos dividir isso logo – falei. -- Dê as duas menores pra Luciana – ordenei. Em seguida acrescentei: -- pega essa – estendi o braço – e essa menorzinha aí – apontei em seguida para a mão direita dela.
Marcela entregou-lhe as duas frutas. Luciana pegou-as em silêncio. Entreguei a que ainda se encontrava comigo à minha prima e disse para Marcela ficar com a maior e me dar a menor. Ela titubeou por um instante, talvez querendo me dar a maior. E após alguns instantes ofereceu-me a maior. Recusei-a acrescentando:
-- A maior é sua. Pode me dar a outra.
Luciana, vendo aquela troca de gentilezas, não deixou por menos.
-- Que bonitinho! Um com peninha do outro.
-- Vai se ferrar! -- deixou escapar Marcela.
Por sorte, Luciana não retrucou. Aliás, numa atitude incomum, pois certamente estava enciumada. E nesses casos, a primeira providência é partir para o ataque. No entanto, sua atitude parecia ocultar algo, uma vingança quem sabe. Já demonstrara mais de uma vez que a vingança é um prato que se como frio como diz o velho ditado.
Saboreamos as goiabas em silêncio, cada um a seu modo. Nesse ínterim a noite chegou e tudo se tornou um breu. No interior da cabana, o fogo queimava lentamente, numa chama branda, alimentada vez ou outra por pequenos gravetos. Aliás, já não nos preocupávamos tanto com a fogueira quanto nos primeiros dias. Não a deixávamos apagar, já que nos seria custoso acendê-la novamente, mas procurávamos mantê-la acesa apenas para termos fogo quando realmente precisássemos dele e para ter um pouco de claridade quando a noite caía. Esse inclusive era o único motivo pelo qual ainda tomávamos conta dela. E naquela noite, não seria diferente. Assim, como vinhamos fazendo desde a chegada à ilha, cada um teria de vigiá-la; pelo menos até encontrar uma forma melhor de mantê-la acesa por toda a noite.
-- Preciso ir lá fora – disse Luciana pouco depois.
Fitei-a. Em seguida, olhei para Marcela e minha prima, a qual encontrava-se deitada num dos cantos, prestes a adormecer. Ambas também olhavam-na, talvez surpresas com o pedido.
Embora não tenha feito diretamente o pedido a mim, sabia que teria de ser eu a levá-la, já que se tornara inimiga das outras duas. Por isso adiantei acrescentando:
-- Mas agora? Já tá escuro.
-- E fazer xixi tem hora? E qual o problema de estar escuro? Você não costuma sair no meio da noite para fazer aquelas coisas.
A minha vontade foi de procurar um buraco para enfiar a cabeça. No entanto, apenas fitei-a mudo, com o rosto pegando fogo.
-- Que coisas? -- perguntou Ana Paula.
-- Num é nada não. Ela é que está inventando coisas – volvi. Foi a forma que encontrei de sair daquele embaraço. Claro que se ela e Marcela fossem espertas teriam vistos o meu embaraço e percebido que Luciana sabia de algo que elas não tinham conhecimento. -- Deve estar é sonhando, isso sim. Tenho o maior medo de ir lá fora sozinho – acrescentei enquanto me aproximava dela. Estendi os braços e falei: -- Já que não tem jeito, vamos logo.
Segurei-a pelos quadris e ajudei-a a caminhar para fora da cabana. Apesar de seu pé parecer melhor, ela ainda não conseguia firmá-lo. Vez ou outro chegava a pô-lo no chão, o que já era um sinal de melhora, mas a dor a impedia se usá-lo para caminhar.
-- Essa imobilização que vocês fizeram deu resultado – disse ela. -- Já estou me sentindo bem melhor – completou.
-- Que bom. Assim vai sarar mais rápido – falei. A bem da verdade não sabia o que dizer. Ainda continuava confuso com o constrangimento que ela me fizera passar momentos antes. Prova disso foram minhas palavras. Apesar de não desejar o mal de ninguém, sabia perfeitamente que enquanto ela estivesse enferma eu estaria livre tanto de suas investidas quanto para me encontrar com Marcela. Portanto, não poderia desejar de forma alguma sua melhora. Aliás, se fosse mais corajoso daria um jeito de fazer com que aquela lesão piorasse.
