Antes
da viagem, o automóvel, tirado num consórcio há pouco mais de um
ano, vai para a revisão. Afinal não se deve pegar a estrada sem
fazer uma revisão no carro. Ainda mais quando se transporta os
filhos e a esposa, uma senhora de 31 anos, que divide sua devoção
entre os filhos, o marido e Deus, frequentado a igreja uma vez por
semana em companhia da família.
No
dia 22 de dezembro, após uma oração, eles saem cedo de casa. Seu
Roberto, como é conhecido no bairro, é um homem prudente que
respeita a sinalização e os limites de velocidade. Por isso sabe
que gastará mais tempo do que a maioria dos motoristas para fazer o
mesmo trajeto. Mas ele não se importa com isso. “Não se deve ter
pressa. O importante é chegar em segurança”. É o seu lema, o
qual costuma dizer aos amigos quando estes pegam a estrada.
Apesar
do trânsito, a viagem até o litoral corre da melhor forma possível.
E
durante aqueles 12 dias, a família se diverte como nunca. Vão à
praia quase todos os dias e passeiam pela cidade quase todos os
começos de noite. E tudo aquilo que a cidade oferece aos turistas,
aquela família procura desfrutar. Mas não esquecem de seus deveres
para com Deus e assim vão à missa de domingo.
E
como todo passeio, aquele também chegou ao fim. Mas isso não foi
motivo de tristeza. No dia 2, acordaram todos antes da aurora e
pegaram a estrada de volta.
Mas
não chegaram em casa.
Numa
curva de um trecho sem acostamento, uma carreta, vindo em sentindo
contrário, fez uma ultrapassagem proibida e atingiu de frente o
carro onde jazia a família do Sr. Roberto. Tanto ele quanto a esposa
morreu na hora. A menina de 4 anos ainda chegou a ser levada com vida
ao hospital, mas morreu horas depois. O garoto de 7 anos, sobreviveu.
Mas uma fratura na coluna, na região do pescoço, deixou-o
tetraplégico. O motorista do caminhão, apesar da gravidade do
acidente, sofreu ferimentos leves, tendo de mais grave uma perna
quebrada, a qual se recuperou completamente semanas depois.
No
seu depoimento, ele justificou a ultrapassagem da seguinte forma:
--
Não sei o que me deu na cabeça pra fazer aquilo. Talvez eu
estivesse um pouco cansado, já que tava dirigindo há mais de seis
horas sem parar. Parece que alguma coisa me levou a cometer essa
loucura... Talvez tenha sido a vontade de Deus...
Durante
o enterro daqueles inocentes, não faltou um ombro amigo que de uma
forma ou de outra tentava confortar os pais e avós daquelas três
vítimas da irresponsabilidade de um motorista. Ainda mais que eram
pessoas muito queridas na cidade, cuja morte chegou a causar uma
comoção.
E
foram muitas as palavras de consolo. Mas o mais que se ouviu foi:
“Foi
a vontade de Deus”.
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