terça-feira, 11 de novembro de 2014

ADEUS À INOCÊNCIA - CAP. 48


Após colher as duas goiabas e mais três que Ana Paula achou enquanto eu e Marcela nos ausentamos, retornamos à cabana com o sol escondendo por trás da montanha. Marcela passou a maior parte do tempo silenciosa e pensativa, como se procurasse entender os seus próprios sentimentos. Vez ou outra, fitava-me e, em seguida, abaixava a cabeça tímida; aliás, tão envergonhada quanto eu que não deixava de me corar toda vez que nossos olhos se cruzavam. No entanto, aquela insistência em me fitar mostrava uma mudança de comportamento. Da outra vez ela procurava não me encarar, mas agora, apesar do silêncio, parecia não estar ofendida com a minha falta de compostura. Talvez encarara minha ousadia como um ato deliberado, fruto do momento. Ou, por ter experimentado o gosto do deleite, tenha encarado aquilo tudo de forma positiva. Enfim, seja lá qual for, a verdade é que isso acabou reacendendo as minhas esperanças.
Embora Ana Paula tagarelasse a maior parte do tempo, eu mal prestava atenção às palavras De fato, não me recordo de nada que ela tenha dito. Sei apenas que ela estava alegre, contrastando com seu estado melancólico de mais cedo, quando a saudade nos afetara a todos. Compenetrado em meus pensamentos, eu ficava revendo o momento onde a troca de experiências foi uma experiência inesquecível. Aliás, ainda hoje consigo rever aquele instante como se este ocorresse agora e não num passado distante. E foi mergulhado nesses pensamentos que finalmente chegamos à cabana.
-- O que vocês trouxeram? -- apressou em perguntar Luciana, recostada a um canto da cabana, demostrando alegria com a nossa chegada – Estou com uma fome de lobos – acrescentou.
-- Não muita coisa – adiantou-se Marcela, possivelmente para evitar que Ana Paula abrisse a boca e iniciasse uma nova discussão com Luciana, dado o desafeto entre as duas. -- Só 5 goiabas. Não vai dar nem para dividir direito.
-- Quem é menor come menos – declarou com o intuito de provocar Ana Paula, já que esta era a menor e mais nova.
-- Eu fico com uma pequena – antecipei, antes que um tumulto se iniciasse. Aliás, de qualquer forma teria feito isso, não só pela minha prima como por Marcela também. Quanto à Luciana, certamente sentiria um quê de prazer em deixá-la com menos, mas devido ao seu estado enfermo provavelmente não faria isso naquele momento. -- Não estou com fome mesmo!
-- Eu é que num vou dar a minha parte pra essa vadia esfomeada – interveio Ana Paula incisiva, deixando claro que o fato de Luciana está enferma não a comovia. Aliás, seu tom de voz era desafiador. -- Ela num é melhor do que ninguém.
-- Vadia é você, sua pirralha! Se eu não estivesse com o pé machucado, ia quebrar tua cara agora mesmo – esbravejou Luciana fazendo gestos para se levantar.
-- Mas que merda! Será que vocês não conseguem ficar um minuto sem brigar? Pode parar as duas. -- intervi.
Fez-se um breve silêncio. Emburrada, Ana Paula jogou ao chão as goiabas que trazia nas mãos e sentou-se ao lado da porta, feito uma criança contrariada. Luciana, pelo contrário, denotava uma satisfação íntima, como se sentisse prazer em ver a outra naquele estado. No entanto, não deixou de sussurrar como se pensasse alto:
-- Deixa meu pé melhorar. -- E isso soou como uma ameaça.
Nisso, Marcela abaixou-se em silêncio e catou as goiabas. As outras duas encontravam-se em meu poder.
-- Vamos dividir isso logo – falei. -- Dê as duas menores pra Luciana – ordenei. Em seguida acrescentei: -- pega essa – estendi o braço – e essa menorzinha aí – apontei em seguida para a mão direita dela.
Marcela entregou-lhe as duas frutas. Luciana pegou-as em silêncio. Entreguei a que ainda se encontrava comigo à minha prima e disse para Marcela ficar com a maior e me dar a menor. Ela titubeou por um instante, talvez querendo me dar a maior. E após alguns instantes ofereceu-me a maior. Recusei-a acrescentando:
-- A maior é sua. Pode me dar a outra.
Luciana, vendo aquela troca de gentilezas, não deixou por menos.
-- Que bonitinho! Um com peninha do outro.
-- Vai se ferrar! -- deixou escapar Marcela.
Por sorte, Luciana não retrucou. Aliás, numa atitude incomum, pois certamente estava enciumada. E nesses casos, a primeira providência é partir para o ataque. No entanto, sua atitude parecia ocultar algo, uma vingança quem sabe. Já demonstrara mais de uma vez que a vingança é um prato que se como frio como diz o velho ditado.
Saboreamos as goiabas em silêncio, cada um a seu modo. Nesse ínterim a noite chegou e tudo se tornou um breu. No interior da cabana, o fogo queimava lentamente, numa chama branda, alimentada vez ou outra por pequenos gravetos. Aliás, já não nos preocupávamos tanto com a fogueira quanto nos primeiros dias. Não a deixávamos apagar, já que nos seria custoso acendê-la novamente, mas procurávamos mantê-la acesa apenas para termos fogo quando realmente precisássemos dele e para ter um pouco de claridade quando a noite caía. Esse inclusive era o único motivo pelo qual ainda tomávamos conta dela. E naquela noite, não seria diferente. Assim, como vinhamos fazendo desde a chegada à ilha, cada um teria de vigiá-la; pelo menos até encontrar uma forma melhor de mantê-la acesa por toda a noite.
