quarta-feira, 24 de março de 2010

ADEUS À INOCÊNCIA - CAP. 05

-- Precisamos definir algumas regras -- disse Marcela, com aquele seu jeitinho meio tímido..
O dia devia se aproximar do fim, pois o sol já não estava mais tão quente e este movia-se em direção ao outro lada da ilha. Embora não tenha pensando nesse detalhe, o movimento do sol indicava que estávamos a leste da ilha, o que poderia esclarecer a nossa posição em relação à costa brasileira. Por outro lado conclui que a noite ainda poderia demorar a chegar, mas não deixaria de vir. E até então não tínhamos feitos nada para atravessá-la ao relento e provavelmente na mais completa escuridão.
-- Boa ideia – falei. – Vamos sentar os quatro e decidir o que vamos fazer – continuei, procurando assumir o papel de líder do grupo. Era natural que isso coubesse a mim por ser o único homem ali. – Todo bem?
Estávamos deitados na areia, como se não tivéssemos nada para fazer ou com o que se preocupar. Dir-se-ia estarmos em férias ao invés de perdidos. As meninas tinham inclusive tomado banho de mar.
-- Tudo – concordaram as três.
-- Precisamos acender uma fogueira para a gente se esquentar – sugeriu Ana Paula
-- Não só para nos esquentarmos, mas também para fazer fumaça – acrescentou Marcela, a mais calada. Era uma menina reservada que parecia sentir mais prazer em ouvir do que ser ouvida. Filha de um professor universitário e mestre em literatura inglesa, seu pai pelo que sei frequentava com certa regularidade a casa de meu tio. -- Senão como é que vão saber que estamos aqui?
-- Você tem toda a razão. Ainda não tinha pensado nisso – falei.
Ela dou um sorriso de satisfação e calou-se em seguida.
-- Também acho que precisamos marcar o tempo – propus. – Meu relógio parou de funcionar. Está marcando sete horas. Deve ter parado pouco antes da gente chegar aqui.
-- Acho que isso não é tão importante no momento – disse Luciana num tom um tanto desafiador. – Acho que temos coisas mais importante para fazer. Como construir uma cabana. Vocês não querem passar a noite ao relento, querem?
-- Não – responderam as duas. Eu fiquei em silêncio, pensando em algo mais para propor.
-- Isso lá é verdade.
-- Claro, Sílvio! Mas primeiro acho que temos que acender a fogueira.
-- É isso aí, Luciana! Então vamos por mão à obra – falei me adiantando e ficando de pé. – Temos que arrumar madeira seca para construir uma fogueira bem grande.
-- Mas onde vamos arrumar madeira seca? – Quis saber Ana Paula.
-- Vamos ter que procurar – disse Marcela. – Aí no meio dessa mata deve haver – acrescentou apontando para a densa floresta a cobrir toda a ilha.
De início não foi fácil encontrar quantidade de madeira suficiente para acender uma fogueira. Como não tínhamos como cortá-la, dependíamos dos galhos de árvore caídos no chão. De mais a mais, tanto da minha parte quanto das meninas havia receio em penetrar naquela mata fechada. Não sabíamos o que poderia encontrar e nossa imaginação só tornava a coisa mais assustadora. Todavia, não demorou tanto assim para que a madeira encontrada jazesse empilhada na areia, formando uma pilha quase da nossa altura.
-- Agora eu quero ver. Como vamos acender o fogo? – inquiriu Luciana, em pé diante dos pedaços de madeira empilhados.
-- Podemos fazer como fazia o homem pré-histórico. Esfregando um pedaço de madeira no outro até pegar fogo – explicou Marcela, sentando-se de frente para o mar. – Vai demorar um pouco, mas não temos outro jeito.
-- Vamos tentar – falei.
Peguei dois galhos finos e os quebrei até formarem duas varetas. Em seguida passei a esfregar um no outro, contudo não deu certo. Então Marcela me explicou que precisava de algo maior, capaz de suportar uma mais pressão sem se quebrar. Assim, procurei fazer como ela me explicara.
Não foi fácil. Cheguei a ficar com bolhas nas mãos. Mas o trabalho foi recompensado. Primeiro, o graveto e o pedaço de madeira ficaram quente, depois começou a surgir uma pequena fumaça.
-- Encosta o maço de capim aqui, Luciana – pedi. Luciana estava com um punhado de capim seco. Eu sabia que o capim pegaria fogo com mais facilidade, então sugeri que alguém o colocasse sobre a madeira quando esta começasse a soltar fumaça.
-- Isso. Assim...
Foi só eu movimentar mais algumas vezes o graveto que o fogo pegou. Naquele instante fui tomado por uma sensação de prazer indescritível. Dir-se-ia ter realizado uma magia.