Andamos por cerca de cinco metros e achei que ela pararia. Mas quando perguntei se ali estava ótimo ela fez questão de dizer:
-- Vamos naquela direção – apontou. -- O que vou fazer não quero que aquelas vadias vejam.
Andamos por mais ou menos cem metros, o suficiente para que não fossemos vistos pelas meninas. Aliás, olhando para trás, mal se via a cabana. Na realidade, ela só podia ser vista por causa do fogo a clareá-la.
-- Me ajude a ficar de joelhos – pediu.
Mantendo-a equilibrada, ajudei-a a se abaixar. Apesar da dificuldade, consegui se ajoelhar. Por um momento fiquei tentando imaginar como ela faria para fazer suas necessidades. Mas aí cheguei a conclusão de que naquela posição ela não teria problemas. “É só ela apoiar as mãos no chão e fazer o que ela quiser”, lembro-me de pensar.
-- Fica aqui, bem na minha frente, para eu me apoiar.
Jazia ao seu lado. Então, sem soltá-la de todo para que não perdesse o equilíbrio, dei três passos e parei a sua frente. Por um momento, ela soltou minha mão e como se perdesse o equilíbrio agarrou-me a sunga, puxando-a para baixo.
Assustado, dei um passo para trás. Mas ela me segurou.
-- Nem tente escapar – Nisso ela agarrou-me os testículos. -- Se tentar, arranco eles. Aposto como vai doer tanto que você vai rolar no chão de dor – ameaçou. -- Sei o quanto isso aqui dói.
Sem ter o que fazer, acabei dizendo que não fugiria.
-- Melhor assim. Deixe eu ver o que você andou aprontando com aquela vadia. Se você fez alguma coisa eu vou descobrir já. -- Então sentir-lhe os dedos pegarem-me no falo e empurrar o prepúcio para trás. -- Hum. Eu sabia! Tá melado. Pensa que eu sou idiota? Pode até não ter feito nada com ela, mas ficou pensando em fazer. Ele não ia estar assim se você não tivesse feito ele ficar duro e ficasse pensando. Sei muito bem. -- Enquanto falava, movia os dedos para trás e para frente. E devido ao excitamento de meia hora antes, ele voltou a crescer mais rápido. Até tentei impedir, mas não se pode conter os instintos. De forma que não havia nada que eu pudesse fazer. -- Muito bem. Cresce minha coisinha... cresce mais...
Quando ela o percebeu ereto, soltou-me os testículos sob ameaças:
-- Se não me obedecer, na primeira oportunidade eu juro que vou apertar eles tanto que os teus gritos vão chegar aos ouvidos dos teus pais. E você já sabe que o que eu prometo eu faço.
Cheguei a experimentar um calafrio ao ouvir suas ameaças. Sabia que Luciana era capaz de cumprir suas promessas. Era o tipo de mulher, embora eu ainda não compreendera de todo isso, capaz de torturar a pessoa mais querida para alcançar seus objetivos. No entanto, o que mais me assustava não eram as ameaças, mas o que ela ocultava. Boa coisa não haveria de ser, embora com aqueles gestos não fosse difícil deduzir, mesmo para um garoto da minha idade. Ela tinha uma mente diabólica, disso eu não tinha a menor dúvida. E sendo assim, era capaz de me levar a cometer os atos mais vergonhosos apenas para satisfazer seus instintos incontroláveis.
Preso feito um pequeno inseto que cai nas teias de uma aranha, não me restava outra alternativa a não ser aceitar o meu destino e aguardar.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

O MOVIMENTO DE IMPEATCHMENT DA DILMA É GOLPISMO?

