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quinta-feira, 10 de novembro de 2011

A MENINA DO ÔNIBUS - Capítulo 7 - parte 5

Era para tudo ter terminado ali naquela cama como eu havia planejado desde o início e como fizera tantas vezes. Já não obtivera o que tanto desejava? Por que então não lhe pedir para apanhar suas coisas e desaparecer de uma vez por todas da minha vida? Não foi assim que fez com Silmara e Suzana? Por que tive de convidá-la para tomarmos um banho? Por que fui pegar em suas mãos e ajudá-la a se levantar? Por que olhei em seus olhos daquela forma? São perguntas que me faço hoje ao me recordar daqueles poucos instantes entre o sair da cama e o deixar o quarto. Se existe um momento onde joguei tudo pelo ar, foi ali. Não resta dúvida. Não posso culpar nem o antes nem o depois, embora antes mesmo de tirar-lhe a virgindade o meu comportamento dir-se-ia fora de sintonia com as diretrizes traçadas anteriormente, mas até deflorá-la ainda era possível manter o controle de meus atos. Contudo aquele brilho nos olhos de Ana Carla e aquela terna voz a assemelhar-se ao canto de uma sereia puseram tudo a perder. Eu me vi arrastado por um tornado, levado por uma força incrivelmente poderosa, algo com o qual nem mesmo um Hércules ou um Golias nada poderiam fazer. Como não fui capaz de reconhecê-la? Não se tratava da mesma força pela qual fora arrastado ao conhecer Luciana anos antes? Se eu não tivesse cultivado o ódio por aquela que me trocara por um homem mais velho, um ódio com a mesma intensidade que a amara, se após a ferida ter-se cicatrizado não houvesse construído uma lápide para meu coração talvez reconhecesse aqueles mesmos sentimentos e assim soubesse me proteger. Como eu poderia saber que Ana Carla atravessaria as paredes de concreto de meu peito e arrancaria meu coração das profundezas daquela lápide?
Não se podia falar evidentemente de uma paixão avassaladora como acontecera com Luciana, porém não restava dúvida de existir algo inerente à razão, de um sentimento que – como quase todos os sentimentos – ou nos escapam ao controle ou nos provoca imensa dor, uma dor de difícil cicatrização e a qual de vez em vez provoca profundas transformações no nosso “eu”.
Mas não vamos falar do passado anterior à Ana Carla. Até porque se não fui capaz de esquecer Luciana por completo como gostaria, pois não podemos fazer de conta que o passado nunca existiu (nossas vivências, boas ou ruins, temos de carregá-las por toda a vida) pelo menos serviu-me para me trazer até Ana Carla, como diz muito bem aquela canção do Djavan. Prefiro antes de mais nada voltar àquele domingo, mais precisamente durante o banho, quando um tanto confuso ainda experimentava o desejo da volúpia percorrer-me as veias feito seiva venenosa.
É possível que tal efeito não tenha ocorrido ao acaso. Embora quando acontecia de não me sentir farto, de precisar de outro orgasmo para produzir em mim a sensação de repulsa, saciedade e distanciamento, um distanciamento que amiúde provocava-me repulsa, enroscava-me àquele corpo e, sob violentos protestos (isso quando o desespero não as levava a uma passividade como que semi-inconscientes), o possuía mais uma vez, dir-se-ia num ato de vingança, como se lhe dissesse: “Toma, sua vadia! Esperava o quê? Que eu fosse te dar amor, carinho? Não se enxerga mesmo, hein! Pensa que amaria uma cadela vira-lata, uma desclassificada que nem você? Idiota! Isso é para você aprender...”
Todavia não foi isso a acontecer com Ana Carla. Não houve o sentimento de vingança, o ímpeto em mostrar-lhe sua condição, ou mesmo uma simples vontade de possuí-la pela última vez. Havia um desejo, mas um desejo completamente diferente daquele que eu sentira antes. O desejo -- essa vontade de possuí-la com delicadeza como fizera com Luciana -- era aumentado pela sensualidade, pela visão da água deslizando suavemente pelo delicado dorso dela, como se esta a acariciasse. Foi essa visão que me fez o sangue dilatar-me os vasos mais uma vez.
-- Mas ele já está ficando grande de novo! - comentou Ana Carla, tomando consciência das reações físicas pelas quais eu passava.
-- É porque você está assim toda molhadinha - expliquei, envolvendo-a nos braços e beijando-lhe levemente o mamilo esquerdo.
-- Seu safado! - exclamou ela, rindo e, num ato de perversidade, puxou-me pelos quadris, como se quisesse dissolvê-los em si.
A chama da volúpia turvou-me a visão, deixando-me totalmente cego, como se alguma coisa me rompesse no cérebro, deixando-me mergulhado na mais completa escuridão por alguns instantes. Por um triz, não a possui ali mesmo como fazia quando o desejo me dissolvia. E talvez não o fiz não por domar os instintos, mas pelo fato de nesse momento Ana Carla ter me empurrado para trás como que prevendo o perigo e pego o sabonete para ensaboar-se, dando-me a impressão de que não queria fazer aquilo ali. Talvez não passasse de um ato de travessura, com um quê de perversidade, uma vez que parecia deleitar-se em me ver atormentado por impulsos sexuais.
Por outro lado porém, as mulheres são especialistas na arte da sedução. E as adolescentes parecem que são piores. Elas gostam de despertar o mais primitivo dos instintos masculinos, fazendo-os com graciosidade e beleza, como se naquela fase da vida isso fosse o que soubessem fazer de melhor. E fazem com uma maldade espantosa, quase masoquista, como se o verdadeiro prazer estivesse justamente em não permitir que o macho as dominem. E tenho de reconhecer, amigo leitor, Ana Carla era dessas mulheres. Eu já havia percebido nela essa nuance desde o dia em que lhe dera a pulseira. E agora tornava ela com essas artimanhas, com esses jogos, feito uma ave que faz do jogo da sedução o momento mais belo do acasalamento. E ela sabia que com aquele jogo e na condição em que me encontrava eu ficaria louco, perderia por completo a razão e estaria perdidamente em seu poder, pronto a dizer sim a qualquer desejo, por mais absurdo que fosse.
Ela se ensaboava de uma forma provocante, com uma sutilidade assustadora. O sabonete deslizava-lhe pelo corpo enquanto seus quadris saltavam-se de um lado para outro em movimentos cadentes e graciosos feito o deslizar de uma cobra em direção a presa. E ao fazê-lo me fitava. E seus pequenos lábios emitiam um sorriso inexorável, como se ela experimentasse o mais intenso e profundo deleite.
Por certo que eu não haveria de suportar àquelas insinuações por muito tempo. Aliás, qual homem no auge da virilidade e tomado pela volúpia suportaria? A volúpia é o calcanhar de Aquiles de todo homem, é o caminho mais perigoso -- onde todas as fragilidades masculinas veem à tona – e para o qual nunca se está preparado, pois cada vez que se põe a percorrê-lo é como se o percorresse pela primeira vez. E se pelo menos ela não me provocasse daquela forma, talvez resistisse a tentação de atravessá-lo! Mas não! Tinha ela de cobrir todo o corpo com espuma e vir esfregá-lo em mim?
Eu me enganara. “Ela só pode querer mais, quer fazer de novo. Experimentar”, foi o que pensei. E de fato não haveria como pensar de outra forma. Não era possível que fizesse todo aquele jogo sem sentir a chama do desejo em suas veias, fazendo com que sua experiência se tornasse exaltada e fulgurante, imensamente real. Por mais que aquela encenação lhe desse prazer, era preciso admitir que o fim sempre é o ato sexual, onde todo desespero chega ao fim.
Confesso, querido leitor, que não aguentei. Os instintos agiram por conta própria, inerente a minha vontade. A razão? Ah, coitada! Bem que tentava se impor para recuperar a posição de destaque que tivera até aquela tarde. Contudo, tornara-se vítima dos impulsos e caído em desgraça, feito o governante que por suas excentricidades leva o país à ruína. A mente povoara-se de imagens libidinosas.
Meus impulsos diziam-me para segurar Ana Carla com firmeza e possuí-la ali mesmo, embaixo do chuveiro, subjugando sua alma e seu corpo até que ela se dissolvesse em mim. Mas havia um problema: eu era mais alto que o seu pequeno e frágil corpo. De forma que seria preciso me apoiar nela e dobrar os joelhos para introduzir-lhe o falo entre as pernas. E cheguei sim a fazer isso e mover os quadris para trás e para frente, mas não funcionou. O sabão a cobrir-lhe o corpo e o pouco espaço no box impedia-me de manter-se na mesma posição. O falo inquieto e nervoso procurava-lhe desesperadamente a vaga no meio das pernas, mas quando a encontrava não achava meio de penetrá-la. Então lhe sugeri:
-- Eu não aguento mais, florzinha! Vamos pra a cama.
-- Vamos – anuiu ela com vivacidade.
Antes porém era preciso tirar de nossos corpos o manto branco formado pela espuma. Assim, entramos os dois ao mesmo tempo embaixo do chuveiro. Em seguida, saímos molhados como estávamos em direção ao meu quarto.
Ana Carla sentou e deitou de atravessado na cama. Imediatamente eu saltei por cima dela, como um animal faminto sobre sua presa. Ela inclusive levou-me as mãos para segurar meu peso, deixando escapar um gritinho.
Não houve preocupação com coisa alguma, nem mesmo em machucá-la. Até porque se não a machuquei antes por que a machucaria agora? Também não houve medo ou receio por parte dela dessa vez, como certamente houvera antes.
Ah, meu corpo queimava tal qual queimara meia hora antes. Aliás, parecia estar a possui-la pela primeira vez. E embora soubesse que não era, que o hímen jazesse rompido, isso não me diminuía em nada o desejo em tê-la. Um calor intenso nos envolvia e fazia nossos corações bater num ritmo frenético. Tanto a minha respiração quando a dela era descompassada. E, deitado sobre ela, eu sentia o arfar desesperado dos seios, como se aquele arfar fosse resultado não de um cansaço físico mas sim por alcançar o que estivera a buscar há muito tempo.
