quinta-feira, 11 de novembro de 2010

FLUXO DA VIDA


Por que fazer indagações
Se a vida tem suas razões
Que a lógica desconhece?

Por que desperdiçar energias
Se no fluir de cada dia
É o acaso quem floresce?

A vida diz sim a toda irracionalidade
E às mais belas espontaneidades
Que o acaso faz fluir

A vida é um não sei porque,
Cuja força é o prazer
Que se esgota com a morte enfim.

domingo, 7 de novembro de 2010

ADEUS À INOCÊNCIA - CAP. 15

Nós nos alimentamos mais uma vez com bananas. Não estavam tão maduras, no entanto, era o que tínhamos para comer naquele momento. Não dava para ficar exigindo algo melhor quando nosso objetivo principal era sobreviver até que alguém nos encontrasse. Ainda era o segundo dia naquela ilha e certamente passaríamos muitos outros. Aliás, nossas opiniões acerca do período de estadia ali era das mais divergentes. Uma achava que seríamos encontrados em mais um ou dois dias; outras, menos otimistas, arriscavam de cinco a dez dias. Agora eu, talvez com exagero de pessimismo, cheguei a dizer que poderiam levar meses para nos achar, embora no fundo não quisesse acreditar nessa possibilidade. Claro que isso provocou certa comoção. Todas sem distinção foram unânimes em dizer que eu estava errado, que jamais nossos pais nos deixariam perdidos todo esse tempo. Entretanto, argumentei:
-- Por que não? Por acaso sabem onde a gente está? Claro que não fazem a menor idéia. E se nos afastamos muitas milhas de onde a lancha afundou? Não vão encontrar a gente assim tão fácil não. Se não acharam a gente em mais uma semana, vão suspender a busca – expliquei.
-- Se isso acontecer, então eles nunca vão achar a gente – deduziu Ana Paula, sentada ao meu lado. Estávamos os quatros atrás da fogueira, de frente para o mar devorando as últimas bananas. Já havia começado a escurecer. No céu ainda podia se ver a formação de algumas nuvens, levando-me a crer que teríamos chuva no dia seguinte.
-- Claro que isso não vai acontecer – discordou Luciana. – Nunca que vão deixar de procurar a gente! Eu conheço meus pais – afirmou ela, atirando a casca de banana ao longe e ao mesmo tempo deixando transparecer certo aborrecimento.
-- E você, Marcela? O que acha? – inquiri, voltando-me em sua direção. Ela estava sentada à esquerda do meu lado.
-- Sei lá! Mas acho que a Luciana tem razão. Eles não vão parar de procurar a gente enquanto não achar. Nossos pais têm dinheiro e podem pagar para continuar as buscas.
-- Espero que vocês estejam certas. Mas já vi muitos casos assim. Se durante um tempo eles não encontrar a gente, vão parar de procurar. Pois vão achar que a gente morreu afogado ou foi comidos pelos tubarões. Quem não pensaria?
-- Nossa! Que horror! – interrompeu Luciana. – Fiquei até arrepiada.
-- Que coisa mais horrível! Como você tem coragem pensar uma coisa dessas?
-- Calma, Ana Paula! Não precisa ficar desse jeito. – Acho que, ao se imaginar sendo devorada por tubarões, minha prima tenha perdido o controle de suas emoções, talvez por deduzir que isso possa ter acontecido ao pai. – Eu só estava supondo o que nossos pais podem achar. Mas mesmo que eles desistam de procurar a gente, acho que vamos sair daqui.
-- Como? Se eles não vão mais procurar a gente? – perguntou Ana Paula, alterando a voz. Ela havia se levantado e agora parecia por demais inquieta, andando de um lado para outro na nossa frente.
-- É mesmo? Como? – Quis saber Luciana.
-- Como? Vocês não fazem a menor idéia? – perguntei, aumentando o volume da voz, tal como fizeram elas.
-- Não – responderam as duas. Somente Marcela não dizia nada, como se só prestasse atenção àquela disputa para saber até onde iríamos.
-- Muito simples – falei, diminuindo o tom da voz. – Essa ilha não é uma ilha perdida no oceano. Mais dia menos dia, alguém vai aparecer por aqui e aí vão encontrar a gente.
-- É! Tem razão – concordou Luciana. -- Não pensei nisso.
-- É verdade – proferiu Marcela, com aquele seu jeitinho tímido e tranqüilo. – Não existem mais ilhas desconhecidas na terra. Não sei a que país esta pertence, mas que ela tem dono, ah isso tem! Vocês podem ter certeza.
-- Mas e se demorar muito para alguém aparecer aqui? – quis saber Ana Paula, agora já mais calma.
-- Vamos ter que esperar – falei. – Não sabemos quanto tempo vamos ficar aqui. Podemos ser encontrados em poucos dias, como pode até levar meses. O que não podemos fazer é perder as esperanças. Por isso temos que nos mantermos unidos. E vocês duas – apontei para Luciana e Ana Paula – podem parar com essa desavença. Nada de ficar brigando uma com a outra. Fui bem claro?
Ambas olharam entre si e em seguida menearam a cabeça em concordância. Foi bom termos iniciado aquele assunto, pois serviu para tentar selar a paz entre a mais velha e a mais nova do grupo. Se realmente a harmonia voltaria a habitar naquela ilha, só o tempo para dizer.
-- Sabe o que eu estava pensando – disse Marcela, pouco depois, mudando de assunto. – Ao invés de ficar comendo frutas o tempo todo, por que a gente não tenta pescar. Viram que peixes enormes têm ali naquelas pedras?
-- Não, não reparei. – falei. “Como eu não havia pensado nisso antes”, pensei logo em seguida. – Mas você deu uma boa ideia.
-- Mas como a gente vai pescar? Não temos vara? – quis saber Ana Paula.
-- Como, eu não sei. Mas a gente dá um jeito – asseverei, um tanto empolgado com a ideia. Afinal de contas, aquele negócio de ficar só comendo frutas não poderia continuar por muito tempo. Ou acabaríamos com elas em poucos dias, ou nos fartaríamos antes. Essa era a verdade.
Creio que se a ideia da pescaria não tivesse surgido naquele instante, certamente não demoraria a surgir. Mais cedo ou mais tarde, um de nós teria sugerido tal coisa. Pois quando a necessidade se torna urgente, o instinto de sobrevivência fala mais alto e acabamos nos surpreendendo com nós mesmos, com nossa capacidade de improvisar e de encontrar alternativas. O homem é assim: não desiste facilmente. E é isso que nos faz tão superior a todas as espécies de seres vivos.
-- Eu já vi num filme – comentou Marcela. – Não me lembro o nome agora, que havia um cara perdido numa ilha. E ele pescava com uma lança de madeira. Ele mirava o peixe e atirava a vara -- fez um gesto com a mão como se atirasse uma lança invisível. -- Aí o peixe era fisgado.
-- É uma ideia interessante – comentei ao me levantar.
-- O problema vai ser acertar o peixe – riu Luciana. – Do jeito que são espertos.
-- A gente acaba aprendendo.
-- Por falar em peixe, vou tomar um banho. Vocês não querem ir também? – convidou Ana Paula, dirigindo-se em direção ao mar.
Foi como se ela estivesse nos dado uma ordem. Todos, sem exceção, saímos correndo feito crianças em direção à água.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

