quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O MANDRIVA ENSINANDO O PUNGUIM A VOAR

Mandriva 2012 PowerPack
Eu sei que pinguim não voa, mas não estou falando daquele animalzinho de andar esquisito que vive nas regiões polares. Estou falando de outro pinguim: o LINUX cujo símbolo é justamente um pinguim. E assim como existem várias espécies de pinguim, também existem vários linux, os quais são chamados de DISTROS. Aliás, existem centenas de distros, cada uma com uma característica própria cujo objetivo é sempre suprir as necessidades de um grupo de usuários. Portanto, diferentemente do Windows onde o usuário terá de se adaptar e o seu computador a ele, o linux é quem se adapta a você e ao seu computador.
Uma dessas distros é o Mandriva, cujo foco é o usuário pouco experiente e ao mesmo tempo exigente que deseja algo moderno, charmoso e repleto de recursos; aliás, o que não falta ao Mandriva é recursos. Tudo nele parece ter sido pensado para seduzir principalmente os amantes da tecnologia. O Lançador de Aplicativos é que o diga. Talvez por isso o Mandriva parece exigir um pouco mais de equipamento do que a maioria das distros, embora rode bem em computadores mais modestos.

O que a difere de outras distros não é só o fato de usar o ambiente KDE, pois muitas outras também o usa, mas a preocupação em inová-lo, embelezá-lo e torná-lo mais funcional e integrado ao sistema do que em outras distros. O gerenciador de arquivos Dolphin recebeu atenção especial, o que possibilita uma experiência maravilhosa para o usuário.
Outro fator que contribui para a facilidade de uso do Mandriva por usuários inexperientes é o MCC (Mandriva Control Center), onde o usuário faz todo o tipo de configuração do sistema. Tanto é que o MCC é usado em várias distros como o PcLinuxOS, Mageia, BlackPanter, TyneME entre outras. Aliás, no MCC há um recurso indispensável para quem está migrando do Windows: o instalador de fontes TTF. Com ele é possível importar as fontes da pasta Windows ou de outra pastas qualquer com apenas dois cliques do mouse.
Obviamente nem tudo são flores no Mandriva. Como eu o uso com frequência, percebi que ele exige mais do computador do que outras distros. A versão gratuita, chamada de FREE, não recebeu o mesmo tratamento que a versão paga, chamada de POWERPACK. Aliás, esta última apesar de ser completa, vir com todos os codecs de áudio e vídeo e vir com uma série de programas proprietários, possui um bug na instalação. Mesmo que se escolha o idioma português do Brasil, o sistema instala o português de Portugal. Para fazer essa correção é preciso ir até o gerenciador de pacotes e instalar o pacote de idiomas português brasileiro para o KDE e Firefox. 


Segue abaixo um vídeo que mostra a versão 2011 do Mandriva



quinta-feira, 24 de novembro de 2011

PELOS TERREMOTOS DA DÚVIDA

Muitas vezes, na angústia de momento, quando nos sentimos perdidos dentro de nós mesmos, e num mergulho nas profundezas do “EU”, a reflexão acerca da vida é inevitável. Talvez para pessoas comuns, tais reflexões ou resultam numa mudança prática de atitude ou se perdem para sempre como normalmente ocorrem com nossos pensamentos. Mas para um poeta tal acontecimento pode ir além e trazer, como num parto, um poema que em outras circunstâncias jamais teria vindo ao mundo. Assim foram os versos abaixo:

Minha fé tantas vezes abalada
Pelos terremotos da dúvida
Não resistiu. E acabou soterrada
Por falta de bases bem construídas

Minha crença num poder divino
Ou em algo além da vida,
Desde os tempos de menino,
Era frágil. E hoje está perdida.

Talvez imagina-se que há um vazio
Nos corações de almas assim
Mas estas são como águas de um rio
Que no oceano encontram o fim.