-- Corre! Põe embaixo das folhas – exclamou Ana Paula, dando saltinhos de alegria.
-- Calma! Já vou pôr.
E assim o fogo pegou nas folhas e depois na madeira. Em pouco tempo a fogueira já soltava grandes labaredas e a fumaça subia aos céus. Via-se nos olhos e nos modos daquelas três jovens o quanto estavam contentes. Era como se dependêssemos tão somente da fogueira para retornar para casa.
-- Bem, agora vamos ter que manter essa fogueira sempre acessa – falei, de pé olhando para o fogo, cujo calor chegava até nós. – Para isso vamos ter que arrumar mais lenha. Essa aqui não vai durar muito tempo.
-- O problema vai ser arrumar lenha – disse Luciana. – precisaríamos de alguma coisa para cortar galhos mais grossos.
-- Só que não temos nada. Nem mesmo uma faca – disse Ana Paula em tom meio provocativo.
-- Eu sei que não temos – volveu a outra. -- Só disse que sem algo para cortar vai ficar difícil. Ainda temos que fazer uma cabana e nem mesmo sabemos como vamos cortar um galho de árvore.
Mais uma vez percebi que a convivência entre Lucina e Ana Paula não seria muito fácil. Havia um clima de hostilidade permanente entre elas, embora até a chegada à ilha havia respeito mutuo. Se por algum motivo precisássemos permanecer naquela ilha por muito tempo, o relacionamento entre as duas não ia acabar bem. Algo me dizia que mais adiante teria que tomar uma atitude extrema para evitar que se matassem mutualmente.
-- É mesmo – concordei. Eu não me sentia incomodado, mas Luciana parecia estar sempre um passo a minha frente. Era ela a levantar as questões mais importantes e, vez ou outra, quem escolhia a melhor solução, embora no quesito inteligência não parecesse estar a altura de Marcela.
-- E o que vamos fazer? – perguntou Ana Paula.
-- Sei lá! Temos que pensar em alguma coisa – falei.
-- E você Marcela, não diz nada? – perguntou Ana Paula. Não havia dúvida de que ela era a mais comunicativa do grupo; talvez por ser a mais jovem e ainda carregar mais traços infantis apesar dos seus doze anos. – Só fica aí muda. Parece que tem medo de dizer alguma coisa.
-- Eu estava pensando – disse Marcela. – Acho que deveríamos procurar alguma coisa que pudesse servir de instrumento de corte. Lembram dos homens das cavernas? Eles não faziam instrumentos de pedra?
-- Bem pensado – falei, pondo a mão no queixo. – Você tem toda a razão. Pelo jeito você era uma boa aluna de história – completei soltando uma risada.
-- É, eu era sim – respondeu ela, com as faces avermelhadas.
-- Mas onde vamos procurar? – quis saber Ana Paula.
-- Onde houver água corrente. Lá é mais fácil de encontrar – respondeu Marcela. – Mas podemos procurar em outros lugares também.
-- Então, vamos fazer o seguinte: a gente dá uma olhada lá onde bebemos água. Talvez a gente ache alguma coisa. Depois a gente tenta construir uma cabana – falei. – Mas alguém tem que ficar de olho na fogueira. Não podemos deixar ela se apagar
-- Mas quem vai ficar? – perguntou Luciana.
-- Eu não vou ficar sozinha – disse Ana Paula.
-- Você fica, Luciana – falei.
-- Mas porque logo eu?
-- Alguém tem que ficar, não tem? Como sou o único homem aqui, eu tomo as decisões. Assim está resolvido e pronto.
Luciana mostrou todo o seu descontentamento fechando a cara. E por um momento pensei que ela fosse bater o pé e se negar a ficar, entretanto não disse palavra. Não havia muito o que fazer.
-- Eu fico com ela – disse Ana Paula. -- Vão vocês dois procurar. Não estou mesmo com vontade de ficar andando por aí. Minhas pernas ainda estão doendo.
-- Tudo bem. Já que vocês duas estão aí. Vê se não vão deixar a fogueira apagar, hem!
E assim fomos eu e a Marcela procurar agulha no palheiro. Eu sabia que não seria fácil encontrar algo que pudesse servir como instrumento de corte, mas não nos restava outra alternativa. Desde o momento em que fomos parar naquela ilha, sabíamos que as coisas seriam muito difíceis. A cada obstáculo, teríamos que usar nossa criatividade para suprir a falta de experiência e vencê-lo.
Estávamos vivendo uma nova realidade, algo jamais imaginado por qualquer um de nós. E agora teríamos que provar para nós mesmos que seríamos capazes de sobreviver sem as mínimas condições de sobrevivência naquela ilha até sermos resgatados. Mesmo que levasse um dia, uma semana ou um mês, era preciso sobreviver a qualquer custo. E esse era o maior desafio.

