quinta-feira, 1 de julho de 2010

A MENINA DO ÔNIBUS - Capítulo V - Part. 1


A facilidade com que me permitiu tocá-la deixou-me porém com a pulga atrás da orelha, pois mulheres mais velhas me pareciam bem mais reticentes. Lembro-me inclusive de quanto foi difícil fazer com que Ritinha – seu verdadeiro nome era Rita de Cássia – me deixasse abrir-lhe o vestido e pegar em seus seios rosados. Levei duas semanas para conseguir isso (já estava quase desistindo) e outras duas até enfiar a mão por dentro da calcinha daquela jovem de 19 anos completados no mês anterior. Todavia, após experimentar o deleite de minhas carícias, ela tomou gosto pela coisa. Obter-lhe o resto acabou sendo mais fácil. No entanto, dada a dificuldade inicial em arrancar-lhe o que queria, tive receio das complicações futuras. De fato houve algum problema, mas nada sério, até porque não envolveram seus pais, o que quase sempre torna as coisas difíceis de resolverem. Ela mesmo me confessou que se estes soubessem que a filha não era mais virgem, expulsá-la-iam de casa. O mesmo não aconteceu com Isoldinha, como era conhecida a Maria Isolda. Esta me deu bem mais trabalho. Tive de suportá-la por quatro meses, fingindo que a namorava, que me casaria devido às ameaças de seu pai, o qual afirmava castrar-me se não reparasse o dano causado à sua filha. Pensei que daquela vez chegara ao fim os meus dias de sedutor. E por pouco não pedi socorro aos meus pais para tirarem-me dessa enrascada. O absurdo nisso tudo era que a filha tinha 20 anos, portanto não se tratava de nenhuma mocinha inocente. Ah, mas dei muita sorte nesse caso! Três dias depois de seus pais me pressionarem para marcar a data do noivado, uma manhã de terça-feira, ela me liga desesperada e chorando muito, para dizer que o pai morrera ao cair no fosso do elevador de um prédio em construção. Ao invés de sentir a perda daquele homem baixinho, gorducho, bronco e que me fitava de soslaio como a um inimigo; ao invés da compaixão, senti na verdade uma enorme alegria, pois vira naquela tragédia a minha liberdade. O rompimento foi difícil e me deixou inclusive com muita pena daquela pobre infeliz, mas Isodinha acabou aceitando depois. Aliás, esse episódio, ocorrido há mais ou menos dois anos, fez com que eu me sossegasse por algum tempo. E depois procurei também escolher melhor as vítimas. Mas o tempo foi passando e quando encontrei Ana Carla, já nem me lembrava mais de Isoldinha ou Ritinha. Acredito que estas só me vieram à cabeça inclusive por causa dessa dúvida – embora Ritinha nunca tenha me saído definitivamente da memória devido à sua beleza: alta, magra, tez branca, cabelos castanhos claros. –, dessa possibilidade de Ana Carla não ser mais virgem. Talvez Ana Carla fosse mais esperta e dissimulada do que eu poderia imaginar? E quiça nem virgem fosse? “Será que ela já tivera alguma experiência sexual? Muitas meninas na sua idade sim; algumas até estão grávidas e com filhos no colo”, pensei, sendo tomado em seguida pelas imagens de Ana Carla nos braços de um rapaz, cujo dorso jovem inclinava sobre seu corpo nu.
Ah! Durante aquela noite essa dúvida me perturbou feito fantasmas a uma criança medrosa. Quase não preguei os olhos. E se pudesse lhe telefonar no meio da noite para demover-me dessa dúvida, tê-lo-ia feito no mesmo instante. Até então havia a certeza de que estava me envolvendo com uma garota pura, mas agora a possibilidade de não ser me assustava, levando-me a indagar como teria ela perdido a virgindade, como teria acontecido e com quem teria sido. E tais pensamentos quase me levavam ao desespero. “Todo esse sacrifício em vão! Todo esse tempo perdido! Não de todo. Também não precisa exagerar. Mas não é a mesma coisa! O que eu realmente quero é sua virgindade, ser o primeiro a gozar naquela xoxotinha. Isso é o que importa, é o que eu quis desde o começo. Se ela não for, quem será que foi o primeiro? Algum colega de escola? Um vizinho talvez? Vai ver que nem soube fazer direito. Não mesmo! Idiota! Nem ideia tinha de quanto significava. Ah, que desperdício! Perder a virgindade para um idiota qualquer”, lembro-me de pensar em algum momento antes dos primeiros raios de sol invadir o quarto através das frestas da janela.
