segunda-feira, 2 de maio de 2011

ATAQUES AO IRAQUE E À LÍBIA: SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS


Numa rápida análise acerca dos ataques da Otan à Líbia é possível concluir que não se trata de um episódio parecido com o que ocorreu com a invasão do Iraque e a posterior derrubada de Saddan Hussein do poder. Talvez o leitor não saiba, mas quando o Iraque foi invadido pelos EUA as justificativas eram de que o ditador iraquiano tinha ligação com a rede Al Qaeda e possuía armas de destruição em massa, as quais poderiam ser usadas em ataques à países inimigos como os EUA por exemplo. As investigações na época não comprovavam essas suspeitas, no entanto, os EUA e a Inglaterra insistiam nelas e as usaram para invadir o Iraque. Depois viu-se que os relatórios que acusavam o Iraque na realidade eram falsos e nem a ligação de Saddan com redes terroristas e nem as tais armas de destruição em massa foram encontradas. 
Saddan, assim como Kadaf, era um ditador que oprimia seu povo e perseguia impiedosamente seus opositores; aliás, como ocorre na maioria dos regimes do Oriente Médio. Tanto no Iraque quanto na Líbia não havia liberdade de imprensa ou qualquer outro tipo de liberdade. Só que não foi por causa disso que os EUA invadiram o Iraque, como se faz hoje na Líbia. Aliás, se esse tivesse sido o argumento, então mais de uma dezena de outros países teriam de ter sido invadidos. A verdade é que o todo poderoso Estados Unidos – que aliás, já não é mais tão poderoso assim – precisava mostrar ao mundo a sua força e escolheu o Iraque por questões pessoais, as quais não valem a pena serem discutidas aqui. Até porque este não é o objetivo desse artigo. 
Os ataques à Líbia se diferem do Iraque por vários motivos. O primeiro deles é que os próprios líbios, num primeiro momento, saíram às ruas para protestar contra o governo pedindo mais liberdade e melhores condições de vida; e posteriormente, após forte repressão, pedindo a saída de Kadaf do poder. Isso jamais houve no Iraque, pois qualquer tentativa de protesto seria imediatamente sufocada com a prisão e execução dos líderes. Em segundo lugar, o Conselho de Segurança da ONU condenou veementemente a Líbia e autorizou o ataque com a finalidade de proteger os civis, diferentemente do que ocorreu com o Iraque, cujo ataque nunca foi aprovado pela maioria do CSN. Em terceiro lugar, a comunidade internacional viu a necessidade de se fazer alguma coisa a fim de impedir que o regime líbio continuasse a massacrar seu próprio povo. Embora Saddan fizesse o mesmo, tal argumento nunca foi usado para justificar a invasão daquele país, como se os EUA nunca estivessem preocupados de fato com os iraquianos. Em quarto lugar, o ataque não partiu de um ou dois países isolados, como foi com os EUA e Inglaterra ao invadir o Iraque. Embora os EUA tenham iniciado os ataques à Líbia, a OTAN, cuja composição é majoritariamente de países europeus, assumiu o controle desses ataques. 
Enfim, os ataques às forças de Kadaf na Líbia tem um caráter humanitário, embora também haja um interesse político, pois o Oriente Médio passa por grandes transformações com os ventos da democracia soprando como nunca por aquelas bandas. Enquanto na invasão do Iraque não havia nada disso. Se o mundo está melhor sem Saddan Hussein, isso ainda não dá para afirmar com toda a certeza, pois o preço de sua derrubada foi alto demais e os resultados poucos significativos. Mas que a queda de Kadaf fará bem não só para a Líbia mas trará benefícios para toda a região me parece bem mais obvio. Até porque a permanência do ditador Líbio no poder só retardaria um processo em curso naquela região. Com ou sem ajuda estrangeira, Kadaf acabará caindo de qualquer jeito. A OTAN só está tentando tornar esse processo mais rápido e menos doloroso para o povo Líbio.

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