O movimento para pedir o impeachment da Presidente Dilma, promovido por uma parte daqueles que se sentiram derrotados nas urnas, é um ato ilegítimo por si só e não tem o menor fundamento. Aliás, prova disso é o fato de nenhum partido político ter se disposto a encabeçar esse movimento no Congresso Nacional. Nem mesmo o maior interessado, o PSDB de Aécio Neves, que justamente foi derrotado pela Dilma, deu aval ao movimento; pelo contrário, se pronunciou contra. As justificativas daqueles que promovem o movimento é a alegação de que Dilma sabia dos escândalos de corrupção e desvio de dinheiro que envolvem integrantes do Governo Federal e diretores da Petrobras. No entanto, suspeitas não são provas e enquanto essas provas não existirem não há do que acusar Dilma. Ela pode ser acusada de não ter cumprido as promessas da campanha de 2010; pode ser acusada de não ter conduzido o país de acordo com as expectativas dos brasileiros; e pode ser até acusada de não estar a altura do cargo ao qual ocupa e de não ter tomados as medidas necessárias para evitar a crise econômica pela qual o país vem passando nos últimos meses e a qual muito provavelmente se agravará em 2015. No entanto, isso não é uma justificativa legal para exigir que o parlamento brasileiro inicie um processo de cassação do seu mandato. Aliás, o fato dela ter acabado de ser reeleita para um novo mandato faz do movimento um ato golpista. Se o movimento tivesse ocorrido no primeiro semestre de 2014 ou mesmo antes ainda poderia ter alguma legitimidade, mas não no dia seguinte às eleições. Este talvez tenha sido o maior erro daqueles que iniciaram o movimento, pois não há como desassociá-lo de uma tentativa de reverter os resultados das urnas -- resultado esses contestados das formas mais absurda e muitas vezes homofóbica, preconceituosa e até racistas --, ainda mais que o movimento é promovido por um grupo muito restrito da sociedade brasileira. O Congresso está em final de legislatura e portanto não há legitimidade para inciar um processo de impeachment e o novo Congresso, que tomará posse em 2015, não o fará, a não ser que haja uma razão muito forte para isso, coisa que não existe até o momento e dificilmente haverá. Aliás, a alegação de que Collor foi caçado por muito menos não tem razão de ser. Collor não foi caçado porque tinha cometido algum crime, mas porque não tinha e nunca teve apoio no Congresso para se manter no poder. Enfim, exigir o impeachment da Presidente Dilma no momento é sim, gostem ou não, um ato oportunista e golpista.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

A DESRAZÃO DOS DERRROTADOS

Embora muitos discordem, não há como negar que a eleição da presidenta Dilma foi legítima e democrática. Os ataques mútuos e a baixaria de ambos os lados não afetou em nada o processo eleitoral e o brasileiro não teve o seu direito de escolha cerceado, como muitas vezes acontece nos regimes autoritários. E o mais importante: não houve fraude, o que de fato teria tornado o processo ilegítimo.
    Uma parte considerável daqueles que apoiam Aécio Neves reagiram de forma irracional e, inconformados com a derrota, acusaram injustamente os nordestinos pela derrota do candidato do PSDB, quando, na realidade, Dilma venceu em outros estados, os quais não faziam parte do Nordeste, e teve votação expressiva no Sudeste. Ora, acusar a população dessa ou daquela região pela derrota de seu candidato não tem o menor cabimento. Esse é preço da democracia. Não vamos nem entrar no mérito do preconceito contra os nordestinos, pois isso não merece discussão.
    Outro argumento dos derrotados que não se justifica é a alegação de fraude devido à demora em sair os primeiros resultados, os quais, ao serem disponibilizados, já mostravam Dilma na frente. O processo eleitoral brasileiro é considerado um dos mais seguros do mundo e exemplo para muitos países. Apesar de não existir sistema imune à fraude, as urnas eletrônicas são seguras. Então não há porque questionar o processo. O falto dos resultados terem saído quando a totalização já estava no fim talvez seja a justificativa daqueles que alegam fraudes, mas não devemos esquecer que o envio de dados é feito diretamente pelos locais de votação e os quais são fiscalizados por representantes dos partidos em disputas. Isso, se não impede a manipulação dos votos, dificulta em muito, tornando praticamente impossível. Os dados não foram disponibilizados antes por causa do fuso horário, uma vez que no estado do Acre, a votação só foi encerrada por volta de 20:00 horas. Nos estados onde a eleição encerrara três horas antes, os votos já tinha sido totalizados, mas não poderiam ser divulgados para não influenciar aqueles que ainda não tinham votado. Aliás, foi a primeira vez que o segundo turno ocorreu após o início do horário de verão. Enfim. Mais um argumento sem o menor fundamento.
