Eu tenho ilusões e sou um sonhador
Como qualquer ser humano.
Quanto a isso eu não me engano.
Talvez eu seja apenas insensível de vez em quando
Como se a dor do outro não me dissesse respeito.
Mas será que isso é realmente um defeito?
Ou o fato de andar com o pé na verdade
Faz-me ver melhor a realidade?
Uma realidade que na realidade
É dura e fria como amiúde é a verdade.
Eu tenho ilusões e não deixo de sonhar de vez em quando
Pois não posso suportar a realidade
Com o peso que se impõe ao ser humano
Quando este procura sempre a verdade.
Não é por questão de fraqueza ou covardia
Que o homem às vezes foge da realidade
É para suportar as dores do dia a dia
As quais fatalmente o elevaria a completa insanidade.
Apaixonado por literatura desde pequeno, começou a escrever as primeiras histórias aos 11 anos e desde então não parou mais. Parte desse material escrito nos últimos 30 anos você poderá encontrar aqui, inclusive trechos de obras que estão sendo preparadas para a publicação.
domingo, 29 de abril de 2012
sexta-feira, 20 de abril de 2012
ADEUS Á INOCÊNCIA - CAP. 25
-- Não. Para! – ordenou Marcela ao
sentir minha mão apertar-lhe o seio.
-- O que tem? Não estou fazendo nada
demais – declarei. Embora desejoso, sentia-me tenso, com o coração
palpitante, os lábios frios e as mãos quase trêmulas, pois no
fundo sabia que não estava cometendo um pecado; pelo menos no meu
entender.
Marcela olhava-me com desconfiança,
receosa de dar um passo em falso, de ir além da conta e depois se
arrepender. Aliás, se tem uma coisa que aprendi com ela e minha
prima, foi isso: o medo de ir longe demais. Não posso acreditar que
tenha sido mera coincidência as duas agirem dessa forma, com medo,
com receio de dar um passo maior que a perna, cair e se machucarem
profundamente. De todas, Luciana foi a única que não demonstrou
isso; talvez porque fosse a mais velha, a mais esclarecida e a mais
destemida; entretanto, nos momentos aonde ir longe demais poderia
custar-lhe caro, ela titubeou, embora isso não a tenha impedido de
seguir adiante. Acho que isso é algo que faz parte do instinto
feminino, algo encontrado em todas – ou quase todas – as
mulheres.
Por que elas se sentiam ameaçadas? Foi
o que me pus a perguntar várias vezes. No início, eu não soube
responder; aliás, era inocente demais para saber. No entanto, depois
com o passar do tempo e após ponderar bastante durante nossa estada
naquela ilha, cheguei a algumas suposições; e dessas suposições a
resposta mais condizente foi a de que faziam isso por temor da
gravidez (isso só ocorreu-me algumas semanas depois, quando Luciana,
ao se aproveitar de mim, falou dos riscos e do precisaria fazer para
evitá-la). Acho que no fundo elas pensavam: se ficarmos grávida e
não sairmos dessa ilha antes do nascimento, teremos que ter sozinhas
o filho aqui no meio do mato? Será que não tinham consciência
dessa possibilidade? E mesmo que não tivessem consciência disso, o
inconsciente antevia esses perigos, como um sexto sentido. Sim,
querido leitor. Não estou dizendo que tais conclusões sejam de todo
verdadeiras, uma vez que não sou versado no assunto, contudo foi a
melhor explicação encontrada por mim.
-- Eu sei. Mas eu não quero –
retrucou ela dando um passo para trás.
-- Então? Eu não vou fazer nada
demais. Eu gosto de você e jamais te faria algum mal. – Dei um
passo adiante, tornando a ficar frente a frente com ela, quase
colado. E estava tão próximo que podia sentir sua respiração
descompassada, como se ela se sentisse acuada feito uma presa. Seus
seios arfavam e a pele ia adquirindo certo brilho, devido às
minúsculas gotas de suor a brotar de todos os poros. Dir-se-ia estar
tão amedrontada quanto um animal atacado por um predador.
