domingo, 20 de dezembro de 2009

A LEVEZA DA DANÇA


A ideia deste poema ocorreu-me após assistir a apresentação de ballet. Apolo, o deus da luz, das artes, da dança, da beleza, do equilíbrio e da razão. E o meu contato com esse deus vem da filosofia Nietzschiana, onde Apolo é o símbolo da ordem, medida, proporção, forma em contraste com Dionísio, que simboliza a natureza, o excesso e o irracional. Nessa época, há mais ou menos 4 anos, também estava lendo “O nascimento da Tragédia” do filósofo alemão, o que deve ter influenciado na composição do poema.

 


Apolo, tu que presenteastes aos homens
A sonoridade da música e da poesia
Também nos deu a leveza da dança
Para que de tédio não morramos um dia.


Graças a ti, Ó deus de todo entusiasmo!
Os gestos da dança nos dão prazer
E os movimentos cheios de compassos
Sonhos em realidade se fazem converter.


O que seria de nós -- pobres mortais --,
Se na arte da dança não fosse possível
Representar nossos sonhos e muito mais?
Ah! O mundo seria tão sombrio e horrível!


A dança nos provoca alegria e emoção,
E nos faz sentir como deuses sobre o tablado
E até nos arrancar lágrimas do coração
Tal qual frases de jovens enamorados.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

TODA VEZ QUE VOCÊ VAI EMBORA


Eu sinto que estou diferente
E não tenho a mesma emoção
Quando tento viver intensamente
Uma nova e ardente paixão.

Tento encontrar uma explicação
Para estar me sentindo assim
E descubro que é essa desilusão
Que eu sinto por você enfim.

Toda vez que você parte assim
Tão de repente da minha vida
Você leva um pedaço de mim
E deixa uma enorme ferida.

Por que fazes isso comigo, querida?
Nunca te amei o bastante?
Por que foges da minha vida,
Se tu sabes que te amo eternamente?

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

A MENINA DO ÔNIBUS - Capítulo 2/1

Ao iniciar este segundo capítulo, ainda continuo na dúvida – dúvida essa a me ocupar há dias e a qual me fez interromper a narrativa. Devo ou não acrescentar as partes referentes ao diário? Ana Carla o escreveu provavelmente para si só, como um segredo que a gente conta para uma pessoa e pede para esta não o revelar para quem quer que seja; aliás, nem a mim deixou escapar algo sobre esse diário, tanto que eu jamais desconfiei de tais apontamentos. Sendo assim não estaria eu agindo de má fé ao torná-lo público? Não estaria eu me aproveitando, já que este veio parar em minhas mãos, e querendo me justificar com suas palavras, uma vez que estas me são por demais favoráveis?
Não, não, amigo leitor! Quanto a isso pode ficar despreocupado. Se esta fosse minha intenção, ser-me-ia bem mais fácil dar a versão dos fatos de forma a favorecer-me, embora por prudência nunca deveria a gente falar de si mesmo, pois esse é um tema em que seguramente a nossa visão e a alheia não coincidem nunca. No entanto, tal coisa jamais me passou pela cabeça. Quero tão somente narrar os fatos da forma que aconteceram, sem medo do julgamento que você, amigo leitor, certamente fará. Aliás, este é outro motivo a pesar na minha decisão: acrescentá-lo permitiria mostrar-vos a versão dela dos fatos, a forma como encarava os desafios e as descobertas.
Embora esta dúvida me tenha ocupado por alguns dias, outra porém não me sai da cabeça desde o dia em que recebi o diário. Em que momento ela realmente tomou a decisão de escrevê-lo?
Eu sei que jamais vou sabê-lo, pois só ela poderia me esclarecer esse desatino, essas suposições e dar uma resposta definitiva. Aliás essa incerteza vou carregá-la comigo para o túmulo, para a eternidade; não só eu como você também, amigo leitor. Lamento informá-lo que nas páginas que se seguem essa pergunta ficará sem resposta, pois através do diário não há a menor indicação disso. Nem mesmo o dia em que ela o iniciou pode ser usada como base para se chegar ao momento exato, uma vez que nada indique que o tenha iniciado nessa mesma data. Se o fez então é de se imaginar que dispunha de um caderno em casa ou então o comprara naquele mesmo dia. É de se admitir que a primeira hipótese não me parece plausível. Pois é sabido que normalmente não se compra um caderno desnecessariamente e depois o guarda por muito tempo, e principalmente em se tratando uma jovem. Mesmo não precisando dele, arrumará o mais rápido possível algo para preenchê-lo pelo simples prazer de usá-lo. E isso me parece ainda mais estranho por ser final do ano letivo. Ana Carla não o comprou para usar na escola, para substituir o que perdera. Ela não o compraria quando estava para entrar de férias, portanto só poderia ser por outra finalidade. Talvez ela o tenha comprado alguns dias antes, mas para quê? E por que não o usou?
Mas supondo que o comprara naquele dia. Talvez, ao nos despedirmos naquele final de tarde, tenha passado numa papelaria ou bazar perto de casa e o adquirido para registrar suas memórias, embora um diário teria mais sentido nesse caso. Bem, supondo que assim ocorrera, o leitor talvez se pergunte por que ela o iniciou se até então não havia nenhuma indicação de um começo de relacionamento? É verdade. Também eu não consigo entender. Quando se lê suas confissões daquela noite, fica evidente que até então a possibilidade de algo entre mim e ela parecia um completo absurdo. Aliás, quanto a isso também eu tinha consciência. E esperava conquistá-la aos poucos, de forma dificultosa, como numa partida de xadrez, da mesma forma que fiz com a Isoldinha. Todavia, lendo suas anotações nos dias subsequentes, percebo que as coisas eram bem mais fáceis do que eu supunha. No fundo, vi dificuldades demais, como se em nossa diferença de idade houvesse um abismo quase intransponível, o que a bem da verdade acabou não sendo assim.
Se por um lado o porquê de ter iniciado o diário naquele dia jamais será esclarecido, por outro suas palavras ajudam em muito a entender o que ela pensava acerca de seus sentimentos para com um homem da minha idade, a forma como ela encarava suas primeiras experiências sexuais, e principalmente, como esse relacionamento a afetava no seu dia a dia. Não querendo pôr o carro à frente dos bois, amigo leitor, posso adiantar mais uma vez que quanto a isso está bem claro em seu diário. E não só uma mudança de comportamento, como também um rápido amadurecimento. Aliás, foi esse o detalhe determinante para que finalmente tomasse a decisão de inclui-lo nessas minhas memórias. De forma que não vou privá-lo mais, leitor, da curiosidade em saber como ela iniciara o seu diário. Assim, deixemos que suas palavras prossigam.

Quinta-feira, 18 de novembro.
Estou usando a pulseira que ele me deu. Acho que ele está gostando de mim. Pena que é tão velho. Tem o dobro da minha idade. Não é esquisito? Vão até pensar que sou filha dele!
Eu também senti alguma coisa quando ele me abraçou e me beijou no pescoço perto da orelha. Fiquei até um pouco envergonhada, mas acho que ele nem percebeu.
Será que ele quer namorar comigo? Meu Deus! Eu não posso namorar um homem daquela idade. Eh! Ele até que é bonito, não deixa de ser um gato! Tem umas mãos grandes e bonitas. Senti até arrepios quando os dedos dele ficaram passando de leve na minha nuca. Mas ele é muito velho! Não podia ter uns dez anos a menos?
E aquele beijinho? Será que foi um acidente ou ele quis me dar um beijo na boca? Foi estranho. Não quero ficar pensando nele, mas não consigo. Acho melhor eu dormir e esperar para ver o que vai acontecer...


Sexta-feira, 19 de novembro.
Cedo.
Dormi pensando nele ontem. Agora estou com vontade de falar com ele. Mas sou uma boba mesmo! Ficar pensando coisas que não tenho certeza. Não sei se ligo para ele mais tarde ou não... Ah, também não tem nada demais! Não estamos fazendo nada de errado mesmo! Só quero falar com ele, ser gentil por ter me dado essa pulseira e perguntar se está tudo bem. Linda ela! Como ele tem bom gosto!