    E por último, alegar que o PT fez terror eleitoral e consequentemente influenciou muitos eleitores também não se justifica. De fato, a campanha da Presidenta Dilma jogou sujo contra Aécio Neves, mas o jogo sujo ocorreu dos dois lados. Aliás, isso não é caso típico da política brasileira. Nos EUA esse jogo sujo também ocorre, embora não de forma tão baixa como ocorreu no último pleito. Aliás, o próprio PT foi vítima desse jogo sujo em 1989, o qual de fato influenciou o resultado das urnas, mas essa influência não ocorreu no último pleito. Aliás, só idiota acreditaria que a reportagem da revista Veja contra a candidata Dilma não teve a intenção de influenciar o eleitor e ajudar a campanha de Aécio.
    Na falta de argumentos consistentes para questionar a eleição de Dilma, aqueles que ainda não se conformaram com a derrota, embora Aécio e o próprio PSDB já a aceitaram, vêm articulando movimentos na intenção de provocar o impeachment da presidenta eleita. Se fosse feito no último ano ainda se poderia dar alguma legitimidade ao movimento, mas agora não passa de um oportunismo barato e sem o menor fundamento. Dilma acabou de ser eleita e não há clima político e nem justificativa plausível para iniciar um processo de cassação. Até porque a legislatura do Congresso está no fim e o novo Congresso empossado não o fará, a não ser que surja um fato muito grave que justifique tal processo.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

ADEUS À INOCÊNCIA - CAP. 47

    Embora os fatos narrados aqui façam parte de um passado distante, o que de certa forma acaba comprometendo a veracidade de uma coisa ou outra, uma vez que a memória humana tem o dom do esquecimento e sem o qual a vida se tornaria insuportável (pelo menos assim penso), muita coisa – principalmente alguns fatos marcantes – ficou gravada tão profundamente que o tempo não foi capaz de apagá-las. Aliás, para um garoto feito eu, passando por uma experiência daquelas, cuja maioria delas me provocaram sensações que até então não havia experimentado, não poderia deixar de mantê-las vivas na memória ao longo de todos esses anos.
    Se por um lado a imagem de tio Jamil tenha me desaparecido quase que completamente da lembrança, feito uma fotografia que vai se apagando com o tempo, por outro aquele abraço e os atos que desencadeou mantêm-se tão vivos como se tudo ocorresse no exato instante em que escrevo estas palavras. Obviamente ela não está aqui para dividi-los, pois como o amigo leitor saberá no futuro, a ilha acabou sendo sua última e eterna morada. De forma que só me resta confiar na lembrança para contar o que se passou.
    Por um momento cheguei a temer que ela não aceitasse o meu pedido. No entanto, quando estendeu seus braços, abracei-a fortemente. E o contato de seu corpo no meu provocou-me sensações indizíveis, as quais me deixaram profundamente confuso. Algo parecido já havia me ocorrido, mas não naquela intensidade. Aliás, não desejava mais do que aquele abraço. Só de tê-la nos meus braços me deixava satisfeito, porque eu sabia que estava apenas dando mais um passo para tê-la em definitivo, mais até do que o que dera dias atrás.
    Não posso afirmar de forma convicta, mas acredito porém que meu estado de afetação acabou por envolvê-la. De repente nossos rostos se afastaram e os olharem se cruzaram sem saber o que de fato procuravam. Talvez tenham sido aqueles olhos fixos nos meus, e que pareciam tentar adivinhar  quais eram as minhas verdadeiras intenções, que me hipnotizaram, que me fizeram refém dos instintos, os quais, numa batalha intensa, empurraram-me os lábios na direção dos dela.