Então eu soergui os quadris, levei a mão ao nervoso falo e fiz alguns movimentos para frente e para trás até a glande se perder entre os grandes e famintos lábios de sua vulva. Assim que a encontrei, soltei vagarosamente o peso. Enquanto isso, nossos lábios se entregavam a uma dança erótica como numa luta mortal para se apoderar um do outro.
Ana Carla estava extremamente lubrificada. Contudo, tive de fazer certa pressão para penetrá-la. E ao fazê-lo, senti-a contrair as pernas, não para me impedir, mas talvez com receio de que eu o fizesse de forma súbita e provocasse-lhe dor.
Quando a penetrei. Ela me envolveu com seus braços e me apertou com força. Então eu fiquei por longos segundos naquela posição até que não me contive e deixei o meu corpo agir por si só.
Meus lábios desvencilharam-se dos dela e foram procurar os pontudos seios, cujo arfar denotava profundo desespero, como se algo a consumisse até a alma. Além do intenso prazer proporcionado por este gesto, eu desejava também acariciá-los de tal forma a provocar-lhe um arrebatamento sem igual, pois sabia, por experiência, que tal carícia, muitas vezes, levava a mulher ao mais intenso gozo, assim como aconteceu por mais de uma vez com a Ritinha, cujas carícias nos seios eram suficientes para levá-la ao orgasmo, um orgasmo que era acompanhado por intensos gemidos e gritinhos como se de suas entranhas não partisse o gozo, mas algo grandioso que lhe dilacerava por dentro.
E foi o que fiz.
Pena que sucumbi ao meu próprio deleite. Logo a seguir, fui tomado por êxtase inebriante e demoníaco, por um instante de perda total da noção de qualquer coisa. De um momento a outro eu experimentei coisas que jamais havia experimentado. Talvez porque não houvesse mais aquela preocupação em romper-lhe o hímen, impedindo-me assim de apreciar todas as sensações que ela me fazia experimentar. Sem que eu pudesse fazer algo, meu corpo simplesmente explodiu num gozo mais intenso que a fissão nuclear.
Fissão Nuclear. Que exagero! Sei disso, amigo leitor. Minha intenção porém foi apenas de mostrar-lhe o tamanho do prazer que experimentei. Não foi como das outras vezes com aquelas pobres infelizes, ou mesmo igual ao que me ocorreu mais cedo. Achava que chegara ao limite, que além daquelas sensações não haveriam outras mais intensas. Mas como eu me enganara! E tal engano era tão somente mais uma prova de que meus sentidos jaziam confusos, perdidos e completamente sem rumo. Dir-se-ia de um novo nascimento, feito uma lagarta que morre para dar vida a uma bela borboleta.
Cheguei a ficar imóvel e absorto por alguns instantes; todavia, minha razão foi devolvida e então tive consciência da minha tarefa. Precisava continuar e proporcionar-lhe aquelas mesmas experiências. Sabia que se não continuasse e fosse até o fim desapontá-la-ia. Minhas forças eram escassas, mas precisava seguir em frente. Desistir seria o fim, por um ponto final em nosso relacionamento. Eu não queria isso. Não mais.
Por sorte, não precisei de muito esforço. Pouco depois ela empurrava e puxava-me os quadris cada vez mais rápidos (isso me surpreendeu, pois era a primeira a fazer tal coisa. Nem Juliana, nem a secretária do Sr. Roberto ou mesmo a Sra. Becker fizera algo parecido ao buscar o gozo depois de experimentá-lo pela primeira vez). Então ela soltou um forte grunhido e seu corpo caiu na imobilidade do silêncio. Seus seios pequenos arfavam convulsivamente, de tal forma a parecer que o coração fosse-lhe soltar pela boca. Exausta por demais, parecia ter perdido completamente as forças. E lembrando-me desse momento – pois ainda vejo seu corpinho banhado de suor, os seios a subir e descer enquanto seus pulmões pareciam-me desesperados em busca de ar – chego inclusive a pensar que se tivesse demorado mais dois ou três minutos para gozar, um desmaio seria inevitável.
Vendo-a ali, estirada sob meu corpo, tão frágil e na mais completa absorção, senti arrepios de prazer. Mas na dualidade de meus sentimentos, senti pena. Mas não foi o arrependimento que me levou a isso dessa vez. Agora não me sentia mais arrependido – até porque o arrependimento me parece o mais claro sinal de fraqueza – como cheguei a sentir uma única vez depois de ver o estado emocional em que ficou Daniela. Tratava-se de uma sensação mais sutil, de algo relacionado a laços mais profundos, como se entre mim e Ana Carla houvesse laços de sangue. Talvez no fundo eu nem sentisse pena dela mas de mim mesmo. É possível que estivesse a refletir nela aquilo que jazia em mim. No entanto não posso ter certeza de nada. A única coisa de que tenho certeza – uma certeza inabalável – é de que meu amor por aquela menina ficou maior, como se a comunhão daqueles corpos revirara a terra e feito brotar uma semente. Eu estava me apaixonando, e justamente por aquela com a qual só tencionava cometer uma diabrura e obter uns momentos de prazer.
A verdade, amigo leitor, precisa ser dita sem rodeios. E não adianta querer se enganar. Pois o pior que um homem pode fazer não é enganar o outro, mas a si próprio. Aquele que não é sincero consigo não pode jamais esperar a sinceridade de outrem. Eu poderia até não querer acreditar e menos ainda reconhecer, contudo, daquele momento em diante estávamos unidos de tal forma que não se poderia simplesmente ir um para cada lado, como eu fizera tantas vezes. Eu não tinha a menor noção do que estaria por vir, mas tinha a nítida impressão que o nossos destinos estavam entrelaçados como pelos de carneiro num fio de lã, o qual fora selado naquela cama. Minha vida havia tomado um rumo inimaginável até pouco tempo. Que rumo era esse e onde este levaria só o tempo poderia dizer.
Eu saí de cima dela e em silêncio permanecemos deitados lado a lado, perdidos em nossos próprios pensamentos, pensamentos esses que devido ao cansaço foram ficando distantes a medida que a leveza nos fazia sentir como uma pena a flutuar, indo de um lado a outro ao sabor do vento. E nesse distanciar de nossos pensamentos, as pálpebras sentiram-se pesadas e chegamos a dormir por cerca de meia hora. Se Ana Carla não houvesse me despertado com o toque delicado de seus dedos em minha face e o som melódico e apaixonado de seus lábios possivelmente dormiria ainda mais. E ao me despertar, ela me presenteou com o mais belo sorriso a escapar-lhe dos lábios. Cheguei por alguns segundos pensar que estava a sonhar. No entanto o calor de seus lábios deram-me a certeza de não se tratar de um sonho. Embora tudo aquilo me parecesse irreal, como num sonho, senti uma necessidade de me agarrar àquela irrealidade, de permanecer naquele mundo, feito àquele que não suportando a dureza da vida cria um mundo para si, onde suas fraquezas transformam-se em forças e, sacrificando todo o resto, passa a fazer dessa fantasia o único mundo possível. Eu não pertencia ao grupo desses seres fracos, dessas pessoas desprezíveis, pois fraqueza, servilidade e escravidão andam de mãos dadas e na mais das vezes são confundidas feitos irmãs gêmeas.
– Eu te amo – exclamou Ana Carla, numa voz baixa e distante.
Ainda aturdido, sem rumo, tomado de surpresa como se houvesse recebido um golpe, não fui capaz de responder-lhe nada.
– Eu te amo – tornou ela, em cuja voz havia um êxtase crescente, como se esperasse uma resposta.
Novamente não lhe respondi. Apenas beijei-a na boca, num beijo longo e ardente. Não podia lhe dizer o mesmo. Sentia-me confuso, sem saber o que estava experimentando. Mas dizer que a amava era enganá-la. E eu não queria fazer isso.
– Estou morrendo de fome – declarou-me, quando nossos lábios se descolaram.
– Eu também – menti. E, sem dizer mais palavras, levantei-me, peguei-lhe na mão e saímos do quarto.
Embora não fosse a primeira vez a fazer aquilo – com a Daniela fiz o mesmo –, era no entanto a primeira a fazê-lo sem planejar, sem a intenção de enganá-la ou tirar proveito daquela situação. Eu pegava em sua mão porque sentia necessidade de tê-la na minha como se entre eu e Ana Carla formara-se um elo através de uma força invisível. E apesar de não ter me dado conta disso naquele momento, ao deixar os pensamentos voarem à noite em minha cama cheguei a conclusão de que algo novo havia acontecido. Um mundo que havia se perdido no passado tornara a se abrir, revelando uma infinidade de possibilidades que até então eram-me desconhecidas. Eu a queria, queria estar casado com ela, queria tê-la por completo, como minha, para sempre. Talvez com receio de admitir a causa daquele comportamento estranho ou porque tais sentimentos ainda não estivessem bem claros tenha admitido que no fundo tudo não passava de entusiasmo com a jovialidade e o frescor daquela menina de 14 anos. Se de fato era isso ou algo mais, só o tempo poderia dizer.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

A MENINA DO ÔNIBUS - Capítulo 7 - Parte 4

 Os poucos fragmentos que o meu cérebro conseguiu reter não ajudam em muito para reconstituir o que se passou naqueles poucos minutos. Se ainda consegui recordar de algumas coisas, estas só vieram à tona após a leitura das anotações de Ana Carla em seu diário. Sem isso, amigo leitor, minhas lembranças não passariam de embaralhados retalhos de fotografias, como se alguém as houvesse rasgado em pedacinhos e misturado tudo tal qual uma criança travessa. No entanto, recordo-me de penetrá-la profundamente.
