quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

POR VOCÊ EXISTIR

Os versos abaixo ocorreram-me ao acaso. Estava diante do computador me preparando para escrever um artigo e então começou a tocar True do grupo Spandau Ballet. Não sei por quais motivos esta belíssima canção acabou me levando a escrever tais versos. Pensei em revisá-los e dar uma polida no poema, mas foi tão espontâneo que resolvi deixá-lo da forma que me ocorreu. E é assim que o compartilho com vocês, meus leitores.


Sou tão grato a ti
Por você existir
Pois sei que vivo enfim

Teu rosto não me cansa
De olhá-lo tanto assim
Dias e dias sem fim

E só deixo de fitá-lo
Quando perversamente
Você o afasta de mim.

Mas à noite quando
Repouso a cabeça no leito
Tua imagem me faz adormecer

E os sonhos que tenho
Noites e noites a fio
Preenchem-me o sono

Isto só pode ser o amor
Que me faz agir assim
Feito um abobado

Talvez eu seja um rapaz
Um tanto desajustado.
Ou um homem apaixonado?

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

ADEUS À INOCÊNCIA - CAP. 23

Luciana me fitou de cima abaixo com um olhar atento, como se quisesse atentar a cada detalhe. Assim, meu excitamento não lhe passou despercebido.
-- Nossa! Ele ainda está assim? – disse, deixando escapar um sorriso indefinido, pouco antes da água encobri-lo.
“Pronto! Só falta ela descobrir que estou assim por causa da Ana Paula. Não. Ela não pode desconfiar. Também. Por que você não fica pequeno logo? Por que que tem que ficar duro desse jeito?”, pensei, tornando-me ainda mais envergonhado. Procurei dar mais alguns passos para ocultar aquela alteração em meu corpo.
-- Tá. Mas já está ficando quieto – respondi com indiferença.
Nisso. Luciana se aproximou e parou a minha frente.
A água nos cobria pela cintura. De quando em quando uma onda vinha e então nos cobria até o pescoço, mas quando passava, a maré abaixava e então deixava nossos quadris descobertos.
-- Deixa eu ver como ele está – pediu ela. Aliás, ela não pediu. Foi como se me desse uma ordem, se me mandasse abaixar a sunga. Mas não cheguei a fazer isso, pois ela não me deu tempo. Simplesmente levou a mão à peça de roupa que me cobria as partes pudicas e a empurrou para baixo o suficiente para expor meu branco falo ereto.
“O que ela quer? O que ela vai fazer comigo? Ela não está pensando em fazer aquilo...”
-- Que bonitinho ele assim dentro d’água – exclamou ela, pegando-o delicadamente com as pontas dos dedos. Em seguida empurrou o prepúcio e fez a glande soltar para fora.
-- Pare! – pedi, dando um passo para trás e recolocando a sunga no lugar. – Aqui não. Senão elas podem ver. Outra hora eu deixo.
-- Eu só queria ver como ele estava – acrescentou ela insatisfeita.
Não dei importância. Dei um mergulho e em seguida fui saindo.
Embora a deixara para trás, ela me acompanhou à distância. E antes de chegar à cabana gritou:
-- Estou morrendo de fome. Não é melhor a gente procurar alguma coisa para comer?
-- É. Eu também estou com fome – respondi. -- Vou ver com as meninas se querem ir pegar alguma coisa – acrescentei. “É melhor eu levar a Marcela ou a Ana Paula comigo. Não vou deixar as duas sozinhas por enquanto. Nossa! Minha barriga está até doendo de fome. Senão a Ana Paula pode contar alguma coisa”, pensei enquanto entrava na cabana. Olhei para as duas. Estavam conversando. No entanto, quando me viram, silenciaram-se. Ao perceber isso, senti um calafrio percorrer-me o corpo. “Será que Ana Paula estava contando para ela? Ah, mas se ela contou, vou dar nela”, pensei sentindo a raiva me dominar. Assim, fitei-as nos olhos. “Não. A cara delas não parece. Talvez elas estivessem falando de outra coisa. É melhor perguntar alguma coisa”.– Ta tudo bem com vocês?
-- Tá. – respondeu Marcela. – Pó que não ia estar?
