Temendo
deixar Ana Paula às sós com Lucina e esta última a pressionasse
para contar o que havia ocorrido, preferi deixar as três na cabana e
ir sozinho atrás do que comer. E não demorei a voltar com três
goiabas começando a madurar.
--
Num achei mais nada – falei, mostrando-lhes as goiabas. – Só
isso!
--
Mas isso não dá pra nada! -- exclamou Luciana.
--
Foi o que eu arranjei – respondi. -- Pega uma cada uma. Não quero
comer nada – acrescentei.
--
Nada disso! -- volveu Marcela. -- A gente divide. Luciana e Ana Paula
comem essas duas menores e essa grande eu divido com você. -- Pegou
as goiabas de minha mão. -- Toma, Ana Paula! Fica com essa. E essa
pra você – Foi em direção à Luciana e lhe entregou uma.
Luciana
estendeu o braço e a pegou. Em seguida, fitou-me com os olhos
faiscantes e acrescentou:
--
Deixa ele sem. Assim ele aprende a procurar alguma coisa pra gente
comer. Quem manda ele não ser homem o bastante para encontrar
comida!
--
Não é nada disso! -- discordou Marcela, defendendo-me. -- Você
sabe muito bem que nessa ilha não tem mais nada. Só aqueles pés de
goiaba e aquelas bananeiras.
--
Como você sabe? Por acaso você vasculhou toda a mata? Quem disse
que nela não tem o que comer? E peixes? Por que ele não vai pescar
ao invés de ficar fazendo nem sei o que com a priminha.
Quando
ela proferiu estas últimas palavras, fui tomado de um calor na face.
Ana Paula, que até então mantinha-se distante, fitou-me assustada.
Por sorte, ela foi esperta e se esquivou de imediato.
--
Comigo nada! E o que ele poderia estar fazendo comigo? Nem com ele eu
estava!
--
E como você arrebentou a tanga? -- perguntou Luciana de forma
provocativa.
--
Eu... Eu entrei naquela trilha ali e ele agarrou num galho. E já
estava quase arrebentando. Ai acabou de arrebentar – explicou.
--
Mentirosa!
--
Mentirosa por quê? Por acaso você tava lá pra ver? Não. Só fica
aí, deitada, com esse pé machucado. Acho até que você se machucou
de propósito. Só pra num fazer nada e pra ser carregada por ele.
Você é bem capaz disso! -- disse minha prima, bastante exaltada.
--
Sua vadiazinha! Juro que, quando eu melhorar, você vai se ver comigo
– ameaçou Luciana.
--
Vamos parar com essa discussão? -- intervi.
--
É mesmo! -- concordou Marcela. -- E você, Luciana, não pode falar
isso dela. E nem ela dizer que você se machucou de propósito. Todo
mundo sabe que nossas roupas estão apodrecendo. Não vai durar mais
que uma semana. Torço para que até lá tenham achado a gente.
--
Eu já disse: eles já pararam de procurar. Pensam que a gente se
afogou. Não vão encontrar a gente. Vamos ficar nessa ilha para
sempre ou até que alguém resolva aparecer por aqui.
--
É mentira! Num pararam não! -- retrucou Ana Paula.
--
Também acho que não – afirmou Marcela.
--
Eles num iam desistir – acrescentei, mais para confortar minha
prima, pois no fundo não acreditava que sairíamos tão cedo daquela
ilha, do que por convicção.
Aliás,
esse assunto acabou dando outro rumo a discussão e inclusive
amenizando os ânimos. E como já ocorrera antes, o debate findou sem
um consenso. No entanto, apesar de não declarar, eu sabia que
Luciana poderia estar com a razão. Mas ainda mantinha a esperança.
E acredito que até ela tinha esperança de que fôssemos encontrados
brevemente. Não posso admitir, apesar de me ter confessado isso
algum tempo depois, que preferia estar ali do que ir para casa.
--
Vou tentar pegar um peixe – falei pouco mais tarde.
--
Vou contigo – disse Luciana.
--
Mas você num tá podendo andar – retruquei.
--
E você pode se machucar de novo – interferiu Marcela.
--
Não vou me machucar de novo. Fico sentada numa pedra, só olhando –
explicou. -- E vocês duas? Por que não aproveitam e entram na mata
e tentam achar alguma pra gente comer? Dão uma vasculhada.
--
Mas essa mata é perigosa! -- exclamei, temendo pelas duas. Aliás,
imediatamente aqueles sons que ouvira dias atrás invadiram-me à
mente. -- Pode ter algum monstro escondido nela.