Possivelmente o leitor mais atento e com uma certa experiência esteja a se perguntar: e a camisinha? Como alguém que pensa em cada detalhe pode esquecer justamente disso?, correr o risco de engravidá-la ou mesmo pegar uma doença sexualmente transmissível? Ainda mais nesses tempos de AIDS. Pois não é que não me lembrei mesmo! Quanto a pegar uma doença, o risco era mínimo devido à virgindade de Ana Carla, mas quanto à gravidez tratava-se de um risco considerável. E isso deveria ter sido levado em conta, só que não o levei. Talvez se tivesse me lembrado, ainda assim não a teria usado, pois o objetivo final, o motivo pelo qual a seduzi foi justamente o desejo de saborear da forma mais real possível aquele momento ímpar: o instante da penetração e consequentemente o rompimento do hímen. Como sentir tudo isso com uma camisinha a envolver-me o pênis? Não que a camisinha diminua o prazer sexual. A questão não era essa, pois, naquele momento, não era somente o deleite do ato sexual que eu buscava como normalmente acontecia (aliás, na maioria das vezes em que o prazer foi o objetivo único a camisinha não foi esquecida, deixada de lado), mas sim o deleite maior de sentir-lhe cada músculo da cavidade vaginal reagir à presença de um corpo estranho, um corpo a penetrá-la, a forçá-la a se expandir. De modo que falar em camisinha é uma tremenda incoerência com o que eu buscava. Assim, deixemos a camisinha para outro momento, para quando o prazer advindo de sua ausência não mais compensará as consequências de sua falta.
Tentei recordar sem sucesso se ela chegou sentir dor. Sei que ela me abraçou fortemente e me beijou com a boca suave e molhada, como se naqueles lábios jazessem as marcas mais claras e verdadeiras de seu amor. Eu, no entanto, não sei o que sussurrei naqueles instantes, se é que lhe sussurrei algo, embora muitas vezes deixamos escapar sons, grunhidos sem que o percebemos. Também não sei se ela chegou a me murmurar algo além de uma frase que ficou perdida em minhas lembranças; uma frase dita não sei em que momento e circunstâncias. Todavia, pelas palavras e pela entonação pode-se afirmar que Ana Carla experimentara algo incrivelmente bom, algo que daria a vida para tornar a experimentar, pois ninguém diz “Eu quero ser sua para sempre...” sem que um motivo muito forte a leve a desejá-lo eternamente, como a frase dava a entender. No mais, qualquer outro gesto ou quaisquer palavras que vieram a escapar de nossos lábios jazem eternamente perdidas. E o que me recordo faz parte dos momentos seguintes ao meu “colapso”, pois o gozo não passa de um colapso que dura apenas alguns segundos.
Quando voltei a mim, quando tomei consciência de onde estava, meu corpo jazia estirado sobre o dela. Ana Carla permanecia com os braços envoltos em mim, como que a prender-me para não escapar. Tanto ela quanto eu arfávamos intensamente, disso recordo-me perfeitamente. O suor brotava de todos os poros e banhados estávamos, como quando se emerge de um mergulho. Meu rosto pendia para o lado, entre os seios dela, cujas marcas avermelhadas davam a impressão de terem sido maltratados embora sem a intenção de machucá-los. Aliás, todos esses detalhes dos quais posso me lembrar levam-me a acreditar que, diferente do que aconteceu com Daniela e Silmara, cuja penetração arrancou-lhes lágrimas, o prazer foi infinitamente superior à dor da primeira penetração. Não bastasse o silêncio – uma forma de prolongar o deleite, de não quebrar aquele instante mágico –, a falta de choramingo – pois nessas horas o arrependimento, a culpa por ter se deixado seduzir causa esse tipo de reação na maioria das mulheres – era um sinal mais que evidente de que tudo estava bem. E nem o fato de uma parte de mim ainda tensa (eu a sentia dolorida, com um certo ardor) estar envolto pelo corpo dela, assim como meu peso parecia lhe incomodar e tirá-la daquele desprendimento. Talvez, naquele momento, eu pesasse menos que uma pena e meu falo, ao invés de incomodá-la ou lhe provocar algum desconforto, agisse sobre si da mesma forma que aquele silêncio. No entanto, não posso afirmar que isto seja verdadeiro. Não houve oportunidade de perguntá-la pelo simples fato de não me ter passado isso pela cabeça. E mesmo que houvesse, não a teria tirado de seu silêncio, pois se este lhe dava algum prazer, comigo não era diferente. Eu apenas a observava. Não conseguia fazer nada, minha alma fervilhava caótica, quase em lágrimas. Mas se tal pensamento não me ocorreu, o silêncio levou-me a outros, pois, nessas horas, o cérebro encontra um terreno fértil para experimentar as mais variadas conexões nervosas e produzir pensamentos que em nenhum outro momento haveria de florescer. Assim, ainda um tanto confuso, não pude evitar que o instante levasse-me a inquirir-me: “O que estou fazendo aqui casa com essa menina?... Onde estava com a cabeça? Por que me deixei levar pelos desejos? E agora o que faço? Devo tê-la machucado. É só uma menina. Dessa vez fui longe demais. Estou ferrado!”
Eu não sabia como reagir naquele momento, mas precisava fazer algo. Então levantei a cabeça e olhei em seus olhos, como quem tenta encontrar uma pista acerca do que fazer. Ela por sua vez os mantinha fechados, como se passasse por uma madorna. Em seu rosto calmo via-se que a perda da inocência ainda não fazia parte de suas preocupações, certamente porque ainda não tomara consciência da imensidão do passo que dera. Por isso, com muito cuidado, como se não quisesse despertá-la daquele sonho, eu me apoiei na cama e lentamente ergui os quadris. Achei que ela fosse abrir os olhos quando sentei ao seu lado, contudo se manteve imóvel, como se não quisesse despertar. “Dormindo? Desmaiada? Não isso não. Só não quer abrir os olhos. Vergonha, quem sabe. Deixa ela assim”, pensei. De forma que, não querendo incomodá-la, desviei a atenção para outro foco. Era preciso verificar o estrago feito, pois em suas entranhas jaziam marcas inapagáveis de minha passagem.
Ah, querido leitor! Quase fiquei decepcionado quando encontrei uma pequenina mancha de sangue na extremidade da glande. Tão pequena que não sabia ser minha ou dela. Talvez nem fosse de um sangramento, mas resquício de sua menstruação. Confesso ter imaginado de forma errônea evidentemente que o defloramento provocasse um sangramento maior, possivelmente por influência do ocorrido na penetração forçada em Silmara. Não posso porém afirmar se a quase ausência de sangramento é comum nesses casos. Não tenho experiência suficiente e muito menos conhecimento sobre o assunto, pois se em alguns casos -- como Silmara, Isoldinha e Suzana – houve o sangramento, noutros – como Tereza e Ritinha – não encontrei uma única marca de sangue. Mas talvez não tenha sido maior porque Ana Carla parecia muito excitada no momento da penetração.
Contemplar mais uma vez aquela flor desabrochada, encheu-me o coração de alegria e júbilo. O contentamento de tê-la na minha cama e sob os meus cuidados era tão intenso que me senti o homem mais plenamente realizado. Foi um sentimento novo, completamente estranho para mim, nunca experimentado em situações assim, totalmente oposto ao que eu sentia após alcançar meus objetivos. Ao invés de um certo desdém e desprezo até, meus olhos brilharam e se encheram de lágrimas, como se contemplar Ana Carla fosse uma experiência única, daquelas que a gente faria o maior dos sacrifícios para repeti-la. Um sentimento mais forte que eu, algo que estava totalmente fora do meu controle havia nascido com toda a sua intensidade de dentro de mim, como um vulcão ao entrar em erupção e cujas larvas consomem tudo que encontram pela frente, vulcão esse que ao encontrar uma pequena falha no meu excesso de zelo, foi entrar em erupção não no cérebro como se poderia imaginar mas sim no coração, num local tão improvável quanto uma atividade vulcânica num iceberg. E a vontade de querer tomar posse e de ser o único homem na vida daquela menina foi imensa, imensurável. Dir-se-ia tomado por intensos delírios. De repente, tomado pelo mais puro egoismo, eu não queria que outro homem a tocasse, beijasse e experimentasse com ela aquelas mesmas sensações que acabara de experimentar, como se só eu possuísse esse direito. Então eu senti um enorme desejo de posse, desejo que até aquela manhã me parecia pertencer somente aos seres inferiores e abjetos cuja insignificância os levam a tais sentimentos, a achar que a felicidade só pode ser alcançada através do outro e não de si mesmo. Mas eis que jaz eu a agir assim, a descobrir em mim exatamente aquilo que tanto condenava nos outros. Eu a queria só para mim, para sempre.
Definitivamente eu não planejara isso, não imaginara que algo assim me viesse a acontecer. Como fui me descuidar do coração? Como não fui capaz de supor que, ao alcançar meus objetivos, poderia não querer parar por ali? Ah, o destino havia me pregado uma peça! Talvez me castigado por fazer das mulheres objetos, por usá-las apenas como parte do prazer; talvez ele goste de brincar com nossas vidas da mesma forma que um garotinho sente prazer em brincar com seus bonecos. Então é isso? Somos todos bonecos de brinquedo nas mãos do destino? Então não somos livres?, donos do nosso próprio destino? Pensamos agir dessa ou daquela forma por livre e espontânea vontade quando na realidade somos manipulados? Quer dizer que o fato de ter nascido homem, num determinado dia e hora, filho desses pais e não de outro, ter frequentado determinada escola e não outra, tido esses e não outros amigos, saído com essas e não com outras mulheres, feito isso e não outra coisa com seus corpos foram obra do destino? Não, amigo leitor, não posso acreditar numa coisa dessas, num absurdo desse tamanho! Se um sentimento ainda estranho a mim me havia despertado com relação à Ana Carla, tal sentimento haveria de ter uma explicação racional. E embora tais pensamentos não me ocupassem naquele momento, pois ainda sentia a embriaguez da pureza do vinho do corpo de Ana Carla, certamente me ocupariam assim que o efeito passasse, pois não há embriaguez que dure para sempre. Mas enquanto a embriaguez não passasse só me restava arriscar a liberdade, atirar uma parte considerável de minhas crenças, de minhas verdades no lixo e viver essa nova realidade. O que poderia me acontecer eu não atinava. Aliás, que importância tinha isso agora? Só desejava viver dali em diante tão somente o momento. Não queria mais pensar no amanhã, nas consequências de meus atos, como fizera até então. O futuro? Que se dane o futuro!
