quarta-feira, 10 de outubro de 2012

ADEUS À INOCÊNCIA - CAP. 31

-- Vamos voltar – chamei-a ao me aperceber que o sol começava a se pôr. Não queria de forma alguma atravessar a floresta ao anoitecer. Só a possibilidade disso acontecer era o suficiente para me causar arrepios.
-- Ah. Vamos ficar mais um pouco – declarou Luciana. Ela estava apoiada numa pedra olhando para a imensidão do mar. Parecia absorta, maquinando alguma coisa.
-- Não – respondi. -- Já está querendo anoitecer e as meninas podem ficar preocupadas com a nossa demora.
-- Mentira! -- Luciana virou em minha direção, contudo manteve-se recostada à pedra. -- Você está é com medo. Medroso... Medroso... -- repetiu ela rindo e caçoando.
Lembro-me de ficar extremamente desconcertado. A minha primeira reação foi negar, dizer-lhe que não estava com medo coisa nenhuma, que só me sentia preocupado com as meninas. Entretanto isso não a convenceu. Ela continuou a me chamar de medroso. E em dado momento, provocou-me ainda mais. Apontou o dedo em direção aos meus quadris e acrescentou:
-- Pra que tem isso aí se você não é homem?
Eu não sabia se saia correndo dali de vergonha ou se fazia alguma coisa para provar o contrário. Enquanto era tomado pela indecisão, a minha única reação foi afirmar minha masculinidade. E ao fazê-lo, não deixei de acrescentar que uma coisa não estava relacionada com a outra, que sentir medo qualquer um pode sentir, independentemente do sexo. Entretanto isso não a convenceu. Estava disposta a ir até o fim.
-- Então prove que você é homem – pediu ela, ainda mantendo-se aquele sorriso de triunfo, como se tivesse me feito cair numa armadilha.
Eu não precisava provar nada nem para ela nem para ninguém, essa era verdade. Contudo, um garoto da minha idade não pensa assim. Ao sermos desafiados, a primeira reação é aceitar o desafio, ainda mais quando se é desafiado por uma mulher; ai então é que precisamos urgentemente e de forma incontestável provar nossa superioridade. E eu sabia perfeitamente disso. Não só minha masculinidade como a minha autoridade naquele grupo estava em jogo naquele momento. Tudo dependia de uma decisão urgente, de um ato que não lhe deixasse mais dúvidas a meu respeito. Mas o que fazer? Ceder a seu jogo? Porque eu sabia quais eram suas intenções. O problema era: ceder também não constituía um sinal de fraqueza? Eu sabia aonde ela queria chegar. Não era um perfeito idiota. Só que eu tinha vergonha e medo. Vergonha porque eu me sentia um brinquedinho nas mãos dela. Luciana fazia o que bem entendia de mim e isso me constrangia; e medo porque minha inocência e minha fé em Deus faziam-me acreditar que praticar um ato daqueles era algo pecaminoso, cujas consequências seria perecer no inferno. Só de fantasiá-los eram motivos de culpas intensas, quanto mais praticá-los. E eu acreditava indubitavelmente que Deus estava a espreita lá no céu, vendo e anotando todos os meus pecados para apresentar-me no dia do juízo final. E até então, o que eu ouvira acerca da ira impiedosa de Deus, dos castigos horrendos do inferno só podiam me amedrontar. Estava aí o motivo pelos quais eu procurava fugir do assédio de Luciana como o diabo foge da cruz.
-- Eu não quero provar nada! -- proferi com rispidez, como se deixasse bem claro o quanto me desagradava seus modos. Em seguida, dando um ou dois passos para trás, insisti: -- Vamos voltar.
-- Não. Eu não vou voltar, seu bichinha. Se tiver coragem, volte sozinho. -- Ela foi categórica e não se moveu; continuou recostada à grande pedra, com se soubesse que eu não teria coragem de partir sem ela.
Cheguei a virar em direção à trilha que nos levaria de volta e dar alguns passos. Mas por um momento o medo tomou conta de mim e fiquei como que paralisado, como se alguma coisa me imobilizara.
Nisso, com a maior naturalidade, Luciana despiu-se da única peça de roupa e, inteiramente nua, ficou a minha espera.
-- Vem cá. Tire a roupa – ordenou ela.
-- Eu não quero – asseverei, como última tentativa de fazê-la desistir.
-- Por que você não quer? Vai, me diga?
-- Porque é pecado.
-- Pecado? -- Luciana soltou uma gargalhada. -- Onde foi que você tirou isso?
