sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

MAR REVLTO E CHEIO DE DESAFIOS

















As sensações que nos fazem o corpo vibrar
E a alma alegrar-se é o que buscamos constantemente
Entre as alegrias e as tristezas das quais não podemos furtar
Pois a vida é uma dicotomia inconstante.

Mas não são justamente esses momentos
Que fazem-na um mistério e um desafio?
Não é uma esperança, um querer, um pensamento,
Um prazer e uma dor que nos abundam feito um rio?

Sem as sensações, as quais nos leva a experimentar
De tudo, a vida não teria sentido. Viver seria tão entediante
Que a morte seria preferível. Mas ao podermos desejar
E quiçá alcançar o prazer torna a vida interessante.

Então? Por que negar esse fato? É sem cabimento
Uma vida só regrada à razão. Seria um eterno vazio.
As sensações são irracionais e aguçam os sentimentos
Tornando a vida um mar revolto e cheio de desafios

sábado, 8 de dezembro de 2012

UMA AFRONTA À CONSTITUIÇÃO

Durante o julgamento da AP470 (conhecida como “Mensalão”) muitos apoiaram o ministro Joaquim Barbosa e criticaram veementemente o ministro revisor Ricardo Lewandovski por propor penas mais brandas ou até mesmo a absorvição de alguns réus por falta de provas claras e contundentes, pois muitas vezes a acusação consistia em depoimentos de outros réus. No entanto, ao final do julgamento, os ministro precisam decidir o que fazer com os condenados que exercem mandatos, como é o caso de João Paulo Cunha, Valdemar da Costa Neto e Pedro Henry. Joaquim Barbosa quer que o STF cace o mandato destes parlamentares imediatamente, passando por cima do poder Legislativo que tem o poder de fato de fazê-lo. Por outro lado, Lewandovski insiste que é o Congresso quem deve caçar o mandato de seus parlamentares como rege a Constituição. Embora cada um tenha lá seus argumentos não resta dúvida de que Joaquim Barbosa, num desrespeito à Constituição, quer criar um precedente perigoso que afronta não só a independência entre poderes como a própria democracia. Pois, ao criar um precedente, nada impede que este mesmo STF venha no futuro caçar por um motivo qualquer não só o mandato de parlamentares como dos governadores e do próprio Presidente da República, coisa que só pode ser feita pelo poder legislativo. Joaquim Barbosa só poderia usar esse argumento caso a Câmara dos Deputados se negasse a caçar os mandatos dos parlamentares, o que não é o caso, pois esta ainda não se pronunciou. Portanto apoiar Joaquim Barbosa nesse caso é um desrespeito à Democracia. Quem deve caçar -- e de fato deve, pois estaria por sua vez afrontando o Poder judiciário -- é o Parlamento. Por falar no ministro Lewandovski, ele disponibilizou a íntegra de seu voto para quem interessar nesse link: http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/AP470mandatoRL.pdf

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

FARDO LEVE


Só um leitor de Nietzsche seria capaz de escrever versos como estes. Embora não tenham sido inspirados em nenhuma obra específica do pensador alemão, é inegável a influência de seu pensamento. Este poema foi escrito em 2008 quando “Aurora”, “A Gaia Ciência” e “Além do Bem e do Mal” me acompanhavam para todo lugar.

Não é a vida
Que é dura demais
São as nossas idas e vindas
Que nos fazem andar para trás

Às vezes, corremos em círculo
Atrás de ninharias
Por causa de desejos minúsculos
Fazendo da vida uma porcaria

Não é a vida
Que nos é injusta
São nossas ações
Que a ela não se ajustam

Às vezes, tentamos satisfazer
Os desejos mais banais
E esquecemos que viver
Exige sacrifícios reais

Não é a vida
Que é um fardo pesado
É o excesso de ninharias
Que temos carregado

Deixe esse peso para trás
E leve só o que te serve
E então verás
Que a vida é um fardo leve

terça-feira, 6 de novembro de 2012

ADEUS À INOCÊNCIA - CAP. 32

A noite caiu rápido. E antes que ficasse escuro de vez, Marcela e Luciana foram recolher mais galhos para manter a fogueira acesa. Eu fiquei na cabana em companhia de Ana Paula, com a desculpa de que alguém precisava tomar conta do fogo para que este não apagasse.
-- O que aconteceu lá em cima? -- quis saber minha prima.
-- Por quê? -- perguntei surpreso.
-- Você chegou meio estranho.
-- Estranho como?
Apanhei um graveto e comecei a mexer no fogo tentando ocultar o embaraço que aquela pergunta me causava. “Será que estou mesmo?”, cheguei a perguntar-me. Ana Paula por sua vez mantinha-se próxima, quase a meu lado, sentada sobre a areia com as pernas cruzadas.
-- Aquela vadia não para de olhar para você. E você não olhou para ela uma única vez. Parece que está com medo de olhar para ela – observou. Eu poderia imaginar que Luciana não tirava os olhos de mim. No entanto, Ana Paula estava certa. Estava envergonhado demais para poder encará-la. Embora Luciana tenha encarado tudo com naturalidade, para mim não era tão simples assim. Era como se eu tivesse acabado de cometer um crime. -- O que ela te fez?
-- Nada.
-- Vocês não andaram...
-- Andaram o quê? – atalhei.
-- Nada. Deixa pra lá – disse ela, levantando-se e caminhando em direção à praia. -- Vou tomar um banho. Estou toda suja de areia.
Senti um certo alívio quando ela me deixou as sós. Imediatamente pensei: “Se ela desconfiou da gente então a Marcela também deve ter percebido. Ela sabe o que a gente fez. Ah, meu deus! E agora? E se a Luciana fala alguma coisa pra ela? Ela nunca mais vai querer saber de mim. Vai me odiar. Também por que fui deixar a Luciana fazer aquilo? Não tinha que ter dados ouvidos para ela. Ela conseguiu o queria. Só falta agora não me deixar mais em paz. Vi como ela gostou...”.
Momentos depois as duas retornaram. Cada uma trazia um feixe de galhos secos. Conversavam alegremente e nada me levava a crer que Luciana contara sobre nós. E quando Marcela me depositou seu olhar, este parecia natural, tranquilo, igual ao último que me dera cerca de meia hora antes.
-- Cadê a Ana Paula? -- perguntou, com um ar de indiferença.
-- Disse que ia se lavar.
Luciana jogou a lenha ao chão, próximo à fogueira que ardia branda, meio que querendo apagar por falta do que queimar; Marcela pegou seu feixe de gravetos e os atirou no mesmo lugar, amontoando-os.
-- Vou ver se acho ela – disse em seguida. E saiu.
As sós com Luciana, só então tive coragem de olhar nos seus olhos. Ela me encarou com um sorriso extrovertido, beirando uma gargalhada e indagou:
-- O que foi? Ainda está envergonhadinho?
Desconsertado, respondi:
-- Não. Não estou. Só fiquei com medo de você contar para a Marcela.
-- Por quê? Ela não pode saber? -- volveu ela, aproximando-se de mim.
-- Não, melhor não.
Dei dois passos para trás até encontrar uma das quatro colunas de sustentação da cabana. Luciana achegou-se e por cima da roupa, pegando em minha genitália, sussurrou-me ao pé do ouvido:
-- Agora isso aqui é só meu. Se eu souber que você andou se deitando com uma das duas você vai ver o que vou fazer com elas.
Era a primeira vez que a via fazer ameaças. E pelo tom de voz, pela pressão de seus dedos, suas ameaças soavam sérias. E isso me deixou assustado; mais assustado do que ficara ao ouvir aquele som vindo da floresta dois dias atrás.
Ciúmes? Estaria Luciana com ciúmes das outras duas? Ou apenas queria manter o controle sobre mim? Pois ela sabia que eu estava em suas mãos e que a obedeceria sem muito protestar. E sem saber como reagir, com sair daquela situação embaraçosa, apenas assenti:
-- Tá bom.
Houve um breve silêncio.
Nisso, Luciana se afastou e foi até a porta ver se Ana Paula e Marcela retornavam. Contudo, ouvia-se as vozes ao longe. Provavelmente ainda estavam se banhando. Não era possível vê-las àquela distância, pois anoitecera. Uma nuvem escura cobria a lua deixando ainda menor o nosso ângulo de visão.
Em seguida, voltou a se aproximar de mim, abraçou-me e beijou-se, como se eu fosse seu namorado. Tentei esquivar, mas ela me abraçava com força, como se quisesse deixar bem claro que poderia fazer comigo o que bem quisesse.
-- Você agora só sai por aí comigo – disse depois de me lagar.
Eu não disse palavra. Apenas me afastei e agachei próximo à fogueira para colocar um pouco mais de lenha para manter o fogo aceso. Nisso, ouvi a risada próxima de Ana Paula. No mínimo estavam falando algo engraçado.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

