segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

ADEUS À INOCÊNCIA - CAP. 52

Hesitei bastante em dar mais detalhes dos atos que pratiquei com minha prima. E essa hesitação é a prova de que, no fundo, não os superei inteiramente, embora, como o amigo leitor verá no futuro, não houve consequências que justificasse tamanha vergonha e arrependimento. Mas para um garoto de pouco mais de 13 anos as coisas já não são tão simples, como não fora quando me vi dominado por Fabrício, permitindo que ele me usasse como cobaia. E as coisas se tornam ainda mais complexas quando a timidez é um de seus traços mais marcantes. Pois a timidez não é só um obstáculo a mais diante de qualquer desafio, permitindo que se seja dominado; é também um monstro terrível que assombra a lembrança de qualquer ato vergonhoso, como me assombrara por anos aqueles atos com meu primo. E embora hoje eu a tenha superado em muito, ainda sim não deixou de ser um fantasma. Afinal, quem nasce tímido carregará por toda a vida alguns traços dessa timidez.
Por outro lado a timidez me é uma aliada fundamental na hora de relembrar os fatos ocorridos naquela ilha, fatos esses que, para um extrovertido, provavelmente não teriam se fixado na memória com a mesma intensidade e riqueza de detalhes. Não posso afirmar com precisão, pois desconheço algum estudo nesse sentido, mas acredito que os tímidos têm uma memória mais privilegiada quando se trata de memorização. Existem muitos gênios, e nas mais diversas áreas do conhecimento, reconhecidamente tímidos; embora isso não queira dizer que a timidez seja a causa de sua genialidade. Talvez se trata apenas duma coincidência, aliás como muitas com as quais nos deparamos ao longo da vida. Verdade ou não, atribuo a timidez essa facilidade em relembrar os mais insignificantes momentos.
Assim, dizer que não me lembro do que de fato ocorreu entre mim e Ana Paula é faltar com a verdade. Melhor seria dizer que não quero falar do assunto. Como venho fazendo com relação a Fabrício, embora eu saiba que mais cedo ou mais tarde terá de contar.
Quanto à Ana Paula, eu realmente eu preferia não falar, mas ignorá-lo também não me parece correto com o leitor, já que este provavelmente deseja conhecer todos os fatos, ainda mais aqueles que de alguma forma contribuíram para o desfecho trágico de nossa estadia naquela ilha. Por isso, por mais que me seja difícil, não vou privá-lo do essencial.
O prazer que experimentei ao acariciar-lhe os mamilos dias antes levou-me inevitavelmente aos mesmos atos. Disso eu não tenho dúvida. O prazer é a força que, experimentado uma vez e nas mesmas circunstâncias, nos impele, sem que possamos fazer nada em contrário, a seguir o mesmo ritual a fim de alcançá-lo novamente. Por isso agarrei-lhe os seios e chupei-os e mordi-os a seguir. O fato de tê-los mordido deve ser atribuído um desejo de vingança, uma vez que a vingança produz não só um prazer peculiar como também nos faz sentir melhor e mais poderoso após tê-la alcançado. E não se deve esquecer que é justamente na vingança que mostramos a nossa verdadeira face, não há embuste, despojamos de toda a máscara e revelamos toda a nossa perversidade. Aliás, essa perversidade se estendeu por todos os atos praticados naqueles cinco minutos ou pouco mais.
Talvez somente o desejo sexual não me teria levado a possuí-la. O desejo de vingança pesou muito. Até porque, que outra forma mais prazerosa de se vingar de uma fêmea do que violentá-la? Claro que a maioria dos homens não saem por ai violentando mulheres das quais se tenciona vingar-se por algo que lhes tenham feito. A vingança sexual só é possível quando há um desejo sexual incontrolável, desejo esse que deve ser despertado por aquela de quem se busca a vingança. Por isso é muito comum um ex-namorado, ex-amante ou ex-marido vingar-se daquela que o abandonou estuprando-a ou mandando que a estuprem. E nada humilha e destrói tanto uma mulher quanto o estupro. Este é um dos atos mais vis e vergonhosos cometidos por um homem. E quem os cometem, merecem incontestavelmente não só a condenação como uma pena dura o bastante para não só satisfazer a vitima como permitir que o agressor possa chegar à conclusão de que o prazer de seu ato não compensa o sacrifício do cárcere. E embora eu fosse um garoto e a vítima – minha prima – não tenha sofrido o que normalmente uma vitima desses crimes sofre – a coisa é encarada com menos seriedade entre dois jovenzinhos do que se um de nós fosse adulto --, ainda sim meu ato não pode ser eximido de culpa, uma culpa que quase me levou ao desespero nos dois dias seguintes.