A HORA CHEGOU

Sob um sol escaldante ele seguia em frente com seus passos lentos, quase sem forças. Pensava em parar um pouco para descansar, mas sabia que se o fizesse não teria forças para se levantar e continuar. Precisava antes de mais nada de encontrar água. Sua boca ressecada e seus lábios rachados tornavam-lhe a sede ainda mais terrível. Não sabia onde encontraria água, mas tinha esperança disso acontecer antes de perder os sentidos.
Uns dois quilômetros adiante ouviu sons ao longe. Olhou para o céu e viu pássaros voando em forma de círculo. Deduziu que em algum lugar por perto deveria existir água. Tentou andar mais rápido, mas as forças lhe faltavam. Continuou lentamente.
A cada passo o som ficava mais alto e nítido. Parecia uma cachoeira em algum ponto daquela região montanhosa. Olhou para os lados, mas só via montanhas e montanhas desertas, sem o menor sinal de vida. Talvez em algum lugar por ali houvesse um vale. Há muito que aquela região fora coberta por densa vegetação, onde se podia plantar e colher. Dessa época só se ouvia histórias, como tantas outras acerca de um tempo onde a produção de alimentos era abundante.
Súbito, ao longe, avistou a origem daqueles sons. De fato era uma queda d`água. Ufa! Estou salvo!, pensou. Embora com muita dificuldade, conseguiu andar mais rápido; mas não com a mesma rapidez com que costumava fugir dos predadores. Afinal a vida já não valia mais como antes. Pessoas matavam uns aos outros para roubar-lhes o pouco que carregava consigo.
Ao aproximar, deparou com uma cachoeira de águas límpidas. Onde a água caia numa represa, a qual dava origem a um riacho. Parecia ter sido construída em algum tempo no passado. Provavelmente muitos estiveram ali antes da população do planeta ter-se reduzido a menos de um terço nos últimos cinquenta anos.
Aproximou-se e se deixou cair de joelhos na margem, e depois tombou para frente e bebeu até matar a sede. Aproveitou e encheu o cantil que desde o dia anterior jazia sem uma gota d`água.
Poderia ter se levantado e continuado em direção à costa, onde diziam ainda haver vegetação e animais domesticados, e a vida ainda preservar um pouco de civilidade mas preferiu entrar naquela água para tomar um banho. Deu um mergulho. Não viu que a profundidade era pequena e acabou batendo com a cabeça em uma pedra no fundo. Perdeu os sentidos e não acordou mais. Depois de escapar dos mais variados perigos, o destino lhe pregou uma peça. Acabou morrendo da forma mais improvável.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

ADEUS À INOCÊNCIA - CAP. 14

Uma sensação desconhecida apossou-se de mim. Senti uma espécie de vertigem, como se algo invisível trespassasse-me pelo corpo, como que tocado por uma mão invisível. Já sentira algo parecido quando beijei Marcela no dia anterior e quando lhe toquei nos seios pouco antes, mas nada parecido com aquilo.
Um tanto confuso, ergui os olhos e procurei no rosto dela algo parecido com o que eu estava experimentando. Luciana porém me olhava com impassividade, como se meu toque não lhe causasse nenhuma afetação.
-- O que foi? – perguntou-me ela
-- Nada – respondi.
-- Tem certeza? Você está com cara de quem quer pedir alguma coisa – insistiu ela, como se adivinhasse meus pensamentos. Eu queria fazer aquilo que vi algumas vezes nos filmes e em algumas revistas pornográficas. Eu queria saber qual a sensação de chupar aqueles peitos e descobrir porque os homens gostam tanto de fazer tal coisa. Mas eu tinha vergonha de lhe confessar isso por causa da timidez.
-- Tenho sim.
-- Então me deixa ver ele – disse ela com naturalidade, apontando para meu púbis. Aliás, desinibida, Luciana não fazia rodeios, ia direta ao ponto.
Fiquei vermelho e sem reação, como se me pedisse para fazer algo vergonhoso demais. Senti algo me parar na garganta, impedindo-me de dizer alguma coisa. Retirei as mãos dos seios dela e por alguns instantes fiquei parado, como diante de um precipício, na incerteza entre pular ou suportar uma vergonha insuportável pelo resto da vida.
-- Vai, mostra ele pra mim! Tá com vergonha?
-- Tô – confessei.
-- Mas o que tem? Só tem a gente aqui. Só quero ver como ele é. Eu não deixei você pegar nos meus peitos?
-- Deixou – respondi meneando a cabeça.
-- Então? Direitos iguais. Agora é a minha vez de pegar nele.
Eu não entendia a causa daquela vergonha toda. Não me senti assim no dia anterior, quando estava às sós com Marcela. Era como se a idade e a desenvoltura de Luciana me fizesse diminuído e ao mesmo tempo com medo de provocar-lhe risos, e de ser motivo de chacotas por parte dela, pois certamente ela não perderia a oportunidade de fazê-la. Além do mais havia aquela sensação de que estávamos fazendo algo errado, algo que nossos pais não aprovariam de forma alguma O que pensaria se nos vissem fazer aquilo? Seríamos repreendidos e nos diriam que essa não foi a educação que nos deram.
Fiz o que ela pediu. E como estava excitado, aquilo provocou-lhe certo espanto. Talvez porque não esperava que meu falo pudesse ter aquele tamanho.
-- Nossa! Como é duro! – exclamou ela, ao apertá-lo entre os dedos. Embora naquela época essas palavras tenham me passado quase despercebido, elas demonstravam que para ela aquilo tudo também é novidade.
Não respondi. Apenas aguardei que ela matasse sua curiosidade. E sua curiosidade parecia não acabar nunca. Ela mexeu aqui e acolá, tocou-o como se examinasse um objeto raríssimo, como se não fosse ter outra oportunidade igual aquela.
E aqueles toques me afetavam. Tinha vontade de dizer-lhe que queria examiná-la da mesma forma e fazer outras coisas com ela. Mas a vergonha me impedia de confessar-lhe tal coisa. Nunca, nunca que lhe diria o que se passava na minha cabeça. Não, por nada desse mundo. Ainda não estava preparado para suprir as exigências de meu corpo. Diante daquela menina mais velha e experiente, eu me sentia um menino, um menino incapaz de lhe mostrar que podia fazer o que os homens adultos faziam e lhe proporcionar sensações inimagináveis.
Assim, usando a desculpa de que tínhamos obrigações a fazer, disse-lhe:
-- Agora chega. Vamos apanhar a lenha antes que anoiteça.
-- Ta bom então. Vamos – assentiu ela.
Luciana havia me mostrado alguns galhos secos pouco antes. Nós os catamos e os deixamos no meio da trilha; então fomos procurar mais, o mais rápido possível, pois o sol começava a se esconder.
Tanto eu quanto Luciana não dissemos uma única palavra acerca de nossas intimidades. Pelo contrário, eu fazia o possível para não lhe dar motivos para tocar no assunto. Agora que o ímpeto passara, tudo me parecia ainda mais vergonhoso. Eu até tentava evitar que mesmo por acaso meus olhos fossem parar nos seus seios livres. Era o mínimo que eu poderia fazer, já que não podia deixar de pensar neles o tempo todo.
Por sorte, não tivemos dificuldades em juntar grande quantidade de galhos e gravetos. Encontramos inclusive um tronco meio apodrecido, mas ainda capaz de queimar por longas horas.
-- Acho que isso é o suficiente – falei.
-- É mesmo. Só esse pedaço grande dá para queimar a noite toda – asseverou ela, ajudando-me a erguê-lo e colocá-lo nas costas.
Luciana apanhou os galhos que tínhamos recolhido e seguiu na minha frente, de volta à cabana.
Durante alguns momentos não trocamos palavras. Era como se cada um tivesse algo para dizer, mas temia em tocar no assunto. Eu fazia o possível para não ficar pensando naqueles seios que tocara pouco antes e nem nas mãos dela no meu corpo. Tentava fixar o pensamento nas outras duas, no que estariam elas fazendo, mas era inútil. Era como se meus pensamentos fluíssem por si sós, sem que eu tivesse o poder de intervir, sem que eu pudesse fazer alguma coisa para acabar com aquela excitação.
Antes de chegarmos à faixa de areia, Luciana parou um pouco para descansar e virou de frente para mim. Ao me percorrer os olhos atentos e cheios de curiosidades, comentou:
-- Mas ele ainda está desse jeito? Cuidado hein! Se tu chegar assim lá, elas vão ver e pensar besteiras.
Fiquei mais uma vez enrubescido, como se fosse surpreendido num ato obsceno. No entanto falei:
-- Paciência. Ele não quer ficar pequeno.
-- Mas não tem nada que você possa fazer?
-- Não. Daqui a pouco ele fica. E é melhor você não contar nada do que a gente fez – recomendei em seguida.
-- Pode deixar. Não ia falar nada mesmo! Senão sua priminha é capaz de caçar ainda mais assunto. – Luciana apanhou os galhos e voltou a carregá-los.
-- Vê se não fica arrumando confusão com ela. Ela ainda é uma criança – pedi, seguindo-me atrás dela. – Vou ter uma conversa com ela. Não podemos ter desavenças entre a gente. Temos que nos mantermos unidos. Precisamos uns dos outros. Afinal de contas só temos nós para cuidar de nós mesmos.
-- Sei disso – interrompeu ela. – Só que ela não sabe.
-- Não se preocupe. Vou explicar tudo isso pra ela. Mas tenha um pouco mais de paciência com ela, tá bom? -- pedi quando aproximávamos da cabana. Já estava um pouco mais sem luz e podíamos ver a luz da fogueira.
-- Só quero ver se isso vai adiantar.
-- Se não adiantar, eu ponho ela de castigo.
Nisso, Marcela apareceu correndo em nossa direção.
-- Pensei que tinham se perdido – foi o que ela disse.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

UM PEIXINHO DOURADO

















Um peixinho dourado
Desgarrou-se do cardume
E foi arrastado
Por uma forte correnteza
Até as profundezas
Do oceano.