LEMBRANÇAS DE UM AMOR PERDIDO

Os versos abaixo foram escritos há muitos anos, bem depois porém dos momentos relembrados neste poema. Foi um desses momentos da juventude, quando a descoberta do amor vem acompanhada de muitas outras descobertas. E embora o tempo muitas vezes se encarrega de apagar nossas lembranças, algumas por um motivo ou outro parecem não sofrer a ação do tempo e permanecem vivas, como essa:


Ó, minha inesquecível e eterna amada!
Como poderia esquecer aquela madrugada,
Depois do bar, na escadaria do edifício
Em que de babá você exercia o ofício!

Ainda tenho gravado em minha memória
Todos os detalhes, todas as palavras ditas,
Todos os beijos roubados e aqueles pedidos,
E tudo o que contastes sobre tua história!

Ainda tenho aprisionado na lembrança
De teus jovens seios os mínimos detalhes:
A cor, a textura, a altura, e até a diferença
Na rigidez, após as carícias excitá-los.

Ainda vejo, como se fosse hoje,
O teu excitamento, o desejo de se entregar,
A vontade se ser minha, e a minha de te amar...
“Por que não prosseguimos?”, indago-me ainda hoje.

Mas deixamos aquele momento único passar
Na esperança de que em breve se encontrar
Para nossos corpos se unir uma única vez...
Porém, o destino nos separou e perdemos a vez...

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

ESTA É MINHA VIDA





















Eu durmo tarde 
E odeio acordar cedo;
As vezes falto com a verdade
Quando isto me faz bem;
E pratico a maldade
Quando isto me convém
Sem remorso porém

Esta é a minha vida
O que posso fazer?
Esta é a minha vida
É assim que eu quero viver

Mas odeio a hipocrisia
E a falsa moralidade
Dos sorrisos vazios,
Dessa mocidade
Que prefere querer o nada
À nada querer:
Almas que não sabem viver

Esta é minha vida
O que posso fazer?
Esta é minha vida
É assim que eu sei viver

Vou caminhando pela madrugada
Em busca de solidão
Pois é sozinho na estrada
Que encontro paz no coração;
É sozinho noite adentro
Que escapo da multidão
E de todo o seu veneno 

domingo, 14 de outubro de 2012

O PRAZER DE VÊ-LA SORRIR

O prazer de vê-la sorrir
Quando seus olhos me avistam
É uma sensação que não sei dividir
Por mais palavras que se registram.

São sensações que o meu "eu"
Insiste em não confessar
Talvez temendo este juízo meu
Que tenta me impedir de sonhar.

Os pensamentos vagam
No mar das possibilidades
E sensualmente me tragam
No redemoinho das obscenidades.

Mas aquele sorriso tão puro
Acaba por me trazer à razão
Envergonho-me dos atos impuros
Mas guardo seu sorriso no coração.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