No curto intervalo de tempo, onde o
silêncio foi absoluto, nenhum detalhe me passou despercebido. E como
num golpe de sorte, percebi sua fraqueza, seu medo. Aí eu ponderei:
“Se eu pegar neles, ela não vai me impedir. Ela está assim por
isso, porque sabe que não vai escapar. Acho que ela pensa que não
adianta correr e nem gritar, porque estamos longe da cabana e elas
não vão ouvir. Ela está achando que se correr vou correr atrás
dela e agarrar ela a força. É mesmo! Nem havia pensado nisso! Eu
podia correr atrás dela, derrubar ela na areia e ela não ia poder
fazer nada. Sou mais forte. Não. Mas ela não vai correr. Se fosse
já teria corrido. Ela vai deixar. Quer ver?”.
Meus olhos fixaram-se nela e
mantiveram-se imóveis, como que vidrados, como os olhos de um
predador aguardando o momento certo para dar o derradeiro golpe em
sua presa. Nisso, uma secura subia-me pela garganta ao mesmo tempo em
que uma sensação desmedida de calor fazia-me o corpo transpirar. Os
meus pensamentos, desordenados e confusos até então, pareciam ter
cessado, como se uma força invisível e muito poderosa me impedisse
de pensar, de formar ideias, como se perdesse a capacidade de
processar imagens, sons e sensações. Eu era puro instinto; eis a
verdade!
E então, sem controle sobre meus atos,
minhas mãos se moveram como se agissem por si só e foram tocar
levemente os seios dela, sobre o biquíni. E tomado pela curiosidade
e desejo – eram eles quem me dominavam, quem me fazia agir assim –,
apalpei-os com as pontas dos dedos, como se apenas tencionasse sentir
a consistência daquelas formações arredondas e pontiagudas do
corpo dela, aquelas partes que no meu não existiam.
E ao tocar-lhe os seios, esperei que
Marcela dissesse alguma coisa, mesmo que fosse para me mandar parar,
mas ela não pronunciou nenhuma palavra e nem mesmo fez algum gesto
capaz me induzir a tirar as mãos e recuar; simplesmente ficou ali,
de pé diante de mim, com os seus meigos e confusos olhinhos presos
ao meu rosto, como que hipnotizada. Embora enleado, pude notar-lhe um
estado de submissão e até mesmo um quê de receio, como se temesse
os momentos seguintes. A verdade era que ela estava completamente em
meu poder tal qual eu vez ou outra ficava nas mãos de Luciana.
Eu também sentia medo. Mas o meu medo
era um medo diferente. Eu sentia medo do desconhecido, do novo e das
minhas próprias sensações. Pois a vendo ali tão dócil,
totalmente sob o meu poder, eu senti uma sensação de poder como
nunca sentira até então. Era como se sua vida, seu destino me
pertencesse e estivesse em minhas mãos. Era como se em minhas mãos,
tal qual nas mãos de Deus, estivesse o poder de dar-lhe ou tirar-lhe
a vida. E isso me provocava êxtase e pavor ao mesmo tempo. Aliás, o
poder nas mãos de quem sabe ter poder é usado sem medo, mas na mão
de um fraco é inútil e desastroso, por isso tenho de concordar com
aquele filósofo alemão que enaltece tanto os fortes e vê nos
fracos apenas uma ponte.
E foi por causa desse dualismo, desse
fluir entre duas sensações tão opostas que não cometi nenhum ato
do qual me envergonharia e me arrependeria por toda a vida. Cheguei
avançar um pouco mais, ao enfiar a mão por baixo do pano e
desnudar-lhe o par de seios, contudo, ao fazer isso e tê-los diante
de meus olhos, o pavor se apoderou de mim, como se um espírito
maligno saísse do meu corpo e minha alma retomasse o controle sobre
ele. Então retirei as mãos trêmulas e dei um passo para trás,
abaixando a cabeça de vergonha. Foi então que pensei: “Meu deus!
