domingo, 23 de maio de 2010

DAQUI, DO MEU CORAÇÃO

Daqui, do meu coração
Eu só ouço um suspirar
De palavras sem razão
Clamando para você ficar.

O destino quer tua partida
Para longe de mim.
Mas talvez a vida
Não seja tão má assim
A ponto de querer nos separar.

O meu egoismo talvez
E a ideia da perda definitiva
Tornam tua partida de vez
Uma dor mais sofrida.

Mas não quero sofrer porém
Pois sei que não suportarei
Essa dor, meu bem.
E sei que morrerei
Da forma que não me convém.

Assim, se tem de partires
Para um nunca mais
Antes, a um precipício atires
Este desafortunado rapaz.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

ADEUS À INOCÊNCIA - CAP. 09


Retornei envergonhadíssimo ao meu posto, de onde não deveria ter saído. Era como se eu cometera um ato grave, obsceno e pecaminoso, algo que de acordo com os preceitos religiosos aprendidos na igreja, a qual frequentava assiduamente nos últimos meses nas aulas de catecismo, era motivo mais do que suficiente para levantar a mão divina contra minha pobre alma. Aliás, era como se alguém houvesse me observado e agora estivesse a sussurrar-me na consciência: “eu vi o que você fez. Você é um garoto mau, cheio de pecados”.
Não que eu nunca tivesse me masturbado antes. Já fizera isso algumas vezes; todavia, nunca havia me sentido tão culpado como dessa vez, embora a sensação de culpa era inevitável. Tanto que não tive coragem de observar as meninas dormirem, pois isso certamente me faria lembrar o que eu procurava esquecer.
Quando a lua atingiu mais ou menos a posição em que deveria estar para que meu turno findasse, acordei Ana Paula. Eu já não suportava mais ficar sentado naquele silêncio, lutando contra meus próprios pensamentos, os quais, sentiam prazer em me contrariar e fixarem naquilo que eu lutava para esquecer. Como eu disse anteriormente, só se ouvia o som das ondas arrebentando na praia. E aquilo, aos poucos, acabou me irritando e fazendo com que minha vigília se tornasse uma tortura; pois não se podia fazer nada, a não ser vez ou outra jogar alguns gravetos na fogueira para que ela não se apagasse.
Ana Paula custou a levantar-se. Tive de chamá-la insistentemente mais de uma vez.
-- Mas já está na minha hora? – perguntou ela, após se levantar. – Parece que não dormi nada.
-- Já. E pela posição da lua, deve ser umas duas horas da manhã. Agora é só você esperar até a lua chegar naquela posição – apontei – que terá terminado o seu horário. Aí você chama a Luciana para ficar no seu lugar.
-- Ta bom – respondeu ela bocejando.
-- Olha lá, hein! Não vai dormir, viu? – recomendei.
-- Pode deixar – disse ela, espreguiçando-se.
-- É melhor você ir até a água e lavar o rosto – sugeri.
Sem dizer nada, Ana Paula saiu correndo em direção ao mar.
Não esperei a sua volta. Fui até onde ela estivera deitada anteriormente e deitei no mesmo lugar. Devo ter adormecido quase de imediato, pois ao tentar me recordar desse momento no dia seguinte, lembrei-me tão somente do instante em que apoiei a cabeça na areia e nada mais.
Quando acordei, estava começando a clarear. Luciana e Marcela conversavam na beira d’água e Ana Paula continuava a dormir no lugar ocupado anteriormente por Luciana. Pensei em despertá-la, mas resolvi deixá-la dormir um pouco mais. “Assim que o sol bater na cara dela, ela vai acordar de qualquer jeito”, pensei com prazer, como quem faz uma travessura.
Fui em direção às duas jovens.
-- E aí, meninas? Como passaram a noite?
-- Péssimo – respondeu Luciana.
-- Dormir, até que dormi bem – falou Marcela. – O pior foi ficar tomando conta da fogueira. Vamos ter que arrumar um outro jeito de manter ela acesa por toda a noite.
-- Também acho – interveio Luciana.
Eu também era da mesma opinião. Todavia, haviam coisas mais importantes que pensar numa maneira de não precisar tomar conta da fogueira. De forma que isso não seria resolvido tão cedo.
-- Depois veremos isso. Agora só preciso tirar essa areia do corpo e comer alguma coisa. Estou morrendo de fome. Vocês não estão?