domingo, 21 de março de 2010

ADEUS À INOCÊNCIA - CAP. 04

 -- Será que isto é mesmo uma ilha deserta? – perguntou Ana Paula, caminhando à frente do grupo e de vez em quando chutando a areia. Estava pensativa, possivelmente devido a falta de notícias do pai.
-- Não sei. Só se for uma ilha muito pequena. Pois as ilhas maiores ou são habitadas ou existem algum posto de controle – adiantei-me, relembrando de uma aula de geografia no final do ano anterior em que o professor falara acerca da inexistência de locais na Terra onde o homem ainda não tenha tido contato.
-- Pode ser uma ilha desconhecida – tornou ela.
-- Ana Paula, não existem mais ilhas desconhecidas hoje em dia – explicou Marcela.
-- Ótimo! Então alguém vai nos encontrar bem rápido.
-- Espero que sim. Não estou disposto a ficar nesse lugar por muito tempo – falei.
Andamos cerca de meia hora. Então percebemos que estávamos andando em círculo. Aliás, quem notou isso foi Luciana ao avistar metros a frente o ponto onde chegamos àquele lugar. Não se tratava evidentemente de uma ilha grande, a qual pudesse ser habitada. Era uma ilha irregular, com pequenas entradas, o que podia nos levar a crer que era maior do que realmente seria. De uma coisa porém eu tive certeza: não havia sinais de que alguém vivesse ou passara recentemente por ali.
Quando Luciana sentiu-se muito cansada, resolvemos parar. Sentamos os quatro na areia, de frente para o mar. Por algum tempo, ficamos em silêncio, pensativos, como se algo nos incomodasse profundamente. Eu do meu lado pensava numa forma de escapar dali e voltar para casa, agora quanto as meninas não sei o que lhes passava pela cabeça.
-- Temos que arranjar um lugar para ficar. Pelo jeito vamos passar a noite neste lugar – Disse Ana Paula minutos mais tarde. Jazia deitada na areia, como se estivesse em casa, na praia tomando banho de sol, embora no fundo só sucumbira ao cansaço.
-- Também acho. Espero que a gente não fique aqui para sempre – disse Marcela.
-- Nem eu – falei. – Ninguém quer ficar aqui para sempre. Temos que ter esperança. Alguém vai nos procurar e certamente chegará a esta ilha. Não é possível que ela esteja assim tão longe do Brasil.
-- Mas eles podem levar dias para nos achar.
-- Eu sei, Marcela. Mas em algum momento alguém vai vir aqui. Aí a gente sai daqui. Por isso a gente tem que fazer o que a Ana Paula disse: arrumar um lugar para passar a noite.
-- Mas como? – perguntou Luciana. – Fazendo uma cabana?
-- Podemos tentar – falei. – Mas primeiro temos que entrar no mato e procurar alguma coisa para comer. Não é possível que não tem algo para comer nesta ilha além de coco.
– Só se no meio dessa floresta – volveu Marcela.
-- Ou perto daquele lugar onde tinha água – lembrou Luciana. -- É nesses lugares assim que a gente pode encontrar elas mais fácil.
De fato havíamos passado do outro lado por um pequeno feixe de água, o qual desembocava no mar. Talvez devido às atenções estarem voltadas para a descoberta se aquilo era ou não uma ilha, deixamos escapar esse detalhe.
Voltamos até encontrar uma espécie de trilha, a qual também nos passara despercebido..