Sozinho e abandonado
Pensou estar tudo acabado
Quando um tubarão
Veio em sua direção
Com sua boca dentada
Para lhe dar uma abocanhada


Mas eis que surge do nada
Um corajoso golfinho
Que arrastou o peixinho
Até um cardume
Onde seus irmãozinhos
O encontraram então.

Foi um momento de alegria
Onde se chorava de rir
Pois se pensava então
Que o irmãozinho querido
Tinha sido comido
Ou pego numa pescaria.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

PARA UM AMOR DE FILHA


Os versos abaixo foram escritos em 2004, quando a minha filha fez 8 anos. Nessa época ainda vivia um momento difícil com o fim do meu casamento dois anos antes. Para uma criança dessa idade não era fácil compreender porque os pais não moravam mais juntos e não se entendiam. Não cheguei a lhe dar esse poema na época, mas algum tempo depois. Lembro-me de ver as lágrimas escorrerem de seus olhinhos. Eu mesmo fiquei emocionado. Talvez por isso goste tanto desses versos. Para aqueles que não tiveram a oportunidade de lê-lo na Usina de Letras (www.usinadeletras.com.br), no Recanto das Letras (www.recantodasletras.com.br) ou em tantos outros sites da internet, poderá apreciá-lo agora. Ei-lo:


Quando você acorda,
O dia te diz: bom dia!
Você levanta com preguiça
E vai para a escola.

Quando você deita,
As estrelas começam a brilhar
E então você adormece
E elas estão lá para te guiar.

Quando você sonha,
Teus sonhos são sonhos de princesa,
Como nos contos de fada
Que foram feitos para te encantar.

Mas quando você se sente só,
Com vontade de chorar;
É só pensar em mim, seu pai,
Que vou estar lá para te alegrar.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

ADEUS À INOCÊNCIA - CAP. 13


Não sei se chegaram a ver alguma coisa. Entretanto, se viram não pronunciaram nenhuma palavra a respeito. Ainda tomado pela afetação, não tive coragem de procurar em seus rostos uma resposta. Por alguns instantes, permaneci absorto em meu canto; mais precisamente sentado sobre o monte de areia, com as pernas dobradas para ocultar o que me deixaria ruborizado e numa situação embaraçosa.
Houve um breve silêncio, denotando o clima de hostilidade entre as duas meninas. Dir-se-ia que todos tinham medo de dizer algo e ser o estopim duma nova batalha entre as duas jovens seminuas.
Aquele silêncio parecia me matar. Era insuportável ver naqueles rostos que a harmonia havia se extinguido, feito folhas secas na fogueira. O que fazer para evitar que aquela rixa tivesse consequências mais graves? Ah, eu não fazia a menor ideia. Era evidente que estava em curso um processo de deterioração das forças que nos mantinha unidos. Eu ainda não percebera isso, contudo não demoraria a perceber isso. Talvez, devido à ingenuidade ou falta de experiência de minha parte, não fui capaz de ver naquela falta de animosidade os indícios de uma inimizade duradoura que mudaria para sempre nossas vidas.
Tentando quebrar o silêncio e dissipar aquele clima de luto, falei:
-- Já está ficando tarde. Não é melhor a gente buscar alguma coisa para comer?
Todas olharam em minha direção.
Meus olhos perpassaram por todas e foram parar em minha prima. Não porque ela tenha sido a causadora de todo aquele transtorno, mas sim por causa de seus pequenos seios desnudos. Fitei-os por alguns momentos e depois desviei o olhar para os seios da outra com o intuito de compará-los.
“Os da Ana Paula parecem menores ainda. Nem bicos eles têm direito. Mesmo que eles cresçam, nunca vão ficar tão grandes quanto os da Luciana”, pensei naquele curto espaço de tempo, enquanto voltava os olhos para os seios da minha prima.
Acho que ela notou meu olhar, pois se virou para o outro lado e disse:
-- Acho melhor mesmo. Já estou ficando com fome.
-- Além disso, precisamos buscar mais madeira para manter a fogueira acesa. Essa que está aí não vai dar até amanhã – falei.
-- Eu não vou entrar no manto com os peitos de fora – disse Ana Paula.
-- Por que não? Não tem ninguém aqui, só a gente – expliquei.
-- É mesmo, Ana Paula! – concordou Marcela – O Sílvio tem razão.
-- Mesmo assim. Prefiro ficar aqui – insistiu ela.
Levantei sem se importar com o meu excitamento; aliás, já não estava mais tão excitado quanto antes.
-- Vamos fazer o seguinte: você vai com a Marcela apanhar frutas e eu vou com a Luciana buscar madeira para a fogueira – expliquei. – Porque não vou me arriscar a deixar você e a Lucina juntas. É capaz de vocês se pegarem novamente.
-- É só ela não se meter comigo – interveio Luciana.
-- É bom meso – disse Ana Paula, em tom provocativo.
Antes que uma discussão pudesse se iniciar, interferi:
-- Então vai você e a Marcela. E levem a faca de pedra, caso precisem cortar alguma coisa. No meu caso ela não vai ter muita serventia mesmo.
As duas saíram sem dizer palavra. Ficamos olhando, em silêncio, que elas se afastassem.
Depois falei para Luciana:
-- Vamos?
-- Vamos, antes que fique escuro. Eu não tenho coragem de entrar nesse mato no escuro.
Saímos da cabana e entramos na floresta pela mesma trilha que tínhamos entrado das outras vezes. Eu seguia a frente e Lucina vinha logo atrás.
Enquanto penetrava na floresta, tentava não pensar naquele par de seios bem nas minhas costas. Mas ainda continuava impressionado com o volume e a beleza deles. E por alguns instantes eu me perdi na lembrança de minhas mãos tocando-os na cabana, antes de ser interrompido pela chegada da Marcela e da Ana Paula. Então e me pus a imaginar no que teria feito se elas não tivessem chegado.
-- Sílvio, você ouviu o que eu disse? – gritou Luciana.
-- O quê? – Respondi, levando um susto.
-- Onde você está com a cabeça? – quis ela saber. – To aqui falando e você parece que está no mundo da lua.
-- Desculpa. Estava pensando... – falei, sem virar em sua direção, com vergonha que ela visse meu estado. – Mas o que você estava falando?
-- Falei que ali ó – apontou com o dedo --, tem uns galhos secos.
Virei para olhar. Já tínhamos passado por eles. De forma que tive que virar para trás e ficar de frente para ela.
Meus olhos foram parar bem nos grandes e brancos seios dela. E assim que aquela imagem ofuscou o meu olhar, meus olhos brilharam e eu fiquei sem saber o que dizer.
Luciana percebeu o meu estado. Não sei se lhe causei alguma impressão. Não consigo me lembrar de algum detalhe a esse respeito. Sei porém que minha excitação despertou-lhe o olhar.
-- Por que ele está assim? – inquiriu ela, apontando-me no púbis.
-- Ele quem? – perguntei, fazendo-se de desentendido.
-- Não se faça de bobo. Seu pinto – Foi direto no assunto.
Minha face se afogueou e fiquei sem saber o que responder. Foi como se ela me surpreendesse inteiramente nu.
-- Não sei – foi a única coisa que consegui dizer.
-- É por causa dos meus peitos, não é? Por isso você estava tão distraído. Aposto como você estava pensando alguma besteira – concluiu ela acertadamente. Mas eu não podia admitir. Não ia deixar que uma menina fosse esperta o bastante para adivinhar meus pensamentos.
-- Não era neles não – quis desconversar. – Eu estava pensando numa forma de melhorar aquela cabana.
-- Ta! Pensa que sou boba, é! Pode falar. Sei que você estava pensando neles. Pensa que não percebi o estado em que você ficou quando pôs a mão neles, lá na cabana? Dou minha cara a tapa se não era neles que você estava pensando.
-- Juro que não era – falei. Só que minhas palavras não condiziam com os meus atos, pois não conseguia tirar os olhos dos seios dela.
-- Está escrito na sua cara – disse ela se aproximando ainda mais de mim, ficando tão próxima que quase podia senti-los roçar em mim. – Seus olhos estão até brilhando e você não para de olhar para eles nem um minuto.
Fiquei tão envergonhado por ser desmascarado daquela forma que desviei o olhar no mesmo instante. Não tive nem mesmo coragem de olhar nos olhos dela. Senti-me frágil, minúsculo, como se estivesse diante de um gigante.
-- Viu como eu tinha razão – disse Luciana, mudando o tom da voz, tornando-a meiga, com um quê de sensualidade.
Estávamos parados há uns cem metros da praia.
-- Ta bom. Você tem razão. É que não estou acostumado com essas coisas. Aí fiquei impressionado quando pus a mão neles – justifiquei.
-- Você está com vontade de pegar de novo?
Fiquei surpreso quando ela me perguntou aquilo. “Será que ela quer que eu pegue neles outra vez?”, pensei. Por um momento não soube o que lhe responder. E antes de dizer algo, levantei os olhos e olhei-os mais uma vez.
-- E se eu quiser, você deixa? – arrisquei a perguntar.
-- Deixo.
Então não falei nada. Simplesmente levantei a mão e os toquei levemente.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