Não que eu estivesse com Ana Carla tão somente por causa de sua virgindade. Não, não. Isto só não bastava, não justificava todo esse sacrifício embora fosse capaz de fazer até mais por uma virgem. A sua juventude, a sua inocência e ao frescor de seu corpo pesavam tanto quanto sua pureza. Mas até então só a vira nela uma virgem a ser deflorada, como uma jovem que não sabia nadica de nada acerca do sexo, como uma rosa delicada à espera do momento de se desabrochar. Eu tinha em mente a ideia fixa de ser o primeiro, de ter a exclusividade em lhe romper o hímen, aquela membrana tão frágil e ao mesmo tempo cobiçada por homens assim como eu.
Quando fui ao seu encontro no dia seguinte, só me havia uma coisa na mente: esclarecer essa maldita dúvida. Eu só precisava criar um clima, uma situação onde a pergunta fosse feita com naturalidade, sem lhe causar grande surpresa, pois não queria gerar nenhum tipo de desconfiança que sua pureza me fosse caso de vida ou morte.
E foi o que fiz.
Após uma longa troca de carícias, quando percebi que ela se sentia muito à vontade, inquiri:
-- Posso te perguntar uma coisa?
Ana Carla, talvez por não imaginar o que eu queria lhe perguntar, respondeu:
-- Claro que pode, meu amor!
-- Você é virgem?
Foi como se a houvesse flagrado em uma mentira ou fazendo algo vergonhoso. Ana Carla ficou vermelha, com uma expressão de timidez, de quem não entendera a pergunta, mas sabendo tratar-se de algo a tocar-lhe a nudez da alma. E por alguns instantes, achei que ela havia perdido a fala.
-- Por que você quer saber? – volveu ela logo depois.
Aí foi a minha vez de ficar com a face afogueada, embora suspeitasse de antemão que talvez me fosse fazer esse tipo de pergunta. Por isso havia me preparado. Todavia em se tratando de preceitos morais, nunca se está preparado suficientemente para confrontá-los. Era preciso porém manter o controle da situação, não lhe deixar espaço para uma recusa, pois uma recusa só faria aumentar minhas desconfianças; e assim, tal qual aquele mergulhado no mar do ciúme, torna-se refém de suas próprias desconfianças, as quais o levam a cometer os atos mais excêntricos. Então, como se a pergunta não fosse tão importante, respondi:
-- Por nada. Só por curiosidade mesmo. Mas se não quiser responder, não tem problema.
-- Não, tudo bem – disse ela, tentando ocultar o constrangimento. – Sou sim.
Ah, que alívio! Então ela ainda era pura e intocada? Então eu seria -- como fui com a neta da dona Carminha e com Ritinha cuja informação de que ainda era virgem deixou-me no mais puro êxtase, o qual provocou-me uma euforia tão grande que me deixei levar pelos instintos e o que acabou retardando meus planos -- o malfeitor a lhe roubar a pureza? “E eu que perdi uma noite de sono por nada!”, disse a mim mesmo. Fiquei tão afetado, que não fui capaz de meia hora depois me recordar o que me passou pela cabeça. Acredito entretanto, ter sido tomado por uma satisfação desmedida, por uma afetação tão grande que quase seria impossível esta ter passado ao largo de seus olhos, embora até onde sei, Ana Carla não deve ter percebido, ou se percebeu não se lembrou de anotar em seu diário naquela noite.