-- Aprendi na igreja – respondi imediatamente.
No dia anterior ao acidente, havia ido a mais uma das aulas de catecismo. E o padre palestrara justamente acerca da castidade, de como Deus todo poderoso está atento ao nossos atos, principalmente aos pecados da carne. E isso me deixara deveras impressionado, pois vivia no seio de uma família bastante religiosa e conservadora, onde o sexo era tabu. E a agora essas palavras ecoavam na minha cabeça feito um alerta, um lembrete.
Luciana se aproximou, puxou-me pelo braço, fazendo com que ficássemos frente a frente e disse:
-- E você acreditou? Se fosse pecado as pessoas não transavam, seu idiota! Pois eu sempre aprendi que Deus não existe, que é apenas uma invenção, uma forma de pôr medo nas pessoas. E parece que é verdade, pois você está aí, se borrando de medo. Pense bem: existem bilhões de pessoas na terra. Você acha que se mesmo que Deus existisse, ele ia estar vigiando o que cada um estava fazendo? Idiotice tem limite. Né, muleque burro?
-- Não sei.
-- E aqueles que tem outras religiões, que não acreditam nesse Deus? Então estão todos condenados?
De fato eu nunca havia pensado acerca disso; aliás, eu via Deus da mesma forma que os acontecimentos do dia a dia, como algo inseparável da existência humana. E aquela pergunta fez brotar um ponto de interrogação na minha cabeça, como uma ranhura no espelho que provoca uma falha na imagem refletida, quando olhamos para a nossa própria imagem.
-- Não sei – tornei a responder.
-- Deixe de ser bobo! Mesmo que Deus exista, ele vai estar preocupado com muitas outras coisas do que com nós dois. O universo é imenso demais para ele se preocupar com a gente. Olha para meus peitos – disse Luciana, apertando-os com as mãos – Você não acha eles bonitos?
Levantei a cabeça, pois a mantinha abaixada como se olhasse para o chão, e, depois de fitá-los por alguns segundos, menei-a em sinal de concordância.
-- Então? Vem cá! Pega neles.
Obedeci.
Comecei a apalpá-los com certa curiosidade, embora a vergonha não me deixasse sentir prazer naquilo. Nisso, usando de toda a sua esperteza, Luciana levou a mão abaixo do meu umbigo e a escorregou por dentro da veste, agarrando-me o falo. Este, por sua vez, ainda permanecia tímido, como que adormecido, como se o que acontecia do lado de fora não lhe dissesse respeito.
As mãos ágeis de Luciana souberam animá-lo. Em poucos instantes ele jazia ereto, incapaz de obedecer meu consciente. Aliás, não era só sobre ele que eu perdera o comando, mas sobre meus pensamentos e meu corpo por inteiro. Com algumas carícias, Luciana conseguira florescer-me os mais primitivos instintos.
Puxou-me para junto de si. Fui parar no meio de suas pernas. E consumido por aquela chama, que de repente surgira não sei de onde e a qual me fazia sentir coisas com uma intensidade que jamais sentira, deixei que tudo acontecesse.
Lembro-me tão somente de chupar-lhe os seios e beijá-la de quando em quando. Lembro-me também de ouvi-la soltar um gritinho, como se algo lhe tivesse espetado, quando a penetrei. Aliás, eu nem fazia ideia que a tinha penetrado; apenas sentia um certo desconforto no pênis, como se algo o apertasse. Só fui ter consciência disso quando ela me explicou ao retornarmos para juntos das meninas. Inclusive quis saber porque eu tinha parando depois que “aquilo” (foi a palavra que ela usou) saiu de mim. Eu perguntei se não era para parar e ela disse que gostaria que eu tivesse continuado, pois estava ficando cada vez melhor. Disse-lhe que de repente fiquei sem forças e com vontade de parar.
Quando finalmente chegamos à faixa de areia, Luciana disse que precisava ir à água se lavar.
-- Vou indo na frente – falei. Disse-lhe isso porque me sentia envergonhado na sua presença. Desde o momento em que a chama do desejo apagou-se, a vergonha cresceu feito um monstro mitológico. E permanecer junto de Luciana era quase uma tortura. Era como se ela fosse a prova viva de que meu pecado não escapara aos olhos atentos do criador.
Foi como um alívio quando me vi livre dela.

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