Antes que a mata se tornasse densa, havia uma faixa de terra onde cresciam samambaias e outros arbustos cuja altura quase nos cobriam. Foi nessa faixa de terra que encontramos as primeiras frutas.
De início demos preferência às bananas. Não pareciam haver em abundância, contudo tivemos a sorte de encontrar alguns cachos maduros. Muitas já estavam comidas por pássaros, mas mesmo assim ainda foi possível aproveitar o restante. Não eram tão saborosas quanto aquelas que nossas mães costumavam comprar no mercado ou na feira, pois se tratava duma espécie que eu não conhecia. Aliás, grande maioria das frutas que entramos mais tarde na ilha jamais eu ou as meninas as tínhamos comido.
A exploração naquela faixa de terra acabou nos sendo muito útil. Não só pelas frutas que conseguimos encontrar, mas também como forma de perdermos um pouco o medo de penetrar na floresta, embora aquilo não fosse exatamente a floresta, a qual ainda permanecia intocada. Não sabíamos quanto tempo permaneceríamos naquele lugar, mas certamente chegaria o momento de explorá-la. De certa forma, aquilo era um ensaio dos desafios que teríamos que enfrentar, embora mal sabia eu que os maires desafios não estavam na floresta ou em qual outro lugar daquela ilha mas dentro de nós mesmos.
Ao voltarmos à faixa de areia, havíamos adquirido alguns arranhões. Era inevitável que isso viesse a acontecer. Por mais que tentamos andar com cuidado e afastar os arbustos com um pedaço de madeira, uns e outros acabavam se voltando contra nossos corpos desprotegidos e provocando pequenos cortes, uns menos outros mais profundos, os quais provocavam um pequeno sangramento mas sem gravidade.
E quem mais sofreu nessa empreitada foi justamente a menor do grupo: Ana Paula. Tanto que em alguns pontos das pernas via-se não só os vergalhões, como uma pequena faixa avermelhada de sangue quase a escorrer-lhe.
-- Estou toda machucada – chegou a comentar ela.
-- Com o tempo, você se acostuma – disse Luciana, em tom de brincadeira e até de uma forma provocativa.
-- Ah, vá á merda! – volveu ela com irritação.
-- Calma meninas! Sem agressão – pedi.
-- Eu estou toda cortada e ela fica tirando sarro! – disse ela gesticulando as mãos, como se quisesse partir para cima da outra.
-- Será que não se pode falar nada, que você fica toda irritadinha? – esbravejou Luciana.
Levantei e fui em sua direção às duas.
– Opa, opa, opa... -- Decidi por um ponto final naquilo antes que a coisa ficasse pior. Em seguida acrescentei: -- Ela não quis te magoar, prima. Além disso, vamos mudar de assunto. Mal chegamos aqui e vocês já começaram a discutir. – Aumentei o tom da voz com o intuito de impor autoridade. – Não quero saber mais de discussão aqui. Temos que nos manter unidos e em harmonia para que podemos sobreviver até que alguém resgate a gente.
-- Mas foi ela quem... – interrompeu Ana Paula.
-- Já disse que chega. Ou nos respeitamos, ou vamos acabar nos transformando em inimigos uns dos outros. Já pensaram na possibilidade de firmarmos um bom tempo presos aqui? E se ficarmos, como vamos fazer se vocês já estão brigando?
-- Desculpe – falou Luciana, dirigindo-se a Ana Paula.
-- Tudo bem. Deixa pra lá – disse a outra.
E assim ninguém mais tocou no assunto. Todavia, percebi um tom nada amistoso e muita frieza entre ambas.