Um mar de possibilidades faz-se da vida
Sem o temor do castigo divino
A dor e a alegria são bem vindas
E aceitas como consequências do destino

A crença de que além da vida não há nada
Leva-me a viver nesta única vida
Cada momento de forma apaixonada
Ou então tê-la-ei desperdiçada.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

POÇO DE INDÊNCIA















Meus pensamentos, um poço de indecência,
Produzem imagens sem cabimento
Onde o jogo da sedução é uma ciência
Sem moralidade, credo ou arrependimento

Dou asas às fantasias que me inundam
O cérebro feito águas de uma represa rompida
E os desejos inconsequentes abundam
Levando-me a experimentar o néctar da vida

Meus atos, frutos dessa abundância,
Provocam na fêmea um certo estranhamento
Mas com um quê de jeito e paciência
Levo-a a jogá-lo sem constrangimento.

E assim, as fantasias que me atormentam
Tenho-as, como numa noite bem dormida,
Abrandadas; embora novamente afloram
Ao me deparar com um sorriso tímido.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

A MENINA DO ÔNIBUS - Capítulo 7 - parte 5

Era para tudo ter terminado ali naquela cama como eu havia planejado desde o início e como fizera tantas vezes. Já não obtivera o que tanto desejava? Por que então não lhe pedir para apanhar suas coisas e desaparecer de uma vez por todas da minha vida? Não foi assim que fez com Silmara e Suzana? Por que tive de convidá-la para tomarmos um banho? Por que fui pegar em suas mãos e ajudá-la a se levantar? Por que olhei em seus olhos daquela forma? São perguntas que me faço hoje ao me recordar daqueles poucos instantes entre o sair da cama e o deixar o quarto. Se existe um momento onde joguei tudo pelo ar, foi ali. Não resta dúvida. Não posso culpar nem o antes nem o depois, embora antes mesmo de tirar-lhe a virgindade o meu comportamento dir-se-ia fora de sintonia com as diretrizes traçadas anteriormente, mas até deflorá-la ainda era possível manter o controle de meus atos. Contudo aquele brilho nos olhos de Ana Carla e aquela terna voz a assemelhar-se ao canto de uma sereia puseram tudo a perder. Eu me vi arrastado por um tornado, levado por uma força incrivelmente poderosa, algo com o qual nem mesmo um Hércules ou um Golias nada poderiam fazer. Como não fui capaz de reconhecê-la? Não se tratava da mesma força pela qual fora arrastado ao conhecer Luciana anos antes? Se eu não tivesse cultivado o ódio por aquela que me trocara por um homem mais velho, um ódio com a mesma intensidade que a amara, se após a ferida ter-se cicatrizado não houvesse construído uma lápide para meu coração talvez reconhecesse aqueles mesmos sentimentos e assim soubesse me proteger. Como eu poderia saber que Ana Carla atravessaria as paredes de concreto de meu peito e arrancaria meu coração das profundezas daquela lápide?
Não se podia falar evidentemente de uma paixão avassaladora como acontecera com Luciana, porém não restava dúvida de existir algo inerente à razão, de um sentimento que – como quase todos os sentimentos – ou nos escapam ao controle ou nos provoca imensa dor, uma dor de difícil cicatrização e a qual de vez em vez provoca profundas transformações no nosso “eu”.
Mas não vamos falar do passado anterior à Ana Carla. Até porque se não fui capaz de esquecer Luciana por completo como gostaria, pois não podemos fazer de conta que o passado nunca existiu (nossas vivências, boas ou ruins, temos de carregá-las por toda a vida) pelo menos serviu-me para me trazer até Ana Carla, como diz muito bem aquela canção do Djavan. Prefiro antes de mais nada voltar àquele domingo, mais precisamente durante o banho, quando um tanto confuso ainda experimentava o desejo da volúpia percorrer-me as veias feito seiva venenosa.