O que eu ia fazer? Ia me condenar ao inferno para sempre. Ia ser
atirado ao fogo, amarrado naquelas correntes grossas e chicoteado por
aquele monstro horrível enquanto o fogo me queimava todo. Eu ia
gritar por toda a eternidade. Meu deus! Ser queimado no inferno! Não.
Não deixa isso acontecer comigo. Eu prometo que vou parar de pensar
nessas coisas, que não vou agarrar ela de novo, que não vou querer
fazer com ela aquelas coisas que eu penso. Eu juro! Eu juro que,
quando começar a pensar nessas coisas e meu troço crescer, eu não
vou ficar pensando nisso. Mas não me deixe ir para o inferno. Eu vou
ser um bom menino. Prometo que vou rezar toda noite, se o Senhor me
perdoar”. E tais pensamentos por pouco não me arrancaram lágrimas,
feito um garotinho que, após uma travessura, se põe a chorar de
medo de levar uma grande surra dos pais.
Marcela, ainda envergonhada, arrumara o
biquíni no lugar. Em seguida abaixou-se para apanhar as bananas e
disse:
-- Vamos embora. As meninas devem estar
preocupadas com a nossa demora.
Concordei com meneios de cabeça, pois a
vergonha era tamanha que não tive ânimo nem para pronunciar uma
palavra. Aliás, se me fosse possível, imediatamente sairia a nado
daquela ilha. Ela se afastou e eu apanhei o restante das bananas
sobre a vegetação rasteira. E enquanto retornávamos – Marcela
seguia alguns passos à frente --, não tive nem mesmo coragem de
olhar para ela. Só pensava no que ia dizer quando chegasse, pois
tinha a certeza de que Luciana e a minha prima Ana Paula notariam
alguma coisa estranha entre a gente.
segunda-feira, 9 de abril de 2012
ALGUÉM ASSIM COMO VOCÊ
Quando
eu partir dessa vida
Quero
levar apenas a lembrança
De
ter amado imensamente
Alguém
assim como você
Que
me ensinou a viver
Cada
dor e cada alegria
Com
o mais intenso prazer
Quando
aqui eu não estiver mais
E
então ter deixado para trás
Apenas
um rastro de minha passagem
Quero
que, ao lembrar-se de mim,
De
teus lábios escapem enfim
Um
deleite que te compraz;
Um
deleite que o tempo não desfaz.
E
quando minha partida se perder no tempo
E
tua memória esquecer os meus traços
Ainda
sim em teus braços
Há
de sentir os meus abraços;
E
em teus lábios murchos e ressecados
Há
de sentir os meus beijos molhados
Como
se o tempo não houvesse passado.
É
por isso que enquanto vivo estou
Faço
de cada instante
Motivo
para cultivar o amor
E
mesmo naqueles momentos
Onde
esbarro em nossas diferenças
Tento
te provar que meu amor
É
eterno, pois renova-se constantemente
domingo, 1 de abril de 2012
QUANDO O CORAÇÃO NÃO PARA DE SANGRAR
Chega a noite e uma voz penetra-me profundamente no ouvido
E
então eu me lembro em algum momento vivido
Do
rosto que, em carícias abundantes, produzia essa voz,
A
qual criava uma cortina sobre nós e nos deixava as sós.
Sem
que eu queria, o som dessa voz delirante
Faz-me
voltar ao passado; o coração sangra, quer aqueles instantes,
O
quais nas tardes frias de domingo, à beira mar,
Tornava
quente e aconchegante o mais gélido lugar
Inútil
dizer que tudo findou e ficou perdido no passado
O
coração é um ser que quer de volta o que lhe foi negado
Quando
no momento da mais pura e intensa felicidade
O
destino sorrateiramente veio e lhe mostrou a dor da saudade.
As
noites chegam e eu me vejo novamente atormentado
Por
essa dor que sangra feito um ferimento mal curado,
Cujo
sangue, num fluxo constante, leva-me também a vida
A
qual, a cada dia, gota a gota, deixa a morte bem nutrida.
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