ELEIÇÕES 2010: FATOS SÃO FATOS

Que o governo Lula foi o melhor da História recente do Brasil, isso é um fato. Assim com é fato Lula ter se tornado o presidente mais popular de nossa história. Também é fato que por causa dessa popularidade ele ser capaz de eleger como sucessor até um poste. Não deixa de ser fato que Dilma está subindo vertiginosamente nas pesquisas pelo fato dela ser a candidata do Presidente Lula. Outro fato é que ela está em Franca ascensão e inclusive assumindo a dianteira no reduto do adversário. Contudo, nem tudo são fatos embora pareça. É provável que ela continue a subir nas pesquisas até a eleição, atingindo em torno dos 70% dos votos válidos; é quase certo que ela será eleita no primeiro turno; também é quase certo que ela terá ampla maioria no Congresso e facilitando assim a aprovação de projetos. Embora em alguns estados seja fato noutros ainda não se concretizou a transferência de votos para aqueles candidatos apoiados por ela e o presidente Lula. É possível que isso ainda ocorra, mas não necessariamente. Enfim: além dos fatos, se os possíveis fatos se confirmarem Dilma terá conseguido o que nenhum governo democrático conseguiu até hoje: esmagar a oposição, reduzindo-os a uma minoria sem rumo. Talvez o PSDB não consiga sobreviver sozinho e de juntar aos extintos PPS e DEM para formar uma nova sigla, mais forte e com condições de fazer algum barulho.

domingo, 29 de agosto de 2010

QUANDO VOCÊ CHEGAR

Dia desses, pensando nuns versos sobre aqueles que passam a vida a procura de um amor, veio-me à memória este poema:


Quando o sol despontar no horizonte
E um novo dia chegar
O meu coração finalmente
Estará pronto para amar

E então estarei te esperando
Como um pensador espera
Com os nervos pulsando
O desabrochar de uma era

Tudo pode até continuar igual
Depois de você chegar
Mas para mim tudo será afinal
Um novo dia e um novo despertar