Naquele momento porém, eu não pensava em culpa e menos ainda nas consequências daqueles atos. Assim, quando meus olhos correram-lhe o dorso e foram parar-lhe nos quadris, ocorreu-me de arrancar-lhe a tanga do biquíni e fazer com ela o que vinha fazendo com Luciana; não só pelo prazer, pois eu não duvidada de que o experimentaria, como também para efeito de comparação. Queria tirar a dúvida se com minha prima sentiria o mesmo que com Luciana, se enfiar na “coisa” dela era o mesmo que enfiar na “coisa” da Luciana, já que a coisa da minha prima era diferente. E lembro-me, enquanto arrancava-lhe a tanga, pois esta arrebentou-se no instante em que a agarrei e a puxei, de indagar-me: “Será que a dela é igual a da outra: Luciana?”. Por isso, após jogar a tanga para o lado, apesar dos protestos de Ana Paula – e ela se debatia e me dizia para parar com aquilo, que ia contar para Marcela e os pais quando a gente saísse da ilha – afastei-lhe as pernas com certa dificuldade e observei-lhe o sexo. “Quase igual”, recordo-me de pensar. “O dela só num tem pelos e as beiradas são mais pequenas”. Como eu não sabia o nome dos grandes lábios, simplesmente os chamei de “beiradas”.
Nada mais me despertou o interesse, o que não teria acontecido com um homem mais velho e experimente. Certamente a curiosidade o teria levado a afastar os grandes lábios e observar-lhe o hímen. Mas que interesse poderia ter o hímen de uma mulher para um garoto como eu? Aliás, eu não só não sabia o que era um hímen como o ignorava completamente. Imaginava que ali havia tão somente um buraco onde a gente enfiava o “pinto” e metia até gozar. E essa ignorância era não só por causa da idade como também fruto da educação, do tabu, como já é de conhecimento do amigo leitor. Não que um conhecimento maior tivesse me impedido de cometer aquele ato, mas talvez teria me levado a imaginar o quanto representava a virgindade para uma mulher, coisa que só fui descobrir mais tarde, quando já era um rapaz de 16 anos.
Assim, voltei a olhá-la nos olhos, os quais expressavam pânico e terror, e, consumido pelo desejo, deitei-lhe sobre, afundando-lhe meus quadris no meio das pernas. Não a penetrei de imediato. Mordi-lhe novamente o mamilo e só então levei a mão ao falo e ajeitei-o. Ana Paula, tentou não só me tirar de cima dela como também -- implorando-me para não fazer aquilo -- forçou o sexo para impedir-me de penetrá-lo. Lembro-me perfeitamente da dificuldade para conseguir. Apesar de teso, meu falo deslizava tanto para cima quanto para baixo, como se ali no meio não houvesse nenhuma passagem. Mas eu sabia que havia. Se Luciana tinha, todas deveriam ter. Por isso eu só precisava encontrá-la. O que de fato aconteceu.
O desejo de penetrá-la era tanto que eu não teria desistido por nada desse mundo. E se fosse preciso, acho que teria arreganhado-lhe as pernas e procurado com os olhos aonde estava a abertura. Mas não foi preciso. De repente, senti a pressão, a qual acompanhou uma expressão de dor nos olhos de Ana Paula e um grito como quem leva uma espetada. Não compreendi a dor dela. Achei que aquilo na verdade era fruto do protesto por eu estar “metendo com ela”. Por isso ignorei-a.
Como aprendera com Luciana, penetrei-a até o fim, levantei os quadris e tornei a afundá-los, num ir e vir que me fazia experimentar as mais intensas sensações, as quais findaram numa explosão de prazer – mais intensos do que com a outra --, que me levaram a imobilidade, como que sem forças em cima de Ana Paula.