Noite.
Não resisti e liguei para ele hoje. Só queria falar um “oi!”, mais nada. Mas aí ficamentos conversando um tempão ao telefone, não resisti e convidei ele para sair comigo.
Que idiota fui! Convidar ele para sair? Meu deus! Agora estou com medo. Arrependida. Bem feito! Será que fiz bem? Será que estou fazendo algo errado? Também por que ele foi aparecer assim do nada? Eu não pedi para ele falar comigo no ônibus, não pedi para ele ficar passando aqui na rua, e nem para conversar comigo na frente da minha casa.
E por que eu fui aceitar esta pulseira? Meu Deus! E se minha mãe descobre o que está acontecendo? Estou ferrada, isso sim! Vou ter que esconder ela também.
Aconteceu uma coisa esquisita comigo hoje: quando eu fui tomar banho e estava debaixo do chuveiro pensando nele, senti um calor percorrer o meu corpo. De repente, eu comecei a pensar nele beijando o meu pescoço e suas mãos percorrendo pelo meu corpo. Fiquei sem saber o que fazer. Foi muito estranho! Será que é por causa dele, da forma como ele me toca?
Nem vi que estava demorando no banho. Levei o maior susto quando a minha mãe bateu na porta dizendo para eu sair logo.
Meu Deus! Este homem está mexendo com a minha cabeça... Será que estou gostando dele?


domingo, 6 de dezembro de 2009

AMOR DE FASES

Todo poeta tem os seus poemas preferidos. E nem sempre é aquele com o qual o público se identifica. Um desses poemas é este abaixo que, apesar de não ser muito popular, é um daqueles que tenho orgulho de tê-lo escrito.

Eu amo a tua grande beleza
A tua juventude, a tua delicadeza,
A tua total falta de malícia
E a brandura de tuas carícias.

Eu amo o teu desabrochar,
A maneira de sorrir e de falar
A tua pressa, a tua impaciência
Tão comum na adolescência.

Eu amo tudo que tu fazes;
Ou melhor, o que não fazes,
Pois deixa tudo para depois.

Eu te amo como tu és, pois
Muito feliz tu me fazes
Vivendo esse amor de fases.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

SER ADOLESCENTE É...

Ser adolescente é...
Acordar todos os dias tarde
E ainda achar que dormiu pouco;
Ficar horas com amigos ao telefone
E ainda chatear-se quando a mãe reclama;
Deixar seu quarto todo bagunçado
E dizer que não o arrumou por falta de tempo;
Achar que o mundo gira em torno de si
E não o contrário...


Mas ser adolescente também é...
Querer resolver os problemas do mundo,
Lutar contra as injustiças sociais,
Fazer loucuras pelo seu ídolo,
Amar da forma mais intensa possível,
Estar rodeado de amigos,
Ser espontâneo e explosivo...


Ser adolescente é tudo isso e muito mais..

