quarta-feira, 25 de maio de 2011

A MENINA DO ÔNIBUS - Capítulo 7 - parte 1

O que acrescentar ao capítulo anterior? O que dizer que Ana Carla ainda não tenha dito com a mais pura sinceridade? Essa é a pergunta que eu me faço ao iniciar mais este capítulo, capítulo onde tentarei ser tão sincero e verdadeiro quanto ela foi em suas confissões. Embora a vida, a moral e essa experiência que a gente vai acumulando ao longo da vida e a qual carregamos até o último suspiro acabe nos impedindo de sermos nós mesmos. Por isso nunca somos verdadeiros por inteiro, pois onde há moral há falsidade. E aquele que diz ser, só por isso já está mentindo. Mas não vá o leitor achar que falto com a verdade aqui ou acolá. Se por acaso o fiz em um momento ou outro, nem mesmo fui capaz de tomar ciência, pois o meu objetivo desde que me propus a contar nossa história foi sempre procurar a verdade, despir-me de toda a moral e encarar o julgamento dos moralistas e daqueles que por qualquer motivo venham a erguer a mão para lançar-me a pedra, a qual seria mais bem aproveitada se lhes caísse na própria cabeça.
Quero com isso apenas alertá-lo das dificuldades com as quais terei de lutar para não cair na tentação de num instante ou noutro ser omisso ou mesmo evasivo, evitando assim um julgamento mais duro, pois nada nos causam tamanha ojeriza e nos levam ao mais completo desespero do que o julgamento alheio. Muitos homens desperdiçam suas vidas temendo o julgamento dos outros. Ainda estou para encontrar aquele que não tenha deixado de cometer uma dezena de atos por temer o julgamento da família, dos amigos e da sociedade em geral. Você, amigo leitor, talvez discorde da minha pessoa, achando que eu possa estar querendo se passar por um filósofo apenas com o intuito de me justificar e com isso atrasar a narração do mais imprescindível fato, cujas consequências inimagináveis entrelaçaram vidas, como pontos onde a aranha fixa sua teia, que jamais estariam ligadas e levariam a um fim tão dramático. Não quero me adiantar aos fatos, pois o leitor terá nas páginas seguintes a oportunidade de conhecê-los, mas não posso deixar de omitir o que era para ter sido apenas uns momentos de prazer, o capricho de um rapaz cuja vontade incontrolável de satisfazer seus desejos o levava muitas vezes a agir assim, pudesse tomar proporções gigantescas.
De quando em quando eu me pergunto onde perdi as rédeas da situação, onde me deixei levar pela emoção e pus tudo a perder. No entanto, sei tratar-se de uma pergunta inútil. Posso encontrar um detalhe aqui, outro ali, porém nunca provas capazes de me levar à certeza de ter sido esse e não outro o instante em que deixei a razão de lado. Talvez o leitor por motivos óbvios vá apontar exatamente os acontecimentos daquele domingo como a causa de tudo. Embora possa parecer evidente, não acredito que só isso tenha me levado a agir como agi. Passara por situações parecida, como aquela a qual o leitor já conhece, onde, ao possuir Ana Paula, aquela ninfa de dezoito anos que mais parecia uma cópia quase perfeita de Cindy Crawford, desejei que nosso relacionamento se tornasse algo mais profundo, mais duradouro. E nem por isso houve consequências profundas; tudo terminou da mesma forma como começou, embora muitas vezes me foi difícil conter o ímpeto de procurá-la, principalmente ao relembrar-me dos contornos perfeitos de seu corpo enquanto a imagem do mesmo me incendiava até o último foi de cabelo. Mas ainda sim não me deixei cair em tentação. Se o fizesse teria de reconhecer minhas fraquezas e provavelmente ficado em suas mão, casando-me com ela. Hoje estaria levando uma vidinha medíocre como a maioria dos homens que se deixam dominar por uma fêmea. Que o prazer experimentado ao possuir Ana Carla foi algo inexplicável, algo que de longe não experimentara com nenhuma outra, não tenho a menor dúvida. Mas ainda sim isso só pode ter acontecido devido a fatores anteriores, os quais ainda hoje permanecem desconhecidos. Julgar esse ato por si só é o mesmo que dizer que a causa duma pneumonia foi um copo de água gelada tomado no dia anterior. Assim, especular acerca disso ou daquilo é uma tremenda perda de tempo. De mais a mais, o que está feito está feito e não pode mais ser desfeito, por isso a vida é um constante arriscar. E nesse arriscar ora acertamos ora não. É isso que faz da vida um leque de possibilidades cujas combinações nunca sabemos no que resultará.