    Se Marcela não estivesse inebriada, talvez teria feito como fizera antes e em pedido para apanharmos o galho e voltarmos para junto de Ana Paula. Porém não foi isso que ela fez. Pelo contrário: deixou que seus lábios buscassem os meus. E numa intensidade de sensações, nós nos entregamos ao mais delicioso beijo que já experimentei. Um beijo longo e apaixonado, muito diferente daqueles que trocara e que viria a trocar no futuro com Luciana. E até mais intenso que da primeira vez em que a beijei, talvez porque agora não havia toda aquela tensão que quase sempre impede que aproveitamos as sensações de uma primeira vez. As mais diversas reações ocorreu-nos. Digo “ocorreu-nos” porque Marcela, pela primeira vez, entregou-se completamente àquele beijo, envolvendo-me e apertando-me contra si, como se quisesse dissolver-se em mim ou que eu me dissolvesse em si para formarmos um corpo só.
    Numa reação natural e impensada, provavelmente fruto de algum instinto que acabara de dominar os demais, escorreguei-lhe uma das mãos pelos quadris e esta foi subindo até encontrar-lhe o seio. Apalpei-o. Porém sem o temor que me invadira no outro dia. Mas isso não provocou o fim do beijo. Nossos lábios mantiveram-se colados embora o toque no seio dela me fizesse ter consciência de acariciá-lo, o que fez com que minhas sensações fossem divididas em duas experiências simultâneas. Como uma sensação só pode ser experimentada com toda a intensidade quando todas as demais são anuladas, a reação a uma nova acaba inevitavelmente anulando ou reduzindo consideravelmente os efeitos da primeira. E apesar do beijo ter-me causado um prazer incapaz de ser medido pouco antes, a carícia no seio acabou não só me fazendo ter consciência de que a beijava como a acariciava, permitindo-me escolher entre um e outro para o qual desviar minha atenção. E então pude pensar, coisa que não fizera desde o momento em que senti seu beijo, e concluir o melhor a fazer para que ela não me fizesse parar. O beijo prosseguiu embora eu desejasse findá-lo e então chupar-lhe o mamilo, o qual me daria muito mais prazer.
    Há uma corrente de pensadores que afirma que o ato mais racional não passa de fruto dos instintos, os quais numa luta constante, acaba por refletir em todos os nossos atos. Não sei até que ponto isso é verdadeiro, pois aquele período na ilha ensinou-me muito sobre o homem e a vida, talvez mais do que todos os livros. E ali eu aprendi que todas as tentativas de explicar a vida não passam de desperdício de tempo, pois há coisas que não podem ser explicadas da forma que ainda se faz hoje em dia. A vida é uma sequência de acasos, os quais são apenas um instante na eternidade. Não tem objetivo algum diferentemente do que nos ensinam as religiões. Não se vem e não se vai para lugar algum. E embora nos consideramos superiores a todos os demais seres vivos – inventamos inclusive uma alma para melhor suportarmos o fato de que iremos morrer – somos bem mais macaco do que admitimos. Portanto, o predomínio dos instintos me leva a crer que o pensamento só ocorre quando um instinto o estimula. Sendo assim, tenho de admitir que o pensamento de tocá-la no meio das pernas não surgiu por acaso. Possivelmente a excitação sexual tenha me feito pensar em praticar tal ato afim de obter o prazer, pois o prazer é o que todo instinto busca. Mas havia outro porém: o que a cobria ali, não era a tanga, mas a parte de cima que ela improvisara e a qual mal ocultava o sexo; parte dos negros pelos pubianos ficavam a mostra. E então, num ato quase involuntário, minha mão soltou-lhe o seio e escorregou-lhe até o meio das pernas, indo parar por baixo do folgado biquíni.
    Foi um ato rápido. Coisa de segundos. E então toquei-a naquela parte do corpo que ela fazia o possível para manter-se escondida. Não tive a menor dificuldade em introduzir a mão por baixo do pano, depois de certa relutância não só pelo temor de que ela se ofendesse como também por ter consciência de estar fazendo algo errado e -- como acreditava na época – cometendo um grave pecado.