terça-feira, 24 de novembro de 2009

A MENINA DO ÔNIBUS - Capítulo I/3

Mentira-lhe e agora teria que arrumar alguma coisa para comprar. Mas o quê? Não tinha noção do que lhe presentear. Sabia ser necessário algo que a encantasse, a deslumbrasse, tocasse-lhe à alma e provocasse-lhe as mais diversas emoções. Precisava ser algo que a cegasse diante da nossa diferença de idade – embora ainda não fizesse ideia de sua idade, suspeitava que fosse mais nova do que pensara antes – e ao mesmo tempo abrisse seus olhos para mim. O problema era: o que poderia causar-lhe tal efeito? “Um perfume! Não, não causaria o impacto de que preciso. Funcionou com a Tatiana, mas com a Mônica não deu muito cero. Vi a cara que ela fez. Decepção. Cara de quem não gostou. Foi difícil contornar. Um erro. Devia ter notado que ela não usava perfume. E Ana Carla? Será que usa? A maioria das jovens gostam de se perfumar. Atraem pelo cheiro. Mas ainda não a vi usando. Melhor não arriscar. Melhor pensar noutra coisa...”, disse para mim mesmo.
Quase não dormi com essa dúvida na cabeça. Lá pelas tantas da madrugada finalmente cheguei a uma conclusão: haveria que ser algo discreto e ao mesmo tempo belo, algo que ela não haveria de ter, mas que toda mulher se sentisse seduzida ao recebê-lo, e principalmente algo que ela poderia levar para qualquer lugar, onde quisesse, pois dessa forma a imagem do objeto a faria lembrar-se de mim. Assim, resolvi comprar-lhe uma pulseira de ouro.
Aproveitei o intervalo do almoço no dia seguinte para tentar encontrar uma que fosse a cara dela, uma pulseira que a seduzisse de tal forma a cegá-la para todos os meus defeitos e ao mesmo tempo a deixasse tão vulnerável às minhas investidas que eu não encontraria resistência, por mais que fosse uma jovem de pudor. Passei no banco, retirei dinheiro no caixa eletrônico e fui à Santos. Embora houvessem uma ou outra relojoaria no Guarujá, tinha em mente que em Santos encontraria uma maior variedade de modelos, peças mais sofisticadas e preço mais em conta.
Talvez o leitor se pergunte: mas para que tanto trabalho? Quando se trata de um presente – e ainda mais de uma joia – o presenteado não vai se importar se é uma peça mais sofisticada ou menos; até porque no caso da Ana Carla, ela não saberia fazer essa distinção. O leitor provavelmente terá toda a razão. Eu sabia perfeitamente que Ana Carla se contentaria com uma pulseira simples. A questão não era ela e sim eu. A um homem de gosto refinado não se pode permitir a compra de uma peça qualquer, algo vulgar. É como pagar por uma pintura barata, de um artista sem talento e pendurá-la na parede do escritório apenas para agradar aos olhos dos visitantes, ciente de que não saberão distinguir uma obra de arte. Mas quando se sabe distingui-la, o tosco incomoda as vistas. Como poderia olhar para Ana Carla, para seu braço e ver uma joiazinha qualquer? Não, de forma alguma! A uma peça rara outra igual.
Com muito custo, depois de muito olhar e ponderar, acabei encontrando-a. Tratava-se de um exemplar encantador, uma pulseira bem fininha, com detalhes trabalhados. Aliás, eram esses detalhes que a torava especial. Comprei-a. E aproveitei que estava ali e comprei roupas novas – embora meu guarda-roupa estivesse repleto de camisas, calças, meias e sapatos usados uma ou duas vezes -- para me encontrar com ela. Queria que tudo fosse novo.
Voltei à empresa. Ainda havia uma reunião com dois clientes acerca de investimentos para automação de uma rede varejista que estava expandindo suas atividades no Guarujá. Embora não fosse o responsável pelo contrato da firma, era quem deveria decidir quais os melhores equipamentos e software para suprir-lhe as necessidades.
Ana Carla me ligou por volta de dezesseis horas. Disse-lhe que não lhe poderia falar naquele instante, mas lhe comprara o presente. Aliás, adiantei-lhe isto apenas com o intuito de aguçar-lhe a curiosidade. Sabia de antemão que qualquer pessoa, principalmente uma jovem feito ela, ficaria morrendo de vontade em saber o que havia lhe comprado, pois é nessa idade onde nos sentimos mais curiosos, mais ávidos por respostas as nossas indagações. Até porque a curiosidade é algo que faz parte de qualquer animal, princialmente do ser humano. E é justamente esse impulso quem na mais das vezes leva às grades descobertas, descobertas essas capazes de mudar mundo. E foi justamente a curiosidade que a levou a perguntar:
-- O que que você comprou?
-- É surpresa. Não posso falar.
Ela insistiu, mas eu disse que não falaria nem sob tortura. Então lhe pedi para me ligar por volta de dezessete horas, quando eu estaria livre, para combinarmos como e onde lho entregar.
Mais uma artimanha. Queria ver se me telefonaria no horário combinado. Se o fizesse, era mais um indicativo de estar no caminho certo.
Ah, amigo leitor! Não penses que não aguardei seu telefonema ansiosamente; aliás, de uma forma um tanto fora do comum. Tenho de admitir que meu desempenho no trabalho fora afetado. Houve um desprendimento, uma falta de concentração que não passou despercebido aos colegas de trabalho. Houve inclusive uma pergunta: se estava tudo bem comigo, se não estava com algum problema, a qual respondi de forma lacônica, mas dando a entender não ter nada de errado. E, embora a hora me tenha dificultado as coisas, finalmente o momento chegou.
Ligou-me prontamente no horário. Conversamos por alguns minutos. Sugeri nos encontrarmos numa praça ali perto de sua casa ao invés da esquina como havia proposto. Ela concordou. Perguntei se não haveria problema de sair sozinha.
-- Não, claro que não. Falo para minha mãe que vou na casa da Marcela.
Então, marcamos o encontro para dezoito horas.
Foi um encontro extremamente produtivo. Eu estava tão bem vestido e perfumado como nunca estivera em toda a minha vida. Bem talvez isso seja um exagero, pois toda vez em que ia a um novo encontro estava impecavelmente vestido, de forma que estar “tão bem vestido e perfumado como nunca” fosse uma impressão de momento. Ela também se produzira para a ocasião. Usava uma mini-blusa decotada branca e uma minissaia jeans. Aliás, como tantas de sua idade, sentem prazer em mostrar as pernas e ao mesmo tempo ocultar o que há acima delas, como se dissessem inconscientemente: “Veja isso! Se isso é bom, imaginem o que não podem ver!”. E assim são capazes de seduzir o mais inseduzível dos homens. Quando lhe dei três beijinhos na face, percebi o quanto ela estava cheirosa. "Ela se arrumou para mim...", conclui. E como não chegar a tal conclusão? Todas não fazem isso? E, apesar de não se tratar de um encontro amoroso, era evidente que tencionava causar-me boa impressão; talvez para não se parecer uma qualquer, pois haveria de saber que aquele rapaz era alguém cujo mundo não tinha nada com o seu.
