Eu
tento voltar no tempo, num passado em que você ainda não tinha
entrado na minha e nem fazia parte do meu mundo, transformando a
minha e a tua história numa coisa só; mas confesso-te que não
consigo. Não que o passado seja assim tão distante ou o tempo tenha
se encarregado de envolver em densa névoa as minhas lembranças.
Não, não é nada disso. É que o meu passado parece tão
insignificante e tudo que vivi ou experimentei me parece tão
superficial. É como se tudo não tivesse o menor valor e tivesse
sido apenas uma “ponte para que eu chegasse a
você”, meu amor.
Talvez
eu esteja exagerando e vendo as coisas de uma forma distorcida. Mas o
que fazer? Se, depois de te conhecer e me apaixonar por você,
tornei-me outro homem? Confesso-te que num primeiro momento, eu me
senti “como um frágil barco surpreendido em alto mar por um
vento furioso”. Mas eu nunca
tinha me apaixonado antes. Era
tudo tão novo e repleto das mais intensas sensações. E
o amor tem dessas coisas: adiciona
aos nossos sentidos um novo filtro comandado pelo coração, dando
uma vivacidade e uma nova capacidade, mais humana diga-se de
passagem, de ver, ouvir, sentir e interpretar o mundo a nossa volta.
E tenho de te confessar, meu amor, que tudo a minha volta hoje
me parece tão mais belo, tão
mais cheio de vida e cor. E
devo tudo isso a você.
Cada momento com você é mágico, cheio de vivacidade e envolto nas
mais intensas emoções. Às vezes, eu tenho a sensação de estar,
num único dia, vivenciando coisas que, se não fosse por ti, eu
levaria toda uma vida; ou talvez uma única vida nem fosse suficiente
e então eu teria de viver tanas outras para experimentá-la.
O teu olhar, o teu sorriso, o toque sutil de tuas mãos
acariciando-me docilmente, fazem-me desejar a eternidade do presente,
o parar do relógio do tempo. Ah, se eu pudesse quebrá-lo! Ah, se eu
pudesse impedir os ponteiros de avançar! Mas isso é impossível. Um
desvario sem tamanho. Assim, só me resta guardar esses instantes na
memória, mantê-los na lembrança enquanto me for possível viver.
Eu não gosto de falar do futuro, de fazer planos. Quanto a isso,
sou mais comedido. Talvez você até estranhe esse meu comportamento,
mas é que eu prefiro não me prender ao amanhã, ao vir a ser. Ele é
tão incerto. Tão cheio de talvezes! Por isso, procuro viver o
presente da forma mais intensa possível. Horácio diz: “satisfeitos
com o presente, evitemos preocupar-nos com o futuro”. Talvez
seja esse o meu problema. Talvez eu até tema o futuro, pois nem
mesmo posso imaginá-lo sem que você não esteja nele.
Da mesma forma que não me agarro ao passado. Eu quero repousar a
minha cabeça nos teus braços toda noite, te beijando e te dizendo
“boa noite, meu amor”; quero acordar no dia seguinte com você ao
meu lado todos as manhãs da minha vida te desejando um “bom dia”;
assim como eu quero sentar à mesa contigo em todos os cafés da
manhã e em todos os momentos que nos for possível estar juntos.
Essas pequenas coisas me são tão significantes. E eu sei que você
também deseja isso tanto quanto eu. Mas “por que, em tão curta
vida, fazer tantos projetos?” Deixemos que isso ocorra
naturalmente.
Dizer-te o quanto te amo não é possível, pois não se pode ter a
medida dos seus próprios sentimentos. Posso porém afirmar-te que te
amar é o maior e mais intenso acontecimento em minha vida. Por isso,
eu lhe dedico todos os instantes; por isso o meu querer infundado em
parar o tempo; por isso essas palavras dir-se-ia quase insanas.
Eu me atenho por aqui e deixo que o silêncio de minhas palavras –
“o próprio silêncio tem a sua linguagem” como diz
Lucrécio – continuem regando o nosso amor, fixando cada vez mais
fundo as suas raízes, pois muitas vezes as palavras são
superficiais e estorvantes, tirando a beleza daquilo que apenas o
silêncio é capaz de dizer. No entanto, antes de por o ponto final,
quero que você saiba: EU TE AMO.
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