Após
colher
as
duas
goiabas
e
mais
três
que
Ana
Paula
achou
enquanto
eu
e
Marcela
nos ausentamos,
retornamos
à cabana
com
o
sol
escondendo
por
trás
da
montanha.
Marcela
passou
a
maior
parte
do
tempo
silenciosa
e
pensativa, como se procurasse
entender os seus próprios sentimentos.
Vez
ou
outra,
fitava-me
e,
em
seguida,
abaixava
a
cabeça
tímida;
aliás,
tão
envergonhada
quanto
eu
que
não
deixava
de
me
corar
toda
vez
que
nossos
olhos
se
cruzavam.
No
entanto,
aquela
insistência
em
me
fitar
mostrava
uma
mudança
de
comportamento.
Da
outra
vez
ela
procurava
não
me
encarar,
mas
agora,
apesar
do
silêncio,
parecia
não
estar
ofendida
com
a
minha
falta
de
compostura.
Talvez
encarara
minha
ousadia
como
um
ato
deliberado,
fruto
do
momento. Ou, por ter
experimentado o gosto do deleite, tenha encarado aquilo tudo de forma
positiva. Enfim, seja lá qual for, a verdade é que isso acabou
reacendendo as minhas esperanças.
Embora
Ana
Paula
tagarelasse
a
maior
parte
do
tempo,
eu
mal
prestava
atenção
às palavras De
fato,
não
me
recordo
de
nada que
ela
tenha
dito.
Sei
apenas
que
ela
estava
alegre,
contrastando
com
seu
estado
melancólico
de
mais
cedo,
quando
a
saudade
nos
afetara
a
todos.
Compenetrado
em
meus
pensamentos,
eu
ficava
revendo
o momento onde
a
troca
de
experiências
foi
uma
experiência
inesquecível.
Aliás,
ainda
hoje
consigo
rever
aquele
instante como
se
este ocorresse agora e não num passado distante.
E
foi
mergulhado
nesses
pensamentos
que
finalmente
chegamos
à
cabana.
--
O que vocês trouxeram? -- apressou em perguntar Luciana, recostada a
um canto da cabana, demostrando alegria com a nossa chegada – Estou
com uma fome de lobos – acrescentou.
--
Não muita coisa – adiantou-se Marcela, possivelmente para evitar
que Ana Paula abrisse a boca e iniciasse uma nova discussão com
Luciana, dado o desafeto entre as duas. -- Só 5 goiabas. Não vai
dar nem para dividir direito.
--
Quem é menor come menos – declarou com o intuito de provocar Ana
Paula, já que esta era a menor e mais nova.
--
Eu fico com uma pequena – antecipei, antes que um tumulto se
iniciasse. Aliás, de qualquer forma teria feito isso, não só pela
minha prima como por Marcela também. Quanto à Luciana, certamente
sentiria um quê de prazer em deixá-la com menos, mas devido ao seu
estado enfermo provavelmente não faria isso naquele momento. -- Não
estou com fome mesmo!
--
Eu é que num vou dar a minha parte pra essa vadia esfomeada –
interveio Ana Paula incisiva, deixando claro que o fato de Luciana
está enferma não a comovia. Aliás, seu tom de voz era desafiador.
-- Ela num é melhor do que ninguém.
--
Vadia é você, sua pirralha! Se eu não estivesse com o pé
machucado, ia quebrar tua cara agora mesmo – esbravejou Luciana
fazendo gestos para se levantar.
--
Mas que merda! Será que vocês não conseguem ficar um minuto sem
brigar? Pode parar as duas. -- intervi.
Fez-se
um breve silêncio. Emburrada, Ana Paula jogou ao chão as goiabas
que trazia nas mãos e sentou-se ao lado da porta, feito uma criança
contrariada. Luciana, pelo contrário, denotava uma satisfação
íntima, como se sentisse prazer em ver a outra naquele estado. No
entanto, não deixou de sussurrar como se pensasse alto:
--
Deixa meu pé melhorar. -- E isso soou como uma ameaça.