--
Que monstro o que! Não tem nada lá. Já cansei de te falar, mas
você é idiota demais para entender. Nós dois não já subimos até
o topo? Encontramos alguma coisa? Não. Então? É porque não tem
nada. Agora, só porque você ouviu um barulho estranho outro dia.
Aposto como foi o vento. Tá achando que foi um bicho.
--
Mas eu ouvi. Não tô doido.
--
Você pensa que ouviu, isso sim! Se tivesse, a gente já teria visto
ele ou pelo menos alguma marca de pegada na arei. Mas nunca
encontramos nada. Por quê? Porque não existe nada. E só você diz
quem ouviu. Não dão ouvidos a ele não. É um medroso, isso sim.
Pra não entrar na mata, fica inventando coisas.
--
Eu nunca ouvi nada – concordou Marcela.
--
E nem eu – assentiu Ana Paula.
--
Luciana está certa. É uma boa ideia. Vai que a gente ache outros
pés de goiaba carregado. Não custa tentar – afirmou Marcela.
Fui
voto vencido. Talvez eu realmente estivesse errado. Mas, naquele
momento, eu me considerava o único com a razão. Contudo, não
poderia fazer nada. Assim, só me restou desejar que nada de ruim
acontecesse com aquelas duas.
Elas
saíram pouco depois.
--
Me ajude a levantar. Já estou me sentindo bem melhor. Mais uns dois
dias e já posso andar sozinha – disse Luciana algum tempo depois.
--
Tô vendo. Seu pé nem inchado está mais.
Na
realidade, disse-lhe aquilo para agradá-la, pois como poderia saber
ao certo se realmente estava melhor. Enrolado como estava impedia-me
de ser preciso.
O
local onde eu pescava ficara à esquerda da cabana. Assim, as meninas
foram para um lado e eu e Luciana para o outro. Aliás, quando saímos
da cabana, não avistei mais as duas. Talvez já estivessem alcançado
a trilha e embrenhado na mata.
--
Vamos parar aqui – disse Luciana enquanto ainda caminhávamos pela
areia úmida, onde as ondas quase alcançavam.
--
Mas ainda não chegamos.
--
Preciso descansar um pouco. Vamos sentar.
Ajudei-a
a se sentar e sentei ao seu lado. Houve um breve silêncio. Olhei
para Luciana e ela parecia compenetrada, como que planejando alguma
coisa. E isso me assustou. Pois eu sabia que, quando ela ficava
assim, em seguida vinha uma surpresa. E de fato veio. Súbito ela me
empurrou para trás, fazendo com que eu caísse de costas, e virou
para cima de mim.
Não
houve tempo de esboçar uma reação. Quando percebi ela havia puxado
para baixo a minha sunga e me agarrado os testículos.
--
Você pensa que acreditei naquela história esfarrapada da sua
priminha? -- apertou-os de forma que dois dedos se fecharam entre os
testículos e meu corpo, impedindo que estes pudessem escorregar e
escapar, deixando-a penas com o saco escrotal na mão. -- Claro que
não! Não sou idiota! Por trás daqueles olhares havia algo mais.
Pode contar a verdade.
Senti
sua mão se fechar e apertar-me os testículos, causando-me dor.
--
Aí. Isso está doendo. E já disse: não fizemos nada!
--
Confessa, seu viado! Vai ser melhor para você – insistiu ela,
apertando ainda mais a mão.
Sentir
uma dor intensa. Gritei de dor, como quem leva uma bolada no meio das
pernas. E imediatamente implorei para ela parar de apertá-los, pois
estava me machucando.
--
Então confessa! Senão vou apertar mais ainda – insistiu ela.
--
Já disse que num fiz nada – custei dizer, pois a dor me afetava. E
aquela dor se espalhava por toda a região pélvica. Era como se um
de meus membros estivesse sendo arrancado.
--
Seu filho da puta! Pára de mentir – disse ela, apertando mais a
mão.
A
dor foi tão aguda que soltei um grito desesperado. Foi a dor mais
intensa que senti em toda a minha vida. Jamais imaginei que apertar
os testículos doessem tanto. Não por acaso, muitos homens, ao
tê-los atingido, acabam desmaiando. Aliás, toda vez que lembro
daquela mão esmagando-os, sinto-os doer. E isso ocorre ainda hoje,
apesar de todos esses anos. Meu grito ecoou, como aliás, ecoa todo
grito de dor. Talvez temendo que as meninas ouvissem, Luciana
tapou-me a boca, apertou mais, o que me fez perder todas as forças,
e sussurrou-me com um certo deleite:
--
Só não arranco teus ovos, seu viado, porque preciso deles. Sei
muito bem que sem eles essa coisa mole ai não fica dura. E sei
também que é deles que vem a semente que faz a mulher engravidar. E
se eu arrancar eles, seu troço não vai ficar duro, não vamos poder
transar mais e você não vai poder me dar a semente do nosso filho.
