Hesitei
bastante em dar mais detalhes dos atos que pratiquei com minha prima.
E essa hesitação é a prova de que, no fundo, não os superei
inteiramente, embora, como o amigo leitor verá no futuro, não houve
consequências que justificasse tamanha vergonha e arrependimento.
Mas para um garoto de pouco mais de 13 anos as coisas já não são
tão simples, como não fora quando me vi dominado por Fabrício,
permitindo que ele me usasse como cobaia. E as coisas se tornam ainda
mais complexas quando a timidez é um de seus traços mais marcantes.
Pois a timidez não é só um obstáculo a mais diante de qualquer
desafio, permitindo que se seja dominado; é também um monstro
terrível que assombra a lembrança de qualquer ato vergonhoso, como
me assombrara por anos aqueles atos com meu primo. E embora hoje eu a
tenha superado em muito, ainda sim não deixou de ser um fantasma.
Afinal, quem nasce tímido carregará por toda a vida alguns traços
dessa timidez.
Por
outro lado a timidez me é uma aliada fundamental na hora de
relembrar os fatos ocorridos naquela ilha, fatos esses que, para um
extrovertido, provavelmente não teriam se fixado na memória com a
mesma intensidade e riqueza de detalhes. Não posso afirmar com
precisão, pois desconheço algum estudo nesse sentido, mas acredito
que os tímidos têm uma memória mais privilegiada quando se trata
de memorização. Existem muitos gênios, e nas mais diversas áreas
do conhecimento, reconhecidamente tímidos; embora isso não queira
dizer que a timidez seja a causa de sua genialidade. Talvez se trata
apenas duma coincidência, aliás como muitas com as quais nos
deparamos ao longo da vida. Verdade ou não, atribuo a timidez essa
facilidade em relembrar os mais insignificantes momentos.
Assim,
dizer que não me lembro do que de fato ocorreu entre mim e Ana Paula
é faltar com a verdade. Melhor seria dizer que não quero falar do
assunto. Como venho fazendo com relação a Fabrício, embora eu
saiba que mais cedo ou mais tarde terá de contar.
Quanto
à Ana Paula, eu
realmente eu preferia não falar, mas ignorá-lo também não me
parece correto com o leitor, já que este provavelmente deseja
conhecer todos os fatos, ainda mais aqueles que de alguma forma
contribuíram para o desfecho trágico de nossa estadia naquela ilha.
Por isso, por mais que me seja difícil, não vou privá-lo do
essencial.
O
prazer que experimentei ao acariciar-lhe os mamilos dias antes
levou-me inevitavelmente aos mesmos atos. Disso eu não tenho dúvida.
O prazer é a força que, experimentado uma vez e nas mesmas
circunstâncias, nos impele, sem que possamos fazer nada em
contrário, a seguir o mesmo ritual a fim de alcançá-lo novamente.
Por isso agarrei-lhe os seios e chupei-os e mordi-os a seguir. O fato
de tê-los mordido deve ser atribuído um desejo de vingança, uma
vez que a vingança produz não só um prazer peculiar como também
nos faz sentir melhor e mais poderoso após tê-la alcançado. E não
se deve esquecer que é justamente na vingança que mostramos a nossa
verdadeira face, não há embuste, despojamos de toda a máscara e
revelamos toda a nossa perversidade. Aliás, essa perversidade se
estendeu por todos os atos praticados naqueles cinco minutos ou pouco
mais.
Talvez
somente o desejo sexual não me teria levado a possuí-la. O desejo
de vingança pesou muito. Até porque, que outra forma mais prazerosa
de se vingar de uma fêmea do que violentá-la? Claro que a maioria
dos homens não saem por ai violentando mulheres das quais se
tenciona vingar-se por algo que lhes tenham feito. A vingança sexual
só é possível quando há um desejo sexual incontrolável, desejo
esse que deve ser despertado por aquela de quem se busca a vingança.