Assim, procurei não pensar em mais nada. Só queria continuar junto de Ana Carla, despertá-la e perguntar-lhe se estava bem, se não a teria machucado. Agora mais do que nunca, eu me importava com a minha Florzinha, queria agradá-la, ser-lhe o mais atencioso e carinhoso possível, e acima de tudo fazê-la feliz.
Para despertá-la, dei-lhe um rápido beijo nos lábios. Ela abriu os olhos e me encarou submissa, feito uma adolescente apaixonada, dessas que sacrificam a própria reputação e a de sua família por um homem cuja índole não vale um grão de areia. Nesse instante, tive a percepção de que só então ela adquirira consciência de nós dois, de si mesma em relação a mim e do que de fato lhe ocorrera.
-- Eu te machuquei? - perguntei.
Ela meneou a cabeça negativamente.
Com uma das mãos passei a alisar seus cabelos. Depois levei a mão ao seu rosto e passei a acariciá-lo com delicadeza. Diferentemente do que me acontecia antes, quando fazia algo parecido na mais completa indiferença, apenas com o intuito de parecer gentil, agora só não sentia necessidade de fazê-lo, como encontrava um prazer inexplicável, tão deleitoso quanto foi acariciar-lhe os seios antes de possuí-la. Correspondendo a essa carícia, Ana Carla estendeu-me os braços e, num gesto inesperado, me arrastou novamente para cima de si, talvez por temor de que eu pudesse me levantar, vestir-me e dar nosso encontro por encerrado. Aliás, amigo leitor, tal gesto não foi exclusividade sua. Por uma meia dúzia de vezes cena parecida aconteceu. Entretanto, não a ignorei ou lhe fui grosso, indelicado como cheguei a ser duas ou três vezes. Cedi. Para não soltar todo o meu peso em cima de seu corpo frágil – pois agora me parecia mais jovem, mais frágil e delicado que antes –, eu me apoiei na cama e fui escorregando para o lado. Então a abracei e joguei uma das pernas sobre as suas, para que ela não achasse que estava a me esquivar. Súbito, nossos lábios se tocaram e ela se deixou beijar de forma suave, como uma jovem esposa após a primeira noite. E depois tão submissa, tão realizada, perguntou:
-- Você me ama?
-- Claro que te amo, minha florzinha.
-- Eu também te amo muito, muito! - disse ela, virando-se toda faceira por cima de mim, o que quase nos levou a cair da cama.
Aquelas palavras fizeram-me refletir novamente acerca do que acabara de fazer. Antes, quando Ana Carla era tão somente um corpinho sexy, atraente e virgem, eu só queria possuí-la e satisfazer meus impulsos, impulsos esses difíceis de domar e os quais me faziam perder tempo e gastar dinheiro para seduzir mulheres apenas para acalmá-los. E depois de domados, quando a serenidade tomava conta de minha alma, tais mulheres já não me serviam para mais nada, até porque a maioria delas não tinham mesmo nada a oferecer-me além de alguns momentos de prazer. Às vezes aliás, chegava a sentir pena dessas pobres coitadas por saber que seus destinos seriam conformar-se com uma vida inútil ao lado de um bronco que certamente as maltratariam e as encheriam de filhos. Mas com Ana Carla porém não foi isso a causa de minhas reflexões, nem mesmo a indiferença – pois a indiferença não nos provoca reação alguma --, mas sim o arrependimento. Este não aconteceu só por ter mudado meus sentimentos para com ela, uma vez que isso só não era suficiente para causar-me algo do qual me gabava de não sentir, mas também porque, de alguma forma, eu tinha ciência, embora não houvesse refletido direito acerca disso, de que nosso relacionamento não acabaria ali. Como numa grande sacada, eu consegui medir a extensão dos problemas que teria pela frente, caso continuasse a me encontrar com Ana Carla. E só então me vieram à memória todos os riscos que corri -- como se só agora conseguisse me livrar da cortina de fumaça a cobrir-me os olhos – e teria de correr por seduzir uma jovem daquela idade. Apesar desses pensamentos insistirem em me roubar à atenção, eu fazia o possível para afastá-los e evitar que estes perturbassem aquele momento tão novo, tão cheio de mistérios e ao mesmo tempo tão fascinante. "Também não adianta chorar o leite derramado... Preciso dar um jeito de contornar essa situação", conclui.
Depois de um curto silêncio, Ana Carla disse:
-- Estou ficando com fome.
-- Eu também. Quer que eu prepare alguma coisa para a gente comer?
-- Quero!
-- Então vamos tomar um banho primeiro.
Levantei e peguei em suas mãos para ajudá-la a sair da cama. Ela soergueu o dorso, dobrou as pernas, fez um giro, apoiou os pés no chão e pôs-se de pé num movimento sutil, numa leveza que só onde há a mais pura feminilidade é possível encontrá-la. Ficamos frente a frente. E então meus olhos percorreram-lhe o corpo de baixo à cima até nossos olhares se encontrarem. E os olhos dela brilhavam tanto quanto a mais brilhante estrela do universo. Talvez seja um exagero de minha parte, mas dada a intensidade do momento, as estrelas não me parecem brilhar tanto assim e nem o universo infinito. Aliás, aquele brilho, feito uma luz forte direcionada de forma súbita para meus olhos, penetrou-me através dos olhos e, devido a sua intensidade, atingiu-me o interior do peito, fazendo chegar luz onde até então só houvera escuridão. Eu nunca vira um brilho tão intenso quanto aquele, embora um certo brilho também chegara a escapar dos olhos de Francineide, Isoldinha e mais uma ou outra infeliz cujo nome já não me recordo mais. Eu não sabia se todo aquele brilho era amor ou uma reação natural àquele ato de intenso prazer. Talvez até fosse, embora a primeira alternativa me parecesse a mais provável. E ao supô-lo verdadeiro, um aperto muito forte – quase uma flechada – atingiu-me o coração sem que eu compreendesse o porquê. E aquele brilho nos olhos dela e a pontada em meu peito trouxeram à tona uma verdade, verdade essa possivelmente há alguns dias em franco processo de desenvolvimento: a vontade de não deixá-la mais. Aliás, se até então ainda pensava em me livrar dela na primeira oportunidade, agora esta vontade perdera de uma vez por todas o sentido.
Abracei-a fortemente, premendo meu corpo contra o dela, como se tivesse necessidade do seu calor para ter certeza de que tudo não passava de um sonho. E ao senti-la em meus braços, a maciez de sua pele, o cheiro da juventude e as lembranças dos momentos ainda frescos na memória me levaram por um instante a pensar em novamente atirá-la à cama e voltar a sorver o néctar de sua pureza. Todavia o prazer de tê-la ali, aninhada e tão submissa como se lhe escapasse um fogo de avassaladora ternura, levou-me a sentimentos mais nobres, fato este inédito até então. E beijei-a na fronte, na face e nos lábios, como retribuição por me levar a experimentar algo tão novo e intenso.
-- Eu te amo muito, muito... muito... - murmurou Ana Carla.
-- Eu também, meu amor! Vem! Vamos tomar um delicioso banho.
-- Você me faz muito feliz.
-- Você também – foi a minha resposta, embora ainda sem compreender ao certo aquele desejo tão estranho de tê-la só minha. Um desejo que se misturava ao deleite de tê-la nos meus braços, como se ela fosse diferente de todas as outras mulheres com as quais deitei naquela cama.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

A MENINA DO ÔNIBUS - Capítulo 7 - Parte 3

Pedi-lhe para sentar na cama. E demonstrando tranquilidade, não titubeou em nenhum instante. Feito uma menina obediente, sentou-se, correu os olhos rapidamente pela cama e pelo quarto; e virando a cabeça em minha direção olhou-me nos olhos como quem pergunta: “E agora o que quer que eu faça?”. Lancei-lhe um rápido sorriso e em seguida ajoelhei-me a sua frente, peguei delicadamente uma de suas pernas e a estiquei acrescentando:
-- Bonita essa sua sandália! Você tem bom gosto.
Era apenas uma forma de reduzir-lhe a tensão, fazê-la esquecer por um instante o motivo de estar ali, embora não demonstrasse tanta tensão quanto algumas das mulheres que sentaram naquela mesma cama. Aliás, isso me surpreendeu e deixou-me mais à vontade para aproveitar aqueles momentos com intensidade, pois, muitas vezes, precisava permanecer vigilante a maior parte do tempo para que, num descuido meu, não me escapassem, como ocorreu com a Regininha, uma jovem de quase vinte anos que, apesar de extrovertida, deixou-me na mão bem na hora H. Embora estivéssemos praticamente nus na cama, de repente, levantou-se, apanhou suas roupas e me pediu para levá-la para casa imediatamente. Insisti para ficar, mas ela se mostrou irredutível. E, ao sair do carro, não se despediu. No outro dia telefonei-lhe, mas não me atendeu. E quando finalmente resolveu falar comigo, disse que não queria me ver mais. Até hoje não sei o que foi exatamente que eu fiz de errado para provocar-lhe aquela reação, quando estava prestes a lhe tirar a última peça de roupa.
Desabotoei-lhe a fivela com muito cuidado e lhe retirei a sandália como quem retira de uma caixa, um objeto de extremo valor. “Que pezinho mais lindo! Dá até vontade de beijá-lo!... Não é que até os pés dela foram moldados com perfeição?”, pensei enquanto ria de meus próprios pensamentos. E nesse ínterim peguei-lhe o outro pé e o descalcei também. As sandálias, uma ao lado da outra, foram empurradas para debaixo da cama com o intuito de evitar que Ana Carla, ao se levantar mais tarde, tropeçasse ou ao pisar-lhes em cima acabasse torcendo o pé ou sofrendo uma queda, o que poderia estragar todo aquele momento.
