sábado, 12 de abril de 2014

ADEUS À INOCÊNCIA - CAP. 42

    -- O que aconteceu? -- perguntou Luciana. -- Tá com a cara de quem viu fantasma.
    De fato eu estava muito amedrontado. No entanto, não tive coragem de confessar a verdade. Ela não acreditaria e ainda caçoaria de mim e me humilharia como gostava de fazer. Parecia sentir prazer em fazê-lo. – aliás, como gostam de fazer todos aqueles que, para manter o controle sobre o outro, procura humilhá-lo e rebaixá-lo para que este se sinta impotente e aceite melhor sua condição, sem forças para contestar. Desta feita, preferi responder:
    -- Nada não. É que vim correndo e tô cansado.
    Se de fato acreditou, não sei dizer, pois parecia por demais preocupada com a lesão no pé. Quis apenas saber minha opinião acerca dos benefícios de enfaixá-lo com folhas de bananeira.
    -- Você acha que vai ajudar a sarar mais rápido?
    -- Acho. Quando a gente se machuca o médico num manda enfaixar? Então? É pra sarar logo.
    Esse diálogo, que prosseguiu em torno da gravidade e do tempo de recuperação daquela lesão, findou com a chegada de Marcela e Ana Paula. Elas vinham alegremente falando de algo que suspeitei estar relacionado a mim; pois, ao me avistarem, súbito silenciaram com uma expressão de surpresa no rosto, como se não esperassem me encontrar ali.
    -- Uai! Já voltou? -- disse minha prima.
    -- Não. Tô lá ainda! -- exclamei.
    A minha resposta arrancou uma gargalhada de Luciana, a qual em tom provocativo acrescentou em seguida:
    -- Idiota! Se ele está aqui é porque chegou né!
    -- Idiota é você, sua imprestável, que tá aí entrevada...
    Antes que ela terminasse a frase, intervi:
    -- Vão parar as duas. Já num temos problemas demais aqui pra ficarem arrumando mais? -- indaguei. Embora tenha sido o culpado por aquele princípio de tumulto, a inimizade entre Luciana e Ana Paula só colocou mais lenha naquela fogueira por demais incendiária.
    Silenciaram-se.
    Eu não sabia como enfaixar o pé lesionado, ainda mais que o material usado não era o adequado e qualquer toque provocava-lhe muita dor. Desta feita a contribuição de Marcela foi por demais útil, embora, a medida em que o enfaixava, Luciana, apesar de gemer de dor a cada pequeno movimento na parte lesionada, também explicava como melhor pôr-lhe as ataduras. Aliás, foi uma tarefa dificultosa, onde tive de executá-la com uma delicadeza e paciência incrível, coisa que não estava acostumado a fazer, pois, embora fosse um garoto tímido, a delicadeza, muitas vezes encontrado em pessoas assim, não fazia parte das minhas qualidades. Até isso me faltava.
    -- Pronto – disse após dar um nó para prender os pedaços de folha na canela. Embora o trabalho não tenha ficado lá essas coisas, percebia-se um resultado razoável, capaz de se não resolvesse o problema pelo menos imobilizaria em parte o pé contribuindo assim para uma recuperação mais rápida.
    -- Ufa! Ainda bem. Já não aguentava mais – exclamou ela.
    -- Isso vai te ajudar a recuperar depressa – disse Marcela levantando-se, que até então permanecera agachada ao meu lado. -- A gente não sabe quando vamos ser resgatada.
    -- Se é que vamos – obtemperou Luciana.
    -- Claro que vamos. E num vai demorar – declarou Ana Paula que, devido à inimizade com Luciana, mantinha-se recostada à entrada da cabana assistindo com certo deleite o sofrimento da outra.
    -- Espero que você esteja certa – falei, -- porque eu lá tenho as minhas dúvidas.
    Houve um pequeno debate onde a posição de cada um de nós sobre o resgate ficou bem clara. Tanto eu quanto Luciana era partidário de que as buscas por nós haviam cessado enquanto que Ana Paula não aceitava isso e insistia que estavam a nossa procura e que seríamos encontrados em mais dois ou três dias. Marcela por outro lado mantinha uma posição dúbia. Ora concordava comigo e Luciana, ora apoiava a posição de Ana Paula. Aliás, com o passar dos dias acabou aceitando que tanto eu quanto Luciana estávamos com a razão.
    Aliás, nesse ínterim esqueci por completo o incidente de mais cedo, o qual me levou a retornar para a cabana com o coração escapando pela boca. No entanto, quando Marcela e Ana Paula anunciaram que dariam uma volta pela ilha, a lembrança daquele som que eu não sabia do que se tratava veio-me à memória e, como ocorrera ao ouvi-lo, um filete de gelo percorreu-me a espinha. E se não fosse isso, talvez teria acompanhado as duas, mas faltou-me coragem. Assim permaneci quieto e compenetrado em meus pensamentos.
    Partiram.