    Minha mão fê-la interromper o beijo. Por um instante cheguei a pensar que fosse se zangar e mandar-me tirar a mão imediatamente. No entanto, sem me fitar, talvez por timidez, tombou a cabeça sobre meu ombro e deixou que eu continuasse embora, com a mão trêmula, eu não soubesse exatamente como proceder. Ocorreu-me somente de tentar introduzir o dedo entre os grandes lábios, o que não consegui devido a tira que prendia e mantinha unida os dois pedaços de pano que anteriormente cobriam-lhe os seios. Nervoso e afoito como um garoto inexperiente que ao ser levado a um prostíbulo para a sua primeira vez tenta ocultar esse fato da prostituta procurando penetrá-la o mais rápido possível mas sem sucesso.
    E talvez eu até tivesse conseguido se não chegasse aos nossos ouvidos os gritos de Ana Paula para nos apressarmos que não ia ficar trepada na goiabeira o dia inteiro a nossa espera. Marcela levantou a cabeça e então me encarando disse:
    – Chega! Vamos voltar.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

A PAZ MUNDIAL SÓ SERÁ POSSÍVEL...

Acreditar na paz entre todas as nações do mundo, de forma que os povos vivam em harmonia é uma utopia sem tamanho. No entanto, quem em algum momento não sonha ou já sonhou com isso? E cada um de nós, a esperança de que as nações deixem as diferenças de lado, tem lá sua receita para acabar as guerras e a matança injustificada. A minha receita seria mais ou menos assim:


A paz mundial só será possível quando
As religiões desaparecerem
E o ódio religioso não ter mais razão de ser;
Quando o homem se importar mais
Com a realidade que lhe cerca
Do que com o que lhe acontecerá
Depois da morte.

A paz mundial só será possível quando
A cor da pele não fazer a menor diferença
E o ódio racial não ter mais razão de existir;
Quando o homem se importar mais
Com o futuro da humanidade
Do que com seus desejos mesquinhos
De explorar o seu semelhante.

Mas a paz mundial só será mesmo possível
Quando não houverem mais nações
Pelas quais se guerrear;
Quando não houver mais discriminações
E nem razões para ofensas e humilhações
E compreender de uma vez por todas
Que no fundo somos todos iguais...

terça-feira, 26 de agosto de 2014

ADEUS À INOCÊNCIA - CAP. 46

    Um vento forte na madrugada trouxe chuva ao amanhecer. Era uma chuva fina e gelada embora ainda estivéssemos no verão. A cabana nos protegia mas não impedia de gotejar em alguns pontos, fazendo com que nos espremêssemos onde não gotejava. Aliás, a fogueira teve de ser removida para o canto oposto ao da porta para não ser apagada por uma goteira que teimava em cair-lhe bem em cima.
    Ana Paula, desde que os ventos se tornaram mais forte, não deixou ninguém dormir. Insistia com certa razão que a cabana não resistiria e seria levada, deixando-nos ao léu. Tive de tomá-la nos braços para acalmá-la. Embora sentir os seios desnudos dela colados ao meu corpo me causasse certa inquietação, a coisa não ficou mais séria porque a minha preocupação estava voltada às condições de Luciana. Caso precisássemos sair dali as pressas e embrenhas na mata – o que me causava um medo terrível só de pensar nessa possibilidade –, Luciana não teria condições de correr. Precisaria ser carregada. E esta tarefa caberia a mim.
    Passamos umas duas horas quase imóveis ali. Na maior parte do tempo, ficamos em silêncio, como se não soubéssemos o que dizer. O medo e o pavor certamente foram a causa disso. Eu mesmo, que procurava na medida do possível acalmar as meninas, embora Luciana não demonstrava sentir medo, estava deveras assustado. Pensava na maior parte do tempo que, se aquela cabana não resistisse, teria de enfrentar os meus maiores temores e ir se abrigar naquela floresta. Aliás, não sei se seria capaz de enfrentá-la na escuridão. Embora não houvesse provas de existir alguém ali além de nós ou algum animal, ninguém seria capaz de me convencer do contrário. De mais a mais, a queda da cabana poria por terra todo o nosso trabalho, o qual teria de ser refeito. Por isso uma dezena de vezes prometi que a reforçaria. E cada uma das meninas não só concordaram comigo como inclusive prometeram me ajudar. Marcela inclusive chegou a dar algumas sugestões para torná-la mais resistente à tempestade.