Pedi-lhe para deitar-se. Ana Carla tombou lentamente para o lado, apoiou a cabeça no travesseiro e esticou as pernas. A seguir, com ousadia, fui-lhe escorregando suavemente as pontas dos dedos pernas acima. Gostava de fazer isso não só pelo deleite que me causava, como também pelos suspiros que, numas mais noutras menos, lhes arrancava. Os pequenos pelos se enrijeceram. Certamente aqueles pequenos gestos estavam a lhe provocar uma sensação agradabilíssima. Isso me encorajou a continuar, pois vi que a deixava mais descontraída, com um ar mais natural. E fiz a mesma coisa na outra perna. Assim, ora numa ora noutra, eu deslizava a ponta dos dedos. E enquanto fazia isso, ela cerrou os olhos e contraiu as pernas, como se experimentasse um instante de intenso prazer. Ah! Que coisa mais gostosa ver com os próprios olhos o deleite daquela menina! Tomado pelo excitamento, imaginando-a em profundo arroubo, fiz da ousadia o instrumento de busca para nossos próprios limites. Assim, quanto mais ela se entrega e se deleitava com minhas carícias mais eu avançava por baixo da pequena saia e me aproximava do ponto onde o prazer atinge o auge e onde termina.
Reconheço, amigo leitor, ter aprendido com o tempo fazer desse jogo uma forma de explorar o universo feminino. Fazia isso não puramente com a intenção de agradá-las, mas principalmente pelo deleite que eu mesmo experimentava a cada nova descoberta. Também é verdade que nunca fora tão longe quanto estava indo com Ana Carla. Também nenhuma delas (talvez Daniela e Ana Paula tenham chegado perto) agiu como Ana Carla e me fez perder o controle dessa forma..
Silenciosa e imóvel Ana Carla permanecia deitada na cama, à espera de que a mandassem se mexer. Embora não o fizesse de forma voluntária, como que aguardando uma ordem, era evidente que o “não saber como agir” era a causa mais provável daquela inércia. Aliás, tal inércia não era exclusividade sua. Suzana também agiu de forma ainda pior. Em compensação, quando sentiu a virgindade indo para os ares, reagiu de forma violenta. E foi lembrando desse episódio, vendo os gritos de desespero daquela infeliz, como se, ao invés do falo, houvesse lhe introduzido um punhal, que deixei Ana Carla por alguns instantes e me descalcei, empurrando o par de tênis para junto das sandálias dela. Ainda vestia a bermuda jeans, mas não era momento de tirá-la. Tudo tem o seu momento. E o de apresentar-lhe a minha nudez ainda não havia chegado, pois a pressa, o afobamento muitas vezes é o que nos levam a meter os pés pelas mãos. E embora estivesse profundamente afetado, no limiar da razão, ainda era capaz de tomar as decisões mais acertadas, como se o destino desse uma mãozinha para que tudo corresse como o planejado.
Deitei ao seu lado e voltei a acariciá-la com docilidade na face e nos cabelos. Era preciso demonstrar-lhe carinho e não dar a impressão de que o ato sexual era a única coisa a me interessar, como realmente ocorreu muitas vezes, pois não me importava com esse detalhe, até porque sabia que não mais encontraria aquelas pobres iludidas. Todavia, com Ana Carla (como ocorreu com Ana Paula) senti essa necessidade de agir de outra forma, como se preocupasse com ela como se preocupa com a pessoa amada. Talvez aqui eu tenha cometido mais um erro. Não deveria ter me deixado levar pelos sentimentos. Embora se tratasse de uma preocupação involuntária, esta fazia parta de cada ato, cada gesto para com ela como se um sentimento ainda oculto afetasse-me a ponto de fazer com que eu não fosse eu mesmo. E talvez por causa dessa preocupação que não sei de onde veio, toquei-lhe novamente os rijos seios com as pontas dos dedos enquanto a contemplava. Queria conhecer as reações dela, queria saber onde se localizavam seus pontos de maior sensibilidade e prazer. Por isso levei a ponta do dedo à boca e, num gesto instigante, umedeci-o, e então tornei a perpassá-lo muito levemente sobre o mamilo. Ela me fitava de forma curiosa e indagativa. Entretanto, ao sentir o toque de meu dedo, seus olhinhos fecharam, como se aquele toque fosse o toque de uma vara mágica. Uma coisa nova foi experimentada por ela. Algo que fez seu corpo tremer e seus pelos alvoroçarem-se novamente, como se uma corrente de ar frio a atingisse.
Tal reação um tanto exagerada, e até mesmo inesperada, pois não esperava que ela reagisse assim embora não fosse a primeira, acabou tendo efeito sobre mim, deixando-me mais exaltado, levando ao extremo a vontade de possuí-la, uma vontade que extrapolava os limites da razão. Mas não queria que aquilo acabasse de um momento para outro. Queria ir mais longe e mais fundo; queria levá-la à loucura, explorar os mais obscuros recantos de seu eu e arrancar-lhe as mais diversas e inesperadas sensações de prazer. Como disse anteriormente, amigo leitor, estava possuído por algo novo, algo feito um poder sobrenatural, que me levava a agir de forma oposta à que estava acostumado. Algo novo se instalara em mim para sempre. Noutras oportunidades certamente já teria alcançado meus objetivos, feito o que tinha de fazer e despachado Ana Carla para sua casa. Dessa vez porém o prazer parecia estar justamente no fato de não alcançá-lo. Talvez por isso não tive pressa, nenhuma pressa.
Se a pressa não fazia parte do jogo, surpreendê-la sim. Aliás, isso me era uma das formas de prazer. Deleitava-me com a possibilidade de causar surpresas. Assim, súbito, virei-me por sobre Ana Carla e a beijei suavemente nos pequenos lábios. Ela não esperava aquele beijo evidentemente. Compenetrada e ainda navegando no oceano de sensações, não poderia mesmo deduzir que a beijaria. Contudo, correspondeu ao beijo. E nos beijamos extasiados e enlevados. Eram beijos demorados e ardentes. E nos beijamos e nos beijamos com beijos que só podem ser dados em condições semelhantes, por casais transbordando a taça da paixão. Digo isso porque não me adianta tentar descrevê-los. Seria uma tarefa árdua e inútil. De forma que o leitor imagine-o como quiser, de acordo com a sua experiência, embora provavelmente este imaginar ficará aquém dos fatos .
Ah, mas algo inexplicável me ocorreu: não pude mais me conter. Estávamos ali, deitados naquela cama macia, entrelaçados, esquecidos do mundo ao redor, como se o universo resumisse à extensão de minha cama. Ela me queria como nunca, disso eu não tinha mais dúvidas, pois a sua entrega era uma entrega de corpo e alma, feito uma virgem que, sob o efeito do ritual, entrega-se ao sacrifício, atirando-se aos braços dos deuses. Então nossos instintos agiram da forma mais livre e espontânea possível, como agem os animais no momento do acasalamento.
Parei por alguns instantes, só para despi-la. Então soergui, ficando de joelhos na cama, diante dela e levei as trêmulas mãos ao único botão da saia e a desabotoei. Imediatamente minha mão direita procurou o zíper e o abriu. Ao se desprender, a borda folgou em volta dos quadris. Agora era só puxá-la. Impulsivamente, foi o que fiz: peguei-a delicadamente pelas pontas e a puxei em direção aos pés. Ana Carla levantou os quadris e a saia deslizou suavemente até se lhe desprender.
A primeira reação foi contemplá-la. Aliás, nem poderia ter sido de outra forma. Sempre fazia isso. Contemplar era-me uma das mais ricas fontes de deleite. Agora o que me surpreendeu e causou-me espanto foi outra coisa, foi algo que em todos esses anos, envolvendo-me com os mais diversos tipos de mulheres ainda não havia visto: uma calcinha com aquela. Tratava-se de uma delicada peça amarela, ornamentada com personagens da Disney; mais precisamente Huguinho e Zezinho. Imaginem: uma calcinha infantil! Quanta inocência! Ainda usava calcinha de bichinhos! Minha menina! Só minha... só minha...
Atirei a saia sobre a cômoda, sobre o esquecido volume de Dostoiévski, o qual fazia três dias que não o abria. Nisso, Ana Carla levantou-se e agarrou a minha bermuda. Assustei-me, pois não esperava essa atitude repentina e ousada de sua parte. E de forma carinhosa e prestante, ela a abriu e puxou-a para baixo, como se houvesse pressa e o tempo fosse nosso inimigo. Dir-se-ia inclusive que o apressado era ela e não eu.
Ah, mas esse detalhe não me passou ao largo. “Então ela está com pressa?”, foi minha indagação. “Isso só pode indicar uma coisa: ela não aguenta mais, está mais louca pra foder do que eu. E eu pensando que ela fosse me dar algum trabalho”, continuei a pensar. E enquanto os pensamentos seguiam por outro caminho, sentei e acabei de me ver livre daquela peça de roupa, a qual não passava de grande incômodo.
A curiosidade dela foi tanta quanto instantes antes tinha sido a minha; seus ávidos olhos perscrutaram-me. Embora afetado, tive a ligeira impressão de que ela sentiu-se, nem que seja por algum instante, insegura quanto a tirar ou não o resto da roupa. Vi isso quando os desviei a fim de indagar o que ela estaria a olhar, embora não me fosse difícil supor. Relembrando rapidamente tantos outros momentos como aquele não fui capaz de lembrar de qual delas não tenha olhado na mesma direção. Da mais acanhada à mais desavergonhada, todas sem exceção, ao me ver seminu, atiram seus olhos – uns mais esbugalhados e outros mais tímidos – , envoltos na mais declarada curiosidade, curiosidade que ora não passava de um rápido olhar ora durava até que algum gesto de minha parte a fazia desviá-lo. Quanto à Ana Carla, seus olhos demoram o tempo necessário para que sua curiosidade fosse pelo menos em parte satisfeita.
Não sei quais impressões aquela visão causaram-lhe. Poderia até lhe ter perguntado isso, pois não havia nada a impedir-me que o fizesse, todavia, naquele momento tantas outras curiosidades eram mais significantes e um turbilhão de coisas passava-me pela cabeça, menos este indagar.