Ela estava ansiosíssima em saber qual era a surpresa, pois mal disse um “oi” e já foi perguntando por ela. Poderia ter mantido o suspense por mais alguns instantes e agido com uma certa perversidade, todavia não queria deixá-la naquele estado, por isso levei a mão ao bolso e retirei a pequena caixa envolta num papel prateado, sobre o qual cruzava um laço e uma pequena rosa vermelha, e entreguei-lhe a joia. Aliás, diga-se de passagem, também eu era consumido pela curiosidade, pelo desejo de saber como ela reagiria, qual lhe seria a expressão da face, o movimento das mãos, o som que fatalmente deixaria escapar de seus lábios vermelhos, o brilho de seus negros olhos. Vi o quanto ficou encantada e admirada com o presente. Seus olhos brilhavam intensamente e, apesar do meu estado de afetação, percebi que ela também ficara afetada, embaraçada e meio que sem saber como agir. Não restava a menor dúvida de que eu lhe causara a melhor das impressões.
Ah, querido leitor! Talvez você ainda não tenha percebido, mas são nesses instantes, nos instantes de extrema felicidade ou dor, onde as pessoas ficam mais vulneráveis. Nesses momentos, a pessoa está num estado em que seu cérebro não consegue enxergar o perigo diante dos olhos; pois a absorção faz com que este pareça coisa distante. Sabendo disso, eu dei o passo decisivo para conquistá-la.
Primeiro, perguntei-lhe se poderia colocar-lhe a pulseira. Sabia que concordaria. Que mulher negaria um pedido desses? Ela estendeu o braço e a coloquei. Em seguida peguei em sua mão e lhe perguntei se havia ficado bonito. Deslumbrada por uma onda de alegria, com um sorriso a ir dum canto a outro, respondeu:
-- Lindo, adorei!
-- E com ela você ficou ainda mais bonita – arrisquei.
Ana Carla deixou escapar outro sorriso, embora um tanto comedido.
-- E eu, não mereço um abraço por isso?
Meneando a cabeça, ela abriu os braços. Tomei-a nos braços e foi um abraço apertado e maravilhoso. Enquanto a abraçava, beijei-lhe a face e o pescoço, afaguei seus cabelos e alisei cuidadosamente, de forma bem leve e suave, com as pontas dos dedos, sua nuca. Disse-lhe também que me sentia muito feliz em estar recebendo todo aquele carinho. E sabe o que ela me respondeu?
-- Eu também.
Era tudo que eu necessitava ouvir para pensar nos próximos passos. Não restavam dúvidas. Como todas as outras, por falta de experiência, caíra na armadilha. Custou-me mais e deu-me mais trabalho, entretanto quanto mais trabalhoso a busca, maior a recompensa, diz o ditado popular.
Senti-la em meus braços me causou uma grande exaltação; quase não me contive. Não foi nada fácil me conter naquele instante para não fazer algum gesto que pudesse assustá-la e jogar tudo por terra. Minhas mãos comichavam de tão ávidas em querer tocá-la por sobre a blusinha decotada. Aqueles seios ali tão próximos e não poder tocá-los? A imagem deles desnudos reviravam em minha mente como que se realmente Ana Carla estivesse seminua. Um desejo ardente, sufocante e desmedido tomara conta de mim. Precisava fazer um esforço quase sobre-humano para manter o autocontrole. Havia perdido a espontaneidade e a naturalidade. Agia tão somente de forma calculada, como se seguisse um roteiro, para não atirar tudo ao vento. Eis a mais pura verdade.
Conversamos por mais alguns minutos. Minutos esses que passaram tão rápidos com se fossem segundos. Aliás, ela falou pouco de si. Parecia mais interessada em saber sobre mim, sobre o que eu fazia e coisas assim, coisas que eu fiz o possível para responder-lhe de forma a corresponder suas expectativas, onde a mentira embora com moderação foi uma grande aliada. Queria ficar mais tempo com ela, todavia não podia prendê-la e deixá-la em situação embaraçosa com sua mãe, até porque era preciso deixá-la à vontade, para que não se sentisse presa. A liberdade, o ir e vir é algo importantíssimo na percepção dos jovens. E qualquer ato de tolhimento é capaz de provocar a mais negativa das reações. Por isso, quando me disse que precisava ir para casa, não titubeei: concordei de imediato. Acrescentei inclusive estar ficando tarde. Então eu lhe disse que gostaria de encontrá-la mais vezes e era para me ligar. Não estipulei nem a hora nem o dia para não pressioná-la; e também porque queria saber o quanto havia ficado impressionada. Quanto mais rápido me ligasse, tanto mais estava interessada em mim. Foi a conclusão que cheguei.
Despedirmos-nos com um apertado abraço. E tudo poderia ter terminado ali se ela não houvesse me presenteado com o toque suave dos lábios em minha face. E não foi um único beijo como o leitor há de supor. Foram três beijinhos, desses que damos ao cumprimentar ou despedir de um conhecido do sexo oposto. No entanto, o último foi parar em outro lugar. Não, não foi por culpada dela. Mais uma esperteza de minha parte. No momento em que ia dar-me o último beijo, como que sem querer, virei o rosto e nossos lábios se tocaram. Foi tão somente um toque meio desajeitado, de leve, uma fração de segundo para dizer a verdade; contudo, aquilo me deixou tão feliz e exultado que quase não dormi naquela noite, imaginado o aproximar rápido do momento em que teria sua pureza manchada enquanto sorvia o doce mel de sua inocência. E esses pensamentos, os quais provocaram-me um excitamento indomável, teimavam em não me abandonar, feito um estado febril que, mesmo após ingerir um analgésico, permanece irredutível. E numa atitude extrema, pois chega um momento em que o desespero leva-nos a esse tipo de atitude, corri até o banheiro – embora procurasse não fazer barulho para não acordar meus pais – e então me masturbei, tendo-a como fonte de minhas fantasias. Só então, livre de tais fantasias, pude retornar à cama e repousar calmamente a cabeça no travesseiro para que a paz e o silêncio da noite pudessem prolongar-me o calmo e cálido arfar da respiração.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

INOCÊNCIA PERDIDA


Eu não posso mais te roubar
A inocência perdida
Pois os anos se encarregaram
De torná-la esquecida

Mas ainda posso te roubar
O frescor da juventude
Que ainda conservas
Nesse corpo sem virtude

E posso ainda te roubar
A beleza que desabrocha
Com toda a intensidade
Nesse teu rosto de cabrocha

Mas por que roubar-te tudo isso
Se tu os ofereces para mim
Num desejo intenso e impreciso
Em insinuações sem fim?