Nisso,
Marcela abaixou-se em silêncio e catou as goiabas. As outras duas
encontravam-se em meu poder.
--
Vamos dividir isso logo – falei. -- Dê as duas menores pra Luciana
– ordenei. Em seguida acrescentei: -- pega essa – estendi o braço
– e essa menorzinha aí – apontei em seguida para a mão direita
dela.
Marcela
entregou-lhe as duas frutas. Luciana pegou-as em silêncio. Entreguei
a que ainda se encontrava comigo à minha prima e disse para Marcela
ficar com a maior e me dar a menor. Ela titubeou por um instante,
talvez querendo me dar a maior. E após alguns instantes ofereceu-me
a maior. Recusei-a acrescentando:
--
A maior é sua. Pode me dar a outra.
Luciana,
vendo aquela troca de gentilezas, não deixou por menos.
--
Que bonitinho! Um com peninha do outro.
--
Vai se ferrar! -- deixou escapar Marcela.
Por
sorte, Luciana não retrucou. Aliás, numa atitude incomum, pois
certamente estava enciumada. E nesses casos, a primeira providência
é partir para o ataque. No entanto, sua atitude parecia ocultar
algo, uma vingança quem sabe. Já demonstrara mais de uma vez que a
vingança é um prato que se como frio como
diz o velho ditado.
Saboreamos
as goiabas em silêncio, cada um a seu modo. Nesse ínterim a noite
chegou e tudo se tornou um breu. No interior da cabana, o fogo
queimava lentamente, numa chama branda, alimentada vez ou outra por
pequenos gravetos. Aliás, já não nos preocupávamos tanto com a
fogueira quanto nos primeiros dias. Não a deixávamos apagar, já
que nos seria custoso acendê-la novamente, mas procurávamos
mantê-la acesa apenas para termos fogo quando realmente
precisássemos dele e para ter um pouco de claridade quando a noite
caía. Esse inclusive era o único motivo pelo qual ainda tomávamos
conta dela. E naquela noite, não seria diferente. Assim, como
vinhamos fazendo desde a chegada à ilha, cada um teria de vigiá-la;
pelo menos até encontrar uma forma melhor de mantê-la acesa por
toda a noite.
--
Preciso ir lá fora – disse Luciana pouco depois.
Fitei-a.
Em seguida, olhei para Marcela e minha prima, a qual encontrava-se
deitada num dos cantos, prestes a adormecer. Ambas também
olhavam-na, talvez surpresas com o pedido.
Embora
não tenha feito diretamente o pedido a mim, sabia que teria de ser
eu a levá-la, já que se tornara inimiga das outras duas. Por isso
adiantei acrescentando:
--
Mas agora? Já tá escuro.
-- E fazer xixi tem hora? E qual o
problema de estar escuro? Você não costuma sair no meio da noite
para fazer aquelas coisas.
A
minha vontade foi de procurar um buraco para enfiar a cabeça. No
entanto, apenas fitei-a mudo, com o rosto pegando fogo.
--
Que coisas? -- perguntou Ana Paula.
--
Num é nada não. Ela é que está inventando coisas – volvi. Foi a
forma que encontrei de sair daquele embaraço. Claro que se ela e
Marcela fossem espertas teriam vistos o meu embaraço e percebido que
Luciana sabia de algo que elas não tinham conhecimento. -- Deve
estar é sonhando, isso sim. Tenho o maior medo de ir lá fora
sozinho – acrescentei enquanto me aproximava dela. Estendi os
braços e falei: -- Já que não tem jeito, vamos logo.
Segurei-a
pelos quadris e ajudei-a a caminhar para fora da cabana. Apesar de
seu pé parecer melhor, ela ainda não conseguia firmá-lo. Vez ou
outro chegava a pô-lo no chão, o que já era um sinal de melhora,
mas a dor a impedia se usá-lo para caminhar.
--
Essa imobilização que vocês fizeram deu resultado – disse ela.
-- Já estou me sentindo bem melhor – completou.