O que eu vi e senti? Não me recordo bem. Estava meio atordoado, embevecido, como quem aspira um entorpecente ou coisa parecida. Só posso afirmar que senti uma necessidade muito grande de arrancar-lhe o restante da roupa e completar o que estava a fazer.
Eu lutava comigo mesmo, contra meus impulsos. Uma luta desigual, na qual eu levava ligeira desvantagem. Eu lutava para conter a ânsia de possuí-la logo de uma vez. Quase tudo em mim queria isso, talvez porque estivesse acostumado a fazê-lo. Afinal, era nesses momentos que eu procurava surpreendê-las. Caí-lhes por cima e só saía após o fato consumado. Uma pequenina parte porém, aquela que distingue o homem do animal e nos faz conter os impulsos e ponderar entre o bom e o melhor é quem lutava bravamente para eu me conter, para não ser apressado, para saborear cada momento como se saboreia uma taça de vinho duma safra inestimável. Era esta parte quem dizia a todo instante: não tenha pressa! Sorva lentamente! Contemple! Admire! Toque! Sinta!
Então, no auge daquela batalha entre a pressa e a lentidão, entre o ir como muita sede ao pote e o sorver cada gole pausadamente, escorreguei vagarosamente as pontas dos dedos por sobre a pequena coxa dela, por entre as pernas, e perpassei por sobre a calcinha amarela até a borda. Com um movimento leve, enfiei-lhe a mão por sob o delicado tecido e fui tateando em direção aos grandes lábios, como lhe fizera no cinema. Ela contraiu o corpo num calafrio ardente, desesperado, como se a ponta de meus dedos lhe dessem pequeninos choques. E minha mão avançou mais e mais...
Foi aí que me lembrei de um detalhe: o absorvente. Ela não o usava no dia anterior? O que aconteceu? “Será que sua menstruação estava no fim, por isso que meu dedo saiu quase limpo ontem? Ah, só podia ser! Hum... Então ela não está mais menstruada! Assim é melhor... Não quero ficar na dúvida.”, foi o que pensei. E então, essa lembrança se perdeu, feito algo sem importância que nos vem a memória assim repentinamente, acionada por algum dispositivo de nosso inconsciente, consequência de um gesto, no caso, a introdução do dedo por dentro da calcinha. Já não havia mais como se preocupar com o que não existia, com algo que não estava mais ali.
Meu dedo médio parou sobre a fissura que dividia as duas partes e notou quanto escorregadio estava ali. E aquela descoberta, embora o esperasse, deu-me mais ímpeto à parte animal. Assim, meu dedo, como se agisse por si próprio, por impulso, contraiu e escorregou naquela abertura, tocando-lhe o ponto mais sensível, ponto este que embora minúsculo era capaz de liberar mais energia que uma explosão cósmica e sacudir não um planeta inteiro, mas todo o universo. Ana Carla estremeceu, abriu a boca e sorveu o ar de uma forma que parecia prestes a desmaiar. As pernas se contraíram numa reação espontânea, talvez não para me impedir de continuar mas de retirar o dedo.
Não sei explicar a razão, mas minha mão tremia como se eu estivesse arriscando a vida ao tocá-la. Risco eu sabia que estava correndo ao fazer aquilo, mas não era desse tipo de risco que estava querendo dizer. Era como se pusesse a mão em algo muito delicado e valioso que, se lhe acontece algo, eu estaria desgraçado por toda a vida.
Para levá-la a conhecer novas sensações fiz-lhe alguns movimentos com o dedo com um certo ar de maldade, quase deixando escapar um sorrisinho nos lábios, pois sabia que em tais condições fazer-lhe aquilo seria como despejar lentamente um recipiente de água no rosto de um sedento. Então, ela levou as mãos até meu braço e implorou num tom de voz que misturava prazer e desespero:
-- Para que eu não aguento mais.
Retirei a mão. E com uma curiosidade inexplicável examinei o liquido incolor a escorrer-me pelo dedo. Talvez a curiosidade tenha sido justamente devido ao estado em que este ficara: encharcado, como se o houvesse mergulhado em óleo. Aliás, isso me fez por alguns segundos recordar do mesmo feito, quando – aí sim a curiosidade foi intencional –, ao retirar a mão da sedenta vulva da Suzaninha, este também saíra assim, como se metera a mão num pote de mel. Em seguida, minha atenção voltou à calcinha dela, cujo desejo de retirá-la e ver o que estava a ocultar quase superava o desejo de possuir e marcar com meu gozo aquele território virgem, feito um cão a marcar seu território com o cheiro de sua urina. Levei as mãos à borda e fui puxando-a lentamente, bem vagarosamente, como se removesse a película a envolver algo muito delicado.
Aqueles negros fiapos de pelos foram surgindo cada vez mais e mais... A última peça de roupa escorregou-lhe pernas abaixo até que, livre em minhas mãos, eu a depositei sobre a outra a cobrir o livro. Finalmente despida, nua como veio ao mundo! Ah, quantas e quantas vezes não sonhei com isso, não imaginei esta mesma cena? E às vezes mergulhado em devaneios e sem poder conter os efeitos destes, tive de recorrer ao gozo solitário para afastá-las, cuja insistência em prolongar-me a absorção impedia-me de adormecer. Agora porém não se tratava mais de devaneios. Jazia Ana Carla ali, ao vivo e a cores, tão real quantos essas palavras, a espera que finalmente transformasse aqueles mesmos devaneios, que agora ressurgiam numa sequencia rápida de lembranças, em realidade. E ao fixar-lhe os olhos no meio das pernas, fui tomando por uma sensação indizível, algo que me fez sucumbir. Meu corpo parecia ter-se enlevado em chamas, numa combustão rápida feito algo altamente inflamável.
Ana Carla mantinha as pernas unidas. Talvez estivesse se sentindo acanhada em expor a nudez daquela forma. Era a primeira vez evidentemente. Disso eu não tinha dúvidas. Era natural que isso acontecesse. Mas eu não queria que isso viesse a estragar-lhe o deleite daquela experiência, uma experiência que certamente ficar-lhe-á gravada na memória por toda a vida, embora, com o passar dos anos, alguns detalhes vão se desaparecendo feito as cores de uma fotografia. Por isso, minhas mãos foram-lhe parar entre os joelhos. E forçando levemente no início, fui-lhe afastando as pernas. Aliás, não vá pensar o amigo leitor que Ana Carla tentou me impedir de abri-las. Acredito inclusive que ela só as manteve unidas até aquele instante mais como uma reação instintiva do que consciente. E se em algum momento pensou em juntá-las, este pensamento foi fruto da timidez, da vergonha em se expor daquela forma, uma vez que para uma jovem feito ela fazer tal coisa fosse motivo de embaraço, mesmo diante de quem se ama. Ela entretanto, ao sentir a força de minhas mãos, entendeu meus propósitos e terminou por afastá-las por si mesma. Foi então que eu pude contemplar a beleza, os contornos do sexo de uma ninfeta, a mais deliciosa das Lolas. E aquela imagem – a mais fascinante de todas que já havia visto até então – invadiu-me os olhos, atravessou as conexões nervosas responsáveis por levar as imagens até o cérebro, e lá, ao serem processadas, emitiu sinais aos extremos mais distantes de meu corpo, provocando-me as mais variadas e intensas reações. Embora não posso me recordar de tudo, foi algo único, intenso só comparado à experiência do nascimento e da morte. Aliás, em meio a essas reações as ardentes chamas de meu corpo rugiram feito um leão após vencer uma intensa e mortal luta contra outro leão para ter o direito à fêmea.
Sem ter mais noção de nada, sem condições de perceber ou ouvir qualquer som externo como se além daquelas quatro paredes só existisse um interminável abismo a se estender até a infinitude do universo, eu levei as duas mãos (elas tremiam descontroladamente, como se tratassem de mãos de um portador do mal de Alzheimer em estágio bastante avançado) até à vulva e desuni os grandes lábios rosados. Só um desejo apossava-se de mim naquele instante: ver e gravar na minha memória, como se gravasse a ferro e fogo, a imagem da sua pureza intacta. Sabia tratar-se duma membrana fina, pois já tivera não só a oportunidade de vê-la, como aconteceu com a Clarinha, como também tocá-la com o dedo afim de certificar de que era realmente algo muito frágil, como fiz com Juju que, ao me ver fazer aquilo, talvez achando uma esquisitice de minha parte, perguntou-me se estava transando consigo por causa daquilo. Surpreso com a indagação, retirei o dedo e neguei. E negaria da mesma forma se Ana Carla também me fizesse a mesma pergunta, pois se até meia hora atrás isso seria de todo verdadeiro, agora já não era mais. Apenas tencionava contemplá-la pela última vez, porque em breve deixaria de existir; e mesmo que ainda permanecesse, pois de fato continuaria no mesmo lugar embora rompida, já não teria mais o valor simbólico de antes. Assim, queria prestar-lhe reverencia, como um súdito a sua realeza, pelo seu esplendor, pelo poder que aquela membrana exercia-me sobre todos os órgãos do sentido, afetando-os tal qual um raio ao cair numa árvore. Não importa que fosse uma coisa pequena e, para muitos, sem valor. Para mim, valia muito, mais que qualquer diamante, ou qualquer bem material. Era por aquilo que eu arriscara minha vida, minha própria liberdade. Era em busca daquilo que eu sentia prazer em viver.
Talvez o leitor ache um exagero de minha parte ou chegue mesmo a pensar que essa fixação pelo hímen, em querer rompê-lo, não passe de desajuste de ordem psicológica. Talvez o leitor tenha razão. Que os homens dão a devida importância a esse pequeno detalhe numa fêmea não há como negar, alguns mais até que a beleza, a condição financeira e a classe social. Se para uns a intactilidade não tem peso algum, não passa de agradável surpresa, para outros sem isso não há sentimento que perdure, não há beleza, condição social e financeira capaz de suprir tal ausência. Embora tenha me envolvido com mulheres cuja virgindade jazia perdida, era inevitável um grande desapontamento, cujo efeito poder-se-ia comprar ao descobrir que onde deveria haver uma deliciosa xoxota jazia um horrível pênis. Aliás, talvez seja por isso que ao tirar-lhes a virgindade perco o interesse por elas, como se não me tivessem mais valor, não merecessem mais o meu tempo, a minha atenção, minhas carícias e até mesmo o meu corpo.