Por isso é muito comum um ex-namorado, ex-amante ou ex-marido
vingar-se daquela que o abandonou estuprando-a ou mandando que a
estuprem. E nada humilha e destrói tanto uma mulher quanto o
estupro. Este é um dos atos mais vis e vergonhosos cometidos por um
homem. E quem os cometem, merecem incontestavelmente não só a
condenação como uma pena dura o bastante para não só satisfazer a
vitima como permitir que o agressor possa chegar à conclusão de que
o prazer de seu ato não compensa o sacrifício do cárcere. E embora
eu fosse um garoto e a vítima – minha prima – não tenha sofrido
o que normalmente uma vitima desses crimes sofre – a coisa é
encarada com menos seriedade entre dois jovenzinhos do que se um de
nós fosse adulto --, ainda sim meu ato não pode ser eximido de
culpa, uma culpa que quase me levou ao desespero nos dois dias
seguintes.
Naquele
momento porém, eu não pensava em culpa e menos ainda nas
consequências daqueles atos. Assim, quando meus olhos correram-lhe o
dorso e foram parar-lhe nos quadris, ocorreu-me de arrancar-lhe a
tanga do biquíni e fazer com ela o que vinha fazendo com Luciana;
não só pelo prazer, pois eu não duvidada de que o experimentaria,
como também para efeito de comparação. Queria tirar a dúvida se
com minha prima sentiria o mesmo que com Luciana, se enfiar na
“coisa” dela era o mesmo que enfiar na “coisa” da Luciana, já
que a coisa da minha prima era diferente. E lembro-me, enquanto
arrancava-lhe a tanga, pois esta arrebentou-se no instante em que a
agarrei e a puxei, de indagar-me: “Será que a dela é igual a da
outra: Luciana?”. Por isso, após jogar a tanga para o lado, apesar
dos protestos de Ana Paula – e ela se debatia e me dizia para parar
com aquilo, que ia contar para Marcela e os pais quando a gente
saísse da ilha – afastei-lhe as pernas com certa dificuldade e
observei-lhe o sexo. “Quase igual”, recordo-me de pensar. “O
dela só num tem pelos e as beiradas são mais pequenas”. Como eu
não sabia o nome dos grandes lábios, simplesmente os chamei de
“beiradas”.
Nada
mais me despertou o interesse, o que não teria acontecido com um
homem mais velho e experimente. Certamente a curiosidade o teria
levado a afastar os grandes lábios e observar-lhe o hímen. Mas que
interesse poderia ter o hímen de uma mulher para um garoto como eu?
Aliás, eu não só não sabia o que era um hímen como o ignorava
completamente. Imaginava que ali havia tão somente um buraco onde a
gente enfiava o “pinto” e metia até gozar. E essa ignorância
era não só por causa da idade como também fruto da educação, do
tabu, como já é de conhecimento do amigo leitor. Não que um
conhecimento maior tivesse me impedido de cometer aquele ato, mas
talvez teria me levado a imaginar o quanto representava a virgindade
para uma mulher, coisa que só fui descobrir mais tarde, quando já
era um rapaz de 16 anos.
Assim,
voltei a olhá-la nos olhos, os quais expressavam pânico e terror,
e, consumido pelo desejo, deitei-lhe sobre, afundando-lhe meus
quadris no meio das pernas. Não a penetrei de imediato. Mordi-lhe
novamente o mamilo e só então levei a mão ao falo e ajeitei-o. Ana
Paula, tentou não só me tirar de cima dela como também --
implorando-me para não fazer aquilo -- forçou o sexo para
impedir-me de penetrá-lo. Lembro-me perfeitamente da dificuldade
para conseguir. Apesar de teso, meu falo deslizava tanto para cima
quanto para baixo, como se ali no meio não houvesse nenhuma
passagem. Mas eu sabia que havia. Se Luciana tinha, todas deveriam
ter. Por isso eu só precisava encontrá-la. O que de fato aconteceu.
O
desejo de penetrá-la era tanto que eu não teria desistido por nada
desse mundo. E se fosse preciso, acho que teria arreganhado-lhe as
pernas e procurado com os olhos aonde estava a abertura. Mas não foi
preciso. De repente, senti a pressão, a qual acompanhou uma
expressão de dor nos olhos de Ana Paula e um grito como quem leva
uma espetada. Não compreendi a dor dela. Achei que aquilo na verdade
era fruto do protesto por eu estar “metendo com ela”. Por isso
ignorei-a.
Como
aprendera com Luciana, penetrei-a até o fim, levantei os quadris e
tornei a afundá-los, num ir e vir que me fazia experimentar as mais
intensas sensações, as quais findaram numa explosão de prazer –
mais intensos do que com a outra --, que me levaram a imobilidade,
como que sem forças em cima de Ana Paula.