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

A MENINA DO ÔNIBUS - Capítulo I/2

No dia seguinte por duas vezes cruzei aquela mesma rua. Foi a forma que encontrei de topar com ela sem levantar suspeitas. Da primeira vez, no entanto, não obtive sucesso; contudo, da segunda encontrei-a sentada no meio-fio conversando alegremente com a mesma amiga. Cheguei a pensar que talvez não fossem se lembrar de mim. Ao me aproximar para cumprimentá-las, deram-me um largo sorriso. Aliás, Ana Carla foi mais comedida, dando a impressão de tratar-se de uma menina reservada e tímida. Tanto que a outra adiantou-se:
-- Você por aqui de novo?
-- Um amigo está montando uma rede de computadores em sua casa e pediu-me para ajudá-lo. Mora na outra rua – menti-lhes. Aliás, a ideia de dizer-lhes que o suposto morador vivia na outra rua e não na mesma em que me ocorreu quase instintivamente, como uma forma de me proteger, pois talvez conhecessem todos os habitantes daquela rua o que talvez as levassem a me fazer perguntas, as quais eu não teria respostas. Assim, citar um morador de outra rua, sem especificar qual, as chances seriam menores. -- E aqui estou eu de novo.
Sei que estou sendo um pouco longo demais; talvez até um pouco maçante, mas eu queria tão somente mostrar como a visão daquela menina levou-me a perder a cabeça e a arriscar tudo por algo que estava condenado, desde o início, a um final infeliz. Não pensem que eu não tinha consciência disso; sabia muito bem onde estava me metendo. No entanto, quantas e quantas vezes fazemos conscientemente algo de “errado” por não sermos fortes o bastante para resistir à tentação? Aliás, no caso de Ana Carla, como não o ser? Ela era mais que uma tentação, algo além da razão, algo que só pode ser creditado a uma perda temporária da capacidade de ponderação. De uma forma que não sei explicar, tudo em mim convergia em sua direção. Meus pensamentos, outrora um lago, de um instante para outro fizeram-se mar, um mar revolto como numa tempestade.
Não foi por acaso que voltei àquela rua no outro dia, no outro e no outro. E voltaria tantas vezes quantas fossem necessário para vê-la e falar-lhe. Precisava lentamente ir adquirindo sua confiança e tornando-me íntimo. Sabia que só assim poderia conhecer seus hábitos, a vida que levava e até seus sonhos para então ter alguma chance de possui-la, já que naquele momento este me era o único objetivo. Sabia também que teria de me apresentar impecavelmente trajado e de forma mais jovial possível; por isso, mesmo nos dias de mais calor, eu não descuidava do guarda-roupa. Quando se trata de uma conquista, tanto para o homem quanto para a mulher, o guarda-roupa diz exatamente o que a pessoa é. Um traje fino, elegante e ao mesmo tempo discreto mostra o quanto de inteligente e comedido é aquele que o usa, enquanto que outro, mesmo com rupas mais finas mas sem combinar, pode perfeitamente demonstrar não só falta de inteligência como também tratar-se de uma pessoa tempestiva, capaz de cometer exageros até mesmo diante de todos. Embora provavelmente ela não soubesse disso, a elegância só haveria de me render frutos. De mais a mais, era preciso fazê-la despertar o interesse por mim; e malvestido é que não conseguiria mesmo. Até porque minhas chances não eram nada animadoras; aliás, mais fruto de um devaneio que de uma possibilidade real.
No terceiro dia encontrei-a caminhando sozinha pela rua. Disse-me estar indo à casa de uma amiga. Para estender a conversa, perguntei-lhe se era na casa da amiga que estava no ônibus. Ela disse que não.
-- É da Fernanda, uma colega da escola – explicou.
-- Já sei! Final de ano, provas. Vão estudar juntas?
Ela titubeou por alguns instantes. E por fim contou-me ter perdido o caderno e estava indo à casa da colega para pegar a matéria, pois teriam prova no outro dia.
Pensei em perguntar-lhe onde estudava, em qual série e período, mas fiquei receoso de parecer petulante, querer saber demais. Tudo tinha sua hora e no momento preciso essas perguntas seriam respondidas. Agora, o mais importante era criar um elo de ligação entre nós dois, um laço a nos mantermos unidos. Isso inclusive me ocupou por duas noites seguidas, onde não fiz outra coisa a não ser ficar na cama, com os olhos fixos no teto enquanto procurava um meio de dar um passo definitivo, um bote certeiro para não acontecer o que aconteceu com uma jovem cujo nome já não recordo mais, onde numa falha perdi a chance de seduzi-la. Aliás, tratava-se de uma estratégia bastante conhecida. Pensara por uma ou duas noites nos passos, nos possíveis erros e acertos, tal qual um estrategista que, na eminência de uma grande e decisiva batalha, tenta adivinhar cada passo do inimigo e assim na forma de neutralizá-lo. Talvez por isso meus planos vêm dando tão certo nos últimos anos. Exceto uma ou duas, quase todas acabaram se iludindo de alguma forma.
Assim, dei o primeiro passo.
Contei-lhe que no dia anterior estava passeando pelo Shopping e, ao parar diante de uma loja, vi uma coisa que me fez lembrar dela (aliás, esta desculpa não era nova. Surgiu por acaso alguns anos atras, quando após encontrar uma jovem caixa de supermercado, a imagem dela voltou-me à memória aso passar diante de uma perfumaria. Talvez o cheiro de algum perfume tenha sido a causa dessa lembrança, embora não me recordasse de que ela usasse algum. O fato é que acabei comprando-lhe um perfume, o que me rendeu momento de intenso prazer, pois Tatiana não era dessas mulheres que confundem amor com sexo. Saímos umas três ou quatro vezes até que não houve mais nada a buscar um no outro. E, sem ressentimentos, cada um de nós seguiu o seu caminho). Ela deu um sorriso e quis saber o que era. Não contei. Este era o meu plano: despertar-lhe a curiosidade, o interesse. Não é esse o traço marcante dos jovens nos anos de adolescência? Só lhe disse que não o comprei porque não sabia se ficaria bem comprar um presente para uma garota que não conhecia. Que desculpa!
-- Se você quiser dar não tem nenhum problema -- respondeu-me ela, demonstrando grande interesse.
“Pimba! Fisguei. Esta está quase lá”, pensei, quase dando pulos de alegria, o que me levou a procurar forças para manter a calma, a fim de não deixá-la perceber um certo exagero em minha afetação.
-- Então eu vou comprá-lo. Mas não vou te contar o que é – falei com um sorriso contido. -- Amanhã cedo, se arrumar um tempinho, eu dou um pulo lá e compro. Se não der eu vou à noite. -- Meu coração parecia querer saltar. Digo isso não no sentido de sentir algo por ela feito alguém fisgado pela flecha do amor, mas sim devido à alegria de estar mais uma vez obtendo sucesso na arte da sedução, mais precisamente ao seduzir uma jovem capaz de me proporcionar grandes momentos de prazer. Sabia que ali estava a oportunidade imperdível de cair nas graças dela. O menor erro, o menor descuido e tudo perder-se-ia para sempre. Aliás, o que difere os vencedores dos vencidos é justamente a força com que se agarra uma oportunidade. O vencedor nunca a deixa escapar, por mais que lhe pareça impossível. -- Só não sei como fazer para te dar. -- Quis testar o seu grau de cumplicidade. Ela evidentemente sugeriria alguma coisa, e era isso que eu precisava para dar o próximo passo, pois este dependia do que ela dissesse ou sugerisse.
-- A gente combina uma hora e você passa aqui, eu te espero e você me entrega.
-- É! Pode ser -- exclamei, tentando demonstrar indiferença.
Confesso ter ficado desapontado. Esperava algo mais ousado. Diante da sua casa, aos olhos de todo mundo? Não, não. Assim não daria certo. Era preciso um lugar afastado, onde houvesse privacidade, onde o perigo de seus pais ou um vizinho nos surpreender fosse se não de todo eliminado pelo menos reduzido à quase zero. De forma que me foi preciso agir rápido, propôr-lhe algo ao mesmo tempo ousado mas sem que ela pudesse negar. Assim, declarei-lhe que na sua casa não ficava bem porque seus pais poderiam interpretar mal aquele gesto.
-- Eu posso te esperar ali na esquina e você me entrega. Que tal? -- sugeriu.
-- Tá bom então.
Naquele instante tive certeza de que o peixe só não fora fisgado como estava em minhas mãos. Por isso prossegui:
-- Vou fazer melhor ainda. Vou te dar o número do meu celular e aí você me liga. Assim que eu o comprar, a gente combina o local -- propus, tentando manter o controle da situação enquanto a cercava, sem dar-lhe tempo para pensar no certo ou errado, pois quando se sugere muitas coisas de uma vez, o interlocutor fica perdido, confuso, sem saber ao certo o que responder. -- Não é melhor?
-- Hum.. rum... -- assentiu meneando a cabeça.
Peguei um pedaço de papel e anotei o meu nome e o número do telefone. Depois lho entreguei dizendo-lhe para não perdê-lo. Ela, com um sorriso, pois parecia bastante à vontade, disse-me que não o perderia por nada deste mundo.
Quase estendi o braço para tocá-la. Desejava desesperadamente sentir a maciez de sua tez; todavia, no momento em que comecei a erguê-lo, recuei. E temeroso em dar um passo em falso, pois se continuasse era o que acabaria acontecendo, como acontecera com Maria Paula onde a pressa pôs tudo a perder, despedi-me dizendo:
-- Tchau! Um beijo.
Ela por sua vez despediu-se apenas com “tchau”, como quem gosta de economizar palavras, embora eu suspeitasse que o meu “um beijo” tenha sido a causa desse comedimento. Ela pode ter se surpreendido e ficado sem jeito, o que seria muito natural. Eu não devia ter me apressado, dado um passo largo demais, pois é nessas horas que o apressado come cru. Mas estava feito. E que está feto não tem volta. O melhor era não cometer outro erro. Um erro pode ser remediado, mas dois é impossível.
Bem, deixemos os erros de lado por hora. Enquanto me afastava, era tomado por uma euforia desmedida. Dir-se-ia sofrer um acesso de bobeira. Tanto que, ao me deparar no meio da rua com uma vazia e esquecida latinha de cerveja, sai chutando-a, sem imaginar que quem me visse fazendo aquilo poderia achar que eu não batia bem das ideias. Talvez isso me haja escapado justamente porque meus pensamentos vislumbravam momentos inesquecíveis com Ana Carla. E embora se tratassem de devaneios, o meu quarto num final de tarde era o cenário para momentos de prazeres intensos, onde nossos corpos lutavam desesperadamente para alcançá-lo, como se ela, ao invés de uma jovem inexperiente, fosse na realidade uma mulher, cuja experiência poderia ser equiparada a de uma profissional do sexo.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

