quinta-feira, 31 de julho de 2014

GOSTO PECULIAR

Não posso lutar contra a humanidade
E nem enfrentar as convenções vigentes
Sou apenas um grão de areia na infinitude
Do universo. Sou um ponto insignificante

Meu querer é o querer da minoria
E das almas impuras e desgraçadas
Para as quais o pecado é uma alegoria
Para aterrorizar almas atormentadas

Tenho de renunciar as minhas vontades
E a esse querer peculiar e diferente
E aceitar que as minhas necessidades
São frutos de uma era distante

Mas se não me fosse tão caro, lutaria
Por aquela alma fresca e imaculada
E a tornaria impura, como o Diabo faria
Em busca da perdição mais bem orquestrada

quarta-feira, 30 de julho de 2014

MINHAS ASPIRAÇÕES DIVAGAM APENAS














Eu não sei como desembaraçar
Os nós desse emaranhado de sensações
Que feito um mar fazem-me enfrentar
As mais adversas emoções

Eu as transformo em pensamentos
E os pensamentos em fonemas
E os quais em profundo contentamento
Deixo escapar em confissões amenas
 
A surpresa, que não procuras ocultar
Intensifica mais e mais minhas emoções
Não, não tendo mais como segurar
E confesso a fonte de minhas paixões

È você, dona dos mais fortes encantos,
Que fez das minhas noites, outrora serenas,
Momentos de intensos desalentos
Já que minhas aspirações divagam apenas