É possível que tal efeito não tenha ocorrido ao acaso. Embora quando acontecia de não me sentir farto, de precisar de outro orgasmo para produzir em mim a sensação de repulsa, saciedade e distanciamento, um distanciamento que amiúde provocava-me repulsa, enroscava-me àquele corpo e, sob violentos protestos (isso quando o desespero não as levava a uma passividade como que semi-inconscientes), o possuía mais uma vez, dir-se-ia num ato de vingança, como se lhe dissesse: “Toma, sua vadia! Esperava o quê? Que eu fosse te dar amor, carinho? Não se enxerga mesmo, hein! Pensa que amaria uma cadela vira-lata, uma desclassificada que nem você? Idiota! Isso é para você aprender...”
Todavia não foi isso a acontecer com Ana Carla. Não houve o sentimento de vingança, o ímpeto em mostrar-lhe sua condição, ou mesmo uma simples vontade de possuí-la pela última vez. Havia um desejo, mas um desejo completamente diferente daquele que eu sentira antes. O desejo -- essa vontade de possuí-la com delicadeza como fizera com Luciana -- era aumentado pela sensualidade, pela visão da água deslizando suavemente pelo delicado dorso dela, como se esta a acariciasse. Foi essa visão que me fez o sangue dilatar-me os vasos mais uma vez.
-- Mas ele já está ficando grande de novo! - comentou Ana Carla, tomando consciência das reações físicas pelas quais eu passava.
-- É porque você está assim toda molhadinha - expliquei, envolvendo-a nos braços e beijando-lhe levemente o mamilo esquerdo.
-- Seu safado! - exclamou ela, rindo e, num ato de perversidade, puxou-me pelos quadris, como se quisesse dissolvê-los em si.
A chama da volúpia turvou-me a visão, deixando-me totalmente cego, como se alguma coisa me rompesse no cérebro, deixando-me mergulhado na mais completa escuridão por alguns instantes. Por um triz, não a possui ali mesmo como fazia quando o desejo me dissolvia. E talvez não o fiz não por domar os instintos, mas pelo fato de nesse momento Ana Carla ter me empurrado para trás como que prevendo o perigo e pego o sabonete para ensaboar-se, dando-me a impressão de que não queria fazer aquilo ali. Talvez não passasse de um ato de travessura, com um quê de perversidade, uma vez que parecia deleitar-se em me ver atormentado por impulsos sexuais.
Por outro lado porém, as mulheres são especialistas na arte da sedução. E as adolescentes parecem que são piores. Elas gostam de despertar o mais primitivo dos instintos masculinos, fazendo-os com graciosidade e beleza, como se naquela fase da vida isso fosse o que soubessem fazer de melhor. E fazem com uma maldade espantosa, quase masoquista, como se o verdadeiro prazer estivesse justamente em não permitir que o macho as dominem. E tenho de reconhecer, amigo leitor, Ana Carla era dessas mulheres. Eu já havia percebido nela essa nuance desde o dia em que lhe dera a pulseira. E agora tornava ela com essas artimanhas, com esses jogos, feito uma ave que faz do jogo da sedução o momento mais belo do acasalamento. E ela sabia que com aquele jogo e na condição em que me encontrava eu ficaria louco, perderia por completo a razão e estaria perdidamente em seu poder, pronto a dizer sim a qualquer desejo, por mais absurdo que fosse.
Ela se ensaboava de uma forma provocante, com uma sutilidade assustadora. O sabonete deslizava-lhe pelo corpo enquanto seus quadris saltavam-se de um lado para outro em movimentos cadentes e graciosos feito o deslizar de uma cobra em direção a presa. E ao fazê-lo me fitava. E seus pequenos lábios emitiam um sorriso inexorável, como se ela experimentasse o mais intenso e profundo deleite.
Por certo que eu não haveria de suportar àquelas insinuações por muito tempo. Aliás, qual homem no auge da virilidade e tomado pela volúpia suportaria? A volúpia é o calcanhar de Aquiles de todo homem, é o caminho mais perigoso -- onde todas as fragilidades masculinas veem à tona – e para o qual nunca se está preparado, pois cada vez que se põe a percorrê-lo é como se o percorresse pela primeira vez. E se pelo menos ela não me provocasse daquela forma, talvez resistisse a tentação de atravessá-lo! Mas não! Tinha ela de cobrir todo o corpo com espuma e vir esfregá-lo em mim?