A MENINA DO ÔNIBUS - Capítulo I/1

Não raras vezes, as coisas acontecem sem que se tenha uma explicação. E vez ou outra, quando a temos, esta não é suficiente para elucidar nossas inquirições, o que acaba geando uma inquietação da qual não temos a menor idéia de como agir para pô-la a termo; uma inquietação que se torna obsessão e conseqüentemente um grave problema, levando a desfechos imprevisíveis, os quais na mais das vezes a um final infeliz, cujas conseqüências poderiam ser evitadas se déssemos menos ouvidos ao coração. Pois foi algo assim que me veio acontecer.
Ainda não era verão, embora o rubro e ardente sol já salpicasse a pele dos banhistas que permaneciam na praia até mais tarde. Talvez por morar numa cidade rodeada de belas praias ou ter uma certa aversão aos raios solares, eu não sentia aquele fervor em freqüentá-la. Além de não dispor de tempo, não havia companhia, o que tornava a ida à praia desagradável e até solitária embora a praia talvez seja um dos locais onde haja mais pessoas por metro quadrado. E quando havia, muitas vezes preferia fazer outra coisa, ir a outro lugar onde não ficasse tão exposto a um público cujo mundo me parecia tão distante do meu. Às vezes porém abria uma exceção, mais com o intuito de contemplar aqueles corpos jovens, cheios de virilidade, aqueles traseiros redondos, aqueles seios grandes implorando para serem chupados (pois muitas jovens parecem fazer o possível para causar essa impressão nos homens), e quem sabe, encontrar uma boceta para atravessar a noite embebecido no vinho do prazer e esquecer os inevitáveis aborrecimentos do dia-a-dia. Porque se há uma coisa que o homem está em constante e incansável busca é do prazer, pois a meu ver está é a única forma de tornar a vida suportável, menos entediante. Queiramos ou não, é o prazer -- seja ele sexual ou não -- quem faz girar as engrenagens do mundo. Sem prazer a humanidade não mais existiria há séculos. Teriam todos se matado de tédio; aliás como vem acontecendo recentemente em alguns países desenvolvidos, onde a estabilidade social e econômica me parece fazer crescer o tédio, a sensação de que nada acontece.
É nos fins de semana que mais as encontramos. Muitas saem dos bairros mais afastados e, em pequenos bandos, tomam o ônibus até a orla. Por volta das 17:00 horas muitas retornam com seus corpos bronzeados, num tom avermelhado escuro, sem noção do mal que aquele excesso de sol faz-lhes à sensível pele.
Era um belo e ensolarado dia de novembro -- uma sexta-feira para ser mais exato --, quando tomei o ônibus do trabalho para a casa. O sol ainda mostrava a sua força embora passasse das dezoito horas. Aliás, estava desesperado para chegar em casa, tirar aquela roupa desconfortável -- vestia uma camisa de tergal com listras verticais brancas e azuis, uma calça jeans e calçava sapatos pretos --, tomar um banho, pois minha aparência, de fadiga e desânimo por ter de tomar um ônibus e viajar ao lado daquelas pessoas desagradáveis, não era de toda esplêndida, e então pegar um livro, sentar-se diante do ventilador e deixar as horas passarem, fluírem como as águas de um rio, uma vez que não há remédio melhor que o ócio para diluir a fadiga de um dia cansativo de trabalho.
Naquela sexta-feira por sorte haviam poucos passageiros, pois não há nada pior do que um ônibus lotado, com as pessoas esfregando-se umas nas outras feito porcos amontoados em chiqueiros; e quando finalmente se chega ao destino cheira-se a tudo, menos a si mesmo. É um horror! Há pessoas que parecem nunca terem tomado banho na vida. E há ainda aqueles que, para disfarçar o odor, banham-se com perfume barato, cujo cheiro enjoativo misturado ao próprio cheiro é capaz de provocar ânsias. Por isso, na mais das vezes, vou no meu próprio carro para o trabalho. Mas havia dois dias que este estava no conserto devido a um problema no motor.
Para dizer a verdade, nas poucas vezes em que tomara o ônibus, não me dei ao trabalho de reparar em quem entrava ou saia. Ninguém ali poderia me interessar e para ser franco achava que aquelas pessoas – a maioria oriunda das classes mais baixas da população – não estavam a minha altura. Assim, subia, pagava, passava pela catraca e ia sentar num banco desocupado, de preferência onde não houvesse ninguém. Mas se isso não era possível, procurava sentar ao lado de uma jovem. Os jovens são sempre mais limpos, perfumados, pois se preocupam mais com a aparência, talvez porque sentem mais necessidade de se parecerem belos, higiênicos e atraentes. Então aproveitava o trajeto, cuja distância era razoavelmente longa, para por as idéias em dia. E todos os dias, fazendo aquele mesmo percurso de carro ou ônibus, eu me perdia em pensamentos fúteis os quais não seria capaz de lembrar minutos depois, exatamente por se tratarem de futilidades, por ser uma forma de esvaziar a mente e deixar de lado as preocupações do dia-a-dia ao mesmo tempo que dá algum prazer ao ego, como num sonho embora permaneçamos acordados. Aliás, tenho de confessar que a futilidade é predominante nos devaneios humanos, não porque a maioria das pessoas comuns não sabe pensar em outras coisas que não seja em futilidades, mas devido ao fato de estas nos causar algum tipo de prazer.
Alguns pontos adiante, o ônibus começou a encher. Sei disso porque de tempos em tempos meneava a cabeça e fitava com indiferença aqueles passageiros, aquelas pessoas quase sempre mal humoradas, como se tivessem insatisfeitas com a vidinha insignificante que levam embora incapazes de fazer alguma coisa para melhorá-la e torná-la um fardo menos pesado.
Mas eis que ouço uma doce e meiga voz, feito uma voz de menina, se aproximar do outro lado do corredor. Era som encantador, feito a voz de uma sereia a adentrar-me aos ouvidos, provocando-me uma sensação de indizível prazer, uma sensação possivelmente mais intensa que aquela experimentada pelos tripulantes da nau de Ulisses. Os pensamentos desvaneceram-se como num passe de mágica, como se após ouvir baterem à porta no meio da noite se desperta do sono bem no meio de um sonho. Uma curiosidade inquietante apoderou-se de mim e, sem compreender o que se passava, pois algo semelhante jamais tinha me acontecido, girei a cabeça e, como que atraído por uma estanha força, lancei um prestante olhar àquela desconhecida, que num jogo de sedução mexia nos cabelos.
Gostaria de descrever com detalhes o que senti naquele instante, mas não sei como. Acredito tratar-se de uma sensação ímpar, indescritível, de uma sensação aguda, voluptuosa que me fez o sangue arrefecer-se nas veias, dando-me a perturbação deliciosa de uma vertigem; mas também foi um descontrole, um não saber o que fazer e o que pensar. Ah, querido leitor! Foi algo grandioso e mágico, um arrebatamento que só se experimenta uma única vez na vida. Dir-se-ia recompensado por ter de viajar ao lado daqueles seres tão desagradáveis e irrelevantes.
Como era ela? Não dava para saber. Estava de costas, embora nem fosse preciso estar de frente ou de perfil para que eu deduzisse sua beleza. Percebia-se tratar-se de uma adolescente de 15 a 17 anos, talvez mais. Tratava-se de uma jovem de cor parda, viçosa como as meninas nessa idade, e com as formas ainda meio que indefinidas. Calçava chinelos e vestia um shortinho vermelho, o qual não cobria totalmente as nádegas. Na parte superior do tronco viam-se amarradas duas tiras azuis, provavelmente pertencentes ao biquíni. Estava acompanhada por outra jovem aparentando a mesma idade. Quando ela virou a face para falar com a outra, pude delinear com mais clareza os contornos de seu rosto. Era simplesmente bela. Era um rosto redondo de olhos grandes e lábios carnudos. Dir-se-ia uma verdadeira e inigualável obra de arte, daquelas que só um gênio, no ápice da inspiração, é capaz de criar.
Mas como tamanha beleza poderia estar misturada a tanta falta de traços, num ônibus daquele, de subúrbio? Seria ela uma turista, alguém que o tomou por acaso? Não parecia pertencer ao mesmo mundo daquelas pessoas. Ou a voz daquela jovem havia me enfeitiçado, feito com que meus sentidos tornassem falhos, levando-me a ver miragens? O que teria-me causado isso?, foi a pergunta que eu deveria me ter feito.
Não sei ao certo o que nela me despertou aquelas sensações, pois não sou do tipo que reage de forma desmedida assim. Não sei se foi a parte inferior das nádegas ou o pedaço de pano ocultando o restante, combinando tão perfeitamente com sua pele jovial e lisa. Talvez fossem os traços, todos eles, que, ao criarem uma forma, esta se assemelhava às formas criadas pelos grandes mestres. Só sei que senti algo novo, desconhecido, mais intenso do que sentira por qualquer uma das mulheres com quem saíra em todos esses anos. Admirável! Singular! Arrebatador! Seriam essas as palavras que poderiam ser usadas por alguém que sabe admirar tamanha obra de arte? Realmente não sei. Mas para aqueles jardineiros que sabem identificar a mais perfeita rosa num roseiral, aquela era uma. Uma ninfeta! A mais sedutora que eu vira até então.
Em segundos, fui tomado pelo desejo de possui-la, de me apossar daquele corpo, como um objeto de desejo, como algo que de tão belo torna-se irresistível. Aliás, o desejo de posse é a primeira reação de qualquer ser humano diante de algo assim, embora desejamos não o objeto do desejo, mas a idéia que fazemos desse objeto. Pensamentos e reações agiram sobre meu corpo. Era como se ela tivesse o poder de afetar-me a alma e hipnotizá-la. Meus olhos não conseguiam se-lhe desviar, embora em nenhum momento o tenha tentado. Dir-se-ia que diante de tamanho fascínio os demais passageiros fossem como sombras, como se não existissem, como se estivessem e não estivessem ali ao mesmo tempo.
Enquanto o ônibus avançava de ponto em ponto, recolhendo e despejando mecanicamente passageiros, meus olhos mantinham-se-lhe fixos quase o tempo todo, captando cada movimento seu, cada palavra que dizia à amiga, cada sorriso, cada detalhe de seu corpo sedutor. Aliás, apesar da distância, quase podia-lhe sentir o perfume, o cheiro de sua tez bronzeada. E quanto mais eu a contemplava, novas sensações e reações se misturavam dentro de mim, levando-me a se perder em pensamentos, os quais me fariam corar se alguém os conhecessem, onde aquela jovem era a estrela. Procurava-lhe os mínimos detalhes para alimentar meus devaneios, para tornar aqueles pensamentos agradabilíssimos e intensos. Pois mesmo para aqueles que declaram que o que conta é a pureza do amor¸ ente um homem e uma mulher o instinto sexual é quem dita o tom. E em alguns, como no meu caso, o sexo, o vislumbramento do prazer sexual assume uma conotação ainda maior. Por isso, desde que me separei de Luciana, não consigo me aproximar de uma mulher sem antes calcular o quanto de prazer posso extrair-lhe.