--
Que bom. Assim vai sarar mais rápido – falei. A bem da verdade não
sabia o que dizer. Ainda continuava confuso com o constrangimento que
ela me fizera passar momentos antes. Prova disso foram minhas
palavras. Apesar de não desejar o mal de ninguém, sabia
perfeitamente que enquanto ela estivesse enferma eu estaria livre
tanto de suas investidas quanto para me encontrar com Marcela.
Portanto, não poderia desejar de forma alguma sua melhora. Aliás,
se fosse mais corajoso daria um jeito de fazer com que aquela lesão
piorasse.
Andamos
por cerca de cinco metros e achei que ela pararia. Mas quando
perguntei se ali estava ótimo ela fez questão de dizer:
--
Vamos naquela direção – apontou. -- O que vou fazer não quero
que aquelas vadias vejam.
Andamos
por mais ou menos cem metros, o suficiente para que não fossemos
vistos pelas meninas. Aliás, olhando para trás, mal se via a
cabana. Na realidade, ela só podia ser vista por causa do fogo a
clareá-la.
--
Me ajude a ficar de joelhos – pediu.
Mantendo-a
equilibrada, ajudei-a a se abaixar. Apesar da dificuldade, consegui
se ajoelhar. Por um momento fiquei tentando imaginar como ela faria
para fazer suas necessidades. Mas aí cheguei a conclusão de que
naquela posição ela não teria problemas. “É só ela apoiar as
mãos no chão e fazer o que ela quiser”, lembro-me de pensar.
--
Fica aqui, bem na minha frente, para eu me apoiar.
Jazia
ao seu lado. Então, sem soltá-la de todo para que não perdesse o
equilíbrio, dei três passos e parei a sua frente. Por um momento,
ela soltou minha mão e como se perdesse o equilíbrio agarrou-me a
sunga, puxando-a para baixo.
Assustado,
dei um passo para trás. Mas ela me segurou.
--
Nem tente escapar – Nisso ela agarrou-me os testículos. -- Se
tentar, arranco eles. Aposto como vai doer tanto que você vai rolar
no chão de dor – ameaçou. -- Sei o quanto isso aqui dói.
Sem
ter o que fazer, acabei dizendo que não fugiria.
--
Melhor assim. Deixe eu ver o que você andou aprontando com aquela
vadia. Se você fez alguma coisa eu vou descobrir já. -- Então
sentir-lhe os dedos pegarem-me no falo e empurrar o prepúcio para
trás. -- Hum. Eu sabia! Tá melado. Pensa que eu sou idiota? Pode
até não ter feito nada com ela, mas ficou pensando em fazer. Ele
não ia estar assim se você não tivesse feito ele ficar duro e
ficasse pensando. Sei muito bem. -- Enquanto falava, movia os dedos
para trás e para frente. E devido ao excitamento de meia hora antes,
ele voltou a crescer mais rápido. Até tentei impedir, mas não se
pode conter os instintos. De forma que não havia nada que eu pudesse
fazer. -- Muito bem. Cresce minha
coisinha... cresce mais...
Quando
ela o percebeu ereto, soltou-me os testículos sob ameaças:
--
Se não me obedecer, na primeira oportunidade eu juro que vou apertar
eles tanto que os teus gritos vão chegar aos ouvidos dos teus pais.
E você já sabe que o que eu prometo eu faço.
Cheguei
a experimentar um calafrio ao ouvir suas ameaças. Sabia que Luciana
era capaz de cumprir suas promessas. Era o tipo de mulher, embora eu
ainda não compreendera de todo isso, capaz de torturar a pessoa mais
querida para alcançar seus objetivos. No entanto, o que mais me
assustava não eram as ameaças, mas o que ela ocultava. Boa coisa
não haveria de ser, embora com aqueles gestos não fosse difícil
deduzir, mesmo para um garoto da minha idade. Ela tinha uma mente
diabólica, disso eu não tinha a menor dúvida. E sendo assim, era
capaz de me levar a cometer os atos mais vergonhosos apenas para
satisfazer seus instintos incontroláveis.
Preso
feito um pequeno inseto que cai nas teias de uma aranha, não me
restava outra alternativa a não ser aceitar o meu destino e
aguardar.
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