terça-feira, 24 de agosto de 2010

A MENINA DO ÔNIBUS - Capítulo V - Parte 5

Se até então eu contava os dias para aquele tão grandioso momento, embora pudesse inclusive levar semanas ou meses, como aconteceu com Ana Paula (foi um dos casos em que eu já o considerava perdido, pois todas as tentativas resultavam em fracasso, numa resistência inabalável por parte dela. Mas dois dias antes de completar dois meses, fomos à uma festa e lá com a insistência de meus primos, acabou tomando umas doses de caipirinha. Vendo-a alegre, achando graça de tudo, desinibida além da conta, soltando uma voz mole deduzi que o álcool a afetara. Aproveitei que meus pais também estavam nessa festa e certamente ainda demorariam uma ou duas horas, arrastei-a até minha casa, e sem encontrar resistência, deflorei-a. Ah, que corpo! Foram as curvas mais bem desenhadas a passar-me pelas mãos. Quase me apaixonei por ela), agora eu contava as horas. E já começava a sentir aquela sensação esquisita tão comum quando o momento de fazermos algo grandioso, capaz de mudar nossas vidas vai se aproximando, causando-nos uma angústia terrível, impedindo-nos de relaxar, embora essa angústia muitas vezes é provocada pela incerteza de que nem tudo possa dar certo, uma vez que não temos controle de tudo que a envolve. E até os instantes finais – aliás, são os momentos mais terríveis – há sempre a possibilidade de que nossas expectativas sejam frustradas, de que na hora H algo aconteça e o trabalho de dias, semanas e até meses se perca. O ser humano, não sei por qual motivo, tem uma tendência nessas horas a pensar mais numa possibilidade de erro que de acerto. E eu não escapava à regra, pois, se até o momento, não existiam motivos para pensar que algo pudesse dar errado, já que as coisas haviam caminhado da melhor forma possível, o medo do fracasso me parecia tanto quanto o prazer de levá-la à minha casa. De mais a mais, só os fracos são pessimistas.
Por que temer? Por quê então ficar fazendo suposições? Por que ficar pensando na possibilidade de acontecer algo e meus pais mudarem de ideia? Por que pensar na possibilidade dos pais de Ana Carla não a deixarem sair naquele domingo? Eram as perguntas que eu me fazia toda vez que a angústia tomava proporções alarmantes. Então eu acrescentava: “Isso não vai acontecer. Meus pais não vão deixar de visitar a tia Luzia. Coitada! morrer dessa forma! Deve ser terrível uma morte assim. E se Ana Carla tiver dificuldades em sair de casa, vai encontrar um jeito. Ela disse que eles não se importam que vá à casa da amiga”. E esses pensamentos terminavam por me confortar, embora o efeito durasse algumas horas, feito um analgésico que tomamos para aliviar a enxaqueca, trazendo em seguida as mesmas dúvidas.
Ah, querido leitor, realmente não havia com o que me preocupar! Ainda mais quando, reticente, com um certo temor (aliás, ensaiei várias vezes antes de finalmente tomar a resolução), dei-lhe a notícia e ela a recebeu com uma empolgação fora do comum, como se fosse ela e não eu quem mais desejava aquele momento. Ah, você não imagina o brilho em seus olhos, a forma como ela disse: “que ótimo, meu amor” e sua reação, ao pular nos meus braços e me beijar apaixonadamente, como se acabasse de presenteá-la com algo que sonhara por toda a vida. Ah, nunca tive tanta certeza de que da parte dela não haveria surpresas, pois moveria montanhas e oceanos para não faltar àquele encontro. E não foi só essa certeza, outra maior dissipou boa parte dos meus temores: estava tão cegamente apaixonada que, mesmo que não quisesse não teria forças para dizer não.
Aliás, se havia algo que ela não seria mais capaz de dizer, era não as minhas vontades. Eu poderia lhe pedir qualquer coisa, por maior que fosse o sacrifício, por mais que contrariasse sua moral, sua religião, ainda sim diria sim; talvez de forma tímida, ruborizada, quase no limite entre o SIM e o NÂO.
Quando, no escurinho do cinema, minha mão procurou-lhe as coxas e escorregou-lhe por baixo da saia, Ana Carla, num gesto rápido feito uma reação instintiva, puxou-a de volta acrescentado baixinho, de forma repreensiva, para parar com aquela brincadeira. Naquele instante não compreendi tal recusa. “Será que aconteceu alguma coisa? Será que fui longe demais e agora ela está com medo?”, foram algumas das perguntas a passar-me pela cabeça enquanto tentava achar uma explicação para aquele gesto inesperado. Pouco depois porém, inconformado, com o coração descompassado ocorreu-me uma luz: “Por que não perguntá-la? Ela tem que me dizer o que eu fiz, o que aconteceu. Tenho direito de saber.” E diante da minha insistência, acabou confessando com um certo ar de vergonha, como se confessasse algo degradante, estar menstruada. Cheguei a pensar que por causa disso ela não me deixaria possui-la. Pensei inclusive que ela nem mesmo me deixaria despi-la.
Mas eu não poderia desistir. “Porra! Tinha de me acontecer isso logo agora! Eu sabia que algo poderia dar errado! Tava sentindo! E agora? O que faço? Como contornar a situação?” Foi com tais inquirições que meus pensamentos se ocuparam por alguns minutos, levando-me a perder a concentração no filme, a olhar para a tela como se estivesse em branco, como se as luzes ainda estivessem acesas e o filme não houvesse começado. Foi então que me veio uma luz e clareou-me os pensamentos, como se o filme acabara e todas as luzes da sala acendessem ao mesmo tempo. “Por que não insistir em tocá-la assim mesmo, só para mostrar a ela que isso não nos impede de nada? Se eu convencê-la a me deixar acariciar a xoxotinha, não vai me impedir de mais nada.” E foi o que tentei.
-- E o que tem isso!? Não me importo se isso te der prazer – sussurrei ao seu ouvido.
-- Nossa! Que coisa nojenta! – exclamou ela.
-- Quem disse que é nojenta? Claro que não, minha florzinha!
-- Você não ficaria com nojo? – Ana Carla, talvez por descuido, sussurrou um pouco alto demais, o que levou um senhor na cadeira da frente (era quem estava mais próximo de nós) a virar para trás e vexado encarar-nos.
Fez-se um rápido silêncio. Logo em seguida, aproveitando uma cena onde uma chuva cai e relâmpagos cortam o céu, sussurrei-lhe:
-- De forma alguma. Provavelmente você ainda não sabe disso, mas quando a mulher está naqueles dias sente mais prazer ainda – expliquei com os lábios colados aos seus ouvidos, o que me levou em seguida a mordiscar-lhe levemente a orelha. Não tenho certeza de que isso tenha algum fundamento científico, embora nesses meus anos de experiência pude perceber uma pitada a mais de prazer durante o período menstrual. O importante era o efeito dessas palavras sobre Ana Carla. Convencendo-a disso não só lhe quebraria a resistência como inclusive poderia ser uma forma de despertar-lhe a vontade de experimentar, uma vez que experimentar é algo que faz parte do dia-a-dia de um jovem que, ávido em conhecer o mundo e firmar-se nele, faz da experimentação o seu laboratório.
Ana Carla ficou pensativa por alguns instantes. Parecia prestar atenção ao filme, mas eu sabia que era só aparência, que na verdade estava lutando consigo mesma, contra seus preceitos morais a fim de decidir se me deixava ou não acariciá-la naquele estado.
Eu poderia tê-la esperado, dado-lhe um tempo maior para tomar uma decisão. As vezes porém podemos dar um empurrãozinho, induzir a pessoa a pender mais para um lado que para outro, aliás como fazem habilmente os grandes líderes, capazes de arrastar multidões atrás de si, muitas vezes por algo completamente absurdo. Por isso não a esperei, não lhe dei o tempo necessário para chegar a um veredito. Achei que aquele era o momento adequado para tentar novamente. Além do mais, por que esperar-lhe decisão, se eu poderia tomá-la por ela? Não é nessas horas, quando o outro está indeciso, que se torna mais vulnerável? Não é nessas horas que seus flancos estão abertos? Então? Por que esperar?
Sem dizer palavra escorreguei calmamente a mão pelo meio de suas pernas. Toquei-a e senti algo diferente, volumoso, como se houvesse um protetor. Era o absorvente. Parecia muito fino, mas não havia como ignorar sua presença. Com rapidez, meus dedos correram para o lado à procura da extremidade daquela peça íntima. Ana Carla não era a primeira em quem fazia isso. Eu havia acariciado outras mulheres que usavam absorvente, portanto sabia como proceder, como levar meus dedos a encontrar uma brecha. E quando a encontrei, não titubeei. Introduzi-lhe o dedo na fissura dos grandes lábios e o fiz cumprir sua tarefa.
Nesse ínterim, para evitar que algum curioso visse o que eu estava fazendo, pedi à Ana Carla que segurasse o grande saco de pipocas no colo. Imediatamente ela o tomou de minhas mãos e fez o que lhe havia pedido.
Minhas suspeitas se confirmaram. Vi em seus olhos, nos suspiros de seus lábios, no contorcer de seu corpo um oceano de prazer. Ela não sabia, como não poderia saber, que a minha intenção não era levá-la ao ápice e ao deleite final. “Não!?”, deve estar a indagar-se o amigo leitor; e talvez se perguntando ainda: “Mas para que tudo isso então?”. Calma, amigo! A explicação vem a seguir. Não o deixarei a consumir-se pela curiosidade sem necessidade, pois se a falta de curiosidade é um mal, o excesso é um mal ainda maior. E acredito que o fardo da curiosidade já deva estar lhe pesando sobre as costas; aliás este deve ser o motivo pelo qual o amigo ainda continua a ler minhas memórias.
Quanto aos motivos (uso o plural porque no singular só caberia um, quando na realidade são dois), o primeiro diz respeito à minha intenção em mostrar-lhe que seu fluxo menstrual não a impedia de buscar o prazer, estive onde estivesse; o segundo era mais complexo e exige uma explicação mais longa. Não a deixando chegar ao orgasmo, seu desejo só cresceria. E o que mais eu precisava no dia seguinte era de que ela estivesse loucamente desesperada de desejos, consumindo-se na mais das devastadoras fogueiras, pois quanto mais desejo, quanto mais deleite minhas carícias lhe provocassem, menos força para dizer não.
Vi a frustração em seu rosto quando retirei o dedo sem explicação. Talvez se não estivéssemos numa sala de cinema, num lugar onde qualquer som mais alto chamasse a atenção, possivelmente ter-me-ia feito continuar. Faço essa afirmação com base em seu diário. Nas anotações daquele sábado à noite, essa impressão fica bem clara, principalmente quando diz: “Ah, mas eu queria que ele continuasse!”. Embora esteja apenas expressando um desejo, conhecendo Ana Carla como eu conhecia, não há dúvidas de que se estivéssemos em outro local, esse desejo teria sido uma ordem. Mas mesmo que daqueles lábios inquietos partissem um pedido ou mesmo uma ordem, ainda sim teriam sido em vão, pois nada nesse mundo me faria continuar. Bem, nada é um exagero, porque se me oferecesse sua pureza em troca daquelas carícias, não exitaria um único segundo em aceitar. Ela porém não me ofereceu e o deleite ficou perdido, pois mesmo que a acariciasse no outro dia, no mesmo lugar e da mesma forma o deleite seria outro, talvez mais intenso ou com menos intensidade, sei lá.
Deixemos as especulações de lado. Especulações não levam a nada, só a mais perguntas sem respostas. E não é justo encher a cabeça do amigo leitor com tantas dúvidas. Vá que o leitor é daqueles seres sensíveis, cujas dúvidas causam-lhe descontroles emocionais. Assim, quiça não seria melhor acalmá-lo com a letra macia, arredondada e assaz caprichosa (aliás, o capricho de sua letra nesse dia, contrastando com os traços apressados de outros dias, levam-me à certeza de que não havia pressa em fazer seus apontamentos) de Ana Carla? Parece-me o melhor a fazer. De forma que encerro mais este capítulo, o qual tornou-se um tanto longo, com mais uma página de seu diário.