Em dado momento, quando ela se virou para o lado, meus olhos agarraram-se-lhe os seios. Eram eles ainda pequenos, indescritivelmente encantadores. Encobertos pelo biquíni, despertavam-me uma curiosidade peculiar. Eu os imaginava o quão seriam rígidos, belos e delicados.
"Ah! Como eu gostaria de apertá-los entre meus dedos! Tê-los em meus lábios e morde-los!... Aposto que ela ia ficar. Bicos duros, todo arrepiado. Louca de tesão...", pensei enquanto o ônibus deixava a avenida principal e entrava numa das ruas transversais. "Ah, se eu pudesse tê-la para mim!... A gente numa cama de motel. Motel, motel não! Na minha. Nossa! Eu ia levá-la à loucura! Morder aqueles peitinhos lentamente... Ela ia gritar: ai. Não, gemer, suspirar: Aaaaiiii. Depois deitá-la nuazinha, arreganhar suas coxas. Que coxas! Olha só! E chupar sua xoxotinha até ela gemer de prazer... Talvez nem fizesse isso! Só me deitasse sobre ela e, escorregando no meio de suas pernas, fosse penetrando-a bem devagarinho e sentindo o gostinho da xoxotinha bem aperta dela. Assim não! Muito sem graça. Contemplar, olhar para aquela xoxotinha arreganhada. Flor desabrochada. Parece mesmo. Vermelho-escuro. Deve ser a cor dela. Uma rosa vermelho-escuro. E depois? Por trás. Ah, que prazer enorme! Ah, como seria delicioso sentir meus quadris batendo na bundinha dela!... Ah! Acho não ia agüentar. Caramba! Estou excitado! Nunca imaginei que poderia encontrar uma coisinha tão encantadora assim neste ônibus!... Ir lá, chegar mais perto. Ela não vai desconfiar. Esbarrar nela de leve. Peço desculpa. Ela ia me notar. Ah, ia sim. Não, sem pressa. Ela não vai descer agora. Deve morar em Vicente de Carvalho. Continua ali, despreocupada, indiferente. Deve estar dizendo algo engraçado. Rindo. A outra também.” Nisso, o ônibus parou por causa do trânsito, do grande fluxo de carros. Um passageiro começou a reclamar, embora parecesse falar consigo mesmo. Isso desviou minha atenção por alguns instantes. “Idiota! Eu querendo que demore e ele que vá depressa. Também, ele não tem porquê! Não mesmo! Se ele olhasse para ela e a desejasse como eu, não teria tanta pressa. Nem ia se preocupar com o trânsito. Virou. Ela virou em. Linda! Tenho de possuir ela. Possui-la é o mais correto. Mania que a gente tem de usar o pronome errado. Ela também usa. Aposto. Mas quem liga para isso? Quero aquele corpinho. Isso é o que importa. Quero que ela sinta meu peso, a força de meus quadris, a dureza do meu pau tirando o seu cabaço, seus olhos se contraindo, suas mãos me empurrando enquanto é deflorada. Não. Vou segurá-la pelos braços. Ela vai implorar para eu parar. Todas fazem isso. Ah, mas não paro. E vou gozar até acabarem as forças... Ah, que besteira a minha! Cada pensamento. Ninguém goza até perder as forças. O desejo, o prazer acaba antes”.
O trânsito continuava lento por causa do início de temporada. Outrora eu me irritava e ficava impaciente com isso, feito aquele passageiro que continuava a reclamar da lentidão, como se alguém fosse o culpado pela cidade estar cheia, mas sem chegar ao extremo de pensar alto. Esbravejaria calado. Agora porém só desejava que o ônibus demorasse o máximo possível, levasse uma eternidade até o meu ponto. Eu apenas queria continuar a apreciar aquela ninfeta, desejá-la, comê-la com os olhos como dizem por aí, e me perder em fantasias, uma vez que o homem tomado pelas chamas da volúpia é capaz de atingir um grau de imaginação jamais alcançado em qualquer outro momento, pois o excitamento sexual acaba excitando os demais órgãos, tornando-os mais aguçados, mais sensíveis ao ambiente.
"Qual será o nome dela? Onde mora? Virgem, será que é?... Ah, isso deve ser. Muitas meninas nessa idade ainda não experimentaram uma pica. Pica? Que palavra ela usaria para se referir ao meu pau? Pênis!? Não. Pinto talvez. Que nem aquela vadia com quem transei outro dia. Dezessete anos a cadela. Ela dizia 'teu pinto' de forma tão impessoal. Aquela outra já dizia 'Bilau'. Bilau. Que nome! E aquela filha da empregada? 'Godofredo'. Que apelido mais horrível! É capaz de fazer um homem brochar. Também, de uma pobre infeliz como aquela não se podia esperar muito mesmo. E depois ainda ficou pensando que eu queria alguma coisa com ela. Vadia! Nem para se pôr no seu lugar. Agora esta aí me parece mais delicada, mais sutil. Não usaria um nome desses. Ah, mas bem que eu gostaria de saber que nome daria... Mas o que adianta isso! Ela nunca vai querer nada comigo ou um homem assim como eu... Como posso pensar isso? No fundo não passa duma menina. Menina? Com aquele corpo? Duvido! Mas bem que algumas nessa idade já experimentaram coisas que até Deus duvida! Mas ela só deve se interessar por garotos de sua idade. Só deve pensar em beijinhos e nada mais. No máximo umas carícias íntimas". Meus pensamentos não paravam de fluir, assim como meus olhos teimavam em não se-lhe desviar. Vez ou outra, ela jogava a cabeça para trás sem ter verdadeira consciência de seus atos, talvez a fim de observar furtivamente os passageiros no ônibus. E inevitavelmente nossos olhares se encontraram de relance, embora provavelmente ela nem tenha se dado conta. Quando isso aconteceu, minha face abrasou, fiquei desconcertado e, por alguns instantes, movi os olhos para baixo meio que envergonhado, como se lhe fosse possível adivinhar meus pensamentos.
Mais eis que de repente as duas meninas se dirigiram à porta. Meu ponto ainda estava longe, então pensei: "Vou descer aqui e ver aonde ela vai... Não estou com pressa mesmo de ir para casa. Vai ser interessante segui-la, descobrir onde mora. Assim fica mais fácil de fazer um contato, ver se tenho alguma chance. Chance tenho. Não há mulher que não possa ser iludida, feita de idiota. Ainda mais uma adolescente, uma pobre coitada como essa. É presa fácil. Deve ser naquele ponto. É melhor me apressar. Não posso perder essa menina...". Levantei e me aproximei da porta para aguardar a parada do ônibus, então aproveitei a chance para iniciar uma conversa e assim tentar arrancar-lhes alguma coisa.
-- Que trânsito! Parecia que não chegaria nunca – falei.
A amiga fitou-me surpresa, pois deduziu que falara com elas. Dei-lhe um sorriso para mostrar empatia, uma forma de criar um laço, e um sorriso breve contraiu-lhe o rosto jovem. E antes que aquele primeiro contato pudesse esfriar e assim perder aquela oportunidade única, acrescentei:
-- Esse verão promete. Não acham?
Ela deu de ombros como quem não sabe o que responder. Nesse instante, o ônibus parou. Descemos.
-- É duro ter de andar nesses ônibus lotado, sem conforto algum. Ainda mais com uma roupa quente assim. Estou derretendo. Queria eu estar assim tão a vontade.
Foi a vez daquele encanto de gente fitar-me e sorrir. Mesmo que eu não quisesse não havia como não lho retribuir. Ela por sua vez, com um jeito tímido, envergonhado, desviou os olhos. E talvez para não demonstrar indelicadeza, respondeu:
-- Mas por que não usa uma roupa mais fresca?
-- Exigências do trabalho – expliquei de forma lacônica, com o intuito de aguçar-lhe a curiosidade. Pois assim seria inevitável uma indagação acerca do que eu fazia. E mesmo que essa pergunta não viesse, ainda sim teria a oportunidade de estender por mais alguns instantes a conversa, embora fosse capaz de apostar com quase cem porcento de chance que ela faria tal pergunta.
-- E o que você faz? -- adiantou-se a amiga.
Torci para que ela e não a amiga perguntasse, todavia melhor assim do que pergunta alguma.
. -- Sou especialista em segurança de computadores. Procuro falhas em sistemas que podem dar pane devido à virada do ano 2000 – expliquei. Cruzamos a ciclovia paralela à avenada e entramos numa rua transversal. -- Bug do milênio. Já ouviram falar? – De fato eu me formara em ciências da computação, contudo, não era bem esse o meu trabalho. Este foi apenas um pretexto para impressioná-las; pois, com a proximidade do ano 2000, possíveis falhas nos computadores nos primeiros dias do ano tornara-se assunto do cotidiano, o que aliás chegava a causar um certo pânico, temendo-se a paralisação de alguns serviços essenciais.
-- Mais ou menos – respondeu a jovem de biquíni azul e shorts vermelho, a jovem pela qual era preciso fazer um exagerado esforço para não deixar transparecer os meus olhares constantes, os quais eram inevitáveis, pois em quase todas as vezes nossos olhares se encontravam, embora de imediato os desviava para frente ou mesmo para a amiga.
Foi pouco depois que arrisquei perguntar-lhes os nomes. Como quem não quer nada, falei:
-- Desculpe-me. Nem me alembrei de me apresentar. Eu me chamo Demócrito. E vocês?
-- Marcela – disse a amiga.
-- E eu Ana Carla.
“Consegui! Ana Carla?! Que belo nome! Ana Carla. Um nome digno de uma coisinha gostosa assim. Não faz idéia, mas você ainda vai ser minha, Ana Carla. Ah, vai! Pode apostar. Ana Carla, Ana Carla, Ana Carla, quem diria”, pensei, quase não contendo o deleite, com uma vontade de repetir aquele nome uma infinidade de vezes.
Demos mais alguns passos e então elas pararam.
-- Vamos ficar por aqui -- disse Marcela.
-- Tchau -- Acrescentou Ana Carla.
Surpreso, pois não esperava que fossem parar ali, quase não consegui atinar algo para dizer-lhes. Contudo, prevenido como sou, não deveria retê-las procurando estender a conversa, pois aquele que não usa de prudência acaba quase sempre metendo os pés pelas mãos. Para que ir além se já obtivera bem mais que o esperado? Não, não; de posse de seus nomes, não me seria difícil encontrá-las.
-- Então tchau.
Segui adiante sem rumo, apenas com o intuito de ver qual direção tomariam. No entanto, após alguns passos, virei par trás e vi que atravessavam um portão de madeira, provavelmente da casa de uma delas.
“Pronto! Agora tenho o que preciso. Ela não me escapa mais. É tudo uma questão de tempo. Só preciso encontrar uma forma de cair nas graças dela e seduzi-la. Não vai ser difícil. Nunca é. Elas parecem ter prazer em ser iludidas, enganadas. Bem. Vou ter muito tempo para pensar nisso. Vou dobrar aqui e pegar o ônibus de volta. Linha 1”, pensei no meu íntimo.