Eu me enganara. “Ela só pode querer mais, quer fazer de novo. Experimentar”, foi o que pensei. E de fato não haveria como pensar de outra forma. Não era possível que fizesse todo aquele jogo sem sentir a chama do desejo em suas veias, fazendo com que sua experiência se tornasse exaltada e fulgurante, imensamente real. Por mais que aquela encenação lhe desse prazer, era preciso admitir que o fim sempre é o ato sexual, onde todo desespero chega ao fim.
Confesso, querido leitor, que não aguentei. Os instintos agiram por conta própria, inerente a minha vontade. A razão? Ah, coitada! Bem que tentava se impor para recuperar a posição de destaque que tivera até aquela tarde. Contudo, tornara-se vítima dos impulsos e caído em desgraça, feito o governante que por suas excentricidades leva o país à ruína. A mente povoara-se de imagens libidinosas.
Meus impulsos diziam-me para segurar Ana Carla com firmeza e possuí-la ali mesmo, embaixo do chuveiro, subjugando sua alma e seu corpo até que ela se dissolvesse em mim. Mas havia um problema: eu era mais alto que o seu pequeno e frágil corpo. De forma que seria preciso me apoiar nela e dobrar os joelhos para introduzir-lhe o falo entre as pernas. E cheguei sim a fazer isso e mover os quadris para trás e para frente, mas não funcionou. O sabão a cobrir-lhe o corpo e o pouco espaço no box impedia-me de manter-se na mesma posição. O falo inquieto e nervoso procurava-lhe desesperadamente a vaga no meio das pernas, mas quando a encontrava não achava meio de penetrá-la. Então lhe sugeri:
-- Eu não aguento mais, florzinha! Vamos pra a cama.
-- Vamos – anuiu ela com vivacidade.
Antes porém era preciso tirar de nossos corpos o manto branco formado pela espuma. Assim, entramos os dois ao mesmo tempo embaixo do chuveiro. Em seguida, saímos molhados como estávamos em direção ao meu quarto.
Ana Carla sentou e deitou de atravessado na cama. Imediatamente eu saltei por cima dela, como um animal faminto sobre sua presa. Ela inclusive levou-me as mãos para segurar meu peso, deixando escapar um gritinho.
Não houve preocupação com coisa alguma, nem mesmo em machucá-la. Até porque se não a machuquei antes por que a machucaria agora? Também não houve medo ou receio por parte dela dessa vez, como certamente houvera antes.
Ah, meu corpo queimava tal qual queimara meia hora antes. Aliás, parecia estar a possui-la pela primeira vez. E embora soubesse que não era, que o hímen jazesse rompido, isso não me diminuía em nada o desejo em tê-la. Um calor intenso nos envolvia e fazia nossos corações bater num ritmo frenético. Tanto a minha respiração quando a dela era descompassada. E, deitado sobre ela, eu sentia o arfar desesperado dos seios, como se aquele arfar fosse resultado não de um cansaço físico mas sim por alcançar o que estivera a buscar há muito tempo.
Então eu soergui os quadris, levei a mão ao nervoso falo e fiz alguns movimentos para frente e para trás até a glande se perder entre os grandes e famintos lábios de sua vulva. Assim que a encontrei, soltei vagarosamente o peso. Enquanto isso, nossos lábios se entregavam a uma dança erótica como numa luta mortal para se apoderar um do outro.
Ana Carla estava extremamente lubrificada. Contudo, tive de fazer certa pressão para penetrá-la. E ao fazê-lo, senti-a contrair as pernas, não para me impedir, mas talvez com receio de que eu o fizesse de forma súbita e provocasse-lhe dor.
Quando a penetrei. Ela me envolveu com seus braços e me apertou com força. Então eu fiquei por longos segundos naquela posição até que não me contive e deixei o meu corpo agir por si só.