-- disse ela, abrindo a mão, o que fez a dor ficar menos intensa. No
entanto, senti uma bofetada forte no rosto.
Não
prestei atenção as suas palavras, pois a dor me impedia de qualquer
outra coisa que não fosse tentar suportá-la. E mesmo quando ela me
soltou os testículos, estes ainda ficaram doendo por algum tempo.
Aos poucos porém a dor foi perdendo a intensidade. Só então me dei
conta do que ela dissera.
--
O que foi que você disse?
--
Já te disse: isso aí é só meu. E só não arranquei eles, porque
sem eles não posso engravidar. Eu sei que a gente não vai sair
dessa ilha tão cedo. Se a gente tiver sorte, daqui uns meses. E o
que a gente vai fazer até lá? Sempre sonhei em ter um filho. E
quando te encontrei não tive dúvida de que seria você o pai. Sabia
que você gostava daquela cadela. Mas ela não era páreo para mim. E
mesmo que esse acidente não tivesse acontecido e a gente não
tivesse ficado preso nessa ilha, eu teria dado um jeito de tirar ela
do meu caminho. E agora que a gente está aqui e que você é meu,
não vou perder a oportunidade de ter um filho teu.
--
Mas eu sou apenas um garoto! E você também ainda é muito nova –
retruquei.
--
Nova? Tem menina que se engravida com onze, doze anos. Antigamente
com quinze anos já eram mães. E eu já tenho isso. E o que tem você
ser um garoto? Por acaso teu pinto não funciona? Tu não goza? E o
que sai dele, quando você goza? É a semente, seu idiota! E se você
já tem semente, é porque você já pode fazer um filho e ser pai. É
que você é meio idiota. Parece que vive em outro mundo. Na tua
idade, os meninos já são bem mais espertos. Sabem muito bem dessas
coisas.
--
Mas eu não quero ter um filho – insisti. A dor ainda não havia
cessado, mas já não me afetava tanto. Apenas sentia os testículos
latejarem, como ocorre depois de uma batida.
--
A decisão não é sua. É minha. E eu quero e pronto! Você só tem
que fazer, meter em mim e gozar lá dentro. E quando eu senti que
estou na época de ficar, você vai ter que fazer todo dia, até eu
ficar.
--
Meu deus! Você é completamente louca! Como não vi isso!
--
Agora é tarde, meu amor – Luciana aproximou os lábios e me
beijou. Enquanto isso, levou a mão até meu falo e o acariciou.
--
Pára! -- pedi depois do beijo.
--
Por quê? Você não me quer? Olha para eles – mostrou-me os seios,
cujos mamilos estavam duros, denunciando sua excitação embora, por
causa da inocência e inexperiência, eu não tenha associado uma
coisa com a outra. – Você não gosta deles? Eu sei que você
gosta. Deixo você chupar eles o quanto quiser. É só fazer ele
ficara duro pra mim – insistiu.
--
Não, num quero. Você me machucou. Ainda está doendo muito –
levei a mão aos testículos novamente. -- Não quero fazer nada.
--
Bem feito! Isso para você aprender que se fizer alguma coisa com
aquelas duas, eu mato elas e depois ranco os teus ovos. E pode ter
certeza que eu faço isso mesmo. Como você mesmo disse: eu sou
louca, louca por você. E uma pessoa louca é capaz de qualquer
coisa.
Empurrei-a
para o lado e sentei na areia. Por nada desse mundo eu transaria com
ela ali. Ainda mais que eu só pensava na minha prima e naquele
grande erro que eu cometera mais cedo. Não deveria tê-la atirado ao
solo e a possuído daquela forma. Havia praticado um ato imperdoável.
E mais imperdoável ainda por causa de Luciana. Se ele descobrisse a
verdade, minha prima correria risco de vida. Eu não tinha dúvida de
que Luciana tentaria matá-la para se vingar.
Levantei
e estendi-lhe a mão, a fim de ajudá-la a se levantar.
--
Vamos! -- chamei-a. -- Quero ver se pego uns dois peixes. E não
podemos demorar. Senão a a fogueira pode apagar. Não tem ninguém
tomando conta dela.
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