    -- Mas num acho que a gente vai precisar – disse Ana Paula convicta.
    -- Por que não? -- indagou Luciana.
     -- A gente vai sair daqui logo. Já, já vão encontrar a gente. Vocês vão ver.
    -- Idiota! Eles pensam que a gente está morta – declarou Luciana em tom provocativo. -- Já pararam de nos procurar. Sabe quando vão encontrar a gente? Nunca!
    Essas palavras levaram Ana Paula às lágrimas. Tive de interferir e consolar minha prima dizendo que Luciana estava fazendo aquilo só para provocar. Aliás, tive de repreender Luciana dizendo:
    -- Se você num quer ajudar – Lembrei-me do que Luciana me dissera sobre a pronúncia do “não” -- então não piore as coisas.
    Ela calou-se e passou a maior parte do tempo silenciosa feito uma criança emburrada. Vez ou outra porém reclamava da posição e do pé machucado, mas fazia isso de uma forma como se pensasse alto, pois parecia falar consigo mesmo.
    Quando finalmente a chuva deu uma trégua, sugeri buscarmos alguma coisa para comer. Não havia sobrado nada do dia anterior e, assim como eu, aquelas meninas deviam estar famintas. Ana Paula se prontificou a me acompanhar. Embora sabendo que Luciana não gostaria, ainda sim chamei Marcela para ir conosco. Disse que nós três apanharíamos uma quantidade de frutas num menor tempo e voltaríamos mais rápido, antes da chuva recomeçar, já que tudo indicava que o tempo ruim duraria pelo menos o dia todo.
    Luciana atirou-me os olhos faiscantes quando a fitei. Não dei importância. Sabia que naquele momento ela não poderia fazer nada. Se ela ficasse com raiva, problema dela. A nossa sobrevivência vinha em primeiro lugar. Aliás, tal pensamento não me ocorreu. Apenas agi por instinto.
    Seguimos em silêncio e pensativos ao longo da praia. Por fim, Marcela resolveu dizer alguma coisa.
    -- Se em dois ou três dias ninguém aparecer, é melhor a gente pensar num meio de sair desse lugar.
    -- Você também acha que eles pararam de procurar a gente? -- indagou minha prima.
    -- Estou começando a ficar com medo de que isso tenha acontecido – declarou Marcela.
    -- Eu também – concordei.
    De fato eu já tinha perdido as minhas esperanças. Faziam uma semana e ainda continuávamos perdidos naquele fim de mundo. Por que ninguém passara por ali ainda? Era a pergunta que me inquietava. Por mais distante que estivéssemos do acidente, um navio, um barco ou mesmo um avião teria de ter passado naquelas redondezas, mas até aquele momento nada. Comentei este fato com as duas, mas também elas não sabiam responder.
    -- Olha lá! -- disse Marcela, apontando, assim que chegamos – Bem lá na ponta! Duas goiabas.
    Aproximamos e as observamos.
    Eu havia apanhado algumas maduras no segundo dia naquele mesmo pé, mas não havia visto aquelas duas frutas amarelas, talvez porque naquele dia estivessem verdes e tenham passado despercebido.
    -- O problema é: quem vai até lá – falei.
    -- Eu vou – adiantou-se minha prima. -- Mas alguém vai ter que me ajudar a alcançar aquele galho.
    Sem muito esforço eu e Marcela suspendemos Ana Paula e então ela pode continuar a subir sozinha. No entanto, não foi muito longe. Ficou com medo de seguir em frente e o galho quebrar com ela. De fato este era fino demais e provavelmente não suportaria o seu peso.
    -- Algum de vocês vai ter que procurar uma vara para eu bater nelas – disse Ana Paula dependurada na goiabeira.