Meus lábios desvencilharam-se dos dela e foram procurar os pontudos seios, cujo arfar denotava profundo desespero, como se algo a consumisse até a alma. Além do intenso prazer proporcionado por este gesto, eu desejava também acariciá-los de tal forma a provocar-lhe um arrebatamento sem igual, pois sabia, por experiência, que tal carícia, muitas vezes, levava a mulher ao mais intenso gozo, assim como aconteceu por mais de uma vez com a Ritinha, cujas carícias nos seios eram suficientes para levá-la ao orgasmo, um orgasmo que era acompanhado por intensos gemidos e gritinhos como se de suas entranhas não partisse o gozo, mas algo grandioso que lhe dilacerava por dentro.
E foi o que fiz.
Pena que sucumbi ao meu próprio deleite. Logo a seguir, fui tomado por êxtase inebriante e demoníaco, por um instante de perda total da noção de qualquer coisa. De um momento a outro eu experimentei coisas que jamais havia experimentado. Talvez porque não houvesse mais aquela preocupação em romper-lhe o hímen, impedindo-me assim de apreciar todas as sensações que ela me fazia experimentar. Sem que eu pudesse fazer algo, meu corpo simplesmente explodiu num gozo mais intenso que a fissão nuclear.
Fissão Nuclear. Que exagero! Sei disso, amigo leitor. Minha intenção porém foi apenas de mostrar-lhe o tamanho do prazer que experimentei. Não foi como das outras vezes com aquelas pobres infelizes, ou mesmo igual ao que me ocorreu mais cedo. Achava que chegara ao limite, que além daquelas sensações não haveriam outras mais intensas. Mas como eu me enganara! E tal engano era tão somente mais uma prova de que meus sentidos jaziam confusos, perdidos e completamente sem rumo. Dir-se-ia de um novo nascimento, feito uma lagarta que morre para dar vida a uma bela borboleta.
Cheguei a ficar imóvel e absorto por alguns instantes; todavia, minha razão foi devolvida e então tive consciência da minha tarefa. Precisava continuar e proporcionar-lhe aquelas mesmas experiências. Sabia que se não continuasse e fosse até o fim desapontá-la-ia. Minhas forças eram escassas, mas precisava seguir em frente. Desistir seria o fim, por um ponto final em nosso relacionamento. Eu não queria isso. Não mais.
Por sorte, não precisei de muito esforço. Pouco depois ela empurrava e puxava-me os quadris cada vez mais rápidos (isso me surpreendeu, pois era a primeira a fazer tal coisa. Nem Juliana, nem a secretária do Sr. Roberto ou mesmo a Sra. Becker fizera algo parecido ao buscar o gozo depois de experimentá-lo pela primeira vez). Então ela soltou um forte grunhido e seu corpo caiu na imobilidade do silêncio. Seus seios pequenos arfavam convulsivamente, de tal forma a parecer que o coração fosse-lhe soltar pela boca. Exausta por demais, parecia ter perdido completamente as forças. E lembrando-me desse momento – pois ainda vejo seu corpinho banhado de suor, os seios a subir e descer enquanto seus pulmões pareciam-me desesperados em busca de ar – chego inclusive a pensar que se tivesse demorado mais dois ou três minutos para gozar, um desmaio seria inevitável.
Vendo-a ali, estirada sob meu corpo, tão frágil e na mais completa absorção, senti arrepios de prazer. Mas na dualidade de meus sentimentos, senti pena. Mas não foi o arrependimento que me levou a isso dessa vez. Agora não me sentia mais arrependido – até porque o arrependimento me parece o mais claro sinal de fraqueza – como cheguei a sentir uma única vez depois de ver o estado emocional em que ficou Daniela. Tratava-se de uma sensação mais sutil, de algo relacionado a laços mais profundos, como se entre mim e Ana Carla houvesse laços de sangue. Talvez no fundo eu nem sentisse pena dela mas de mim mesmo. É possível que estivesse a refletir nela aquilo que jazia em mim. No entanto não posso ter certeza de nada. A única coisa de que tenho certeza – uma certeza inabalável – é de que meu amor por aquela menina ficou maior, como se a comunhão daqueles corpos revirara a terra e feito brotar uma semente. Eu estava me apaixonando, e justamente por aquela com a qual só tencionava cometer uma diabrura e obter uns momentos de prazer.