ADEUS À INOCÊNCIA - CAP. 31

-- Vamos voltar – chamei-a ao me aperceber que o sol começava a se pôr. Não queria de forma alguma atravessar a floresta ao anoitecer. Só a possibilidade disso acontecer era o suficiente para me causar arrepios.
-- Ah. Vamos ficar mais um pouco – declarou Luciana. Ela estava apoiada numa pedra olhando para a imensidão do mar. Parecia absorta, maquinando alguma coisa.
-- Não – respondi. -- Já está querendo anoitecer e as meninas podem ficar preocupadas com a nossa demora.
-- Mentira! -- Luciana virou em minha direção, contudo manteve-se recostada à pedra. -- Você está é com medo. Medroso... Medroso... -- repetiu ela rindo e caçoando.
Lembro-me de ficar extremamente desconcertado. A minha primeira reação foi negar, dizer-lhe que não estava com medo coisa nenhuma, que só me sentia preocupado com as meninas. Entretanto isso não a convenceu. Ela continuou a me chamar de medroso. E em dado momento, provocou-me ainda mais. Apontou o dedo em direção aos meus quadris e acrescentou:
-- Pra que tem isso aí se você não é homem?
Eu não sabia se saia correndo dali de vergonha ou se fazia alguma coisa para provar o contrário. Enquanto era tomado pela indecisão, a minha única reação foi afirmar minha masculinidade. E ao fazê-lo, não deixei de acrescentar que uma coisa não estava relacionada com a outra, que sentir medo qualquer um pode sentir, independentemente do sexo. Entretanto isso não a convenceu. Estava disposta a ir até o fim.
-- Então prove que você é homem – pediu ela, ainda mantendo-se aquele sorriso de triunfo, como se tivesse me feito cair numa armadilha.
Eu não precisava provar nada nem para ela nem para ninguém, essa era verdade. Contudo, um garoto da minha idade não pensa assim. Ao sermos desafiados, a primeira reação é aceitar o desafio, ainda mais quando se é desafiado por uma mulher; ai então é que precisamos urgentemente e de forma incontestável provar nossa superioridade. E eu sabia perfeitamente disso. Não só minha masculinidade como a minha autoridade naquele grupo estava em jogo naquele momento. Tudo dependia de uma decisão urgente, de um ato que não lhe deixasse mais dúvidas a meu respeito. Mas o que fazer? Ceder a seu jogo? Porque eu sabia quais eram suas intenções. O problema era: ceder também não constituía um sinal de fraqueza? Eu sabia aonde ela queria chegar. Não era um perfeito idiota. Só que eu tinha vergonha e medo. Vergonha porque eu me sentia um brinquedinho nas mãos dela. Luciana fazia o que bem entendia de mim e isso me constrangia; e medo porque minha inocência e minha fé em Deus faziam-me acreditar que praticar um ato daqueles era algo pecaminoso, cujas consequências seria perecer no inferno. Só de fantasiá-los eram motivos de culpas intensas, quanto mais praticá-los. E eu acreditava indubitavelmente que Deus estava a espreita lá no céu, vendo e anotando todos os meus pecados para apresentar-me no dia do juízo final. E até então, o que eu ouvira acerca da ira impiedosa de Deus, dos castigos horrendos do inferno só podiam me amedrontar. Estava aí o motivo pelos quais eu procurava fugir do assédio de Luciana como o diabo foge da cruz.
-- Eu não quero provar nada! -- proferi com rispidez, como se deixasse bem claro o quanto me desagradava seus modos. Em seguida, dando um ou dois passos para trás, insisti: -- Vamos voltar.
-- Não. Eu não vou voltar, seu bichinha. Se tiver coragem, volte sozinho. -- Ela foi categórica e não se moveu; continuou recostada à grande pedra, com se soubesse que eu não teria coragem de partir sem ela.
Cheguei a virar em direção à trilha que nos levaria de volta e dar alguns passos. Mas por um momento o medo tomou conta de mim e fiquei como que paralisado, como se alguma coisa me imobilizara.
Nisso, com a maior naturalidade, Luciana despiu-se da única peça de roupa e, inteiramente nua, ficou a minha espera.
-- Vem cá. Tire a roupa – ordenou ela.
-- Eu não quero – asseverei, como última tentativa de fazê-la desistir.
-- Por que você não quer? Vai, me diga?
-- Porque é pecado.
-- Pecado? -- Luciana soltou uma gargalhada. -- Onde foi que você tirou isso?
-- Aprendi na igreja – respondi imediatamente.
No dia anterior ao acidente, havia ido a mais uma das aulas de catecismo. E o padre palestrara justamente acerca da castidade, de como Deus todo poderoso está atento ao nossos atos, principalmente aos pecados da carne. E isso me deixara deveras impressionado, pois vivia no seio de uma família bastante religiosa e conservadora, onde o sexo era tabu. E a agora essas palavras ecoavam na minha cabeça feito um alerta, um lembrete.
Luciana se aproximou, puxou-me pelo braço, fazendo com que ficássemos frente a frente e disse:
-- E você acreditou? Se fosse pecado as pessoas não transavam, seu idiota! Pois eu sempre aprendi que Deus não existe, que é apenas uma invenção, uma forma de pôr medo nas pessoas. E parece que é verdade, pois você está aí, se borrando de medo. Pense bem: existem bilhões de pessoas na terra. Você acha que se mesmo que Deus existisse, ele ia estar vigiando o que cada um estava fazendo? Idiotice tem limite. Né, muleque burro?
-- Não sei.
-- E aqueles que tem outras religiões, que não acreditam nesse Deus? Então estão todos condenados?
De fato eu nunca havia pensado acerca disso; aliás, eu via Deus da mesma forma que os acontecimentos do dia a dia, como algo inseparável da existência humana. E aquela pergunta fez brotar um ponto de interrogação na minha cabeça, como uma ranhura no espelho que provoca uma falha na imagem refletida, quando olhamos para a nossa própria imagem.
-- Não sei – tornei a responder.
-- Deixe de ser bobo! Mesmo que Deus exista, ele vai estar preocupado com muitas outras coisas do que com nós dois. O universo é imenso demais para ele se preocupar com a gente. Olha para meus peitos – disse Luciana, apertando-os com as mãos – Você não acha eles bonitos?
Levantei a cabeça, pois a mantinha abaixada como se olhasse para o chão, e, depois de fitá-los por alguns segundos, menei-a em sinal de concordância.
-- Então? Vem cá! Pega neles.
Obedeci.
Comecei a apalpá-los com certa curiosidade, embora a vergonha não me deixasse sentir prazer naquilo. Nisso, usando de toda a sua esperteza, Luciana levou a mão abaixo do meu umbigo e a escorregou por dentro da veste, agarrando-me o falo. Este, por sua vez, ainda permanecia tímido, como que adormecido, como se o que acontecia do lado de fora não lhe dissesse respeito.
As mãos ágeis de Luciana souberam animá-lo. Em poucos instantes ele jazia ereto, incapaz de obedecer meu consciente. Aliás, não era só sobre ele que eu perdera o comando, mas sobre meus pensamentos e meu corpo por inteiro. Com algumas carícias, Luciana conseguira florescer-me os mais primitivos instintos.
Puxou-me para junto de si. Fui parar no meio de suas pernas. E consumido por aquela chama, que de repente surgira não sei de onde e a qual me fazia sentir coisas com uma intensidade que jamais sentira, deixei que tudo acontecesse.
Lembro-me tão somente de chupar-lhe os seios e beijá-la de quando em quando. Lembro-me também de ouvi-la soltar um gritinho, como se algo lhe tivesse espetado, quando a penetrei. Aliás, eu nem fazia ideia que a tinha penetrado; apenas sentia um certo desconforto no pênis, como se algo o apertasse. Só fui ter consciência disso quando ela me explicou ao retornarmos para juntos das meninas. Inclusive quis saber porque eu tinha parando depois que “aquilo” (foi a palavra que ela usou) saiu de mim. Eu perguntei se não era para parar e ela disse que gostaria que eu tivesse continuado, pois estava ficando cada vez melhor. Disse-lhe que de repente fiquei sem forças e com vontade de parar.
Quando finalmente chegamos à faixa de areia, Luciana disse que precisava ir à água se lavar.
-- Vou indo na frente – falei. Disse-lhe isso porque me sentia envergonhado na sua presença. Desde o momento em que a chama do desejo apagou-se, a vergonha cresceu feito um monstro mitológico. E permanecer junto de Luciana era quase uma tortura. Era como se ela fosse a prova viva de que meu pecado não escapara aos olhos atentos do criador.
Foi como um alívio quando me vi livre dela.

domingo, 7 de outubro de 2012

O HOMEM: ETERNA OBRA EM CONSTRUÇÃO

O homem é uma obra em construção, a qual nunca está pronta, mas cuja última pedra é sempre a morte. E isto é talvez o mais terrível e o mais difícil de aceitar. E por estar sempre em construção, o ser é inevitavelmente modificado a cada instante. O soprar de uma brisa no rosto já é o bastante para tornar-se diferente do que era há poucos instantes. Por isso a busca do passado é uma busca impossível, pois apenas se pode resgatar-lhe uma ínfima parte, como fez magistralmente Proust em Em busca do tempo perdido. E mesmo que se tente trazer de volta todos os elementos do passado, ainda sim não se é o mesmo e não só a busca estará sob o julgo do eu atual como a interpretação será sempre diferente todas vez que se tentar resgatá-lo. Aliás, nada é tão verdadeiro quanto a máxima de Heráclito: “Nenhum homem pode atravessar o mesmo rio duas vezes, porque nem o homem nem o rio são os mesmos”.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

CONFISSÃO

Quando chegou a hora
Eu não soube o que dizer
Sou forte mas tenho defeitos
E fui me apaixonar
Perdi a liberdade que tinha
De decidir no que pensar
Pensar em você eu não resisto
E deixo o resto para lá.

Grito numa voz apaixonada
Que sem ti não sei viver
É uma dor que não se arreda
Como posso me curar?
O amor é uma ferida
Que não para de sangrar
Tenho medo no entanto
De sofrer por te amar.

