quarta-feira, 14 de abril de 2010

ADEUS À INOCÊNCIA - CAP. 07

-- Agora vamos ter que ficar vigiando a fogueira durante a noite – expliquei. – E cada um de nós vai ter que vigiar um pouco enquanto os outros dormem. Vamos ter que fazer isso até arrumamos um jeito de manter ela acessa por toda à noite.
-- Eu não vou ficar acorda sozinha não – protestou Ana Paula. Minha prima, talvez por ser a menor do grupo, era a mais resistente em seguir as regras. Não sei se era porque ainda não passava de uma criança de 12 anos, ou se devido à ausência do Pai. Lembro-me de ter prometido a mim mesmo que teria o máximo de paciência com ela. Mas também não a deixaria me criar problemas.
-- Veja bem, prima! Todos nós vamos ter que vigiá-la. A fogueira é o única meio que temos para chamar a atenção de algum barco ou navio que estiver passando por perto – expliquei. -- Cada um vai ter que ficar um pouco. Não é justo uns ficar e outros não. Mas é para ficar. Não é para ser escalada e dormir juntos com os outros. Agora que estamos sozinhos, vamos que ter aprender a nos virar. Enquanto estivermos aqui nessa ilha, vamos ter que assumir responsabilidades. Temos que mostrar para eles, os nossos pais, quando nos resgatarem, que fomos capazes de nos manter unidos e sobreviver.
Enquanto eu falava, as meninas se mantiveram de cabeça baixa. Nem mesmo Ana Paula levantou a sua para protestar. Mas foi bom assim, porque pude mostrar autoridade. Se fosse preciso usar de outros métodos para persuadi-la de cumprir sua parte no acordo, tê-la-ia usado.
Durante um curto espaço de tempo houve silêncio. Parecia que ninguém sabia o que falar. E foi justamente Ana Paula quem o quebrou.
-- Mas e se a lenha não der?
-- Vamos ter que fazer com que dê – respondi. – Por isso vamos ter que abastecer a fogueira de pouco a pouco. Só para que ela não se apague de vez. Amanhã cedo, vamos procurar mais lenha para abastecer ela.
-- Mas quem vai ser o primeiro? – inquiriu Luciana. – E por quanto tempo?
-- Boa pergunta Eu não pensei nisso. Se a gente tivesse um relógio funcionado seria mais fácil. Mas o meu está quebrado.
-- E o meu eu perdi na tempestade – disse Marcela.
-- O meu eu deixei em casa – disse Ana Paula.
-- Ta bom, gente. Só me deixa pensar um pouco – falei.
Eu realmente não fazia ideia de como faríamos para contar o tempo. Foi Luciana quem a teve.
-- A gente podia usar a posição da lua no céu. Quando ela chegar em determinado lugar a gente chama outra pessoa para ficar no nosso lugar.
-- É mesmo. Não tinha pensado nisso.
E assim foi feito. Calculamos mais ou menos a posição da Lua e onde ela deveria estar quando amanhecesse. Dividimos esse espaço por quatro. Quando a lua chegasse num determinado ponto, o que estivesse tomando conta chamaria o próximo. E assim sucessivamente. Obviamente, nas primeiras noites, os cálculos não seriam precisos e um acabaria ficando mais tempo que outro, no entanto, caso ficássemos muito tempo na ilha, aprenderíamos a dividir o tempo de forma igualitária.
Faltava porém decidi a ordem em que cada um ia tomar conta da fogueira. Sugeri que fizéssemos um sorteio para decidir quem seria o primeiro, o segundo, o terceiro e o último.
-- Vamos tirar dois ou um. O primeiro que sair será o primeiro a tomar conta dela e assim por diante – disse Luciana.
-- É isso aí. Então vamos – falei.
A primeira a sair foi a Marcela. Depois foi a minha vez. Em seguida saiu minha prima, Ana Paula, e por último Luciana.
Então sentamos os quatro, formando uma roda, e dei as últimas recomendações.
-- Veja bem, Marcela. A gente vai está dormindo aqui do lado. Você só precisa ficar sentada, de olho para que a fogueira não se apague. Não vá cair no sono, heim! Se alguém ficar com sono, quando estiver tomando conta da fogueira, levanta, anda um pouco, vai até a beira d’água e se molha. Faz qualquer coisa. Mas não dorme. Entenderam bem? – Todos balançaram a cabeça afirmativamente. – Se alguém ver alguma coisa, algum animal se aproximar, é só me chamar. Não precisam ficar com medo porque aqui não tem ninguém. O máximo que pode aparecer é algum bicho pequeno atraído pelo calor da fogueira.
-- Mas vamos deitar assim na areia? – quis saber Ana Paula.
-- E você tem outra solução? – perguntei.
-- Não.
-- Quem não quiser que fique acordado – disse Luciana, ajeitando-se para deitar.
-- É isso aí. – falei, fazendo o mesmo.
Pouco depois já estávamos os três deitados em silêncio na areia macia.

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