terça-feira, 16 de março de 2010

A MENINA DO ÔNIBUS - Capítulo 4 - parte 1

Passei a contar os dias para o grande momento. Aliás, quanto ao dia este já estava decidido: seria num domingo. Domingo? Por que um domingo?, talvez o leitor esteja se perguntando. Não que o domingo seja uma data tão especial assim, mas é inegável tratar-se de um dia simbólico, afinal de contas deixamos para o domingo aqueles acontecimentos especiais, embora o casamento, a data mais importante na vida de um casal, quase sempre ocorre aos sábados; no mais, tudo acontece aos domingos. Talvez essa explicação, ao invés de esclarecer aquele leitor que gosta de saber o porquê de tudo, possa tê-lo confundido ainda mais e este esteja a se perguntar: se o sábado normalmente é data mais importante na vida do casal, por que não escolher então o sábado, já que esse momento será inesquecível para Ana Carla? De fato, leitor. Boa observação. Mas talvez este mesmo leitor tenha se esquecido de um detalhe importantíssimo: Ana Carla não é minha namorada, nem mesmo minha amante. Quero apenas tirar-lhe a virgindade e pronto, nada mais. Assim por que transformar o sábado numa data simbólica quando entre mim e ela não há nada a justificá-lo? Não seria perversão demais manchar esse dia único para os amantes com algo que representa exatamente o oposto? Não, não. Podem me chamar do que for, menos de perverso. Embora em alguns momentos tenha usado uma dose de perversidade, tal ocorreu num momento de extrema exaltação, mas jamais faria uso dela quando de posse da razão, apesar de que a perversidade seja mais comum no ser humano do que se pode imaginar, pois, muitas vezes, esta está camuflada nos mais inocentes atos.
Além do exposto acima, outro fator a pesar para o domingo era o fato de que nesse dia os adolescentes muitas vezes têm a permissão dos pais para saírem e passarem mais tempo fora. E tempo era o que mais eu precisava. Não tencionava trazê-la para casa, possui-la às pressas e devolvê-la o mais rápido possível, embora após alcançar meus objetivos certamente desejasse me livrar rapidamente daquela jovem como fizera com todas as outras, uma vez que já não tinham mais nada a oferecer. De forma que tudo conspirava a favor do domingo.
Havia um detalhe quanto ao local. Ciente de que não poderia levá-la a um motel, restavam-me poucas possibilidades. E dentre essas possibilidades, a minha casa me parecia o local mais indicado como o leitor há de saber adiante. Por hora, basta apenas saber que se até lá não houvesse impedimento, seria em minha cama, em meu lençol que ficaria a marca de sua pureza roubada. Por falar nisso, esta foi a imagem a dominar-me os pensamentos não só ao repousar a cabeça no travesseiro como também nos momentos de distração no trabalho. Lembro-me inclusive de um fato inusitado ocorrido na quinta-feira à tarde no escritório, o qual gostaria de contar, embora o leitor possa achar inacreditável.
Após uma reunião que durou mais de duas horas e da qual não me sentia disposto a participar, uma vez que a mesma trataria de assuntos financeiros e planejamentos para o próximo ano, jazia abstraído, com o sangue a queimar-me as veias e na qual corria seiva venenosa. Jazia assim porque na maior parte de tempo mantinha os olhos atentos aos volumosos seios da secretária particular do Sr. Roberto, presidente da empresa, seios esses que eu tivera oportunidade de experimentar no último carnaval, quando, ao sairmos exausto do baile às quatro da manha e sob uma chuvinha fina, irritante, a qual não chegou a nos encharcar, amanhecemos num quarto de motel. A lembrança daqueles volumosos seios, daqueles quadris grandes, daquele traseiro e principalmente daqueles lábios chupando-me o falo como se chupasse um delicioso sorvete foi o que me permitiu suportar aquela reunião sem que esta me deixasse de mal humor. Ela por sua vez não demorou a perceber meus olhares e, de forma provocante, sem que mais alguém notasse, deu um jeito de abrir uns três ou quarto centímetros o zíper, o qual descia entre os seios e terminava abaixo do umbigo. Cerca de meia hora antes da reunião findar porém, não prestava mais atenção àqueles seios. No lugar da Srta. Daniela – era assim que a chamávamos –, agora eu via Ana Carla. Imaginava-a com aquele mesmo decote e fazendo as mesmas insinuações, embora de uma forma bem mais explicita. E foi com essa imagem que, ao final da reunião, corri até o banheiro e bati uma rápida punheta. Ao sair do banheiro no entanto dei de cara com a Srta. Daniela, que me aproximou seus lábios do ouvido e sussurrou: “Por que ao invés de esfolar o coitadinho pensando em mim, não me chamou para cuidar dele? Eu ia adorar”. Confesso ter ficado sem saber onde enfiar a cara, pois me senti como um garoto que é surpreendido pela colega de classe com uma das mãos a agitar-se de forma desengonçada no pequeno falo. E profundamente envergonhado voltei ao escritório.
Alias, devido a esse episódio, passei quase o restante do dia sem pensar em Ana Carla. Apesar de não termos combinado um telefonema, não sei por que motivos não me telefonou. Também não lhe perguntei nada no dia seguinte e em seu diário não há nenhuma indicação acerca desse silêncio, uma vez que ela não fez nenhuma anotação na quinta-feira.
Quanto a sexta-feira, eis o que ela escreveu:

Ele disse que qualquer dia desses vai me levar até sua casa, quando os pais dele não estiverem. Eu disse que adoraria ir. Quero conhecer o quarto dele, sentar na cama onde ele dorme, abri o seu guarda-roupa e xeretar em tudo. Espero não encontrar nenhuma foto das ex-namoradas dele. Se eu encontrar eu juro que jogo fora!
Fiquei tão empolgada com a ideia de ir até a casa dele, que acho que ele deve ter notado.
Hoje nos vimos por pouco tempo. Ele me levou para tomar sorvete. Depois ficamos um pouquinho no nosso Anexo secreto e eu vim embora. Não podia demorar porque minha mãe tinha saído e eu precisava chegar antes dela.
Ficamos de nos encontrar amanhã e passar um tempão juntos.