domingo, 20 de julho de 2014

ADEUS Á INOCÊNCIA - CAP. 43


Voltei com dois peixes atravessados pela vara, frutos de muita paciência e perseverança. Não tinha certeza quanto tempo levara para pescá-los. Poderia ter se passado meia, uma, duas horas ou até mais que isso. Aliás, o tempo não era importante desde que chegamos àquela ilha. Éramos apenas guiados pelo movimento do sol e da lua. Sabíamos quando era dia, noite, quando era cedo, por volta do meio dia e final de tarde, nada mais além.
Marcela e Ana Paula também haviam retornado e estavam preocupadas com o meu sumiço. Ana Paula chegou inclusive a dizer que se eu demorasse mais um pouco iriam ela e Marcela atrás de mim.
-- Fui atrás de alguma coisa pra gente comer -- falei, entregando os peixes para Marcela. -- Agora é a vez de vocês limpar.
Marcela pegou a vara com os peixes e disse para Ana Paula:
-- Vamos preparar eles para o almoço. Pelo menos não vamos comer algo diferente hoje.
-- É. As coisas tão melhorando por aqui -- disse minha prima rindo. -- Num aguentava mais comer frutas o tempo todo.
Saíram. Por alguns minutos fiquei às sós com Luciana. E para quebrar o silêncio, perguntei:
-- E o pé? Como tá?
-- Pelo menos parou de doer um pouco.
-- É só não forçar que em três ou quatro dias ele já vai tá bem melhor.
-- Você acha que até lá estarei andando? -- quis saber, com certo entusiasmo, como se minhas previsões fossem infalíveis.
-- Talvez -- procurando manter vivas suas esperanças. Não queria desapontá-la e deixá-la de mau humor, pois se o fizesse a coisa acabaria refletindo em nós mesmos. Até lá ela estaria mais conformada e viria que sua recuperação poderia levar semanas.
-- Não quero você andando com aquelazinha por aí.
-- Num precisa se preocupar. Num vou fazer nada com ela. Já disse! -- respondi com irritação, deixando bem claro o quanto essa conversa me desagradava. De fato, toda vez em que ela falava da Marcela daquele jeito eu me irritava. Ela não podia compreender, mas eu amava outra e não ela. Se era condescendente com Luciana e a deixava praticar certos atos comigo era por medo e fraqueza. Se tivesse forças e pudesse escolher, não faria com ela aquelas coisas de jeito nenhum, mas a minha covardia não deixava. Por isso, na medida do possível procurava fugir dela, mas nem sempre isso era possível.
-- É bom mesmo!
Nisso, Marcela e Ana Paula retornaram com os peixes limpos. Marcela, por ter mais experiência, colocou-os para assarem na fogueira enquanto minha prima se encarregava de manter o fogo a todo vapor, alimentando-o com pequenos gravetos. E não demorou a ficarem prontos, embora talvez se os houvéssemos deixado mais teriam ficado mais saborosos. No entanto não reclamamos da falta de tempero e sal. Melhor assim do que comermos frutas o tempo todo.
-- Um pouco de sal e eles iam ficar mais saborosos – disse Luciana.
-- Mas a gente num tem sal – falei.
-- Por que a gente não tira do mar? -- inquiriu Marcela.
-- Mas num tem sal aqui. Só água salgada – interveio Ana Paula
-- É só a gente por a água do mar dentro de algum recipiente e deixar ela evaporar. O sal não evapora e vai ficar no fundo do recipiente – explicou.
Aquela sugestão rendeu uma acalorada discussão. Se por um lado havia a possibilidade de obter sal para temperar os peixes, por outro havia a dificuldade em obtê-lo. Não havia um recipiente grande o suficiente onde pudéssemos armazenar uma grande quantidade de água. E essa dificuldade acabou adiando a tentativa de obtê-lo até que houvesse como. Por fim, concluímos que isso não era tão importante e necessário assim.
Súbito, fez um breve silêncio.
-- Estava saboroso, mas não deu para matar direito a fome -- disse Luciana.
-- Quer que eu vá pegar alguma fruta? -- perguntei.
-- Não. Precisa não. Mas se você quiser trazer um pouco de água eu aceito.
Apanhei a casca de coco, a qual usávamos para transportar e beber água -- embora quando tínhamos sede íamos na fonte, pois a mesma ficava a menos de um quilômetro da cabana --, e fui buscar água. Aliás, a sede não nos preocupava tanto quanto a fome. Talvez porque sabíamos que água não nos faltaria. Quando algum de nós sentia sede, simplesmente ia até a fonte, onde encontramos a faca, bebia e retornava sem dar santificação aos demais. Era como fazer uma necessidade: todos nós fazíamos naturalmente, sem alarde. No entanto, para Luciana, devido à impossibilidade de se locomover, isso deixou de ser uma coisa simples e natural. Pois dependia de nós para tudo, embora quase sempre esse “nós” se resumia a mim.
Ao retornar, passei pelas meninas. Estavam tomando banho de mar. E embora não tenha prestado atenção, pude perceber que diziam alguma coisa engraçada uma para a outra, pois ambas riam alto. "Só espero que num estejam falando de mim", lembro-me de pensar. De vez em quando via-as cochichando e, embora não soubesse do que se tratava, achava que falavam de mim. Talvez por andar fazendo coisas erradas com Luciana, vivia receoso e desconfiado. Aliás, tinha quase certeza de que sabiam de alguma coisa. Por mais que Luciana não contara nada, não era possível, devido ao comportamento meu e principalmente ao dela, que Marcela não tenha notado nada. Quanto a Ana Paula abrir a boca e comentar alguma coisa eu não temia e sabia que não falaria nada, ainda mais depois das ameaças que lhe fiz.
Entreguei o pote com água para Luciana e ela bebeu.
-- Quer mais? -- perguntei.
-- Não. Obrigada -- foi a resposta que me deu, entregando-me a casca de coco vazia. E depois de um breve silêncio perguntou um tanto mal humorada: -- Por que aquelas duas vadias tanto ri?