    – O que foi? Você parece meio esquisito – quis saber Luciana, deitada a minha frente, pois ainda permanecia agachado ao lado do pé lesionado.
     – Nada não.
    – Como não? Pensa que não te conheço? Vai. Não seja bobo. Desembucha logo – insistiu, fazendo esforço para sentar.
    Relutei em contar. Contudo, mesmo impossibilitada de se mover, Luciana exercia poder sobre mim, talvez porque eu já começava a me acostumar com aquela condição. Assim, não me restou outra alternativa a não ser contar-lhe.
    – Mas você com essa história de novo! Nós já não demos uma volta por aí e não achamos nada?
    Anui.
    – Então? Isso é fruto da sua imaginação, só isso! Você só se assustou da primeira vez e agora qualquer barulho te deixa com medo. Vem cá, meu bebezinho – disse ela estendendo um dos braços e pegando-me na mão. – Não precisa ficar com medo – acrescentou. Pensei em recusar; contudo, suas palavras dominavam feito o canto de uma sereia, o que me acabou puxando para ela. Súbito estava nos seus braços feito uma criança assustada no colo da mãe. – Eu não vou deixar que nada te aconteça. É só você ser um bom menino e me obedecer.
    Por um momento eu realmente me senti confortado e seguro. E embora aquela lembrança me continuava viva na memória, nos braços de Luciana, com o rosto colado nos seus seios, ela não me parecia mais tão assustadora. Aliás, cheguei até mesmo a duvidar que houvesse escutado algum som estranho. Talvez eu tenha me enganado e, sob a influência do medo, tenha imaginado tudo aquilo. “Vai ver que ela tá certa! Vai ver que eu ando imaginando coisas mesmo!”, pensei. No entanto, eu não estava certo de nada. Possivelmente, quando estivesse sozinho, não teria a mesma opinião e então meus temores me causariam novos calafrios e eu voltaria achar que havia alguma coisa naquela mata a nos observar.
    – Vem cá. Deita aqui do me ladinho – pediu ela. – Quero te abraçar. Me sinto tão sozinha e abandonada nesse estado. Você não faz ideia. É horrível não poder sair por aí como aquelas duas – começou ela a se lamentar. – Pelo menos a gente se distraia um pouco, não ficava pensando nos nossos familiares e não sentiria tanta falta de casa. Eu me sinto como um animal preso, enjaulado. Ah, meu anjo! É tão horrível. – Era a primeira vez a ouvi-la me chamar assim, de forma tão carinhosa e com uma ternura que me tocou o coração. Senti pena dela e naquele momento esqueci por completo não só tudo que me fizera como também as ameças com relação à Marcela. – Ainda bem que tenho você para me ajudar a suportar tudo isso. Quando você está assim tão juntinho de mim eu me sinto a mulher mais feliz e poderosa do mundo.
    Ergui a cabeça e olhei-a nos olhos. Brilhavam como eu nunca tinha visto. Por um momento achei que ela fosse chorar, todavia abaixou a cabeça e aproximou seus lábios dos meus, beijando-me ardentemente. Confuso e impotente, pois não esperava aquele tipo de reação por parte dela, só não deixei-a me beijar como correspondi ao beijo, abraçando-a fortemente.
    Foi mais um erro, um erro gravíssimo. Mas como evitá-lo. Era um garoto bobo, inexperiente, muito aquém da esperteza dela. Como eu poderia saber que por trás daquelas belas e comoventes palavras havia uma segunda intenção. Hoje eu sei que muitas mulheres fazem esse jogo porque é uma das formas mais eficientes de enganar o homem, pois estes se iludem facilmente como tais palavras, achando que têm o dever de amparar o sexo frágil, quando na realidade não há fragilidade alguma. Embora sem condições de sair daquela cabana sozinha, Luciana sabia como poucas me manter no cabresto. Aliás, essa é a única explicação para eu não a tenha deixado ali, sozinha, quando, aproveitando que estava em seu poder, levou-me a mão a suga e empurrando-a para baixo, disse com naturalidade:
    – Deixa eu ver como está o meu brinquedinho. – Pegou-me no pênis encolhido e acrescentou: – estou com saudades de você. Quando eu estiver melhor a gente vai brincar muito, muito mesmo.
    Tentei puxar-lhe a mão e cobri-lo novamente. No entanto, ela disse:
    – Não, não. Ele é meu! E brinco com ele o quando quiser. Não é, minha coisinha fofa, deliciosa? -- falou. Súbito porém acrescentou: -- E se eu desconfiar que uma daquelas vadiazinhas andou brincando com você, eu te arranco com uma mordida. Tá entendendo? – Ao proferir tais palavras, fez questão de apertá-lo a fim de me provocar dor.