sexta-feira, 23 de outubro de 2009

NÃO SE TERMINA UM AMOR

Não se termina um amor
Quando há muitos laços para desatar
Pois, ao rompê-los, a dor
É tão intensa que é capaz de matar

Não se termina um amor
Como se os sentimentos humanos
Fossem tão somente o calor
Dos nossos maiores desenganos

Não se termina um amor
Como se finda uma amizade
Pois no amante a dor
Leva-o a perder a noção da realidade

Mas se o amor chega ao fim
Não há porem como remediar
E o coração há de sofrer enfim
Mas também saberá se recuperar.



terça-feira, 13 de outubro de 2009

A MENINA DO ÔNIBUS - PREFÁCIO

Foi muito dolorosa a decisão de contar nossa história, tão dolorosa quanto arrancar uma flecha atravessada ao peito puxando-a lentamente, milímetro por milímetro até até que saísse toda deixando um imenso vácuo. E se não fosse por Ana Carla e por tudo que nos aconteceu eu jamais teria escrito uma única página, uma mísera linha; pois nada me dói tanto, nada me faz converter a dor em lágrimas, lágrimas que ao percorrerem o longo trecho se perdem no silêncio de meus trêmulos lábios deixando um rastro feito um rio de larvas, quanto as lembranças dos momentos que compartilhamos. Foi como se houvéssemos vividos naqueles poucos meses uma vida inteira. Aliás, nunca experimentei a vida nos seus mais variados e intensos extremos quanto naquelas poucas semanas entre o final de 1999 e início de 2000. E mesmo que a vida me fosse eterna, ainda sim aquele período ficará eternamente gravado em minhas lembranças. Lembranças essas a invadir-me amiúde, levando-me quase sempre ao desespero feito aquele que, após cometer um crime, arrepende-se profundamente de seu ato, tornando a lembrança do crime uma tortura sem fim, mais talvez que aquela sofrida por Raskolnikov. Foi como disse a Ana Carla certa vez: “Nem que passe a eternidade, vou me esquecer desses momentos, minha florzinha”. Pois é a mais pura verdade! Jamais vou conhecer alguém como ela e amá-lo quanto a amei, um amor infinitamente maior do que aquele que cheguei a sentir por Luciana. Ana Carla foi única, foi como atirar os olhos a um imenso roseiral, onde milhares de rosas estão a se desabrochar, e bem lá no fundo, onde os olhos já não alcançam mais, deparar com a rosa pela qual seria capaz de dedicar toda a atenção, agir como se naquele interminável jardim só ela existisse, como se todas as outras houvessem murchado e perdido a beleza, tornado-se opacas e sem valor.
A minha vida pode ser resumida entre o antes e o depois de Ana Carla. Tudo que vivemos, descobrimos, amamos e sofremos vai ficar registrado para sempre na minha memória e nessas páginas que você, querido leitor, terá a oportunidade de dividir comigo a partir de agora.
Talvez você esteja se perguntando por que tomei a iniciativa de contar nossa história. Talvez você até se pergunte por que não guardo somente para mim detalhes tão íntimos de nosso relacionamento, detalhes que vão me expôr, provocar indignação, ódio e revolta; pois o ser humano é um animal esquisito: não perdoa o semelhante não por seus atos condenáveis mas por tê-los deixado vir à publico, pois atos condenáveis não há quem não os tenha cometido. Respondo-te que estou fazendo isso como forma de homenagear a minha Ana Carla, aquela menina que viveu intensamente um amor proibido, experimentou coisas que muitas mulheres jamais experimentarão, embora tenham uma vida inteira para isso. Ao fazer esse relato, também é uma forma de manter vivo esses momentos que nos custaram tão caros, que de uma forma ou de outra marcou profundamente a vida de tantas pessoas.
Contar a nossa história porém só me foi possível por causa de um detalhe: Ana Carla escreveu um diário. Aliás, um longo e minucioso relato de nosso relacionamento. Eu jamais poderia imaginar que ela andava a escrevê-lo. Em nenhum momento, deixou-me escapar que narrava detalhes de nossos encontros. Confesso que fiquei extremamente surpreso quando este veio parar em minhas mãos. A princípio, não quis acreditar; mas, após deparar com sua letra naquele caderno não tive mais dúvidas.
Como este veio cair-me nas mãos? É algo que talvez o leitor esteja se perguntando. Pois não vou deixá-lo em suspense, pelo menos quanto a isso.
Fiquei surpreso quando recebi um telefonema, poucos dias depois de sair do hospital, de um garoto que se dizia irmão de Ana Carla. Fiquei surpreso, pois onde conseguira o meu telefone? Devia tê-lo perguntado, pois essa curiosidade de vez em vez fica martelando-me no cérebro. Ele declarava ter em mãos algo que pertencera à irmã e o qual gostaria de me entregar. Combinamos o local da entrega, contudo quem apareceu foi uma menina, uma colega de classe do irmão de Ana Carla. Quem eu esperava mandou dizer que não tinha raiva de mim, mas não queria me ver pessoalmente.
Após ler aquele caderno de aproximadamente duzentas folhas de forma voraz e incansável por longas horas, pude constatar muita coisa interessante, coisas que jaziam esquecidas em algum recanto de meu cérebro. Na medida do possível Ana Carla se manteve fiel aos fatos. Claro que se trata de um texto sem muito cuidado embora bem escrito, com alguns erros de português, o que é perdoável para uma menina de quatorze anos. Muitas vezes, por falta de vocabulário ou conhecimento, Ana Carla não soube se expressar corretamente; noutras houve uma ligeira distorção dos fatos, o que também é compreensível. Seria querer demais que uma menina de sua idade, sem experiência com relação ao sexo, soubesse falar e emitir juízos acerca do ato sexual.
Entretanto, tratava-se da prova mais autêntica de suas impressões, de suas experiências e de como os nossos atos a afetavam. Ana Carla narrou com detalhes alguns dos momentos que passamos juntos e expôs suas impressões em determinadas passagens. Tratar-se inegavelmente de um texto produzido por uma alma sensível, capaz de captar nuances que eu e quase totalidade dos mortais não seriam capazes sob as mesmas condições. Aliás, ao fazer essa narrativa, tenho receio – embora tenha todo o tempo do mundo para revisá-la e corrigi-la – de que esta não fique a altura de seu diário.
O que causou-me espanto num segundo momento foi o risco que corremos com a possibilidade desse diário ter caído em mãos erradas. Havíamos combinado que não escreveríamos nada um ao outro para que o nosso relacionamento não viesse à tona, pois se seus pais soubessem que a filha envolvera-se com um homem cuja idade era o dobro da sua, mandar-me-iam prender por corrupção de menores, atentado ao pudor ou algo parecido.
O que posso dizer é que se não fosse seu diário, eu não teria forças para contar nossa história. Quis fazer isso não só para dar a minha versão dos fatos, como também para mostrar que Ana Carla não mentiu em nenhum momento, nem mesmo naqueles em que parece estar se fantasiando.
Intercalar minha narrativa com o diário foi também a forma que encontrei para preencher as lacunas deixadas pelo mesmo; pois Ana Carla começou a escrevê-lo no mesmo dia em que a presenteei com a pulseira de ouro. E não havia como ela saber o que realmente se passou antes de começarmos a nos encontrar, assim como os fatos ocorridos no período em que estava com os pais na capital capixaba, fatos estes determinantes para o fim trágico do nosso relacionamento. Isso só eu poderia dizer; aliás, como também os fatos acontecidos em Ubatuba, uma vez que nada consta em seu diário, até porque não poderia mesmo conter. Ela, talvez temendo que eu o descobrisse e lhe pedisse para destruí-lo, não o levou consigo.
Antes de inciar a narrativa, quero apenas alertar o leitor que não estou preocupado com o julgamento que este fará de mim. Em nenhum momento deixei de omitir, mudar ou tornar menos chocantes fatos verdadeiros. Até porque cada pessoa julga o outro de acordo com a sua moral, e o que para um pode ser motivo de rubor para outro pode ser perfeitamente normal. Assim, a verdade pelo menos satisfará a todos.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

O AMOR QUANDO FINCA RAÍZES


Olho através da janela silenciosa o jardim triste e a rua deserta e com o coração gritante penso a cada instante onde você estará agora.
Sonho que o deserto da rua será ocupado com os teus passos,a tristeza do meu jardim alegrado com o teu sorriso e o silêncio que me oprime e quase me leva ao desespero seja quebrado com o som da campainha. Mas tudo talvez não passe de um sonho descabido, de uma forma de minimizar a minha dor ao acreditar que o impossível possa acontecer.
Você partiu com a certeza de nunca mais voltar, de apagar o nosso passado, como se este fosse rabiscos de giz na lousa da escola. Talvez todo esse tempo que vivemos lado a lado, onde amamos intensamente um ao outro nada te tenha significado, mas para mim são lembranças que não podem ser apagadas.
Talvez você não tenha compreendido que o amor, quando finca raízes, não pode ser arrancado, feito uma árvore na tempestade, sem destruir o terreno. Se a árvore que eu plantei no teu coração não criou raízes profundas, quiça ao penetrá-lo tenha encontrado uma rocha, impedindo-o de se firmar e assim ficar vulnerável a mais amena das tempestades. Saiba, no entanto, que a semente que você plantou no meu criou raízes tão profundas que, para ser derrubada, terá de abrir meu peito e arrancar o coração junto.
Mas por que estou eu te dizendo isso, se minhas palavras chocarão contra o mundo da indiferença em teu peito? Talvez fosse melhor nem lê-las, pois na incapacidade de compreender minha dor, possa, através destas palavras, rir-se de mim, vendo-me tão somente como um perfeito idiota. Mas se amar é tornar-se idiota, então dou mil vivas a todos os idiotas. Pois através da mais profunda dor sei que experimentei a paixão da forma mais profunda também e consequentemente sinto a vida no que ela tem de mais bom e ruim, agora infelizmente quanto á você talvez a vida seja tão somente uma viagem tão empolgante quanto a ida do trabalho para casa.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

O BRASILEIRO E A CULTURA


Eu não creio que Brasil possa se transformar numa grande nação da noite para o dia. Mesmo que o crescimento econômico seja rápido, isso gera riqueza, menos pobreza, maior qualidade de vida e contribui sim para o desenvolvimento de um país. No entanto, a cultura não se adquire na mesma velocidade das conquistas sociais e econômicas. É preciso gerações e gerações até que um povo atinja um nível cultural razoável. Agora, do jeito que o sistema educacional brasileiro anda atualmente, nem em 200 anos vai se conseguir formar uma sociedade onde cultura seja digna de país de primeiro mundo. O problema não é tanto financeiro e sim de mentalidade mesmo. O brasileiro é um povo que despreza a cultura, que acha que cultura é coisa de rico, de quem não tem o que fazer. Enquanto continuarmos a pensar assim, o brasileiro vai ser que nem aquele cara que nunca foi a escola, nunca se interessou por nada, mas um dia ganhou sozinho na mega-sena e ficou rico. Embora com muito dinheiro, continua pensando da mesma forma que pensava antes, continua com os mesmos gostos.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

VOLTE PARA OS MEUS BRAÇOS



Eu não sou um letrista, mas um poeta que de quando em quando se põe a escrever versos cantados. E num desses momentos, sob o efeito de uma canção que tocava no rádio, veio-me o refrão na cabeça. Quanto ao resto, foi uma consequência do momento. Pode até não ter ficado uma grande canção, mas com um bom arranjo daria uma música e tanto.
Vejam por si mesmos:


Os sonhos que eu tinha
E que eu fazia questão
De sonhar todos os dias
Se desfizeram de repente
Quando você partiu


O vazio que você deixou
Não há quem o preencha
A essência se perdeu
E tudo agora se parece tão frio


Baby, volte!
Volte para os meus braços
Eu não posso viver
Sem você aqui


Digo a mim mesmo
Que vou superar essa dor
E me esforço de verdade
Mas a realidade
É que sem o teu amor
Minhas promessas são falsidades
Que escapam de meus lábios
Num momento de desespero


Baby, volte!
Volte para os meus braços
Eu não posso viver
Sem você aqui