Apesar de não ser uma pessoa mal humorada, o estado de espírito de Luciana contrastava com o daquelas duas. E pela maneira como se referiu à Ana Paula e Marcela, pude perceber o quanto a descontração delas irritava a outra.
-- Num faço a menor ideia -- respondi. -- Mas vou lá dar uma olhada.
-- Não. Não precisa! Não quero que você vá. Fique aqui comigo, meu hominho.
Disse-lhe que não demoraria. Ela insistiu para que ficasse com ela, alegando que se sentia muito sozinha presa naquela cabana. Respondi-lhe que uns minutinhos sem mim não fariam diferença. E também precisava dar uma mijada. Aliás usei isso como desculpa.
Aproximei. Não me viram chegar porque pareciam procurar alguma coisa. Aliás, pude ver no rosto de Ana Paula, antes que ela mergulhasse, um certo ar de desespero. Achei estranho aquilo, porque momentos antes podia-se ouvir da cabana as duas brincando. E quando aproximei e notaram a minha presença foi como se vissem um fantasma. Não notei nada de diferente porque estavam com água até o pescoço.
-- O que foi? -- indaguei, deduzindo que havia algo de errada.
Ambas entreolharam-se. Só então Ana Paula resolveu falar:
-- Marcela perdeu a parte de baixo do biquíni.
Instintivamente olhei para ela e, apesar de coberta pela água do mar, a imagem de seu corpo seminu condensou-me no cérebro. Obviamente ocorreu uma transposição de imagens. Na verdade aquela parte do corpo dela que se manteve até então coberta pelo biquíni e que se formou nos meus pensamentos não eram dela, mas de Luciana. Eu completara a parte oculta com o que estava acostumado a ver na outra.
-- Como isso aconteceu? -- perguntei surpreso.
-- Ela tirou para lavar e de brincadeira tomei da mão dela. Ela começou a correr atrás de mim e joguei por ali – apontou Ana Paula para um ponto cerca de meio metro de onde estavam, em direção ao mar. -- Só que ele afundou e num achamos mais.
-- Já procuramos, mas nenhum sinal -- volveu Marcela.
-- Vô dá um mergulho pra ver se acho.
Mergulhei. Mas ao invés de me atentar em achar a peça do biquíni, procurei antes de mais nada, manter os olhos bem atentos para ver se conseguia observar o meio das pernas de Marcela. Talvez se perdesse aquela oportunidade não teria outra. E de mais a mais, fui tomado pela curiosidade em saber se a dela era igual a da Luciana. Embora soubesse que as duas tinham a mesma coisa, desejava saber o que havia de diferente. Talvez por estar apaixonado por Marcela, estava certo de que não só naquela parte do corpo, mas em tudo que se referia a ela, era mais bonito e mais perfeito. Era muito jovem e inocente para saber que o amor é cego e transforma a feiura em beleza, porém só fazia confirmar o velho ditado. E se não estivesse cerca de meio metro dela, teria visto tudo com clareza, mas a água distorcia as imagens. Por isso, naquela primeira investida, não pude ver muita coisa.
Embora conseguisse prender a respiração por bastante tempo, não quis que ela desconfiasse das minhas intenções. Então voltei à tona e disse-lhe que não estava conseguindo ver muita coisa.
-- Mas vô tentar de novo – falei.
Prendi a respiração e dei outro mergulho. Fui ao fundo e me segurei na areia para que dessa forma ficasse difícil para saberem onde eu estava. E com muito cuidado para não voltar a superfície, aproximei de Marcela, numa distância onde a água não distorcesse minha visão. E o que vi quase me fez perder o controle e emergir diante dela.
Ainda hoje tenho essa imagem impressa no cérebro como se essa visão houvesse ocorrido a poucos instantes. Acredito inclusive que mesmo quando a vida estiver me escapando e a morte me estendendo a mão e a vida me passar como um flash, essa imagem passará diante dos meus olhos com todos os detalhes. Embora ela estivesse com as pernas juntas e não me fosse possível ver muita coisa, só a visão daqueles pelos negros, apesar de mais curtos e espaçados que os de Luciana, foi-me suficiente. Dava por satisfeito por ter retido aquela imagem. Mas havia mais. Um detalhe me chamou ainda mais a atenção. Uma parte dela parecia sair para fora. Era algo pequeno, mas que eu não tinha visto em Luciana. E esse algo, que eu não fazia a menor ideia do que se tratava, intrigou-me de uma forma que, se não fosse a falta de ar, eu teria o observado por mais tempo até ter uma noção melhor do que se tratava. Mas o instinto de sobrevivência falou mais alto e então dei um impulso para trás e voltei à tona. Se tivesse outra oportunidade, observaria com mais atenção e tentaria descobrir.
-- E aí? Achou? – Foi a pergunta que Marcela me fez.
-- Não. Nada. A Correnteza deve ter levado ela – respondi.
-- E agora o que faço?
Ana Paula olhou para minha cara a procura de uma resposta. Pensei em dizer-lhe para ficar assim mesmo. Mas obviamente isso lhe seria constrangedor, embora se demorássemos mais tempo naquela ilha, mais cedo ou mais tarde nossas roupas acabariam se despedaçando. Então ocorreu-me de sugerir-lhe:
-- Tira a parte de cima e amarra em baixo.
Titubeante, acabou dizendo:
-- Mas eu vou ficar com os peitos de fora?
-- E qual o problema? Eu e a Luciana num já estamos? -- acudiu Ana Paula, com um certo sorriso.
-- Melhor isso que sua coisa de fora – falei, dando de ombros, como se não lhe houvesse outra saída.
-- Então sai daqui, que a gente vai tentar dar um jeito – Pediu ela, virando-se de frente para a imensidão do oceano.
Constrangido, acabei por me afastar em direção à areia. Aliás, era o melhor que eu tinha a fazer. Se saísse com elas, vir-me-iam excitado.
Era preciso esconder isso não só delas como de Luciana. Assim, fui em direção ao bananal e, longe das vistas daquelas duas, bati uma rápida punheta, já que aquela imagem tão fresca em minha mente tratou de apressá-la a ponto de me provocar uma ejaculação quase instantânea.