-- Preciso ir lá fora – disse Luciana pouco depois.
Fitei-a. Em seguida, olhei para Marcela e minha prima, a qual encontrava-se deitada num dos cantos, prestes a adormecer. Ambas também olhavam-na, talvez surpresas com o pedido.
Embora não tenha feito diretamente o pedido a mim, sabia que teria de ser eu a levá-la, já que se tornara inimiga das outras duas. Por isso adiantei acrescentando:
-- Mas agora? Já tá escuro.
-- E fazer xixi tem hora? E qual o problema de estar escuro? Você não costuma sair no meio da noite para fazer aquelas coisas.
A minha vontade foi de procurar um buraco para enfiar a cabeça. No entanto, apenas fitei-a mudo, com o rosto pegando fogo.
-- Que coisas? -- perguntou Ana Paula.
-- Num é nada não. Ela é que está inventando coisas – volvi. Foi a forma que encontrei de sair daquele embaraço. Claro que se ela e Marcela fossem espertas teriam vistos o meu embaraço e percebido que Luciana sabia de algo que elas não tinham conhecimento. -- Deve estar é sonhando, isso sim. Tenho o maior medo de ir lá fora sozinho – acrescentei enquanto me aproximava dela. Estendi os braços e falei: -- Já que não tem jeito, vamos logo.
Segurei-a pelos quadris e ajudei-a a caminhar para fora da cabana. Apesar de seu pé parecer melhor, ela ainda não conseguia firmá-lo. Vez ou outro chegava a pô-lo no chão, o que já era um sinal de melhora, mas a dor a impedia se usá-lo para caminhar.
-- Essa imobilização que vocês fizeram deu resultado – disse ela. -- Já estou me sentindo bem melhor – completou.
-- Que bom. Assim vai sarar mais rápido – falei. A bem da verdade não sabia o que dizer. Ainda continuava confuso com o constrangimento que ela me fizera passar momentos antes. Prova disso foram minhas palavras. Apesar de não desejar o mal de ninguém, sabia perfeitamente que enquanto ela estivesse enferma eu estaria livre tanto de suas investidas quanto para me encontrar com Marcela. Portanto, não poderia desejar de forma alguma sua melhora. Aliás, se fosse mais corajoso daria um jeito de fazer com que aquela lesão piorasse.
Andamos por cerca de cinco metros e achei que ela pararia. Mas quando perguntei se ali estava ótimo ela fez questão de dizer:
-- Vamos naquela direção – apontou. -- O que vou fazer não quero que aquelas vadias vejam.
Andamos por mais ou menos cem metros, o suficiente para que não fossemos vistos pelas meninas. Aliás, olhando para trás, mal se via a cabana. Na realidade, ela só podia ser vista por causa do fogo a clareá-la.
-- Me ajude a ficar de joelhos – pediu.
Mantendo-a equilibrada, ajudei-a a se abaixar. Apesar da dificuldade, consegui se ajoelhar. Por um momento fiquei tentando imaginar como ela faria para fazer suas necessidades. Mas aí cheguei a conclusão de que naquela posição ela não teria problemas. “É só ela apoiar as mãos no chão e fazer o que ela quiser”, lembro-me de pensar.
-- Fica aqui, bem na minha frente, para eu me apoiar.
Jazia ao seu lado. Então, sem soltá-la de todo para que não perdesse o equilíbrio, dei três passos e parei a sua frente. Por um momento, ela soltou minha mão e como se perdesse o equilíbrio agarrou-me a sunga, puxando-a para baixo.
Assustado, dei um passo para trás. Mas ela me segurou.
-- Nem tente escapar – Nisso ela agarrou-me os testículos. -- Se tentar, arranco eles. Aposto como vai doer tanto que você vai rolar no chão de dor – ameaçou. -- Sei o quanto isso aqui dói.
Sem ter o que fazer, acabei dizendo que não fugiria.
-- Melhor assim. Deixe eu ver o que você andou aprontando com aquela vadia. Se você fez alguma coisa eu vou descobrir já. -- Então sentir-lhe os dedos pegarem-me no falo e empurrar o prepúcio para trás. -- Hum. Eu sabia! Tá melado. Pensa que eu sou idiota? Pode até não ter feito nada com ela, mas ficou pensando em fazer. Ele não ia estar assim se você não tivesse feito ele ficar duro e ficasse pensando. Sei muito bem. -- Enquanto falava, movia os dedos para trás e para frente. E devido ao excitamento de meia hora antes, ele voltou a crescer mais rápido. Até tentei impedir, mas não se pode conter os instintos. De forma que não havia nada que eu pudesse fazer. -- Muito bem. Cresce minha coisinha... cresce mais...
Quando ela o percebeu ereto, soltou-me os testículos sob ameaças:
-- Se não me obedecer, na primeira oportunidade eu juro que vou apertar eles tanto que os teus gritos vão chegar aos ouvidos dos teus pais. E você já sabe que o que eu prometo eu faço.
Cheguei a experimentar um calafrio ao ouvir suas ameaças. Sabia que Luciana era capaz de cumprir suas promessas. Era o tipo de mulher, embora eu ainda não compreendera de todo isso, capaz de torturar a pessoa mais querida para alcançar seus objetivos. No entanto, o que mais me assustava não eram as ameaças, mas o que ela ocultava. Boa coisa não haveria de ser, embora com aqueles gestos não fosse difícil deduzir, mesmo para um garoto da minha idade. Ela tinha uma mente diabólica, disso eu não tinha a menor dúvida. E sendo assim, era capaz de me levar a cometer os atos mais vergonhosos apenas para satisfazer seus instintos incontroláveis.
Preso feito um pequeno inseto que cai nas teias de uma aranha, não me restava outra alternativa a não ser aceitar o meu destino e aguardar.

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