Não demorou até que eu tomasse consciência do que acabara de fazer. De repente, como num estalo, fui tomado pele arrependimento. Enquanto essa sensação terrível tomava conta de mim, saí-lhe de cima, apanhei minha sunga, e, ignorando-a completamente, como se fitá-la me fosse um dos mais pesados fardos, fui em direção à água. Senti uma necessidade indescritível de me lavar.
Enquanto entrava no mar, recriminava-me de todas as formas por ter feito aquilo. Pensava não só em como iria encará-la dali em diante como também no castigo que estava me reservado no inferno quando eu morresse. Era um homem perdido. Estava certo da condenação de minha alma. Disso eu não tinha mais dúvida. E como já me ocorrera antes, imaginava os tormentos pelos quais passaria no inferno. Aqueles castigos que a Bíblia falava eu teria de enfrentá-los. Mas antes, teria de enfrentar meus pais. E quando soubessem o que eu fizera? Estava certo de que Ana Paula contaria. Iriam castigar-me e me bater. Via meu pai me dando uma surra e inclusive me castrando. Aliás, não sei porque isso me ocorreu novamente. Nunca soubera de alguém que tivesse sido castrado, exceto quando era um garotinho e achava que as meninas não tinham pinto porque alguém tinha tirado delas. Todavia, vira a cerca de um ano, no sítio do tio Roberto, irmão de minha mãe, um porco sendo castrado. E isso me impressionou. Contudo, ao imaginar esse castigo, via-o cortando-me os testículos e pênis com uma faca e o sangue jorrando para todos os lados, como naquele porco, embora na ocasião só os testículos tenham sido removidos. Era uma imagem terrível! Entrei em desespero. E por pouco não cometi suicídio, seguindo mar adentro.
Não sei o que se passou com Ana Paula e que desculpa ela dera para chegar na cabana com a tanga do biquíni arrebentado. Só sei que, quando finalmente criei coragem para retornar e entrei na cabana, ouvi-a conversando normalmente com Marcela, como se nada houvesse acontecido.
Luciana olhou-me com desconfiança, como se pudesse ver, através de meu comportamento, que algo muito grave acontecera. Não me indagou naquele momento, mas na primeira oportunidade às sós comigo, interrogou-me com uma fúria, feito um policial ao interrogar um serial killer, em cujas mãos provavelmente um membro da família foi uma das vítimas, que por pouco não me arrancou a verdade.
Eu sabia que Ana Paula não lhe diria nada. As duas eram inimigas e Luciana não se rebaixaria a ponto de indagar a outra acerca do que havia acontecido. E minha prima não lhe daria o prazer da verdade. Deixaria a outra com a dor da dúvida. Nesse ponto, as mulheres são mais perversas que os homens. Usam de todo o expediente para fazer uma inimiga sofrer. Portanto, se Luciana viesse a saber alguma coisa, ou teria de ouvir da minha boca ou de uma conversa entre Ana Paula e Marcela, embora eu também duvidasse que teria coragem de contar para a amiga, já que muito provavelmente, assim como ocorrera entre mim e Fabrício, ela também se sentiria responsável. Marcela, embora não considerasse Luciana uma inimiga, não era sua amiga. Até porque sabia que Luciana não gostava dela, embora não entendesse o motivo dessa aversão.
Apensar de minhas negativas, fez questão de dizer:
-- Não sou uma idiota que nem você. Sei que aconteceu alguma coisa. E eu vou descobrir. Pode ter certeza disso. E se for o que estou imaginando, e espero que não seja, eu mato aquela pirralha.
Tal ameaça meteu-me tamanho medo que deixei de pensar nas consequências de meus atos ao longo daquela noite. Perdi todo o tempo, enquanto tomava conta da fogueira, pensando numa forma de demovê-la dessa suspeita. Conclui que teria de fazer o impossível, nem que para isso tivesse que lhe satisfazer os mais devassos instintos. Odiava ter de ser um brinquedo em suas mãos, mas para proteger minha prima faria qualquer coisa.

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