Mas não vamos falar disso agora. Até porque com Ana Carla as coisas não correram da mesma forma e tomaram um rumo inimaginável, cujo desfecho o leitor há de saber na hora certa. Assim, voltemos à visão do hímen.
Tentei. Juro que tentei contemplar por mais tempo aquela coisinha tão delicada, cujo orifício de tão pequeno mal dava para passar o dedo mínimo. Mas não resisti. Senti minhas forças faltarem e inexplicavelmente fui atraído por aquele ponto como se dali saísse uma luz intensa que ao penetrar-me nos olhos mostrasse-me o paraíso e então me puxasse para que pudesse penetrar naquele mundo onde o prazer é experimentado até o limite.
Quando apercebi, meus lábios já lhe haviam tocado os grandes lábios da vulva. Eu estava meio que enfiado no meio de suas pernas, como se quisesse me perder dentro dela. Minha boca abriu-se e a língua saiu desesperada para tocar o intocado, para senti-lo com se este fosse capaz de por fim ao veneno a correr-me pelas veias. E quando ela principiou a se agitar, como se procurasse algo desesperadamente, eu experimentei a sensação de que minhas veias estourariam. Era como se as chamas em meu corpo houvessem incendiado meu sangue e percorresse todas as extremidades numa combustão magnífica.
Eu não sei o que Ana Carla experimentou. Na verdade, não consegui perceber mais nada. Meus sentidos correndo num único fluxo, para um único ponto impediam-me de perceber não só o que acontecia a minha volta como até mesmo o que se passava em minha cabeça. Só sei que ela me levantou a cabeça, agarrou-me pelos braços e puxou-me para cima de si. Súbito, as delicadas mãos dela despiram-me. Eu nem sei como ajudei-a. Não lembro.
Sei que talvez vou desapontá-lo, amigo leitor. Mas o que há de se fazer! Peço imensamente a sua compreensão. Ponha-se no meu lugar. Como é que eu poderia me recordar de todos os pormenores do que viera se passar a seguir? Imagine uma pessoa que mergulha nas profundezas de uma caverna para apreciar toda a beleza daquele mundo inexplorado e durante o salto é acometido por uma momentânea amnésia, a qual não o impede de experimentar o deleite daquele mundo inexplorado, mas sim de lembrar o que viu e o que sentiu. Aliás, estava tão perdido dentro de mim mesmo, que se naquele instante alguém batesse à porta, eu não ouviria, nem que a pusessem a baixo, pois simplesmente encontrava-me num estado em que as percepções estavam todas bloqueadas. Eu não via e não ouvia mais nada. Meus instintos eram os únicos a comandar-me o corpo.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

A MENINA DO ÔNIBUS - Capítulo 7 - parte 2

Ficamos de nos encontrar por volta das quatorze e trinta, próximo a minha casa. Havia uma pracinha ali perto e fiquei de aguardá-la naquele local. Poderia ter escolhido outro lugar ou mesmo ido buscá-la, contudo Ana Carla não quis. Disse preferir sair de casa sozinha e tomar um ônibus, pois assim corríamos menos riscos. Embora não me fosse trabalhoso apanhá-la, confesso que gostei da proposta; pois sobrava-me mais tempo para preparar a armadilha, uma vez que meus pais só subiriam para São Paulo por volta de onze horas. E eu não poderia, como já fizera antes, levantar suspeitas. Minha mãe era uma mulher observadora, e quando notava qualquer atitude minha fora do comum, logo vinha com indagações, querendo saber o que estava aprontando. Aliás, essa mania observadora de minha mãe teve um papel fundamental de seduzir uma jovem. Por um lado aprende com ela a observar cada nuance no comportamento das pessoas e usar isso a meu favo; por outro aprendi a ocultar possíveis mudanças no meu, embora isso às vezes não lhe escapava a uma observação mais atenta. Desta feita, enquanto não partissem, não poderia preparar o quarto, a sala, o banheiro e principalmente me produzir, fazendo a barba, escolhendo a melhor roupa para a ocasião. Enfim, seguindo o mesmo ritual de tantas outras oportunidades.
Talvez o leitor pergunte: “Mas o que preparar?” Talvez preparar não fosse bem a palavra, mas como não me vem à cabeça outra que o sirva, vai essa mesmo. Na verdade, era preciso colocar certos objetos nos seus devidos lugares, como por exemplo: arrumar as duas almofadas no sofá grande para que Ana Carla pudesse apoiar-se quando eu a deitasse, manter as cortinas fechadas para lhe dar mais segurança, etc, etc.... Haviam também detalhes que poderiam parecer insignificantes, mas que me era de extrema importância: trocar o lençol florido da minha cama por um branco, para que a mancha vermelha de sangue não fosse confundida com as cores do lençol; ou ainda, retirar da gaveta do criado mudo as quatro revistas pornográficas – embora não fosse aficionado por esse tipo revista, mantinha-as há algum tempo esquecidas na última gaveta – que surrupiei do meu pai meses atrás, revistas estas que se descobertas por Ana Carla – pois a maioria das mulheres que levei para minha casa tinha o costume de mexer nas minhas coisas – poderiam causar algum tipo de constrangimento e pôr meus planos por terra; no banheiro: deixá-lo bem arrumado, retirar uma ou outra peça íntima que meu pai e minha mãe costumavam esquecer dependuradas no box embora minha mãe fosse mais cuidadosa nesse ponto.
Mas houve tempo para arrumar tudo, sem pressa, inclusive para guardar o almoço que mamãe deixara sobre o fogão e lavar os pratos, uma vez que a d. Lurdes não trabalhava aos domingos. Não ficava bem deixar a cozinha toda desarrumada, pois certamente, depois de fazermos amor, sentiríamos fome e a cozinha seria um dos nossos destinos. E quando consultei o relógio e os ponteiros indicavam duas e dezenove, apanhei a chave sobre a mesinha da sala e fui esperá-la e vê-la descer do linha 1, o ônibus que teria de tomar para chegar ali. No entanto, isso não aconteceu, pois ao chegar à praça Ana Carla me aguardava. Numa das raras vezes, não se atrasou.
Suspeitando que algum vizinho pudesse nos ver entrando em casa e gerasse comentários nos dias subsequentes, como aconteceu com Maria Paula, cujo vizinho da segunda casa teve o prazer de fazer chegar aos ouvidos dos meus pais que eu num sábado, após estes terem ido à Santos, aproveitei que não estavam e introduzi dentro de casa uma jovem e permaneci lá por mais de duas horas, sugeri que entrássemos o mais rápido possível. Aliás, esse episódio ocorrido há mais ou menos um ano e meio causou um certo mal estar nas relações entre mim e minha mãe. A princípio, neguei as acusações, mas diante das evidências, pois uma vizinha muito sua amiga confirmou-as, embora tenho certeza de que não tenha visto nada.
Ana Carla correu os olhos pela mobília da sala, como eu imaginava. E talvez por pertencer a mundos diferentes, a maioria das jovens que eu levei para minha casa fizeram o mesmo. No entanto, parecia um pouco sem jeito, como se não soubesse onde olhar e o que olhar. E vendo-a inibida, como que perdida, sem saber o que fazer, convide-a sentar e assistirmos um pouco de TV. De todos os métodos usados até então, este se mostrara o mais eficaz. Talvez porque a TV tenha o poder de nos prender a atenção e ao mesmo tempo nos fazer esquecer de que estamos em terreno estranho; ou ainda devido ao fato de que a TV nos faça sentir como na própria casa. Bem, amigo leitor, os motivos não vem ao caso. O importante era fazê-la sentir-se melhor. Não estava com pressa e o tempo era meu melhor aliado.
Entabulamos alguma conversa da qual me recordo somente algumas frases desconexas. Na realidade, isso foi só uma forma descontraí-la, de fazer com que se sentisse o mais a vontade possível.
E funcionou.
Uns dez minutos depois, comportava-se como se estivesse em seu próprio lar. Lar foi um eufemismo; pois, o fato de estar em minha casa e não lhe causar desassossegos me parecia bastante claro. E afirmo isso com uma certeza inabalável, uma vez que ela se comportava como se estivéssemos no Anexo Secreto ou em um dos lugares onde costumamos nos encontrar. Aliás, o fato de estarmos ali, sem com o que nos preocupar deu-nos mais liberdades. E nossos beijos, que muitas vezes eram contidos em público, tornaram-se mais ardentes, desmedidos e também dir-se-ia escandalosos, beijos que nem no escurinho do cinema tivemos coragem de dar.
Em dado momento, já não contendo o ímpeto, fui me inclinando por cima dela. Ela, então, devido ao meu peso, foi deitando mansamente no sofá. Eram movimentos sutis, bem leves e pausados, mas calculados quase milimetricamente. E sem que Ana Carla percebesse -- ou se percebeu, também não se importou --, eu lhe estava por cima, com seu corpo preso ao o meu, como se houvesse caído numa armadilha. E então os braços dela me abraçaram vigorosamente, premendo meu corpo ao dela.
Ah, querido leitor! Precisava ver aquela cena. Dir-se-ia de um espectador numa exibição cinematográfica. Certamente ficaria profundamente afetado como muitas vezes ficamos ao assistir uma produção onde o roteirista, o câmera, os atores e a sonoplastia estavam todos ao mesmo tempo no melhor momento. E o fato de Ana Carla ter alguns centímetros a menos do que eu deu um toque especial à cena, pois, como no cinema, quando o homem é mais alto forma-se um todo mais perfeito. Mas os nossos corpos não eram tão desproporcionais assim como o leitor quiça possa pensar, pois era ela mais alta que a média para sua idade enquanto eu ficava na média para a minha. De forma que nossas diferenças de estatura não nos criavam problema.