-- Não. Por nada – falei. “É. Ela não falou nada. Mas é melhor não ariscar. Nossa! A Marcela está tão bonita. Ia adorar beijar ela. Vou chamar ela para ir comigo. Quem sabe, quando a gente estiver só eu consiga agarrar ela. Não. Meu Deus! Me ajude! Não quero ficar pensando nessas coisas. Não quero ficar pecando mais...”.
Eu sabia que esses pensamentos só me ocorriam por causa do que me acontecera momentos antes. Se a Luciana não me tivesse excitado, eu não estaria agindo dessa forma. Mas eu era um menino. E não sabia como controlar meus impulsos. Aliás, era ingênuo demais para saber que não temos controle algum sobre nossos impulsos e pensamentos. Eu tentava não ficar pensando em sexo, não ficar desejando ora um ora a outra, mas não era possível. Às vezes, tentava pensar em outra coisa, pensar nos meus pais preocupados com o nosso desaparecimento, pensar no meu tio que morrera afogado quando a lancha naufragou com a gente, mas não conseguia manter esses pensamentos por muito tempo. Era só descuidar um instante e meus pensamentos recaiam em atos libidinosos com aquelas meninas naquela ilha perdida no oceano. Tudo ali parecia um convite para o pecado, como se meus instintos aflorassem com uma intensidade jamais vista.
-- Precisamos apanhar algumas frutas – afirmei. – Vocês não estão com fome?
-- Claro que estamos – assentiu Marcela.
-- Vem comigo. Vamos apanhar alguma coisa para comer – falei. “Ela não vai recusar. Aí quando a gente estiver sozinho. Vou pegar na mão dela. Vou abraçar ela. E a gente vai se beijar. Aí...”
Marcela se levantou. Abanou as nádegas para remover a areia e disse:
-- Então vamos.
-- Eu também vou – declarou Ana Paula, levantando-se também.
Nisso Luciana chegou.
-- Aonde vocês vão? – perguntou, embora soubesse.
-- Apanhar alguma coisa para comer – falei. “Mas só eu e a Marcela. Vocês duas vão ficar. Quero ficar sozinho com ela”. – Vamos Marcela. Vocês duas fiquem aí. Aproveitem e coloque mais um pouco de lenha na fogueira que ela está começando a se apagar.
-- Eu também vou – adiantou-se Ana Paula.
-- Não. Você fica – ordenei.
-- Mas eu não vou ficar aqui sozinha com ela. Você sabe que eu odeio essa va...
-- Calada – interrompi. – O que eu conversei com você agora a pouco? – falei de forma enérgica, apontando o dedo para ela.
-- Não fale assim com ela – pediu Marcela.
-- Eu não fiz nada – esquivou-se Luciana, denotando sarcasmo.
-- Sua falsa – disse Ana Paula.
-- Já mandei você calar. Será que não consegue ficar um minuto sem brigar. – Virei para Marcela. – Ela sabe por que estou falando assim com ela.
Ouve um breve silêncio. Ana Paula olhou para Marcela e depois abaixou a cabeça. Luciana virou o rosto para a porta. Marcela olhou para as duas e depois em minha direção. Era como se ela procurasse entender o que se passara entre eu e minha prima para me obedecer daquela forma. Ao vê-la, com aquele olhar inquiridor, conclui: “Ana Paula não contou nada pra ela. Senão ela não estaria com essa cara. Melhor assim. Eu não ia ter cara para encarar ela depois. Não deveria ter feito aquilo. Foi uma idiotice, isso sim”.
-- Luciana, por que você não vai apanhar alguns galhos pra fogueira enquanto a gente vai buscar algo pra comer? Enquanto isso, a Ana Paula fica aqui, tomando conta da fogueira – sugeri. Na realidade, só queria evitar que as duas ficasse por muito tempo juntas. Estava bem claro que havia uma guerra declarada entre as duas.
-- Por que eu? – protestou ela.
-- Porque você é a mais velha. Por favor. Não vamos ficar criando problemas. Já temos problemas demais. Vocês não acham?
Todas se entreolharam novamente. Depois me fitaram. “Melhor assim. Senão não sei o que vai ser da gente. Preciso tomar cuidado para não ficar causando briga entre elas.”