E por falar em possibilidades, eis-me diante de uma: a possibilidade de ser original, de usar de meios para convencer o leitor de que minhas palavras merecem a mesma atenção dedicada à leitura das páginas do diário de Ana Carla. Bem, eu poderia repetir a mesma coisa, na mesma sequência e ordem, apenas falando com as minhas palavras aquilo que já se sabe, mas ai o leitor talvez se pergunte: “Não ficará repetitivo demais?” E provavelmente terá razão, embora um fato contado por duas pessoas distintas nunca é o mesmo. Apesar de termos participado de cada instante desse momento tão especial, o amigo há de convir que minha impressão dos fatos e a de Ana Carla são totalmente distintas. Nossas impressões são resultado de nossas experiências, daquilo que temos para fazer comparações. E mesmo que fôssemos gêmeos, vivido as mesmas situações, ainda sim cada uma delas agiria sobre nós de maneira diferente. Comigo e Ana Carla não poderia ser de outra forma. Por mais que ela tenha procurado deixar o máximo possível de impressões, é de se esperar que a falta de conhecimento, experiência e até mesmo de um vocabulário mais rico a impediu de dizer muita coisa. É preciso reconhecer porém que nem eu ou qualquer outro possamos saber o que realmente ela não conseguiu dizer e nem quais emoções e sentimentos não foi capaz de traduzir em palavras. Talvez o leitor não saiba, mas o devaneio do amor não pode ser descrito, mesmo por homens letrados.
Quanto a mim, apesar de que o talento talvez me seja o maior obstáculo, pois na mais das vezes este supera qualquer limitação, vou procurar voltar ao passado, como num teletransporte, e relembrar cada instante, cada sensação experimentada naquele domingo e tentar pôr no papel exatamente o que senti. Aliás, digo relembrar apenas para mostrar ao leitor o quanto estou disposto não deixar para trás um único detalhe, por mais insignificante que possa parecer, pois a verdade é que jamais esqueci um segundo se quer do ocorrido naquela tarde ensolarada, abafada, com a temperatura beirando aos 38 graus.
Antes porém gostaria de voltar à noite de sábado, depois que a deixei na esquina de casa. Ao deixá-la não pensava em outra coisa a não ser em possuí-la. Sim, amigo leitor! Eu não me importava com seus sentimentos como não importei com os de nenhuma outra. Dir-se-ia estar para fazer-lhe algo incapaz de causar-lhe danos de qualquer espécie, embora, soubesse o mal que estava para lhe causar. Por sinal, concluía sempre que elas superavam o desapontamento do abandono, mesmo depois de tantos sonhos e fantasias. O ser humano supera qualquer dor, principalmente a dor da paixão. As pessoas são o tempo todo usadas uns pelos outros. Essa é a mais cruel realidade. E o que eu fazia com elas não me parecia algo tão terrível assim. Muitas vezes dizia a mim mesmo que estava lhes mostrando o mundo que os pais fizeram-lhes o possível para esconder. Até porque, mais cedo ou mais tarde elas acabariam encontrando um idiota que as fariam se esquecer de tudo ou apenas ficar com uma vaga lembrança de um momento ruim, assim como nos lembramos com indiferença de um fato triste ocorrido num passado distante.
E com uma certeza inabalável, como se dispusesse de meios para evitar que qualquer contratempo levasse-me a uma grande frustração, eu traçara todas as estratégias, procurando enumerar cada passo. A certeza era tanta que, deitado em minha cama no escuro, olhando para o nada, caia em devaneios, visualizando mentalmente cada cena, utilizando para isso lembranças de quando fizera o mesmo com Ana Paula e Clarinha, trocando apenas a imagem delas pela de Ana Carla. E então, imaginava-a naquela mesma cama, suas pernas se abrindo para me receber, como num ritual de sacrifício, como se sua única função daqueles corpos fossem me apaziguar os instintos, satisfazer-me como ao mais egoísta dos homens.
Durante tais devaneios, uma imagem formava-se diante de meus olhos e eu a via com tanta clareza como se concreta fosse: a mancha de sangue. Era como se esta jazesse ali ao redor da glande, que apesar do gozo, mantinha-se inalterável, como se o cérebro se esquecesse de enviar-lhe sinais para relaxar. E então eu não continha o êxtase ao me ver borrado com sangue dela, com a prova de sua virgindade perdida. Sabia que nem sempre acontece o sangramento, contudo, em minhas fantasias isso fazia parte do ritual, principalmente por ter-me dito no dia anterior que estava menstruada. Já na madrugada, para conter a minha excitação e tentar dormir um pouco, corri até o banheiro e, dando vasão àquelas fantasias, friccionei o pênis até que a tenção deu lugar ao relaxamento muscular. Só então, sentindo-me leve, consegui adormecer.

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