A verdade, amigo leitor, precisa ser dita sem rodeios. E não adianta querer se enganar. Pois o pior que um homem pode fazer não é enganar o outro, mas a si próprio. Aquele que não é sincero consigo não pode jamais esperar a sinceridade de outrem. Eu poderia até não querer acreditar e menos ainda reconhecer, contudo, daquele momento em diante estávamos unidos de tal forma que não se poderia simplesmente ir um para cada lado, como eu fizera tantas vezes. Eu não tinha a menor noção do que estaria por vir, mas tinha a nítida impressão que o nossos destinos estavam entrelaçados como pelos de carneiro num fio de lã, o qual fora selado naquela cama. Minha vida havia tomado um rumo inimaginável até pouco tempo. Que rumo era esse e onde este levaria só o tempo poderia dizer.
Eu saí de cima dela e em silêncio permanecemos deitados lado a lado, perdidos em nossos próprios pensamentos, pensamentos esses que devido ao cansaço foram ficando distantes a medida que a leveza nos fazia sentir como uma pena a flutuar, indo de um lado a outro ao sabor do vento. E nesse distanciar de nossos pensamentos, as pálpebras sentiram-se pesadas e chegamos a dormir por cerca de meia hora. Se Ana Carla não houvesse me despertado com o toque delicado de seus dedos em minha face e o som melódico e apaixonado de seus lábios possivelmente dormiria ainda mais. E ao me despertar, ela me presenteou com o mais belo sorriso a escapar-lhe dos lábios. Cheguei por alguns segundos pensar que estava a sonhar. No entanto o calor de seus lábios deram-me a certeza de não se tratar de um sonho. Embora tudo aquilo me parecesse irreal, como num sonho, senti uma necessidade de me agarrar àquela irrealidade, de permanecer naquele mundo, feito àquele que não suportando a dureza da vida cria um mundo para si, onde suas fraquezas transformam-se em forças e, sacrificando todo o resto, passa a fazer dessa fantasia o único mundo possível. Eu não pertencia ao grupo desses seres fracos, dessas pessoas desprezíveis, pois fraqueza, servilidade e escravidão andam de mãos dadas e na mais das vezes são confundidas feitos irmãs gêmeas.
– Eu te amo – exclamou Ana Carla, numa voz baixa e distante.
Ainda aturdido, sem rumo, tomado de surpresa como se houvesse recebido um golpe, não fui capaz de responder-lhe nada.
– Eu te amo – tornou ela, em cuja voz havia um êxtase crescente, como se esperasse uma resposta.
Novamente não lhe respondi. Apenas beijei-a na boca, num beijo longo e ardente. Não podia lhe dizer o mesmo. Sentia-me confuso, sem saber o que estava experimentando. Mas dizer que a amava era enganá-la. E eu não queria fazer isso.
– Estou morrendo de fome – declarou-me, quando nossos lábios se descolaram.
– Eu também – menti. E, sem dizer mais palavras, levantei-me, peguei-lhe na mão e saímos do quarto.
Embora não fosse a primeira vez a fazer aquilo – com a Daniela fiz o mesmo –, era no entanto a primeira a fazê-lo sem planejar, sem a intenção de enganá-la ou tirar proveito daquela situação. Eu pegava em sua mão porque sentia necessidade de tê-la na minha como se entre eu e Ana Carla formara-se um elo através de uma força invisível. E apesar de não ter me dado conta disso naquele momento, ao deixar os pensamentos voarem à noite em minha cama cheguei a conclusão de que algo novo havia acontecido. Um mundo que havia se perdido no passado tornara a se abrir, revelando uma infinidade de possibilidades que até então eram-me desconhecidas. Eu a queria, queria estar casado com ela, queria tê-la por completo, como minha, para sempre. Talvez com receio de admitir a causa daquele comportamento estranho ou porque tais sentimentos ainda não estivessem bem claros tenha admitido que no fundo tudo não passava de entusiasmo com a jovialidade e o frescor daquela menina de 14 anos. Se de fato era isso ou algo mais, só o tempo poderia dizer.