    Senti medo. E fiquei tão amedrontado quanto ficara ao ouvir aquele som vindo da floresta. Todavia, o medo não era de um castigo divino ou coisa parecido, mas por temer não só pelo meu futuro como pelo de Marcela e Ana Paula naquela ilha se por ventura precisássemos ficar ali por muito tempo. Se levássemos semanas ou meses longe da civilização, mais cedo ou tarde a barbárie acabaria despertando nela e as consequências seriam inimagináveis. Assim, tomado pela impotência, deixei que ela continuasse.
    – Faz ele ficar grande – pediu.
    – Para quê? Você num pode fazer nada – argumentei.
    – Não importa. Quero ver ele grande. Não gosto dele assim. Acho muito esquisito e feio. Ele deveria ficar sempre grande. É tão bonito. Não todo enrugado e encolhido assim, feito uma coisa morta. – Luciana continuava a brincar com meu pênis, ora balançando-o de um lado para outro, ora empurrando e puxando o prepúcio. Aliás, ela parecia sentir algum prazer nisso.
    – Não consigo – respondi.
    – Claro que você consegue. Chupa meus peitos e se concentra. Pensa que não sei que é assim que funciona? Com a gente é assim. Eu fico quando você me acaricia e chupa eles. Com vocês também não deve ser diferente. Foi assim que fiz o Paulinho ficar de pinto duro. Parecia contigo. Tinha a tua idade e era tímido que nem tu é. Ele quis escapar mais segurei ele. Quando levantei a camiseta e mandei ele chupar meus peitos, o pinto dele cresceu rapidinho. Era um pintinho fino e cumprido, mais e mais rosado que o teu. Se a gente tivesse mais tempo acho que tinha deixado ele enfiar em mim. Mas eu só queria ver e pegar.
    Obedeci. E de fato aqueles mamilos nos meus lábios deram resultado. Vendo-o crescer sentiu-se satisfeita e exclamou:
    – É tão bonito ver ele ficar grande. Parece uma coisa mágica. Parece que ele não vai parar nunca de crescer. Mas aí ele para e se torna tão duro. Nem parece que agorinha era uma coisa horrível e todo mole.
    Continuou a observá-lo enquanto mexia aqui e ali. Houve um momento em que o soltou e agarrou-me os testículos como já fizera uma vez. Então apertou um e depois o outro entre os dedos. Súbito, indagou:
    – É daqui que sai aquela coisa que chamam de “esperma”, não é?
    – Não sei. Acho que sim – respondi. De fato não sabia. Era o tipo de garoto, talvez por ser ainda muito jovem, que não se preocupara em conhecer a fundo como se engravidava uma mulher e nem de onde vinha o “aquilo que saia de mim” quando me masturbava. Suspeitava que poderia ser dos testículos, mas não estava certo.
    – Como não sabe! Todo homem deveria saber. Como você pode ser tão ingênuo assim, garoto? Em que mundo você vive?
    Luciana parecia indignada. Eu por outro lado jazia com as faces em brasa de vergonha, por não saber algo que ela me fazia acreditar que tinha a obrigação de saber. Talvez se sua mão não me segurasse firmemente os testículos, eu teria me levantado e a deixado sozinha. Mas se tentasse escapar, ela os agarraria e então a dor seria insuportável. Assim, esperei que os soltasse, o que de fato aconteceu pouco depois. Então me levantei.
    – Onde você pensa que vai?
    – Vou pegar alguma coisa pra comer. Tô ficando com fome – respondi.
    Luciana me atirou seu olhar faiscante, como se sentisse enganada e declarou:
    – Mentira. Sei muito bem o que você vai fazer.
    – Não. Num vou fazer nada.
    De fato não mentira. Embora tenha usado uma desculpa para me afastar, não pensava em me masturbar. Só não queria mais ficar ali, em suas mãos, sendo tocado como um boneco de luxo que quando ela cansa de brincar atira-o num canto até que sente vontade novamente.
    – É sim – disse ela quando me viu sair da cabana. – Vem cá – chamou. – Deixa e fazer para você. Vai ser mais gostoso.
    Não lhe dei ouvidos. Apanhei a vara de pescar e virei em direção às pedras, onde ela se machucara no dia anterior. Ao me afastar, ainda pude ouvi-la dizer:
    – Volte aqui, Sílvio! Se você não quer que eu faça então eu deixo você pôr ele em mim. Eu também quero. Tô morrendo de vontade dele.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

MINHA ALMA POR TI DOMADA

Uma coisinha tão linda assim
Deve ser fruto da minha imaginação
Ou meus olhos estão enfim
Completamente cegos de paixão

Mas o que posso eu fazer agora
Se meus olhos não enxergam nada
Além desta delicada flor de amora?
Sim, minha alma está aprisionada

Pareço viver um sonho sem fim
Ao alimentar o meu pobre coração
Com tua beleza e frescor. Enfim,
Só você me dá ao viver uma razão

Portanto, não parta, não vá embora
Seja a minha eterna namorada
Eu te amarei sempre, como agora

Que tenho a alma por ti domada...