Tento curar essa ferida
Procurando te esquecer
Mas o amor é mais forte
E eu tenho que te dizer:
Eu te amo como um louco
E se não puder, vou morrer
Não posso mais viver sem ti
E hoje você é o meu viver 


quarta-feira, 3 de outubro de 2012

O VERDADEIRO OBJETIVO DO MENSALÃO

Volto a insistir na tese de que o “mensalão” só existiu por causa do sistema representativo brasileiro, onde um governo sem maioria não consegue governar mas também não pode convocar eleições antecipadas como no sistema parlamentarista. Aliás, nunca é bom lembrar que a Constituição atual, promulgada em 1988, foi elabora nos princípios parlamentaristas, uma vez que previa um referendo para o ano seguinte sobre a forma e o sistema de governo, onde se achava que o parlamentarismo sairia vitorioso, o que acabou não ocorrendo. Embora os crimes de corrupção, lavagem de dinheiro, peculato, desvio de dinheiro público e até mesmo formação de quadrilha tenham sido cometidos pelos envolvidos nesse escândalo não se discute que o objetivo não era simplesmente desviar dinheiro público em benefício próprio, mas sim corromper parlamentares da oposição com a finalidade de comprar-lhes o apoio político para que votassem a favor do Governo Federal matérias de interesse deste. Agora eu pergunto: por que foi preciso comprar o apoio de parlamentares e até partidos inteiros da oposição? A resposta é óbvia: porque o governo não tinha maioria absoluta. E por que não tinha? Por causa da fragmentação partidária existente no Brasil, a qual é um reflexo da redemocratização do país que, saindo de uma ditadura terrível, viu a limitação partidária um ato antidemocrático. Ora nunca é bom lembrar que, nos Estados democráticos da Europa, para um partido só tem membros no parlamento se atingir uma quantidade mínima de votos, evitando assim as distorções existentes no Brasil. Portanto estou convicto de que se o governo Lula tivesse maioria no Congresso, o “mensalão” jamais teria existido. Aliás, talvez o PT tenha optado por uma saída desastrosa, como foi o caso desse escândalo julgado pelo STF, por temer que Lula viesse a ter o mesmo destino do ex-presidente Collor, o qual só foi cassado por não dispor de maioria no Congresso não só para aprovar projetos de seu interesse como também para defendê-lo. Por fim, nunca é bom lembrar que apesar de ter sido cassado por corrupção, Collor acabou sendo absorvido pelo mesmo STF que vem julgando o “mensalão”.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

PRAZER E INSTINTO


Ao despir-se diante dos meus olhares
E inundar-me as fantasias com a sua tez
Meus desejos tornam-se vorazes
E meus instintos famintos por sua vez
Levam-me a atos de prazeres fugazes

As carícias, muitas vezes tão bem vindas,
Acabam por me provocar tormentos
A excitação, tão intensa e resumida,
Deseja a cada ato e movimentos
A justificação daquelas desmedidas.

Mas ela precisa daqueles atos singulares
Para que não me seja a mesquinhez
Fruto de um gozo. Pois é em pares
Que o prazer e a satisfação por sua vez
Levam-nos a felicidade aqui e não alhures

E quando em sensações divididas
Os corpos se entregam aos movimentos
As palavras se calam e são até esquecidas
Dando aos instintos o seu momento
De agir sobre a razão vencida.

Mas o gozo, como uma ceifa que ruge,
Cessa o prazer e nos confunde os sentimentos
E nos devolve a razão com seu ato rude
Para nos dizer sem comedimentos
Que o prazer é instinto e não virtude.

domingo, 23 de setembro de 2012

EU NÃO SEI VIVER SEM VOCÊ

Eu não sei viver sem você
Nesse mundo tão hostil e ingrato
Tenho medo de não sobreviver
Aos desesperos de meus atos

Que num momento de dor,
Desatino e completa desrazão
Vejam na morte não o horror
Mas a companheira e a solução.

Eu não sou nada sem você
Como o nada é nada de fato
Você é a minha riqueza e poder
O resto é ouro falso e farto

E se te falo assim do meu amor
Abrindo-te meu coração
É porque você é o maior valor
Que a vida me deu até então

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

ADEUS À INOCÊNCIA - CAP. 30

Normalmente são as mulheres quem sentem medo com facilidade e quem se assustam com qualquer coisa, feito um animal arisco; contudo, era eu quem tremia, transpirava exageradamente e quase não conseguia andar de medo. Lembro-me que meu coração parecia querer rasgar o peito e ao mesmo tempo escapar pela boca enquanto seguia Luciana, que ia à minha frente, com uma segurança incrível, como se o medo não fizesse parte de seus defeitos. Dir-se-ia liderar um passeio ecológico por caminhos trilhados dezenas de vezes por aqueles pés. Ela parecia se preocupar mais em encontrar trilhas capazes de nos levar cada vez mais longe, mais floresta adentro do que procurar vestígios de algum grande animal.
A bem da verdade, acho que ela não acreditava nem um pouco nas minhas suspeitas e só engendrara em minha companhia naquela mata para provar sua coragem e que eu estava inventando toda aquela história para escapar de seu assédio. Aliás, talvez ela estivesse com algo em mente ao procurar me levar o mais longe possível das amigas. Mas eu não tenho como afirmar se isso era verdadeiro ou não, pois o que se passou mais tarde pode não ter sido planejado de antemão, pode ter sido apenas uma coisa de momento.
Eu a acompanhava com os olhos e ouvidos atentos, feito uma presa ciente da presença do predador. E qualquer som diferente me fazia estacar e perscrutar. E ao fazer isso, muitas vezes Luciana virava para trás e dizia:
-- Anda, seu medroso! É só um passarinho.
Então meio que envergonhado alargava o passo para alcançá-la.
Depois de alguns minutos caminhando com dificuldade por uma trilha, demos numa espécie de clareira. Era tão somente um pequeno espaço vazio, onde jaziam uns troncos de árvores caídos e reduzidos a pedaços.
Aquela visão acabou, por alguns instantes, aguçando minha imaginação. Achei estar ali a prova de que algo monstruoso vivia naquela mata. Mas quando comentei com Luciana, ela foi categórica:
-- Você não vê que foi um raio que fez isso?
Podia ser. Eu nunca vira o estrago causado por um raio numa árvore, contudo ela parecia não ter dúvida. Assim, diante de uma certeza como aquela, acabei vencido e admitindo que talvez ela estivesse com a razão. No meu íntimo porém aquela explicação não me convencia.
Sentamos num dos trocos para descansar.
Enquanto isso, procurei examinar o lugar minuciosamente, com um olhar prescrutante, sem deixar escapar um único detalhe. De fato não havia nada além de pedaços de madeira estilhaçada. Não havia marcas de pegadas ou traços capazes de indicar a passagem de um animal de grandes proporções. Aliás, isso acabou por me deixar menos tenso e mais à vontade.
Luciana também girava a cabeça procurando examinar tudo ao seu redor, mas não atenta a algo estranho e suspeito; apenas admirava a beleza do lugar. Às vezes, ela erguia os olhos para o céu e contemplava o azul sobre nossas cabeças. Foi num momento desses que comentou:
-- Lindo isso aqui, né!? Parece que estamos no paraíso.
-- Não acho – discordei prontamente. -- Esse lugar me causa medo.
Ela virou o rosto em minha direção e exclamou:
-- Deixa de ser bobo. Viu como não tinha nada? Você é quem anda imaginando coisas. Se tivesse alguma coisa aqui nessa ilha, a gente já teria encontrado. Nunca vimos uma marca de pisada, um uivado ou coisa parecida desde que chegamos.
-- Eu sei. Mas tinha certeza de que tinha visto algo anteontem e hoje mais cedo.
-- Não, mas não tem, seu panaca! -- afirmou ela com desdém. Levantou-se em seguida e acrescentou: -- Vamos seguir por aquela trilha; deve dar do outro lado da ilha.
-- Não é melhor a gente voltar? -- sugeri ainda inseguro; embora já não sentisse tanto medo quanto antes.
Luciana discordou e minha única alternativa foi segui-la.
Poucos metros depois a trilha fez um ângulo de noventa graus e tornou-se íngreme – o que não passou despercebido aos meus olhos atentos.
-- Acho que a gente está indo é mais para o meio – comentei.
-- Que diferença faz? Essa ilha não é tão grande assim. Já contornamos ela toda no primeiro dia. Lembra-se? Então, essa trilha só pode terminar na praia novamente.
De fato ela não deixava de estar certa. A ilha não tinha grandes proporções e por qualquer direção que fôssemos mais cedo ou mais tarde chegaríamos à praia.
O que achei estranho foi que, à medida que subíamos, a trilha tornava-se mais bem definida, como se fosse usada com frequência. Isso aliás me fez parar alguns metros a frente, curvar, aproximar os olhos do chão e procurar atentamente se não havia sinais de pegada. Não encontrei nada, obviamente; apenas o solo ainda meio úmido da chuva do dia anterior.
“Será que estou cismado à toa?”, cheguei a duvidar. “Será que não tem nada mesmo? Mas parecia que existia alguma coisa lá na praia. Talvez eu tenha me enganado. Ela disse que não viu nem ouviu nada. Pode ser... Talvez eu esteja com medo, talvez isso tenha me feito imaginar coisas”, conclui.
Andamos por mais cinco minutos até que deparamos com uma nova clareira, porém bem maior que a anterior. Era um espaço sem árvores, formado por uma vegetação rasteira e onde se podiam ver enormes pedras. Não havia dúvida que se tratava do ponto mais alto da ilha.
E quando subimos mais alguns passos e chegamos ao cume, foi possível avistar toda a ilha.
Era uma visão esplêndida. Por algum tempo deixei de lado meus temores e apreciei a beleza que surgia diante de meus olhos. Olhando ao redor, pude constatar que a ilha não era circular como imaginava. A extensão entre o norte o e sul parecia ser o dobro da distância entre o leste e o oeste. Além do mais, na parte sul, havia uma pequena baia que avançava para o interior. Embora não tenha percebido isso na primeira vez que passamos por ali, agora ela era evidente.
Outra coisa que pude constatar foi de que a maior parte da ilha estava coberta por uma densa floresta. Não havia árvores somente nas proximidades da faixa de areia, que formava uma faixa branca ao longo de toda a ilha.
Enquanto meus olhos corriam ao redor da ilha, procurei avistar onde estava a cabana. Fui encontrá-la do lado oeste na parte sul, onde subia um pequeno fio branco de fumaça. Não dava para ver as meninas, mas era possível distinguir com facilidade a nossa morada.
-- Olha lá, onde está a cabana! -- exclamei, apontando.
-- Onde? -- quis saber Luciana, aproximando-se e se apoiando nos meus ombros.
-- Ali, naquele quadrado coberto de folhas, onde está saindo aquela fumaça – mostrei.
-- Nunca imaginei que estivéssemos naquele ponto – disse ela em seguida.
Concordei.
Admiramos a paisagem por quase meia hora. Procuramos olhar através do mar para ver se não víamos um navio ou mesmo um barco de pesca; mas nada, nada além da imensidão do mar.
-- Por que a gente não vem morar aqui em cima? A gente poderia construir a cabana aqui?
-- O quê? -- foi o que consegui dizer; ou melhor, gritar. Foi com se tivesse visto alguma algo monstruoso e assustador.
-- O que tem? Aqui é um lugar tão bonito; é alto; a gente pode ver quando passar algum navio e fazer sinal para ele – disse ela com empolgação.
Discordei imediatamente. Não que ela não estivesse com a razão, mas eu não podia aceitar uma proposta daquelas. Morar ali, bem no meio da ilha, cercado pela mata? “Não, isso não!”, foi o que pensei. “Vamos nos tornar presa fácil aqui em cima”, continuei a pensar.

