domingo, 29 de julho de 2012

COM A MINHA SOLIDÃO





















A solidão que me acompanha amiúde
Na busca de minha própria essência
Dela aceito de tudo, menos um ataúde
Para enterrar a minha existência.


Das minhas dores e decepções
Que teimam em me fazer desistir da vida
Procuro apenas tirar algumas lições
Sem porém deixá-las virarem feridas.


A solidão que para alguns faz mal à saúde
A mim, faz bem ao corpo e à consciência
Absorvo-lhe com prazer a plenitude
Para buscar a vida com sapiência


E desses momentos e abstrações
Onde a experiência é desmedida
Sobre a vida faço minhas indagações
Embora sem deixá-las afetar minha vida.  

quarta-feira, 25 de julho de 2012

ADEUS À INOCÊNCIA - CAP. 28

Aquilo me esfriou a cabeça. Embora muito afetado, com o coração correndo feito um cão sem rumo, com os pensamentos confusos, ora pendendo para um lado, ora para outro, pude encontrar forças pensar e refletir. Fazer aquilo que estava prestes a fazer não estava certo. Eis a verdade. Se meus pais soubesse, certamente me repreenderiam e talvez até me dariam uma boa sova. Era o que eu pensava. Além do mais, a ideia do pecado, dos olhos atentos de Deus – um Deus perverso, autoritário e que mantém seu rebanho unido sob o estalo do chicote – assustava-me. Só em pensar que o criador estava a todo instante nos vigiando me fazia sentir calafrios e medo, um medo terrível. Ah, como eu temia o castigo divino! Eu daria qualquer coisa, submeter-me-ia à qualquer sacrifício para que minha alma não sofresse os castigos do inferno. Nada, mas nada nesse mundo me aterrorizava tanto quanto a possibilidade de perecer eternamente nas profundezas do inferno. Toda a minha noção de dor e sofrimento estava sempre relacionada aos castigos divinos; castigos esses oriundos por não termos em vida seguido Seus ensinamentos. Ensinamentos esses muitas vezes confundidos com os ensinamentos de meus pais, já que estes eram de uma fé inabalável. E a certeza de cometer um pecado capital ao fazer sexo com Luciana – embora meu corpo desejasse isso cada segundo naquele momento, um desejo que ia contra a minha vontade – era o que não me deixava ir até o fim. E mesmo quando eu estava ali, rolando com ela na areia, ainda era capaz de me conter, de dizer não.
Dessa vez porém foi mais difícil. Talvez deveria ter-lhe dito que não queria seguir-lhe, que não queria fazer aquilo. Mas como poderia resistir diante daquele corpo nu, tão belo e maravilhoso feito uma ninfa? Não, não poderia. Um garoto naquela idade ainda é um garoto e na mais das vezes age simplesmente por puro instinto, pois a moral embora cresça em terreno fértil ainda não é forte o bastante para nos mantermos sempre curvados. Assim, deixei os instintos aflorarem com todo o seu explendor. Até porque eu não tinha forças para enfrentá-los.
E Luciana me puxando em direção à areia, dando passos suaves e ao mesmo tempo firmes, decididos me fez lembrar por um momento as ninfas que tanto me excitavam a imaginação. Aliás, quando olhei para o seu corpo nu, esqueci completamente de Ana Paula e Marcela. Dir-se-ia estarem naquela ilha apenas eu e Luciana. Aliás, eu me esqueci não só delas como também de Deus, meus pais e até mesmo de que estávamos presos e perdidos naquela ilha.
-- Vem cá – chamou ela, após se sentar na areia e pender levemente para trás como se fosse derrubada pelo vento.
Ainda fascinado e maravilhado por tudo aquilo, obedeci suas ordens. E mesmo que sua beleza não me fascinasse e sua voz não me encantasse feito o canto de uma sereia ainda sim obedeceria; pois eu me sentia um grão de areia, como a infinidade deles naquela ilha.
Em pouco tempo eu estava em sobre ela. Seus braços me envolviam e seus lábios, após procurar e encontrar os meus, beijavam-me. Meus quadris irrequietos tentavam se ligar ao dela, mas não conseguia. Ela se movia para lá e para cá tentando me ajudar. Entretanto a falta de jeito e a inexperiência de ambas as partes tornava as coisas mais complicadas.
O dia estava ensolarado e o sol queimava as minhas costas. Pela posição do sol devia ser mais ou menos duas horas da tarde. E o calor parecia me dissolver e transformar-me em água. Isso me causava um certo desconforto, contudo não desistia. Estava disposto a ir até o fim.
Acredito que se não fosse por uma influência externa, pelo soprar da brisa que fez com que chegasse aos meus ouvidos um som estranho, teríamos ido até o fim. Mas quando ouvi aquele som de galho se partindo, como se fora pisado por um pé descuidado, ergui a cabeça e feito um animal assustado perscrutei.
-- O que foi? -- perguntou Luciana, ao ver-me parar bruscamente, como que paralisado.
-- Psiu – fiz, levando o dedo aos lábios. -- Alguma coisa na floresta – respondi em seguida.
-- Não tô ouvindo nada – acrescentou. Seu tom de voz alterara-se; apresentava um ar irritadiço.
-- Parece que tem alguma coisa observando a gente – falei.
Luciana me empurrou para o lado e sentou-se contrafeita. Parecia muito frustrada e decepcionada. Por um momento tive a impressão de que ela fosse me esmurrar, como as mulheres fazem quando se sentem ofendidas. No entanto disse:
-- Você está ficando maluco! Como pode ter alguém observando a gente? Não tem mais ninguém nessa ilha além de nós e as meninas! Já percorremos a ilha toda. Não se lembra disso? -- Concordei com a cabeça. Ela fez uma pequena pausa e depois continuou: -- E quer saber de uma coisa? Você é um idiota! -- Levantou-se e foi em direção a água.
Eu não disse palavra. Apenas fitei ao se afastar. Aliás, olhava mais em direção à mata que em Luciana, embora a beleza de seu corpo, de suas nádegas balançando fosse um espetáculo dígino dos deuses.
Estava assustado, muitíssimo assustado. A lembrança do mesmo episódio há dois dias invadiu-me à memória feito um tsunami. Meu coração batia velozmente e meu corpo transpirava ainda mais, mais que antes e por motivos completamente diferente. Para ser sincero, faltou pouco para eu me borrar.
Eu não sabia se averiguava a causa daquele som estranho ou se corria em direção à Luciana. Aliás, pensei seriamente em fazer isso; mas me contive ao me aperceber de quão medroso pareceria aos seus olhos. “Não isso, não!”, pensei. “Se for aí é que ela vai fazer o que quiser de mim. É melhor esperar ela aqui. Não vou lá ver o que é isso. E se for algum monstro, alguma fera? E se for um fantasma? Já estou ficando com medo desse lugar. Espero que a gente saia logo daqui”, continuei pensando.
Aguardei.
Cerca de três minutos depois Luciana saiu da água e assim que atingiu a faixa de areia tornou a vestir a parte inferior do biquíni.
-- O que foi que você está olhando, seu frouxo? -- perguntou ela ainda aborrecida
-- Nada – respondi.
-- Frouxo, idiota -- continuou. – É isso mesmo! Você é um frouxo. E essa coisa que você tem aí – apontou – no meio das pernas não serve para nada, isso sim! -- Passou por mim e seguiu em direção à cabana.
Com medo, levantei e fui a seu encalço. No momento, não me arriscava a ficar sozinho ali por nada desse mundo.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

