quinta-feira, 29 de julho de 2010

A MENINA DO ÔNIBUS - Capítulo V - Parte 3

 Aquelas carícias foram a gota-d'água para que eu finalmente tomasse a resolução de executar a última parte do plano. Ao retornar para casa profundamente afetado, com os pensamentos tomados por devaneios, num estado de euforia poucas vezes experimentado, ocorreu-me a possibilidade de levá-la à minha casa numa hora em que meus pais não estivessem. Dentre todas as alternativas – embora me fossem poucas –, esta me parecia a menos arriscada. Levá-la a um motel estava fora de cogitação. Não só por Ana Carla não ter idade, o que me impedia de levá-la, mas principalmente pelo lugar. Não se leva uma mulher ao motel quando se tem a intenção de seduzi-la sem que ela saiba disso. Que explicação poderia dar-lhe? Por mais que se tentasse convencê-la de que não lhe faria mal e nem a forçaria a uma relação sexual, dificilmente acreditaria. E ainda sim não se convenceria. Está no imaginário da maioria dos jovens que motel é lugar onde as pessoas vão para transar. De mais a mais, o motel pode ser o melhor lugar para algumas horas românticas e de intenso prazer; para os amantes cujo ato sexual seja tão somente um tempero a mais para tornar a relação entre o casal mais intensa; ou para aqueles que estão apenas em busca do prazer e de satisfazer uma vontade dir-se-ia biológica, onde os sentimentos não têm vez, onde o ontem e o amanhã não interessa, como é o caso daqueles que se encontram por acaso e tomados por um desejo desmedido, incapazes de contenção, procuram satisfazê-lo o mais depressa possível. Para esses sim, não há lugar melhor que o motel, mas não para uma jovem virgem e inexperiente.
Havia ainda outra possibilidade: alugar um imóvel por alguns dias. Tal expediente eu só usara duas vezes. Na primeira – sete anos atrás –, foi para levar a Daniela, uma jovem de 19 anos, oriunda de uma família abastada e conservadora, cujos princípios morais me impediam de pensar num motel, inclusive. Tencionava levá-la à minha casa, mas não encontrava oportunidade, pois nas poucas vezes em que meus pais estavam fora, ela não pudia encontrar-se comigo. E na eminência de um rompimento, devido à pressão para formalizar nosso namoro, ocorreu-me tal ideia. Embora reticente, concordou em ir ao apartamento, o qual alugara por cinco dias. Acuada e indefesa, acabou sucumbindo aos meus argumentos. Todavia, assim que nos vimos tomados pelo silêncio, vencidos pelo esgotamento e pelo desejo saciado, seus olhos tornaram-se nascentes de dois rios. Foi a única vez em que uma gota de arrependimento pingou-me no coração. Sua dor me parecia tão intensa quanto a dor provocada pela perda de um ente querido. Na segunda vez porém – uns três anos atrás – o motivo foi a idade da Juliana – dezessete anos. – Apesar de aparentar mais velha – passava facilmente por uma jovem de 20 anos –, fiquei com medo de arriscar. Nessa mesma época viera à tona inúmeros casos de prostituição infantil onde diversos motéis eram usados para essa prática, o que levou ao aumento da fiscalização. Desta feita, achei menos arriscado alugar uma casinha no final da Enseada por quinze dias. Embora tenha desembolsado uma quantia razoável, valor que daria para pagar dois meses de aluguel, pude aproveitá-lo como nunca. Juju, como eu gostava de chamá-la, foi um daqueles casos em que tanto um quanto outro não estavam nem aí para sentimentalismos. O prazer era o que contava, nada mais. Aliás, foi a pessoa a chegar mais próxima daquilo que eu era. Talvez por isso nossos encontros duraram por tanto tempo – sete meses e meio.
A possibilidade de locação de um imóvel não seria descartada, mas eu só a poria em prática como última alternativa. A minha casa, embora mais arriscada, era o que me dava mais prazer. Só de imaginar Ana Carla em minha cama, enroscada em meus lençóis após manchá-lo com o sangue de sua virgindade, tornava-me o deleite imensuravelmente intenso, feito o prazer causado naquele que ao invés de comer uma carne adquirida no açougue da esquina devora a própria caça. Antes porém era preciso contar com a sorte, torcer para que meus pais fossem à casa de amigos, à Santos ou qualquer outro lugar onde pudesse se ausentar por longas horas.
Enquanto pensava nesses pormenores na solidão de meu quarto, sob a luz fraca do abajur, Ana Carla, pelo que indica seu diário, fazia seus apontamentos. Falou pouco acerca daqueles momentos naquela Praça. Confesso que no lugar dela teria dado mais importância às carícias que lhe fiz. Contudo, cada um é cada um. E o que parece ser de extrema importância para um pode não ser para o outro. Não sei se você, amigo leitor, agiria como eu ou como ela. Antes porém de dar razão a um ou ao outro, leia:

Quarta-feira, 01 de dezembro.
Não sei o que está acontecendo, mas está esta semana nada dando certo. Domingo não nos encontramos, segunda só um pouco depois da escola, ontem também não nos vimos e hoje só nos encontramos por alguns minutos.
Minha mãe foi ao médico levar meu irmão que não estava se sentindo bem. Tossiu a noite toda. Nesse intervalo, liguei para ele e ele disse que estava indo para casa. Disse que queria me encontrar com ele, pois não aguentava mais de saudades. Aí ele pediu para esperá-lo na pracinha onde nos encontramos na segunda-feira.
Não ficamos juntos por muito tempo porque eu não sabia se minha mãe ia demorar ou não. Mas pelo menos deu para a gente ficar abraçadinhos se beijando. Ainda bem que o tempo estava escuro, parecendo que ia cair o maior temporal. Assim não tinha ninguém na praça e nem por ali por perto. Ficamos bem a vontade.
Eu disse para ele que estou apaixonada. Falei que não consigo ficar um minuto se quer sem pensar nele. Disse-lhe com todas as letras: “quando estou longe de você, meu amor, fico impaciente, inquieta e só tenho vontade de sair correndo para te encontrar. Até na escola, nem consigo prestar atenção direito nas aulas. Só fico pensando em você, nos teus beijos, nos teus carinhos...”. “Também não precisa exagerar...”, disse ele meio encabulado. Vi que ele ficou até vermelho e surpreso. Aí eu respondi: “Não estou exagerando não. É a pura verdade. Você roubou o meu coração. Sabia?”. Ele deu uma risadinha e disse: “Então não vou te devolver mais”. Depois dessa frase, nos abraçamos bem apertado e nos beijamos.
Enquanto nos beijávamos, o safado enfiou a mão de leve por baixo da minha camiseta e ficou agarrando os meus peitos. Eu pensei em parar de beijá-lo e puxar a mão dele, mas estava tão gostoso e me deixando tão excitada que deixei ele continuar. A mão dele apertava de leve o meu peito, e os dedos, às vezes, ficavam passando sobre o biquinho. Isso me fazia arrepiar. Hum... Que coisa mais deliciosa! Dava vontade de levantar a camiseta para ele me acariciar melhor!
Mas aí um casal de namorados se aproximou e ele retirou a mão bem rapidinho.
Depois disso, eu disse que precisava ir para a casa antes que minha mãe chegasse. Ele disse que não tinha problema, pois não queria por tudo a perder. Disse ainda que ia dar um jeito da gente ficar juntos bastante tempo no fim de semana.

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