Sábado, 4 de dezembro.
Até que enfim as coisas deram certas hoje. Já estava ficando louca e furiosa. Se eu não ficasse com ele hoje, eu não sei do que seria capaz. Acho que sairia de casa e ia atrás dele, estivesse onde estivesse. Mas ainda bem que não foi preciso.
Ah, meu diário! Andam acontecendo tantas coisas. Eu queria te contar tudo, mas hoje estou tão feliz que eu quero dormir com essa felicidade só para mim. Na verdade, nem sei se vou consegui dormir. Você não pode imaginar o tamanho da minha felicidade.
Como já é muito tarde, só vou te contar algumas coisas. Amanhã de manhã eu te conto mais. Também se eu fosse escrever tudo, ia ficar a noite inteira escrevendo.
Quando estávamos indo ao cinema, ele me disse que tinha uma surpresa. Depois ele me contou que seus pais não vão estar em casa amanhã e que vai me levar até a casa dele. Disse que vamos poder passar o tempo que eu quiser com ele. Ainda disse que vamos poder ficar a vontade, pois não vamos precisar ficar com medo de que alguém nos veja juntos. Nossa! Não vejo a hora de chegar amanhã.
Depois ficamos no cinema mais namorando do que assistindo ao filme. Ele começou a me agarrar e a me fazer carícias. Fiquei muito sem graça, mas tive que contar para ele que ainda estava menstruada. Já não estava vindo quase nada, mas ainda sim estava usando absorvente. Sabe o que ele disse, aquele safado? Disse: “não me importo de sair com ele vermelho...”. Ele não tem jeito mesmo! Desse jeito não vou resistir aos encantos dele e vou acabar sendo seduzida. Seduzida! Não, isso ainda não. Está muito cedo. A gente precisa se conhecer melhor, esperar mais um pouco antes de se entregar um ao outro.
Nossa! Ele pede as coisas de um jeito que não há como dizer não. A gente fica tão encantada com a delicadeza dele que acaba dando o que ele pede. Se ele soubesse disso...
E não é que o safado começou a enfiar a mão por dentro da minha calcinha! Ele ficou sentado como se estivesse prestando atenção ao filme, depois soltou a mão em cima de mim e foi escorregando bem devagar por entre minhas pernas. Depois ele me deu o saco de pipoca para eu ficar segurando para que ninguém visse onde estava a mão dele. Aí ele foi subindo bem de leve a mão por baixo da minha saia. Quando os dedos dele encontraram a borda da calcinha, ele foi empurrando bem lentamente até tocar na minha xana.
Não acreditei. Ele teve coragem de fazer aquilo. Cheguei a pensar: Ele não vai ter coragem! Mas ele teve. E quando ele me tocou lá bem no meio, quase tive um troço. Senti uma coisa que me deixou até mole. Eu estava com um pouco de medo, mas ele disse que só queria me tocar e acariciar. Disse que eu não precisava ter medo, pois ele não ia fazer nada de mais. Mas só foi ele começar a me acariciar e pronto. Eu fui às nuvens. Pena que ele parou.
Ah, mas eu queria que ele continuasse. Pois se ele tivesse continuado, acho que ia sentir aquilo que a Marcela disse que sente quanto fica se acariciando. Ela disse que depois dá uma moleza. Acho que se ele tivesse continuado, eu teria sentido isso. Não vejo a hora de sentir essa coisa, de descobrir.
Estou tão excitada que vou tentar daqui a pouco. Quem sabe consigo! Se me der moleza não tem problema, já estou na minha cama mesmo!
Vou fazer isso mesmo. Se der certo, amanhã eu te conto, meu diário. Ta bom?

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O JARDIM NO MEU PEITO




















O jardim no meu peito
É um canteiro florido
Por ter na vida colhido
Rosas e margaridas

Se com o tempo murcharam
E suas pétalas então caíram
Na nova estação desabrocharam
Em lembranças perdidas

Por isso, mesmo fora da estação,
Meu jardim dá flores
Pois em meu coração
Há sempre muitos amores

Eu rego o meu jardim
Com o que há de melhor na vida
Pois não quero enfim
Ser um canteiro sem vida.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