sábado, 8 de setembro de 2012

IMAGINAÇÃO E PRAZER

Cada qual direciona seus pensamentos àqueles prazeres que melhor lhe satisfaz, embora a maioria de nós, ao longo de boa parte da vida, somos levados, talvez por instinto, aos devaneios eróticos. Até porque tais pensamentos nos provocam reações reações físicas, como a excitação sexual por exemplo, e mesmo sem a prática do ato sexual em si, essa excitação acaba sendo uma fonte inesgotável de de prazer. Este não é o mesmo prazer do qual resultaria a prática de tal ato evidentemente, embora muitos dos frutos de nossos devaneios são irrealizáveis na prática, pois quase sempre o elemento fantástico é o que leva tais devaneios ao deleite, contudo não deixa de atingir o mesmo fim, que é a satisfação dos instintos. Aliás, esta satisfação está intimamente ligada à imaginação, pois quanto maior for a capacidade do individuo de imaginação e de criar situações, maior será o seu deleite. De forma que imaginação e prazer são como dois amantes: é preciso um para que o outro seja plenamente satisfeito.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

AMAR É VIVER

Feliz é aquele que saber amar
Sem temor, sem preconceito;
Pois só assim poderá saborear
O prazer que lhe é de direito.

O verdadeiro amor não pode ficar
Preso às armadilhas da moral
E nem mesmo do costume milenar
Onde o prazer é um pecado mortal

O amor deve estar acima de tudo
 -- época, cultura ou religião --
E só estar subordinado contudo

A intensa sensação de prazer,
Aos desejos e vontades do coração;
Pois só assim a vida é um viver.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