COISAS PARA AS QUAIS NÃO NASCEMOS















Não há respostas para minhas inquirições
O conhecimento ainda não chegou lá.
Talvez o problema esteja nas minhas indagações
As quais eu não soube formular.

Mas minhas perguntas são as de tanta gente
Que estão na mesma situação que eu
São pessoas até mais sábias e inteligentes
Cujo desejo de saber sempre floresceu

Por que a verdade tem suas razões
Para nos iludir quando tentamos buscá-la?
Por que não vemos que nossas convicções
São o que nos impede de alcançá-la?

Talvez a verdade seja apenas aparente
Uma ilusão que a experiência nos deu
Para que não nos percamos inutilmente
Com coisas para as quais não se nasceu.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

NENHUM PASSO ADIANTE

Para Nietzsche, “A grande conquista da humanidade, até agora, é não precisarmos mais temer continuamente os animais selvagens, os bárbaros, os deuses e os nossos sonhos”*. Quanto aos animais selvagens, os bárbaros e os nossos sonhos Nietzsche está certo, mas e quanto aos deuses? O conhecimento transformou a humanidade e os velhos deuses praticamente desapareceram, mas o homem ainda não aprendeu a viver sem um deus, sem a quem temer e venerar irracional e incondicionalmente. Por isso ainda se venera Deus. Quanto a isso todo o conhecimento acumulado até hoje se mostrou inútil. Não se deu um passo adiante. Ainda se venera deuses como antigamente. Aliás, é o que Nietzsche diz acerca dos Europeus de sua época: “Por mais que haja progredido em outros âmbitos, em matéria de religião a Europa não alcançou ainda a liberal ingenuidade dos antigos brâmanes”**