ADEUS À INOCÊNCIA - CAP. 12

Tivemos um dia relativamente proveitoso, apesar de termos gastados quase o dia todo para cortar os arbustos, os quais cobririam a cabana. Ao final da tarde, quando o sol começava a se pôr, conseguimos substituir as folhas de bananeira pelos maços de sapé. Não ficou grande coisa evidentemente, todavia parecia bem mais resistente, capaz de nos proteger da chuva. Aliás, foi uma medida prudente, pois as nuvens haviam aumentado consideravelmente ao longo do dia, tanto que, ao cair da noite, a lua ficou encoberta.
Depois daquele trabalho árduo, que me deixou com as mãos bastante judiadas, paramos para descansar. Enquanto as meninas saíram para dar uma volta, fiquei deitado na cabana passando por uma madorna.
Não cheguei a dormir muito. Com a algazarra que elas faziam do lado de fora. E ao me levantar para averiguar o que se passava, vi-as brincando de pega-pega. Pareciam se divertir como nunca. Uma corria atrás da outra e, quando a pegava, derrubava-a na areia fofa, fazendo-a ficar toda suja.
Permaneci por um bom tempo encostado à entrada da cabana assistindo aquela cena. E fiquei por demais feliz por vê-las tão alegres e unidas. Cheguei até mesmo a pensar que as desavenças entre Luciana e Ana Paula era coisa do passado. Mas não demorou muito para que as duas se estranhassem novamente.
Ana Paula corria atrás de Luciana. E quando a alcançou, segurou-a pelo braço e derrubou na areia, como todas faziam umas com as outras. Deveria ter parado por ali, mas, talvez para provocar a amiga ou por pura maldade, levantou o pé e chutou areia bem no rosto da mais velha. Aquela areia não só caíram nos olhos como na boca de Luciana.
Acho que o que mais enfureceu Luciana, não foi tanto ser atingida pela areia, mas a risada de desdém de Ana Paula. Pois com aquele gesto deixou bem claro que não o fizera sem querer mas sim propositadamente. De forma que Luciana se levantou e, tomada pela fúria, partiu para cima de minha prima, feito um cão feroz quando parte para cima de um pobre gatinho.
Uma começou a puxar os cabelos da outra e a trocar insultos. Em pouco tempo as duas rolavam sobre a areia. Gritei com elas, mandando-as parar de brigar imediatamente, mas foi em vão. Então tive que correr para separá-las.
Quando me aproximei e puxei a Luciana pelos braços, a parte superior do seu biquíni ficou na mão da outra. Ela estava tão fora de si que não se preocupou em cobrir os seus seios. Ao invés disso, estendeu a mão e também arrancou o biquíni da adversária. No mesmo instante Ana Paula protestou:
-- Olha o que você fez, sua vadia! Arrebentou meu biquíni.
-- Você arrebentou o meu primeiro, sua pirralha mimada – gritou Luciana, tentando se soltar e partir para cima da outra.
-- Vamos parar vocês duas – ordenei com severidade. – Será que vocês não conseguem fazer nada sem brigarem?
-- Foi ela quem começou – disse Luciana.
Nesse momento, Marcela aproximara-se.
-- É mesmo, Ana Paula, você não tinha nada que chutar areia na Luciana – disse ela.
-- Me desculpa! Foi sem querer – disse ela, tentando se justificar.
-- Não, não foi sem querer. Ela fez de propósito mesmo – protestou Luciana.
Soltei Luciana ao ver que os nervos começavam a se esfriar.
Sei que o momento não era propício, mas, tomado pela curiosidade e sob o efeito daquela imagem estonteante bela daquele par de seios, senti uma vontade grande de escorregar a mão até os seios de Luciana. Eles estavam ali tão próximos, tão a meu alcance. Ah, como me senti afetado por aquela esplêndida visão! E não era só isso. Em seguida, desviei os olhos para os seios de minha prima. Eram bem menores que os da outra. A região onde se localizava o mamilo era tão somente uma protuberância, não era tão delineado quanto o da outra. Aliás, não me despertavam as mesmas sensações que os outros dois. Achei aquela diferença um tanto esquisito, mas conclui que era porque cada mulher tem um seio diferente de outra. Naquele momento, talvez por causa da minha inocência, não deduzi que aquela diferença era devido à diferença de idade e de desenvolvimento, o qual varia de pessoa para pessoa.
O incrível foi que elas não fizeram questão de cobri-los. Mesmo depois dos ânimos acalmados, elas ainda se mantiveram sem a parte superior do biquíni. Talvez porque não havia outro jeito. Talvez o mais correto seria eu me afastar e deixá-las dar um jeito de consertar a peça de roupa. Só que eu não tomei e a iniciativa e elas por sua vez também não me pediram para fazê-lo.
Quando Ana Paula se levantou, uma devolveu a outra a sua peça de roupa. Ambos haviam se partido na tira que dava o laço por trás. No biquíni de Luciana ocorreram dois rompimentos, o que dificultava ainda mais o conserto.
-- Vou me lavar e tirar essa areia – disse Luciana, afastando-se, com a peça do biquíni na mão, em direção à água.
-- Vem, Ana Paula! – chamou Marcela. – Vamos nos lavar também. Minhas pernas estão todas cheia de areia – acrescentou.
Eu pensei em acompanhá-las, todavia fiquei meio sem graça. Parte de mim dizia para correr atrás delas e ficar olhando para aqueles seios desnudos, mas outra parte dizia que aquilo não estava certo, que eu não deveria me aproveitar daquela situação. De forma que, tomado pela timidez, achei por bem voltar à cabana e aguardar por elas ali.
Não tardou para que Luciana surgisse sozinha com a peça do biquíni na mão direita. Ela entrou deu-me uma olhada e foi sentar do outro lado.
-- Aquele pirralha me paga – esbravejou ela. – Você vai ver o que vou fazer com ela. Vou transformar a vida dela aqui num inferno. Ah, mas vou mesmo!
-- Deixa isso pra lá – falei, desviado o olhar para seus belos seios. – Ela ainda é uma criança.
-- Criança? Ela é uma garotinha mimada, isso sim. Olha o que ela fez com o meu biquíni. – Levantou-o em minha direção. – Só quero ver como vou fazer para consertar ele.
Aproximei dela, sentei ao seu lado e peguei a peça arrebentada. Enquanto a examinava, pensava em alguma coisa para lhe dizer. Sabia que dificilmente ia conseguir dar um jeito. Certamente Luciana teria que se acostumar assim como estava. Tanto ela quanto as outras talvez ainda não tivesse se dado conta de que mais cedo ou mais tarde não teríamos o que vestir.
-- Fica sem ele – sugeri.
-- O quê? Andar por aí assim, com os peitos de fora? – inquiriu ela com espanto.
-- E o que têm? Você não já está sem ele. Só temos nós aqui mesmo. E de mim você não tem mais o que esconder. – Proferi estas palavras de forma corajosa, pois normalmente não teria coragem de dizer tal coisa.
-- Ah, mas sei lá. Fico sem graça. E além do mais, tire os olhos deles, seu safado – disse ela, quando me pegou olhando atentamente para seus seios. Aí ela os cobriu com suas mãos e sua faça afogueou-se.
Eu também, por ser descoberto, fiquei vermelho de vergonha. Mas aí, num tom meio malicioso, com se quisesse quebrar o gelo, falei:
-- Desculpe! Mas é que eles são tão bonitos. Aí eu não resisti. Sempre quis pegar num para saber como é – confessei, lutando desesperadamente para não perder a coragem, feito aquele que tem medo de altura e consegue subir dois degraus e apesar de estar prestes a desistir encontra forças para subir mais um.
Ao proferir isso, esperava que ela me atirasse algumas recriminações. Ao invés disso, e de forma surpreendente, Luciana retirou as mãos, virou em minha direção e quis saber:
-- Mas eles não são grandes demais para o meu corpo?
-- Claro que não. Acho eles bonitos exatamente por serem grandes – falei.
-- Sempre tive vergonha de usar uma roupa decotada porque achava que eram grandes demais. Desde que começaram a crescer, parece que eles ficam cada vez maiores e não vão parar nunca – falou ela, tocando em seus próprios seios. – Às vezes, eu penso que vou ficar quem nem aquelas mulheres nas revistas de mulher pelada.
-- Como assim? – perguntei. Senti que começava a surgir um clima entre a gente. Talvez fosse coisa da minha cabeça, mas estava gostando demais daquilo.
-- Você nunca viu? Eu vi uma vez. Entrei no quarto da minha mãe e comecei a procurar não sei o que no guarda roupa quando encontrei, bem escondidinho, um monte de revistas de mulher, de sexo. Aí numa delas tinha uma mulher com uns peitos enormes assim. – mostrou com as mãos. – Parecia até que ela nem conseguia ficar de pé por causa do tamanho dos peitos. Nossa! Aquilo era horrível!
-- Ah, mas os seus são lindos! Eles não vão ficar grandes assim não. – falei. Eu não sei se ela percebia, mas estava louco para tocar neles. Minhas mãos até comichavam. Foi então que perguntei:
-- Como eles são?
-- Quem? Meus peitos?
-- É!
-- Como assim? De que jeito?
Vi que ela não tinha entendido a minha pergunta. Então fui mais claro:
-- Eles são duros, moles?
-- Não são assim muito molezinhos não, mas também na são muito duros. Põe a mão para você ver.
Titubeei. Será que encontraria forças para subir mais um degrau? Por alguns instantes, o desejo de tocá-los enfrentou a vergonha de cometer um ato daqueles num combate mortal. Por fim, o primeiro venceu. Meu coração, porém, acelerou, tornei-me tenso, mas levei vagarosamente a mão até o seio dela. Então o toquei levemente. Primeiro, perpassei a ponta do dedo sobre a pele lisa e branca; em seguida, pressionei levemente o dedo; e depois, arrastei o dedo até o mamilo, pois ele me parecia ter uma consistência diferente, e eu queria ter a certeza. Mas ao tocá-lo, alguma coisa aconteceu. Não encontro palavras para explicar. Só sei que foi como se ao levar o dedo nele, ligasse alguma coisa que fez com que Luciana sentisse um calafrio. Na época eu não entendi aquilo. Mas para mim, aquilo foi uma reação inesperada, uma coisa estranha, semelhante ao levarmos um choque elétrico pela primeira vez.
Luciana não disse nada. Continuou calada, só me olhando tocar em seu seio, talvez não sabendo o que dizer. Aí eu senti vontade de apertá-lo, de espremer aquela massa volumosa e tão sensível. Assim, abri a mão e fechei os dedos sobre o seio dela. Luciana soltou um suspiro e jogou a cabeça para trás.
O que senti? Como posso dizer? Foi uma sensação deleitosa. Fiquei excitado e com uma vontade incontrolável de ir para cima dela, beijá-la nos lábios e beijar naqueles seios. Queria continuar, agarrar-me àquelas sensações para sempre; queria ir além e descobrir até onde tais sensações me levariam. Era a segunda vez que sentia um deleite tão intenso assim. O primeiro tinha sido no dia anterior, quando beijei a Marcela E não sei o que teria acontecido se não tivéssemos ouvido as outras duas se aproximar. No mesmo instante retirei a mão. Luciane ergueu a cabeça e virou para o lado.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