ADEUS À INOCÊNCIA - CAP. 29

Chegamos à cabana poucos minutos depois. Ana Paula e Marcela conversavam e sorriam. Tive a impressão de que falavam de algo engraçado. Haviam limpado o peixe e ele ainda estava espetado na lança.
Quando nos viram, tornaram-se sérias e nos encararam. Então Marcela perguntou:
-- O que foi?
-- Nada – respondeu Luciana de forma carrancuda, dirigindo-se a um canto e sentando-se.
-- O que deu nela? -- tornou a perguntar Marcela, agora se dirigindo a mim.
-- Sei lá! -- exclamei, sacudindo os ombros, porém com as faces afogueadas. E para mudar de assunto, perguntei:
-- E o peixe?
-- Já limpamos – afirmou Ana Paula. -- Agora só falta assar.
-- Vou enfiar ele na fogueira – expliquei. Apanhei a vara com o peixe e com muito cuidado a coloquei no fogo para assar.
Aguardei.
Enquanto isso, Marcela e Ana Paula saíram e foram em direção ao mar, deixando-me as sós com Luciana.
-- Me desculpe – falei, aproximando-me dela. -- É que fiquei com muito medo daquele barulho. Talvez seja só cisma minha, mas acho que tem alguma coisa nessa ilha de olho na gente.
-- Tudo bem, deixa pra lá – respondeu um tanto contrafeita.
-- Não quero assustar ninguém, mas estou começando a ficar com medo.
Talvez não devesse ter confessado meus temores, pois isso expunha minhas fraquezas e de certa forma me deixava ainda mais vulnerável àquela jovem, aos seus caprichos que dia após dia afloravam de forma mais intensa, como se ela tive consciência do seu poder e desejasse exercê-lo. Talvez ela não se apercebesse disso, mas cedo ou mais tarde daria conta e então já me teria em suas mãos. E justamente a única pessoa capaz de fazer-lhe frente.
-- Mas foi só um barulho – exclamou ela. -- Vai ver que foi um galho caindo.
-- Não foi só isso – asseverei. -- Sinto que tem alguma coisa. Pode até ser algum animal, mas que tem ah isso tem. Isso eu posso te garantir.
-- Então porque a gente não vai dar uma olhada? -- sugeriu.
“E agora? O que faço? Se disser não ela vai saber que estou morrendo de medo e vai me chamar de fracote, de medroso. Vai contar para as meninas e aí elas vão ficar rindo da minha cara. Não, isso não! Não posso deixar que a Marcela também pense isso de mim”, conclui.
-- Agora?
-- E por que não?
Senti o coração palpitar mais forte, como se o medo quisesse me dominar. No entanto, não deixei transparecer.
-- Deixe as meninas voltarem. Ai a gente come o peixe e depois a gente vai.
Luciana assentiu. Disse inclusive estar um pouco faminta. Então aproveitei para dar uma olhada no peixe a fim de ver se estava assado. Não estava no ponto, embora exalasse um cheiro agradável. Aproveitei para movê-lo através da vara a fim de que esta não queimasse.
Ana Paula e Marcela não tardaram. Continuavam alegres e falavam e sorriam. Nada fazia lembrar aquele clima de tristeza de mais cedo, quando a saudade arrancara lágrimas do coração da caçula.
-- Chegaram na hora. O peixe está assado – declarei retirando-o do fogo. -- Olha só que delícia!
Sentamos em círculo e por alguns momentos esquecemos as diferenças. Dir-se-ia ter surgido um clima de harmonia devido aquele alimento, como se a ceia tivesse um quê de sagrado. E embora o peixe não fosse assim tão grande, foi o bastante para nos satisfazer. Não houve um que reclamasse do sabor, da falta de temperos e de sal. Até porque, melhor um peixe sem sal do que comer frutas o tempo todo.
-- Por que você não tenta pegar outro, primo? -- perguntou Ana Paula.
-- Vou tentar sim, mas não agora. Agora, eu vou com a Luciana dar uma olha por aí. Escutei um barulho esquisito quando fui atrás dela. Talvez seja só um animal ou coisa parecida. Mas é melhor verificar.
Ana Paula e Marcela me fitaram com olhar desconfiado, entretanto não fizeram comentários. Levantaram em seguida e tornaram a sair da cabana em ao mar, provavelmente para lavar as mãos e tirar aquele cheiro de peixe.
Luciana levantou-se e, como se me chamasse para um passeio, disse:
-- Vamos.
Titubeei por alguns instantes. Cheguei mesmo a torcer para que ela desistisse daquela maluquice.
-- É melhor levar esta vara – falei, pegando a lança que usara para pescar.
-- O que foi? Ta com medo?
-- Não – respondi. – É só por precaução.
Saímos.
Embora não quisesse admitir, estava sim morrendo de medo. Uma sensação me dizia que poderíamos encontrar algo capaz de tornar nossa estada naquela ilha um inferno, a ponto de cometermos os mais terríveis disparates. “Meu deus! Espero que não seja nada demais. E se for algum monstro ou alguma coisa do outro mundo? E se ele quiser pegar a gente para comer? Não, meu Deus, não deixa isso acontecer com a gente! Não quero ser devorado. Quero voltar para casa, quero ver meus pais, meus irmãos. Estou morrendo de saudades deles”, pensei no instante em que saía da cabana. Passos adiante, eu tornei a pensar: “Por que ela insiste tanto em ir atrás? Não seria melhor a gente não saber o que é? Se for alguma coisa, só vai deixar a gente mais apavorada ainda... Mas e se não for nada? Eu vou ter ficado com medo à-toa. Não, nada não pode ser. Eu não estou maluco. Eu sei que ouvi alguma coisa”. Talvez tudo não passasse de efeito do medo, o qual nos leva ao ápice da imaginação e as mais absurdas deduções.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

MEU ESTILO

Não sou o tipo de escritor que põe o leitor contra a parede a fim de que ponha o cérebro para funcionar e descubra o que realmente o autor tencionava dizer com aquelas meias palavras, mesmo sabendo que a imaginação do leitor é o que completa a obra de um autor. O autor que não desperta e aguça a imaginação do leitor peca por falta de imaginação. No entanto, isso não é a mesma coisa que exigir do leitor a adivinhação por causa do excesso de concisão. Mesmo sendo um recurso poético, é justamente o tipo de coisa que não me agrada, como no poema abaixo:

Morrer
Desaparecer
Fim.
Verdade
Realidade
Fim.

Apesar de não ser tão difícil assim de deduzir o que o poeta quis dizer, ainda sim ficará a dúvida se o que ele (o leitor) interpretou condiz com o que o autor quis dizer, embora muitas vezes a intenção do autor era tão somente aguçar a imaginação do leitor, sem se preocupar com o que de fato ele houvesse interpretado. Ainda prefiro ser mais claro, mais simples, mais direto e pecar pelo exagero do que pela falta.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

O REINO DA BELEZA É MAIS VASTO


Versos inspirados num aforismo de "Aurora", do filósofo alemão Friederich Nietzsche.

Astutos e alegres, vagueamos na natureza
Para descobrir e flagrar a beleza
Que há na luz do sol, ou no céu da tormenta,
Ou o que diante dos olhos nos apresenta

Assim também devemos vaguear
Entre os homens, sem deixar passar
O olhar atento de observador e descobridor
Para que se lhes manifeste todo o esplendor,

Quando os tratamos bem ou mal.
Então é proibido fruir os homens maus
Como uma paisagem selvagem
Se bondosos nos iludem feito uma miragem?

Sim, é proibido! Pois até agora buscaram
A beleza no moralmente bom. E não suspeitaram
Das imaginárias belezas sem ossos
Que há nos maus os virtuosos.

domingo, 29 de julho de 2012

COM A MINHA SOLIDÃO





















A solidão que me acompanha amiúde
Na busca de minha própria essência
Dela aceito de tudo, menos um ataúde
Para enterrar a minha existência.


Das minhas dores e decepções
Que teimam em me fazer desistir da vida
Procuro apenas tirar algumas lições
Sem porém deixá-las virarem feridas.


A solidão que para alguns faz mal à saúde
A mim, faz bem ao corpo e à consciência
Absorvo-lhe com prazer a plenitude
Para buscar a vida com sapiência


E desses momentos e abstrações
Onde a experiência é desmedida
Sobre a vida faço minhas indagações
Embora sem deixá-las afetar minha vida.  