-- Tá bom – disse Luciana ao sair da cabana pisando firme. Via-se um quê de insatisfação em seus modos. No entanto, Ana Paula deixou escapar um discreto sorriso, como se experimentasse certo contentamento por ver a outra naquele estado. Era uma menina ainda, mas sabia perfeitamente quando havia aplicado um golpe certeiro no adversário.
-- Vamos, Marcela – falei dirigindo-me a saída. – E não quero saber de confusão entre vocês duas, hein – recomendei.
Demos alguns passos. Todavia lembrei-me: “É melhor voltar e pegar a faca de pedra. Vai que a gente precisa cortar alguma coisa”.
-- Espera só um pouquinho – pedi. – Vou voltar para pegar a faca de pedra. – Virei para o outro lado e saí correndo.
Ana Paula estava sentada no chão, com as pernas dobradas, os braços em volta e a cabeça apoiada sobre os joelhos, como se olhasse para si mesma. Entrei e falei:
-- Vim pegar a faca. A gente pode precisar dela.
Ana Paula levantou a cabeça e olhou em minha direção. Seus olhos estavam vermelhos e cheios de lágrimas. Chorava. “Mas o que é dessa vez?”, perguntei-me, “Será que essa menina não sabe fazer outra coisa que não seja chorar e brigar?”
-- O que foi? – perguntei com irritação.
-- Nada – respondeu.
-- Como nada? Então por que você está chorando? – aproximei-me e agachei a sua frente.
-- Ninguém aqui gosta de mim. Vocês só ficam brigando comigo. Queria estar na minha casa agora. – Nisso, Ana Paula começou a soluçar e choro tornou-se mais intenso. – Tô com saudade da minha mãe, do meu pai e dos meus irmãos – acrescentou com dificuldade, pois o soluço a impedia de falar com desenvoltura.
Levei a mão até seus braços, desvencilhei-os e a abracei. A posição incômoda dificultava o nosso abraço; no entanto, era preciso confortá-la. “Eu também estou. Eles devem estar desesperados a procura da gente. Já faz três dias que sumimos”. Ao lembrar de meus pais, também me senti entristecido. Por um momento, quase deixei escapar gotas de saudade. Mas me contive. “Não posso chorar agora. Senão aí é que ela vai chorar mais ainda”.
-- Vai. Pare de chorar. A gente vai sair daqui em breve. E aí a gente vai poder matar a saudade. Já pensou? A família toda reunida? – Não cheguei a pronunciar a última palavra, pois me lembrei no mesmo instante do meu tio. “Coitado do tio Jamil. E quando a tia souber que ele morreu? Ah, meu deus!”
Não sei se foi a inexperiência por não saber como confortar as pessoas, mas eu não deveria ter-lhe dito aquelas palavras. A verdade era que Ana Paula era a única que, ao voltarmos para casa, não ia encontrar a família completa. Seu pai – o meu tio Jamil --, não estaria lá para comemorar. “Ela deve estar sofrendo muito. Coitado do tio. Morrer dessa forma. É. Preciso ser mais paciente com ela. Vai ver que é por isso que ela está assim: revoltada, brigando com todo mundo”.
Com muito custo, consegui confortá-la. Nisso, Marcela havia retornado devido a minha demora.
-- O que aconteceu com ela? – perguntou, quando chegou.
-- Saudades de casa. E por causa do tio também – expliquei. – Mas agora ela já está melhor. Não é verdade?
Ana Paula meneou a cabeça afirmativamente e esboçou um sorriso forçado e contido.
-- Fica assim não – pediu Marcela. – Vai dar tudo certo.
Ana Paula tornou a balançar a cabeça em sinal de concordância.
-- A gente já volta – falei ao me levantar. – Só vamos apanhar algumas bananas pra matar a fome.
Apanhei a faca de pedra sobre um monte de areia e saímos.

domingo, 15 de janeiro de 2012

UM SORRISO: O DESPERTAR PARA O AMOR

Quando o teu sorriso inocente
Penetrou-me nos olhos tristes
Meu coração transbordante
Alegrou-se de repente e sorriu-te

Um sorriso que parecia impossível
Até meu olhar em ti pousar.
Agora tudo me parece possível
Até mesmo me apaixonar.

Estaria eu então doente
Com essa sensação que me persiste
De que tudo está diferente?

Ou seria bem possível
Que o teu sorriso veio me despertar
O amor, até então inadmissível?