Não
demorou até que eu tomasse consciência do que acabara de fazer. De
repente, como num estalo, fui tomado pele arrependimento. Enquanto
essa sensação terrível tomava conta de mim, saí-lhe de cima,
apanhei minha sunga, e, ignorando-a completamente, como se fitá-la
me fosse um dos mais pesados fardos, fui em direção à água. Senti
uma necessidade indescritível de me lavar.
Enquanto
entrava no mar, recriminava-me de todas as formas por ter feito
aquilo. Pensava não só em como iria encará-la dali em diante como
também no castigo que estava me reservado no inferno quando eu
morresse. Era um homem perdido. Estava certo da condenação de minha
alma. Disso eu não tinha mais dúvida. E como já me ocorrera antes,
imaginava os tormentos pelos quais passaria no inferno. Aqueles
castigos que a Bíblia falava eu teria de enfrentá-los. Mas antes,
teria de enfrentar meus pais. E quando soubessem o que eu fizera?
Estava certo de que Ana Paula contaria. Iriam castigar-me e me bater.
Via meu pai me dando uma surra e inclusive me castrando. Aliás, não
sei porque isso me ocorreu novamente. Nunca soubera de alguém que
tivesse sido castrado, exceto quando era um garotinho e achava que as
meninas não tinham pinto porque alguém tinha tirado delas. Todavia,
vira a cerca de um ano, no sítio do tio Roberto, irmão de minha
mãe, um porco sendo castrado. E isso me impressionou. Contudo, ao
imaginar esse castigo, via-o cortando-me os testículos e pênis com
uma faca e o sangue jorrando para todos os lados, como naquele porco,
embora na ocasião só os testículos tenham sido removidos. Era uma
imagem terrível! Entrei em desespero. E por pouco não cometi
suicídio, seguindo mar adentro.
Não
sei o que se passou com Ana Paula e que desculpa ela dera para chegar
na cabana com a tanga do biquíni arrebentado. Só sei que, quando
finalmente criei coragem para retornar e entrei na cabana, ouvi-a
conversando normalmente com Marcela, como se nada houvesse
acontecido.
Luciana
olhou-me com desconfiança, como se pudesse ver, através de meu
comportamento, que algo muito grave acontecera. Não me indagou
naquele momento, mas na primeira oportunidade às sós comigo,
interrogou-me com uma fúria, feito um policial ao interrogar um
serial killer, em cujas mãos provavelmente um membro da família foi
uma das vítimas, que por pouco não me arrancou a verdade.
Eu
sabia que Ana Paula não lhe diria nada. As duas eram inimigas e
Luciana não se rebaixaria a ponto de indagar a outra acerca do que
havia acontecido. E minha prima não lhe daria o prazer da verdade.
Deixaria a outra com a dor da dúvida. Nesse ponto, as mulheres são
mais perversas que os homens. Usam de todo o expediente para fazer
uma inimiga sofrer. Portanto, se Luciana viesse a saber alguma coisa,
ou teria de ouvir da minha boca ou de uma conversa entre Ana Paula e
Marcela, embora eu também duvidasse que teria coragem de contar para
a amiga, já que muito provavelmente, assim como ocorrera entre mim e
Fabrício, ela também se sentiria responsável. Marcela, embora não
considerasse Luciana uma inimiga, não era sua amiga. Até porque
sabia que Luciana não gostava dela, embora não entendesse o motivo
dessa aversão.
Apensar
de minhas negativas, fez questão de dizer:
--
Não sou uma idiota que nem você. Sei que aconteceu alguma coisa. E
eu vou descobrir. Pode ter certeza disso. E se for o que estou
imaginando, e espero que não seja, eu mato aquela pirralha.
Tal
ameaça meteu-me tamanho medo que deixei de pensar nas consequências
de meus atos ao longo daquela noite. Perdi todo o tempo, enquanto
tomava conta da fogueira, pensando numa forma de demovê-la dessa
suspeita. Conclui que teria de fazer o impossível, nem que para isso
tivesse que lhe satisfazer os mais devassos instintos. Odiava ter de
ser um brinquedo em suas mãos, mas para proteger minha prima faria
qualquer coisa.
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