* Aurora, I, 5, Sejam agradecidos!
** Aurora, I, 96, In hoc signo vinces

terça-feira, 3 de julho de 2012

ADEUS À INOCÊNCIA - CAP. 27

Encontrei-a uns dois quilômetros depois. Agachada sobre a areia, de frente para o mar, estava fazendo xixi. Parecia distante, compenetrada, pois não me viu se aproximar.
Parei para observá-la, para ver como as mulheres faziam suas necessidades. Apenas reparei em suas costas e depois em suas nádegas brancas. Estava um pouco longe. Queria aproximar, ver com mais detalhes por que todas as mulheres se agacham para fazer o que nós homens o fazemos de pé. “Por que elas não fazem como a gente?”, fiz-me essa pergunta ao se aproximar. “Será porque elas não têm pinto como a gente? É, deve ser. E se fizer de pé, vai escorrer pelas pernas”, conclui. Aliás, aquela imagem remeteu-me à outra mais antiga, quando vi uma garotinha fazendo xixi na calçada. Ela deveria ter uns quatro anos e estava inteiramente nua. Ao vê-la fazer xixi daquele jeito, fiquei deveras impressionado. Não pela sua nudez, pois a minha inocência passava ao largo de qualquer obscenidade, contudo, o fato de estar agachada foi o que me impressionou. Durante o jantar por pouco não indaguei minha mãe, mas faltou-me coragem. E essa dúvida acabou caindo no esquecimento, vindo à tona ao observar Luciana, embora a inocência não fosse mais a mesma.
Ela se levantou, despiu-se completamente e foi caminhando em direção ao mar, carregando sua única peça de roupa na mão direita. Fiquei olhando-a dar suas passadas lentas, despreocupadas, como se a vida fosse infinita. Eu olhava para suas nádegas, nos movimentos que faziam a cada passada de suas pernas e ficava admirado com a delicadeza daqueles passos. Dir-se-ia andar numa passarela. Até quando estão andando naturalmente algumas mulheres parecem desfilar. E Luciana fazia isso tal qual uma modelo. Ela ia se afastando, se aproximando do mar e eu continuava olhando, afetado, com o corpo incendiando, com os pensamentos revoltos, tomados por lembranças, lembranças de nós dois deitados na areia. E essas lembranças tinham o poder de criar novas imagens, dando asas a minha imaginação.
Ela entrou lentamente na água e, quando esta lhe atingiu os quadris, deu um salto para frente e mergulhou. Pensei em me esconder atrás de uma enorme palmeira e ficar olhando-a indefinidamente, vendo o nadar de seu corpo esguio, o bater de seus braços e suas pernas, o envergar de seu dorso ao saltar uma onda ou dar um mergulho e emergir em seguida; mas meu corpo, como se puxado por um cabo invisível, sentia-se arrastado, atraído em sua direção.
Dei alguns passos e disse-lhe um “oi!” para não assustá-la quando estivesse mais perto. Ela virou e minha direção e, talvez surpresa, perguntou:
-- O que você está fazendo aqui?
-- Cheguei na cabana e não te vi. Perguntei as meninas e eles disseram que você tinha vindo por essas bandas. Então resolvi vir atrás – falei. Entrara na água e agora me aproximava.
-- Resolvi andar um pouco – Foi o que ela disse. – E aí? Desistiu de pescar?
-- Não. Peguei um peixe enorme. – Cheguei onde ela estava e vi em sua mão a parte inferior do biquíni.
-- Hum... Que bom! Então hoje vamos comer algo decente – afirmou, fitando-me e sorrindo em seguida, um sorriso que parecia ter algo mais.
-- Acho que vamos ter peixe para o almoço – brinquei, retribuindo-lhe o sorriso. No entanto, olhava com insistência para a parte inferior de seu corpo, embora esta estivesse submersa e pouco visível; aliás, o movimento da água distorcia quase que totalmente os contornos de seu corpo do umbigo para baixo. Sentia meu coração palpitar, o peito arfar e o rosto quente, mas não conseguia parar de olhar.
-- O que foi? – perguntou ela. -- Parece inquieto?
-- Nada – desconversei ainda mais rubro.