quarta-feira, 25 de julho de 2012

ADEUS À INOCÊNCIA - CAP. 28

Aquilo me esfriou a cabeça. Embora muito afetado, com o coração correndo feito um cão sem rumo, com os pensamentos confusos, ora pendendo para um lado, ora para outro, pude encontrar forças pensar e refletir. Fazer aquilo que estava prestes a fazer não estava certo. Eis a verdade. Se meus pais soubesse, certamente me repreenderiam e talvez até me dariam uma boa sova. Era o que eu pensava. Além do mais, a ideia do pecado, dos olhos atentos de Deus – um Deus perverso, autoritário e que mantém seu rebanho unido sob o estalo do chicote – assustava-me. Só em pensar que o criador estava a todo instante nos vigiando me fazia sentir calafrios e medo, um medo terrível. Ah, como eu temia o castigo divino! Eu daria qualquer coisa, submeter-me-ia à qualquer sacrifício para que minha alma não sofresse os castigos do inferno. Nada, mas nada nesse mundo me aterrorizava tanto quanto a possibilidade de perecer eternamente nas profundezas do inferno. Toda a minha noção de dor e sofrimento estava sempre relacionada aos castigos divinos; castigos esses oriundos por não termos em vida seguido Seus ensinamentos. Ensinamentos esses muitas vezes confundidos com os ensinamentos de meus pais, já que estes eram de uma fé inabalável. E a certeza de cometer um pecado capital ao fazer sexo com Luciana – embora meu corpo desejasse isso cada segundo naquele momento, um desejo que ia contra a minha vontade – era o que não me deixava ir até o fim. E mesmo quando eu estava ali, rolando com ela na areia, ainda era capaz de me conter, de dizer não.
Dessa vez porém foi mais difícil. Talvez deveria ter-lhe dito que não queria seguir-lhe, que não queria fazer aquilo. Mas como poderia resistir diante daquele corpo nu, tão belo e maravilhoso feito uma ninfa? Não, não poderia. Um garoto naquela idade ainda é um garoto e na mais das vezes age simplesmente por puro instinto, pois a moral embora cresça em terreno fértil ainda não é forte o bastante para nos mantermos sempre curvados. Assim, deixei os instintos aflorarem com todo o seu explendor. Até porque eu não tinha forças para enfrentá-los.
E Luciana me puxando em direção à areia, dando passos suaves e ao mesmo tempo firmes, decididos me fez lembrar por um momento as ninfas que tanto me excitavam a imaginação. Aliás, quando olhei para o seu corpo nu, esqueci completamente de Ana Paula e Marcela. Dir-se-ia estarem naquela ilha apenas eu e Luciana. Aliás, eu me esqueci não só delas como também de Deus, meus pais e até mesmo de que estávamos presos e perdidos naquela ilha.
-- Vem cá – chamou ela, após se sentar na areia e pender levemente para trás como se fosse derrubada pelo vento.
Ainda fascinado e maravilhado por tudo aquilo, obedeci suas ordens. E mesmo que sua beleza não me fascinasse e sua voz não me encantasse feito o canto de uma sereia ainda sim obedeceria; pois eu me sentia um grão de areia, como a infinidade deles naquela ilha.
Em pouco tempo eu estava em sobre ela. Seus braços me envolviam e seus lábios, após procurar e encontrar os meus, beijavam-me. Meus quadris irrequietos tentavam se ligar ao dela, mas não conseguia. Ela se movia para lá e para cá tentando me ajudar. Entretanto a falta de jeito e a inexperiência de ambas as partes tornava as coisas mais complicadas.
O dia estava ensolarado e o sol queimava as minhas costas. Pela posição do sol devia ser mais ou menos duas horas da tarde. E o calor parecia me dissolver e transformar-me em água. Isso me causava um certo desconforto, contudo não desistia. Estava disposto a ir até o fim.
Acredito que se não fosse por uma influência externa, pelo soprar da brisa que fez com que chegasse aos meus ouvidos um som estranho, teríamos ido até o fim. Mas quando ouvi aquele som de galho se partindo, como se fora pisado por um pé descuidado, ergui a cabeça e feito um animal assustado perscrutei.
-- O que foi? -- perguntou Luciana, ao ver-me parar bruscamente, como que paralisado.
-- Psiu – fiz, levando o dedo aos lábios. -- Alguma coisa na floresta – respondi em seguida.
-- Não tô ouvindo nada – acrescentou. Seu tom de voz alterara-se; apresentava um ar irritadiço.
-- Parece que tem alguma coisa observando a gente – falei.
Luciana me empurrou para o lado e sentou-se contrafeita. Parecia muito frustrada e decepcionada. Por um momento tive a impressão de que ela fosse me esmurrar, como as mulheres fazem quando se sentem ofendidas. No entanto disse:
-- Você está ficando maluco! Como pode ter alguém observando a gente? Não tem mais ninguém nessa ilha além de nós e as meninas! Já percorremos a ilha toda. Não se lembra disso? -- Concordei com a cabeça. Ela fez uma pequena pausa e depois continuou: -- E quer saber de uma coisa? Você é um idiota! -- Levantou-se e foi em direção a água.
Eu não disse palavra. Apenas fitei ao se afastar. Aliás, olhava mais em direção à mata que em Luciana, embora a beleza de seu corpo, de suas nádegas balançando fosse um espetáculo dígino dos deuses.
Estava assustado, muitíssimo assustado. A lembrança do mesmo episódio há dois dias invadiu-me à memória feito um tsunami. Meu coração batia velozmente e meu corpo transpirava ainda mais, mais que antes e por motivos completamente diferente. Para ser sincero, faltou pouco para eu me borrar.
Eu não sabia se averiguava a causa daquele som estranho ou se corria em direção à Luciana. Aliás, pensei seriamente em fazer isso; mas me contive ao me aperceber de quão medroso pareceria aos seus olhos. “Não isso, não!”, pensei. “Se for aí é que ela vai fazer o que quiser de mim. É melhor esperar ela aqui. Não vou lá ver o que é isso. E se for algum monstro, alguma fera? E se for um fantasma? Já estou ficando com medo desse lugar. Espero que a gente saia logo daqui”, continuei pensando.
Aguardei.
Cerca de três minutos depois Luciana saiu da água e assim que atingiu a faixa de areia tornou a vestir a parte inferior do biquíni.
-- O que foi que você está olhando, seu frouxo? -- perguntou ela ainda aborrecida
-- Nada – respondi.
-- Frouxo, idiota -- continuou. – É isso mesmo! Você é um frouxo. E essa coisa que você tem aí – apontou – no meio das pernas não serve para nada, isso sim! -- Passou por mim e seguiu em direção à cabana.
Com medo, levantei e fui a seu encalço. No momento, não me arriscava a ficar sozinho ali por nada desse mundo.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

COISAS PARA AS QUAIS NÃO NASCEMOS















Não há respostas para minhas inquirições
O conhecimento ainda não chegou lá.
Talvez o problema esteja nas minhas indagações
As quais eu não soube formular.

Mas minhas perguntas são as de tanta gente
Que estão na mesma situação que eu
São pessoas até mais sábias e inteligentes
Cujo desejo de saber sempre floresceu

Por que a verdade tem suas razões
Para nos iludir quando tentamos buscá-la?
Por que não vemos que nossas convicções
São o que nos impede de alcançá-la?

Talvez a verdade seja apenas aparente
Uma ilusão que a experiência nos deu
Para que não nos percamos inutilmente
Com coisas para as quais não se nasceu.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

NENHUM PASSO ADIANTE

Para Nietzsche, “A grande conquista da humanidade, até agora, é não precisarmos mais temer continuamente os animais selvagens, os bárbaros, os deuses e os nossos sonhos”*. Quanto aos animais selvagens, os bárbaros e os nossos sonhos Nietzsche está certo, mas e quanto aos deuses? O conhecimento transformou a humanidade e os velhos deuses praticamente desapareceram, mas o homem ainda não aprendeu a viver sem um deus, sem a quem temer e venerar irracional e incondicionalmente. Por isso ainda se venera Deus. Quanto a isso todo o conhecimento acumulado até hoje se mostrou inútil. Não se deu um passo adiante. Ainda se venera deuses como antigamente. Aliás, é o que Nietzsche diz acerca dos Europeus de sua época: “Por mais que haja progredido em outros âmbitos, em matéria de religião a Europa não alcançou ainda a liberal ingenuidade dos antigos brâmanes”**