A MENINA DO ÔNIBUS - Capítulo V - Parte 4

Na quinta-feira, enquanto "o espírito ia acordando vagarosamente para um trêmulo conhecimento da manhã", despertei. E então tomei a resolução de executar meu plano nos próximos cinco dias. Não podia esperar mais, e nem havia o porquê. Ana Carla tornara-se uma menina incapaz de me dizer não, foi o que me deu essa certeza. Sua declaração de amor, a maneira e as palavras usadas para expressar seus sentimentos só me reforçaram a convicção de que ela estava plenamente em meu poder. Podia-se lhe perceber a disposição para fazer qualquer coisa que eu pedisse, desde que esse sacrifício não fosse maior do que seu amor por mim. Pois se tem uma coisa que jamais podemos exigir de uma pessoa é que ela faça uma loucura maior do que seu amor. Qualquer pessoa, principalmente as mulheres, são capazes até mesmo de sacrificar a própria vida por amor sem saber que na mais das vezes o objeto de seu amor não vale um puto furado.
Não havia mais o que esperar. E esperar só seria uma perda de tempo, um risco desnecessário, pois quanto mais tempo se dá a uma pessoa para avaliar suas escolhas, maiores são as chances de que venha a se arrepender. Além do mais, era-me difícil suportar a vontade de vê-la inteiramente despida me presenteando com a sua virgindade (essa imagem ocupava diariamente meus pensamentos desde que a conheci. Aliás sua imagem substituiu quase por completo a imagem de outras mulheres – muitas delas com as quais havia saído no passado, como Daniela, cujos traços de pudor por causa de sua educação conservadora me excitava, e mais recente Ana Paula – em meus devaneios, os quais, de vez em quando, levavam-me a masturbação). Tudo que havia feito, tudo que arriscara até então era exclusivamente com esse único objetivo. E finalmente parecia que ele havia chegado.
Muitas vezes ao longo de nossas vidas, ao corrermos atrás de algo, as coisas dão tão certas que temos a impressão de que os deuses conspiram a nosso favor. Isso já acontecera comigo em outras ocasiões e agora parecia acontecer novamente, uma vez que nada corria tão simetricamente aos meus planos quanto Ana Carla. Dir-se-ia estar ela seguindo um roteiro, feito um ator de teatro durante uma encenação.
Naquela mesma manhã, durante o desjejum, minha mãe comunicou-me que ela e meu pai precisavam ir à capital paulista no domingo visitar tia Luzia, cujo câncer em estágio avançado, levara-a definitivamente para o hospital. Ela me convidou para ir, mas inventei uma desculpa e disse que arrumaria uma folga no meio da semana seguinte e daria um pulo à São Paulo para visitá-la.
-- Mas nós vamos chegar tarde, meu filho. Você vai ficar sozinho em casa?
-- Ora, mãe? Já não sou mais criança, né? Sou um homem de quase trinta anos -- expliquei.
-- Eu sei meu filho. Mas a gente se preocupa com você.
-- Pode ficar tranquila, mãe; eu sei me virar muito bem.
Ela ficou convencida e mudou de assunto.
Ah, querido leitor, como dizer o que se passou pela minha cabeça logo após essa conversa! Era tudo que eu precisava. Dir-se-ia da sorte grande batendo-me à porta. E era preciso agarrá-la como um enfermo se agarra à vida. Se meus pais não estariam em casa, por que não traze-la para cá? “Aqui poderei usar de todos os artifícios para seduzi-la. Tudo fica mais fácil. Ela não vai me escapar!”, foi o que pensei quase intuitivamente.
Mas ainda sim havia um problema. Será que ela viria à minha casa por livre e espontânea vontade? Ou seria preciso usar de algum artifício para convencê-la? Se fosse preciso, o que eu poderia dizer ou fazer para quebrar-lhe a resistência? Embora não acreditasse numa oposição por parte dela, como não encontrei em outros casos, ainda sim havia esse risco. Afinal não se pode descartar nenhuma possibilidade, pois quando esta existe deve-se levá-la em consideração. Ah, tinha de planejar cada pequeno passo para nada dar errado. “O momento está tão próximo! Nada pode dar errado agora, senão tudo estará perdido”, disse com meus botões ao entrar no carro para ir ao trabalho.
Ana Carla telefonou-me da escola uma hora e meia depois. Disse-me que estava no intervalo. Ficamos conversando por mais de dez minutos. Pensei em lhe fazer o convite, mas cheguei a conclusão de que assim não poderia ver sua reação e nem avaliar com precisão seu grau de receptividade. E se ela criasse algum empecilho? Eu não estaria lá para demover-lhe os temores. Não, não. Teria de lhe dar essa notícia pessoalmente.
Queria encontrá-la para comunicar-lhe a boa nova, mas disse-me ao telefone não ter como sair de casa, pois seu pai, de folga do trabalho, estaria em casa. Ainda acrescentou que se saísse, teria de dar-lhe muitas explicações, pois seu pai é daqueles que acham que mulher é para ficar em casa, cuidando do lar e dos filhos. Não quis insistir para não criar desavenças em sua casa. Era melhor eu ter um pouco mais de paciência e só lhe dar a notícia no dia seguinte. Ser-me-ia angustiante passar a noite com uma vontade incontrolável de contar-lhe ter encontrado um jeito de ficarmos à sós, mais à vontade, sem o temor de sermos surpreendidos (seriam estas as palavras para convencê-la), mas era ainda mais angustiante dormir na incerteza de que ela aceitaria, pois o desejo de dar uma notícia, por mais intenso e importante que esta possa ser, nunca é maior do que a incerteza de como o outro vai reagir. Não é tanto o peso da notícia que muitas vezes nos levam ao desespero, mas a incerteza de como o outro a receberá.
Antes de prosseguir porém gostaria que o leitor lesse com atenção os apontamentos de Ana Carla em seu diário. Se até então ainda não havia deixado claro sinais de mudança de comportamento e pensamento, agora, pela primeira vez, começou a perceber efeitos desse relacionamento proibido, relacionamento que tinha tudo para nem se ter iniciado, embora chegamos onde chegamos por culpa exclusivamente minha. Talvez se ela não estivesse tomada pela cegueira da paixão, cegueira essa que nos impede de enxergar tudo aquilo que de alguma forma pode pôr em cheque tal sentimento, teria desistido a tempo. Mas como disse Stendhal: "na primeira juventude, o amor é como um rio imenso que arrasta tudo em seu curso e ao qual sabemos que é impossível resistir". Acho inclusive que a paixão é o mais perigoso dos males, pois quem é acometido por ele não só não admite a doença como recusa qualquer tratamento.

Quinta-feira, 2 de dezembro.

Hoje eu liguei para ele da escola e disse que não ia dar para nos encontrarmos. Meu pai estava de folga e de tarde ia sair com a gente. Ele disse que não tinha problema, pois no fim de semana a gente desconta o atraso.
Quando voltei para casa, fui direto para o meu quarto. Não me diverti muito hoje. Já acordei meio irritada e passei o dia assim. Desde ontem já estava desse jeito. Acordei com meus peitos doloridos. No começo eu achei que fosse por causa das carícias que ele me fez, mas no final do dia a minha menstruação veio. Aí eu percebi que eles estavam assim porque eu ia ficar menstruada. Pior que agora vou ficar uns três dias assim. Quando a gente se encontrar, não vou deixar ele chegar a mão muito perto. Não quero que ele saiba que estou naqueles dias.
Ah, meu querido diário! Eu não sabia que amar era tão complicado assim. Está apaixonada é a coisa mais deliciosa que existe, mas quando a gente está com o nosso amor. Quando estamos longe dele, ou quando a gente quer ficar com ele e não dá é muito ruim. A gente fica desesperada, sabia? O pior que eu não posso dizer para ninguém o que está se passando aqui dentro desse coração. Só para você. Às vezes, quando quero ver ou falar com ele e não consigo, fico triste, angustiada e um pouco irritada também. Me dá vontade de sair correndo e ir atrás dele. Dá vontade de sair pela rua gritando para todo mundo ouvir que eu amo ele, que eu não consigo viver sem ele, que não me importo que ele seja bem mais velho.
Minha vida mudou completamente. Sabia? Até minhas amigas, minhas colegas de infância, como a Marcela e a Fernanda, já não tenho mais aquela vontade de estar sempre com elas. Às vezes, elas me chamam para ir à casa delas, mas não é a mesma coisa de antes. Parece que elas ficaram infantis e sem graça alguma. Será que sou eu quem estou mudando?
Será que meus pais perceberam alguma mudança em mim? Meu Deus! E se eles começarem a desconfiar de alguma coisa? Estou perdida.