Se aquele episódio tivesse acontecido com uma das outras meninas, a coisa teria terminado por ali. Provavelmente eu teria virado para o lado e aguardado até ela se vestir. Todavia, era Luciana quem estava bem ali na minha frente, com um olhar diferente, com os lábios ocultando alguma intenção, alguma travessura, reflexo de sua curiosidade destemida, consciente de que o mundo é dividido entre aqueles que dominam e aqueles que são dominados, usados por uma pequena minoria como objetos, como meio de atingir seus objetivos. Talvez ela não fizesse a menor ideia do porquê que alguns sentem prazer em dominar, em usar os mais fracos para sua própria satisfação; mas ela sabia que entre nós dois, era ela quem ditava as regras e quem comandava o jogo. Se eu lhe tinha algum poder sobre si era porque ela permitia, porque ela precisava desse poder para se proteger, para sobreviver.
-- Nada! Sei.. – E, não demonstrando constrangimento, deu dois passos, parou bem próxima de mim, afundou a mão n’água e agarrou-me os genitais por cima da sunga. – To vendo – acrescentou imediatamente. – Então por que ele está assim?
-- Assim como? -- Foi uma reação espontânea. Dir-se-ia inclusive uma atitude insensata, palavras que só um idiota seria capaz de proferir.
-- Não se faça de bobo! Você sabe muito bem!
-- Ah... sei lá! -- Foi o que consegui responder, dando um passo para trás.
Pensei em virar e sair correndo, afastar-me, ir para um lugar onde pudesse ficar sozinho e usar o que eu sabia para tirar-me daquele estado, e fazer com que aqueles pensamentos que atormentavam minha alma findassem. Todavia, uma parte de mim, aquela parte onde habita um diabinho vermelho de rabo em forma de flecha e orelhas e chifres grandes, sussurrava insistentemente para ficar e explorar aquele vasta e desconhecida ilha chamada mulher, uma ilha repleta de segredos, de mistérios. E por que não de perigos também? Então eu fiquei, pois a voz que me cochichava do outro lado para não ficar, para sair dali soava fraca, quase inaudível.
-- Pensa que me engana, é? Você está assim porque sabe que eu estou pelada – disse ela com naturalidade. Em seguida tornou a se aproximar e sem dizer palavra arrancou-me o falo para fora. -- Nossa! Como está duro! -- exclamou.
Eu não disse palavra; apenas fitei-a e esperei, como se num jogo aguardasse que o adversário terminasse sua jogada. De novo pensei em fugir, em escapar de seu poder, de suas brincadeiras sem graça. Mas alguma coisa me prendia a ela e me impedia de escapar. Aliás, se eu pudesse prever o futuro, jamais teria de me aproximado dele naquele momento.
-- Vem cá. Me abraça e me beija – pediu. Todavia, não esperou; jogou-me os braços em volta do pescoço e puxou-me para junto de si, cerrou os olhos e ofereceu seus lábios. E sem ter como recusar, aceitei-os.
Foi um beijo estranho, apesar do desejo. Meu coração palpitava, minhas mãos tremiam, meus pensamentos tombavam e davam cambalhotas, como se arrastados por uma onda gigantesca. Talvez eu até quisesse, mas naquele instante não conseguia aproveitar o momento. É possível que naquele momento supusesse aonde ela estava querendo chegar, apesar da minha inocência. Eu ainda era um garoto e não estava preparado para ir tão longe. Achava que fazer essas coisas era cometer pecado, era provocar a ira de Deus; pois a ideia que tinha de Deus não diferia muito da ideia acerca de meus pais. E se meus pais se aborreceriam quando soubessem que andei fazendo aquelas coisas, então Deus também se aborreceria. Por isso fiquei confuso, e mais confuso ainda ao sentir uma de suas mãos segurar-me o pênis ereto, empurrá-lo para baixo e introduzi-lo no meio de suas pernas, em tom de brincadeira.
Não sei explicar o que se passou, embora acredito que não tenha acontecido nada. Lembro-me tão somente de sentir-lhe as mãos seguraram-me os quadris e empurrá-los e depois tornar a puxá-los dezenas de vezes. Nesse ínterim, depois de conseguir me livrar do pensamento de que Deus me castigaria por aquilo, aproximei-lhe os lábios dos seios e sorvi-lhe os mamilos, ora um ora o outro.
E quando finalmente tomara gosto, esquecera o desejo de escapar, esquecera Deus e sentia prazer naquilo – aliás, um prazer crescente, um prazer que aos poucos me fazia esquecer não só Deus como tudo a minha volta, como se o mundo de repente transformara-se apenas num mundo de sensações e prazer –, Luciana soltou-me os quadris e disse para sairmos da água e ir para a areia.