-- Eu até que não – disse Luciana. – Já comi uma banana pouco antes de vocês acordarem.
-- Ah, eu estou! – falou Marcela, abanando-se para tirar o excesso de água do corpo. – Não estou com vontade de comer banana. Queria comer outra coisa.
-- Daqui a pouco a gente busca – falei-lhe com prazer por lhe ser útil. Ao ver que ela havia saído do mar alguns minutos antes, resolvi perguntar: -- A água está muito fria?
-- Mais ou menos. Na hora que a gente entra, está; mas logo depois, a gente não sente tanto.
Então me arrisquei.
De fato a água estava fria. Mas foi como ela disse. Ficou bom depois. Aproveitei para lavar o rosto e depois dar uma mijada. Assim elas não perceberiam. Aliás, isso era uma estratégia usada não só por mim como por todas as meninas.
Assim que saí, chamei a Marcela:
-- Vem comigo! Vamos apanhar algumas frutas! – peguei-lhe na mão, como uma criança que pega na mão de outra para fazê-la acompanhar, contudo sem deixar que ela percebesse que por trás desse gesto havia o meu interesse para consigo. -- Luciana, aproveite para acordar a Ana Paula.
-- Eu? Mas não vou mesmo! Se eu acordar aquela chata, ela é bem capaz de brigar comigo. Se ela não acordar sozinha, quando vocês chegarem, você acorda ela – asseverou olhando-me torto, de má vontade, como quem vê algo a despertar-lhe a mais profunda antipatia.
-- Tudo bem então – falei. – Até é melhor mesmo. Já tinha me esquecido que vocês duas andaram se estranhando ontem. – comentei..
Andamos por alguns instantes, até encontrar uma trilha, a qual era cercada por arbustos cuja altura quase nos cobriam. Talvez, devido à fragilidade de nossa pele, as folhas pareciam lâminas, pois. nos cortavam com extrema facilidade.
-- Vamos ficar todo arranhados – falei.
-- Eu sei. Mas vamos ter que nos acostumar – disse Marcela, segundo atrás de mim, à medida que eu abria caminho entre as folhas. – Pois estou com o pressentimento de que vamos ficar um bom tempo nesse lugar.
-- Você também acha? – perguntei, parando e virando-me para ela.
-- Já vi casos de naufrágio em que levavam dias para achar as pessoas. Se a gente estivesse onde o barco naufragou talvez seria mais fácil. Mas eles nem sabe onde foi que o barco afundou. Não sabem de nada. Como vão achar a gente? É como procurar um grão de areia na praia. Vai levar tempo. Talvez até pensem que morremos afogados.
-- Eu também pensei isso, quando chegamos aqui. Só não quis dizer nada para não assustar vocês. Mas tenho a mesma impressão. É possível que levaremos meses ou até anos para sair daqui, gata. – Parei a sua frente e, com as costas da mão, fiz-lhe uma caricia no rosto.
Ela me olhou um tanto desconsertada, talvez pela surpresa. De imediato percebi que aquele gesto a afetou. Seu rosto adquiriu um tom mais vivo e avermelhado. Cheguei mesmo a tirar a mão com medo de que ela reprovasse meu gesto.
Só que não foi isso que aconteceu. Ela segurou em meu braço, puxou-o de volta e me abraçou. Meu coração disparou. Então foi minha vez de ser tomado por uma afetação incalculável. Fiquei imóvel e duro feito uma estátua. E surpreendentemente, ela aproximou seu rosto do meu e me deu um beijo nos lábios, num beijo meio desajeitado, mas que me marcou para sempre.
Foi meu primeiro beijo. Nunca havia beijado uma garota antes. Mas isso não fez a menor diferença, porque as emoções que estava experimentando eram algo que jamais havia experimentado.
Eu não sei no que pensei. Mas não devo ter pensado em nada. Meu corpo reagiu imediatamente. Quando paramos de nos beijar e ficamos sem saber o que dizer um para o outro, eu me dei conta de que estava excitado, tomado por um desejo cuja intensidade me era completamente desconhecida. E daquele jeito usando só uma sunga não deixaria aquilo passar-lhe despercebido, o que provocaria não só a mim mas a ela também grande embaraço. Eu tinha certeza disso.
Isso me deixou mais descontrolado do que o beijo em si. Durante alguns segundos pensei numa saída. Só que não encontrava nenhuma. Então pensei comigo: “que se dane que ela veja! Ela também deve ter ficado assim...”.