Fui para a casa almoçar com alma aliviada. Se até aquele encontro uma angústia tomava conta de mim, agora a sensação era totalmente outra. Eu sentia o júbilo transbordar em meu peito e provocar uma sensação visível em minha face. Dir-se-ia inclusive que havia me apaixonado, tamanha semelhança entre as duas reações.
Não foi por acaso que, ao sentar à mesa, minha mãe comentou:
-- Você está com cara de quem está amando. Quem é ela?
-- Não é ninguém não, mãe – respondi.
Ela deu um sorriso e depois falou:
-- Tudo bem, se não quer me contar. Mas eu conheço essa cara.
Insisti que realmente não estava apaixonado por nenhuma garota. O que era verdadeiro. Eu desejava loucamente Ana Carla, mas não me sentia apaixonado por ela; aliás, supor tal coisa seria um grande absurdo, talvez mais absurdo que afirmar que a paixão não é fruto do exagero, da errada percepção de que o outro é capaz de nos proporcionar um deleite como ninguém. Eu desejava seu jovem corpo e a pureza de seu sexo, nada mais.
Por falar em afetação, esta não foi exclusividade minha. Pelo que Ana Carla anotou em seu diário é possível constatar como minha pergunta intrigou-a de forma desmedida. Acho inclusive quase ter posto em risco tudo que conseguira até então. Aliás, penso até que, se lhe fizesse essa pergunta antes, de forma apressada, os destinos de tantas pessoas teriam seguido um rumo diferente.
Mas não vamos adiantar aos fatos, essas “pessoas” serão no devido tempo apresentadas ao leitor. Por hora, deixá-lo-ei com as anotações de seu diário:

Segunda, 29 de novembro.
Sai mais cedo da escola e, ao invés de ir para casa, fui me encontrar com ele. Quando eu soube que não íamos ter as duas últimas aulas, corri ao orelhão da escola e liguei para ele. Ele disse que tinha um tempinho livre e nos encontramos.
Ficamos mais mesmo foi só conversando. Eu não podia ir para longe por causa do horário. Ficamos numa pracinha que tem há umas quatro quadras da escola. É um lugarzinho gostoso, com umas árvores enormes. Há uns bancos de cimento bem embaixo das árvores. O mais importante é que ali é um lugar meio deserto e tranquilo. Quase não passa ninguém.
Foi delicioso ficar ali com ele por quase uma hora. De vez em quando, a gente olhava para os lados para ver se não tinha ninguém nos olhando e nos abraçávamos e nos beijávamos. Minha nossa! Como é gostoso beijar aquele homem! Eu fico toda arrepiada quando ele me pega nos seus braços, me aperta e me beija com vontade. Ele sabe me deixar louca!
Hoje ele me fez uma pergunta que me deixou muito sem graça. Eu não sabia o que responder. Ele me perguntou se eu era virgem. Na hora, eu fiquei vermelha e muda. Mas logo depois, antes de responder, eu perguntei: “Por que você quer saber?”. Então ele me respondeu: “Por nada. Só por pura curiosidade...”. Aquilo me deixou um pouco encucada. Por que ele estava tão interessado assim na minha virgindade? Será que ele só queria saber se eu era virgem ou não? Será que minha virgindade é tão importante assim para ele? Dizem que os homens dão muita importância a isso, mas será que ele também? E se eu não fosse? Isso mudaria alguma coisa entre a gente? Me deu vontade de perguntar para ele, pena que não tive coragem.
Respondi SIM. Era a única resposta que eu podia dar. Mas se não fosse também teria respondido NÃO. Também não me perguntou mais nada. E não tocamos mais no assunto. Mas tive a impressão der ver nos olhos dele o quanto ficou satisfeito. Fico feliz que ele tenha gostado. Para ser sincera, não gostei muito. Preferia que não tivesse me perguntado isso. Acho que não tem nada a ver, só isso.
Eu queria me encontrar com ele mais tarde, mas ele disse que só estaria disponível à noite. E esse horário não dava para mim. Ficamos de ver se conseguiremos um jeito de nos encontrar amanhã.


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