    -- Espera aí que eu vou procurar – disse Marcela.
    -- Eu também vou ajudar – falei.
    Poderia ter ficado ali esperando, mas naquele momento vi uma oportunidade rara de ficar as sós com Marcela. Sabia que com Luciana por perto esses momentos seriam raros. E mesmo que não chegasse a beijá-la, pelo menos tentaria arrancar-lhe um abraço, o que já me deixaria satisfeito.
    Afastamos alguns metros e entramos na mata.
    Eu daria qualquer coisa para não entrar ali, mas meus sentimentos por Marcela foram mais fortes que o medo; talvez porque estar junto dela também era uma forma de protegê-la caso aquilo que imaginava estar escondido naquela mata aparecesse. Não sei o que faria caso algo realmente aparecesse. Talvez o temor e o instinto de sobrevivência falasse mais alto e eu acabasse saindo em disparada, deixando Marcela para trás. Contudo, tudo não passa de conjecturas. O amor é um sentimento cujo poder não pode ser mensurado.
    Aliás, o que me impulsionava a estar junto dela além de meu amor eram seus seios, os quais atraíam a minha visão com sua nudez feito um ímã. Por mais que eu tentasse, não resistia em fitá-los. Se sabia que ela não estava me olhando, ou em minha direção, atirava-lhe os olhos e os contemplava, desejando-os. Mas era só ela mexer a cabeça e então eu desviava o olhar. De quando em quando isso não dava certo e ela me surpreendia. Então, minhas faces afogueavam e, envergonhado, eu me recriminava e prometia não fitá-los mais, promessa essa que não conseguia cumprir nem por cinco minutos. E de mais a mais como poderia me esquecer que tocara-os dias atrás? Desejava tocá-los novamente como fizera da outra vez, ainda mais que agora desnudos poderia senti-los em minhas mãos.
    As sós com ela naquela mata, os meus pensamentos agitavam-se mais do que o mar sob uma grande tempestade. Os pensamentos que eu procurava evitar rompiam as barreiras da moral e da fé religiosa para fervilhar-me o sangue como numa caldeira quente, mais do que da outra vez; talvez porque agora eu me sentia mais corajoso em ir mais longe. Ela seguia à minha frente olhando de um lado para outro em busca de algo que servisse para Ana Paula alcançar as goiabas, mas eu, em vez de fazer o mesmo, olhava para suas costas desnudas, para seu traseiro mais descoberto que tampado pela peça que não fora feita para cobrir aquelas partes e para suas pernas; e quando ela virava de lado, para seus seios. Queria tocá-los e acariciá-los; queria sentir Marcela nos meus braços, os seus seios roçando em mim enquanto a beijava. E esse desejo crescia em mim feito uma onda após um tremor de terra, levando-me ao desespero. Aliás, eu mal via por onde estava indo. No meu cérebro só a imagem de seus, mais nada.
    Embora não estivéssemos longe de Ana Paula, a vegetação a impedia de ver a gente. Então, incontido, aproximei-me de Marcela e toquei-a no ombro. Surpresa, virou em minha direção.
    -- O que foi? -- perguntou.
    Indeciso e trêmulo, tive dificuldade para balbuciar:
    -- Posso te dar outro abraço?
    Fez-se um breve silêncio, o qual pareceu uma eternidade. Nesse ínterim pude notar certa indecisão. Ela parecia reticente em dar um passo em falso, embora parecesse também desejá-lo, talvez com medo de que dessa vez não a respeitasse. Entretanto, eu sabia que embora ela não estivesse apaixonada por mim – pelo menos ainda não – procurava ser simpática e carinhosa feito uma jovem que se abre para o amor.
    Dei mais um passo e parei diante dela, tão próximo que quase se podia sentir a sua respiração.  Ela me fitou nos olhos e sem dizer palavra estendeu os braços.
    Embora não tenha sido o primeiro, foi um abraço inesquecível, uma sensação que eu precisaria de páginas e páginas para descrevê-la. Mas isto fica para o próximo capítulo.