Eu nem sei dizer ao certo quanto tempo me foi preciso para que minhas desesperadas mãos soerguessem-lhe a blusinha branca, num puxar um tanto descuidado, demonstrando afetação e impaciência. Ana Carla apenas me encarou com olhos desconsertados, quiçá imaginando até onde aquele gesto poderia nos levar.
Talvez ela estivesse um pouco envergonhada, confusa com o que poderia acontecer; ou ainda, prevendo os acontecimentos, sentisse medo e insegurança. O que é muito natural nessas horas, pois se imaginava a união de nossos corpos, sabia o tamanho do passo que estava dando, o quanto aquele gesto mudar-lhe-ia o destino. Embora, para mim, aqueles momentos representassem tão somente um capricho que perderia todo o sentido depois. Contudo, isso é tão somente divagações da minha cabeça. Não posso afirmar com absoluta certeza o que aqueles olhos deixavam escapar e queriam dizer. Primeiro, porque não me preocupei em saber; e segundo, porque a visão daqueles seios, embora não fosse a primeira vez, provocou-me uma intensa afetação, mais do que provocara ao tocá-los pela primeira vez ou quando, no cinema, empurrei a alça e os vi surgir; aliás, o fato de estarmos no cinema onde a pouca iluminação e estar atento para ver se ninguém nos observava foram decisivos para conter o êxtase.
Meu corpo tremeu de uma extremidade à outra, num fluxo rápido, quando meus olhos observaram toda a beleza dos pequenos seios dela. Se não bastasse a delicadeza e a beleza estonteante daqueles contornos, ainda havia as marcas de biquíni, esculpidas pelo sol, formando um triângulo quase branco, em contraste com o tom escuro do resto do corpo, o qual produzia uma imagem belíssima, impossível de descrevê-la. Já vira muitos seios desnudos, alguns tão ou mais belos que uma obra de arte, mas nada comparável àquele par. Isto é, talvez tomado pelo fascínio, eu tenha sido surpreendido e esquecido que Ana Carla estava ali para ser seduzida apenas. Talvez nesse exato momento eu tenha cometido o primeiro e o maior erro de todos.
Tomado pela emoção, por uma sensação de impotência, não sabia o que fazer. Ao mesmo tempo em que queria tocá-los delicadamente e sentir a maciez daquela pele jovem, como se fosse pegar um bebezinho que acabara de nascer, queria também mordê-los, apertá-los e acariciá-los com a língua, como se tais gestos fossem capazes de dar cabo das chamas a consumir-me. Eu não sabia escolher porque não conseguia pensar, discernir qual das duas possibilidades me daria mais prazer; eis a mais pura verdade. Aliás, quem consegue pensar nessas horas? A razão é suprimida, jogada para escanteio. E só o instinto primitivo e animalesco é quem toma as rédeas de nosso corpo, tornando-nos semelhantes a todos os outros animais, os quais agem inteiramente por instinto. Será que ainda sabemos o que é? Temos tanto medo dele, vergonha quando nos deixamos levar. Talvez por isso o prazer sexual tenha sido tão condenado em todos os tempos, principalmente pelos pregadores da moral pelo fato da luxúria mais nos afastar da ideia de que somos imagem e semelhança de Deus.
Imagino que uma sensação de deleite parecida com a minha deva ter-lhe acometido, ainda mais que o coração dela pulsava de impaciência. Sei disso porque, quando meus lábios tocaram-lhe o mamilo, um calafrio ou coisa parecida trespassou-lhe o corpo. Ela então aspirou um gemido, a mais pura expressão de prazer a escapar-lhe. Foi uma sensação nova, desconhecida, nunca experimentada – pelo menos com tamanha intensidade –; uma sensação tão forte e avassaladora como se ali houvesse uma chama prisioneira, ansiosa por fugir, a qual lhe quebrou qualquer resistência que ainda pudesse existir. E se ainda lhe houvesse um pingo de razão, de força para dizer “Não! Pare!” eu me teria dado conta disso; mas não havia. Aliás, eu não sentia outra coisa que não fosse o desejo de seguir em frente, de ir até as últimas consequências.
Após sentir, experimentar e sorver o suprassumo daquelas primeiras sensações, lembrei-me de acabar de retirar-lhe a blusinha. Para que deixá-la ali? Já não servia mais para cobrir-lhe os seios. Não passava de um estorvo, nada mais. Assim, peguei-a pelas bordas e a puxei para cima. Ana Carla estendeu os braços e então a peça de roupa foi parar em algum canto da sala.
Agora, vendo-a semidesnuda, senti necessidade de ter aqueles quentes e rijos seios em meus peitos; por isso retesei o tronco e arranquei de forma desesperada a camiseta. Esta também voou pela sala, como se alguém brincasse de atirar coisas a ermo. Ah!, caro leitor, não se pode imaginar a sensação deleitosa que experimentei ao tê-la tão submissa em meus braços! Por mais que o amigo tenha o dom da divagação, ainda sim estará aquém de compreender-me. Pois nem mesmo eu pude acreditar que experimentava algo tão intenso assim. Tudo me parecia novo, como se fizesse aquilo pela primeira vez.
O fogo continuava a consumir-me as entranhas, mas eu não queria ser apressado demais. Que me incinerasse e me consumisse por completo, até a alma, onde não restasse mais nenhum vestígio. Ainda sim não teria pressa. Queria saborear aquele momento como se fosse o único, o que não deixava de ser verdadeiro. Era como experimentar uma iguaria ciente de que talvez jamais se vá experimentá-lo novamente; então se vai querer degustá-lo aos poucos, pedacinho por pedacinho, para sentir-lhe o mais saboroso néctar -- aliás, com fizera com Ana Paula, embora naquela oportunidade tenha deixado o controle da situação escapar-me entre os dedos. Agora porém isso não haveria de acontecer pois no fundo sabia desde o momento em que vi Ana Carla que se a tivesse não teria outra igual. Não queria fazer tudo correndo, como se a estuprasse, como fiz com Rosemeire cujo desejo era tão somente em arrancar-lhe a roupa e manchar sua pureza no menor tempo possível, pois tratava-se de um ser tão desprezível que estuprá-la era prestar-lhe um favor.
Mas não vá pensar que estava eu sendo de todo egoísta. Preocupava sim, em primeiro lugar, com o meu próprio prazer, em levá-lo às últimas consequências. Todavia, eu também queria que, de alguma forma, aquele momento fosse mágico, magnífico, prazeroso e inesquecível para Ana Carla. Não desejava fazer-lhe o mesmo que fizera com Silmara, a filha mais jovem da faxineira, onde propositalmente não lhe dei prazer algum. E apesar de estar prestes a possuir uma jovem de 14 anos – coisa inédito até então e o que poderia ser um incentivo a mais para não me preocupar com ela, pois certamente não a veria outra vez – e querer-lhe tão somente a jovialidade e a pureza do sexo havia o cuidado em não lhe frustrar, em não lhe passar a percepção de que sexo é tão somente o prazer masculino, como ainda o é em muitos povos, onde meninas são até mutiladas com a extirpação do clitóris para evitar que sintam prazer. No íntimo, embora não soubesse os motivos, queria compartilhar com ela aquelas sensações, com se o fato de ser tão jovem aumentava a minha responsabilidade. Seriam sensações diferentes na verdade; mas sensações mágicas. E estava disposto a fazer de tudo para que ela pudesse pelo menos sentir parte do deleite que estava sentindo.
Sim, querido leitor! Isso pode lhe parecer estranho, mas era a pura verdade. No começo, quando a conheci, eu pensava apenas em mim, em satisfazer exclusivamente meus caprichos, como se Ana Carla fosse uma ponte para um prazer ainda maior, como se ela não possuísse sentimentos e desejos. Isso porém, à medida que fui me envolvendo, foi mudando; aliás, só me dei conta disso naquele domingo, quando o desejo e as sensações confundiram-se com os sentimentos. Eu ainda pensava mais em satisfazer meus desejos, meus impulsos sexuais, do que nos males que poderia causar-lhe; contudo, pelo menos naquele momento ímpar, eu queria dividir com ela as sensações oriundas de nossa longa (e inédita para ela) viagem ao universo do prazer.
Levantei por uns instantes para contemplá-la à distância, feito o artista que, ao terminar uma obra, afasta-se a fim de vê-la como um todo e assim poder apreciar-lhe toda a beleza, beleza que só a uma certa distância pode ser vista. Queria olhar e ver aquele corpo seminu, coberto somente com aquela minissaia tão curta que parecia ter se encolhido ao lavar. Meus atentos olhos não só admiraram aquelas coxas como também foram descaindo lentamente até a sandália preta em seus pequeninos pés. Sandálias essas que por um motivo inexplicável chamou-me deveras a atenção.
-- Você está com medo? – arrisquei a perguntar.
-- Um pouco – respondeu Ana Carla com os olhos fixos no meus.
-- Não precisa ficar. Na primeira vez é assim mesmo. Eu também já passei por isso, por isso sei como é – quis confortá-la, dizer-lhe algo capaz de diminuir-lhe a tensão. – Você vai ver! Depois vai até achar engraçado de ter ficado com tanto receio em fazer uma coisa tão gostosa e que todo mundo faz.
Ela consentiu com um sorriso. Percebi que foi um sorriso forçado, mas não dei importância. Era uma flor que fora levada a desabrochar e não tinha mais como recuar. Precisava seguir adiante, ir até o fim, sem demonstrar medo, pois qualquer sinal de insegurança poderia fazê-la recuar.
-- Você também está com muita vontade de fazer isso, não está?
-- Hum, hum.. – balbuciou ela, meneando a cabeça afirmativamente.
Talvez ela tenha concordado apenas para me agradar, para ser gentil. Contudo se esta foi sua intenção é preciso concordar que conseguiu. Não só me agradou como me deu a certeza de que o momento tão esperado havia finalmente chegado. Podia levá-la para a cama, despi-la e possuí-la que não imploraria para parar, como fez a Silmara, Daniela e tantas outras, cuja recusa só me deu mais forças para seguir em frente.
-- Então não tenha medo – falei. – Vai ser muito gostoso. – Levantei e peguei em sua mão. – Então venha cá.
Ela levantou e fomos para o meu quarto.