* Aurora, I, 5, Sejam agradecidos!
** Aurora, I, 96, In hoc signo vinces

terça-feira, 3 de julho de 2012

ADEUS À INOCÊNCIA - CAP. 27

Encontrei-a uns dois quilômetros depois. Agachada sobre a areia, de frente para o mar, estava fazendo xixi. Parecia distante, compenetrada, pois não me viu se aproximar.
Parei para observá-la, para ver como as mulheres faziam suas necessidades. Apenas reparei em suas costas e depois em suas nádegas brancas. Estava um pouco longe. Queria aproximar, ver com mais detalhes por que todas as mulheres se agacham para fazer o que nós homens o fazemos de pé. “Por que elas não fazem como a gente?”, fiz-me essa pergunta ao se aproximar. “Será porque elas não têm pinto como a gente? É, deve ser. E se fizer de pé, vai escorrer pelas pernas”, conclui. Aliás, aquela imagem remeteu-me à outra mais antiga, quando vi uma garotinha fazendo xixi na calçada. Ela deveria ter uns quatro anos e estava inteiramente nua. Ao vê-la fazer xixi daquele jeito, fiquei deveras impressionado. Não pela sua nudez, pois a minha inocência passava ao largo de qualquer obscenidade, contudo, o fato de estar agachada foi o que me impressionou. Durante o jantar por pouco não indaguei minha mãe, mas faltou-me coragem. E essa dúvida acabou caindo no esquecimento, vindo à tona ao observar Luciana, embora a inocência não fosse mais a mesma.
Ela se levantou, despiu-se completamente e foi caminhando em direção ao mar, carregando sua única peça de roupa na mão direita. Fiquei olhando-a dar suas passadas lentas, despreocupadas, como se a vida fosse infinita. Eu olhava para suas nádegas, nos movimentos que faziam a cada passada de suas pernas e ficava admirado com a delicadeza daqueles passos. Dir-se-ia andar numa passarela. Até quando estão andando naturalmente algumas mulheres parecem desfilar. E Luciana fazia isso tal qual uma modelo. Ela ia se afastando, se aproximando do mar e eu continuava olhando, afetado, com o corpo incendiando, com os pensamentos revoltos, tomados por lembranças, lembranças de nós dois deitados na areia. E essas lembranças tinham o poder de criar novas imagens, dando asas a minha imaginação.
Ela entrou lentamente na água e, quando esta lhe atingiu os quadris, deu um salto para frente e mergulhou. Pensei em me esconder atrás de uma enorme palmeira e ficar olhando-a indefinidamente, vendo o nadar de seu corpo esguio, o bater de seus braços e suas pernas, o envergar de seu dorso ao saltar uma onda ou dar um mergulho e emergir em seguida; mas meu corpo, como se puxado por um cabo invisível, sentia-se arrastado, atraído em sua direção.
Dei alguns passos e disse-lhe um “oi!” para não assustá-la quando estivesse mais perto. Ela virou e minha direção e, talvez surpresa, perguntou:
-- O que você está fazendo aqui?
-- Cheguei na cabana e não te vi. Perguntei as meninas e eles disseram que você tinha vindo por essas bandas. Então resolvi vir atrás – falei. Entrara na água e agora me aproximava.
-- Resolvi andar um pouco – Foi o que ela disse. – E aí? Desistiu de pescar?
-- Não. Peguei um peixe enorme. – Cheguei onde ela estava e vi em sua mão a parte inferior do biquíni.
-- Hum... Que bom! Então hoje vamos comer algo decente – afirmou, fitando-me e sorrindo em seguida, um sorriso que parecia ter algo mais.
-- Acho que vamos ter peixe para o almoço – brinquei, retribuindo-lhe o sorriso. No entanto, olhava com insistência para a parte inferior de seu corpo, embora esta estivesse submersa e pouco visível; aliás, o movimento da água distorcia quase que totalmente os contornos de seu corpo do umbigo para baixo. Sentia meu coração palpitar, o peito arfar e o rosto quente, mas não conseguia parar de olhar.
-- O que foi? – perguntou ela. -- Parece inquieto?
-- Nada – desconversei ainda mais rubro.
Se aquele episódio tivesse acontecido com uma das outras meninas, a coisa teria terminado por ali. Provavelmente eu teria virado para o lado e aguardado até ela se vestir. Todavia, era Luciana quem estava bem ali na minha frente, com um olhar diferente, com os lábios ocultando alguma intenção, alguma travessura, reflexo de sua curiosidade destemida, consciente de que o mundo é dividido entre aqueles que dominam e aqueles que são dominados, usados por uma pequena minoria como objetos, como meio de atingir seus objetivos. Talvez ela não fizesse a menor ideia do porquê que alguns sentem prazer em dominar, em usar os mais fracos para sua própria satisfação; mas ela sabia que entre nós dois, era ela quem ditava as regras e quem comandava o jogo. Se eu lhe tinha algum poder sobre si era porque ela permitia, porque ela precisava desse poder para se proteger, para sobreviver.
-- Nada! Sei.. – E, não demonstrando constrangimento, deu dois passos, parou bem próxima de mim, afundou a mão n’água e agarrou-me os genitais por cima da sunga. – To vendo – acrescentou imediatamente. – Então por que ele está assim?
-- Assim como? -- Foi uma reação espontânea. Dir-se-ia inclusive uma atitude insensata, palavras que só um idiota seria capaz de proferir.
-- Não se faça de bobo! Você sabe muito bem!
-- Ah... sei lá! -- Foi o que consegui responder, dando um passo para trás.
Pensei em virar e sair correndo, afastar-me, ir para um lugar onde pudesse ficar sozinho e usar o que eu sabia para tirar-me daquele estado, e fazer com que aqueles pensamentos que atormentavam minha alma findassem. Todavia, uma parte de mim, aquela parte onde habita um diabinho vermelho de rabo em forma de flecha e orelhas e chifres grandes, sussurrava insistentemente para ficar e explorar aquele vasta e desconhecida ilha chamada mulher, uma ilha repleta de segredos, de mistérios. E por que não de perigos também? Então eu fiquei, pois a voz que me cochichava do outro lado para não ficar, para sair dali soava fraca, quase inaudível.
-- Pensa que me engana, é? Você está assim porque sabe que eu estou pelada – disse ela com naturalidade. Em seguida tornou a se aproximar e sem dizer palavra arrancou-me o falo para fora. -- Nossa! Como está duro! -- exclamou.
Eu não disse palavra; apenas fitei-a e esperei, como se num jogo aguardasse que o adversário terminasse sua jogada. De novo pensei em fugir, em escapar de seu poder, de suas brincadeiras sem graça. Mas alguma coisa me prendia a ela e me impedia de escapar. Aliás, se eu pudesse prever o futuro, jamais teria de me aproximado dele naquele momento.
-- Vem cá. Me abraça e me beija – pediu. Todavia, não esperou; jogou-me os braços em volta do pescoço e puxou-me para junto de si, cerrou os olhos e ofereceu seus lábios. E sem ter como recusar, aceitei-os.
Foi um beijo estranho, apesar do desejo. Meu coração palpitava, minhas mãos tremiam, meus pensamentos tombavam e davam cambalhotas, como se arrastados por uma onda gigantesca. Talvez eu até quisesse, mas naquele instante não conseguia aproveitar o momento. É possível que naquele momento supusesse aonde ela estava querendo chegar, apesar da minha inocência. Eu ainda era um garoto e não estava preparado para ir tão longe. Achava que fazer essas coisas era cometer pecado, era provocar a ira de Deus; pois a ideia que tinha de Deus não diferia muito da ideia acerca de meus pais. E se meus pais se aborreceriam quando soubessem que andei fazendo aquelas coisas, então Deus também se aborreceria. Por isso fiquei confuso, e mais confuso ainda ao sentir uma de suas mãos segurar-me o pênis ereto, empurrá-lo para baixo e introduzi-lo no meio de suas pernas, em tom de brincadeira.
Não sei explicar o que se passou, embora acredito que não tenha acontecido nada. Lembro-me tão somente de sentir-lhe as mãos seguraram-me os quadris e empurrá-los e depois tornar a puxá-los dezenas de vezes. Nesse ínterim, depois de conseguir me livrar do pensamento de que Deus me castigaria por aquilo, aproximei-lhe os lábios dos seios e sorvi-lhe os mamilos, ora um ora o outro.
E quando finalmente tomara gosto, esquecera o desejo de escapar, esquecera Deus e sentia prazer naquilo – aliás, um prazer crescente, um prazer que aos poucos me fazia esquecer não só Deus como tudo a minha volta, como se o mundo de repente transformara-se apenas num mundo de sensações e prazer –, Luciana soltou-me os quadris e disse para sairmos da água e ir para a areia.