Quando Ana Carla me ligou, eu lhe comentei que um dia desses a levaria até minha casa. Disse isso não para agradá-la somente, mas princialmente para descobrir se havia algum interesse de sua parte em ir até lá, pois se não houvesse, poderia haver alguma dificuldade em convencê-la e eu precisava estar preparado por uma eventualidade. Todavia, não foi necessário. Ela se traiu, demonstrando de forma eufórica, como o leitor já deve saber, o quanto queria ir. Isso facilitava em muito os meus planos. Assim, poderia antecipar o convite. E o que poderia levar ainda algumas semanas, meses talvez, seria executado em alguns dias.
E o convite só não foi feito no sábado porque... Bem, deixemos Ana Carla falar por hora. Em seguida darei eu mesmo as minhas explicações, as quais, acredito eu, serão mais do que suficientes para eliminar qualquer tipo de dúvida.

Sábado, 27 de novembro.
Passamos a tarde juntos hoje. Ele me levou ao cinema. Ah! Como foi gostoso ficar no escurinho com ele! Ficamos bem lá no fundo, onde quase não havia ninguém, onde a gente podia se beijar o quanto quisesse.
Foi o lugar onde me senti mais à vontade. Ele me disse que não ia ter ninguém nos olhando, pois as pessoas estariam prestando atenção ao filme e não em quem estava no cinema. E logo no começo do filme percebi que ele estava com a razão.
Nunca havia ficado do jeito que fiquei hoje. Eu estava usando uma blusinha curta de alças e minissaia. Essa roupa deixou ele doidinho, pois meus peitos pareciam maiores e ficavam aparecendo. Eu percebi desde o momento em que nos encontramos que ele não tirava os olhos deles. Não foi por acaso que ele comentou bem baixinho no ouvido: “seus peitinhos lindos... e estão me fazendo perder a cabeça...”. Dei um sorriso e cochichei no ouvido dele: “Você é muito tarado, sabia?”. Ele respondeu: “É você quem me deixa assim...”.
O filme nem tinha começado direito e a gente já estava se beijando. Nos beijamos sem medo de que algum conhecido pudesse nos ver. Não ligamos nem mesmo para os dois casais que estavam sentados bem na nossa frente.
Teve uma hora, quando paramos de nos beijar um pouco e resolvemos prestar atenção ao filme, ele começou a alisar com as pontas dos dedos minhas coxas. Igual ao que já tinha feito antes. Aquilo foi me deixando excitada, cada vez mais... Ele deve ter percebido isso, pois passou alisar cada vez mais para cima, aquele safado.
De repente os dedos dele já tocavam na minha calcinha branca. E depois ele foi passando, escorregando eles para baixo, em direção a minha xana. Eu fiquei tão excitada, tão fora de si, que não consegui enxergar mais nada. Lembro que fechei os olhos e deixei que ele me acariciasse. Estava sentindo algo que nunca havia sentindo em minha vida, uma coisa tão maravilhosa que nem sei como escrever. Então por que eu ia querer parar? Ele não estava fazendo nada demais, só me acariciando.
Eu não sei direito o que se passou. Eu me lembro que virei a cabeça para trás, e fiquei me contorcendo. Meus olhos estavam fechados. Ainda bem que estávamos na última fileira.
De repente, eu senti o dedo dele entrar pela perna e ir por baixo da calcinha. Tive a sensação de que ele ia enfiar o dedo em mim. Aí eu despertei, como de um sonho, e mandei ele tirar a mão. E falei meio brava para ele não fazer mais aquilo.
Não sei se ele ia mesmo enfiar o dedo, mas agora acho que só queria me acariciar. Só que naquele instante, talvez por causa da surpresa, senti medo. Justo no momento em que estava mais gostando! Parecia que eu estava flutuando, andando no meio das nuvens. Se ele não tivesse me assustado, eu não sei o que teria acontecido. Talvez aquilo que a Marcela disse que acontece com ela quando ele começa se acariciar sozinha durante o banho.
Mas ele não tem jeito mesmo! Ficou quieto por algum tempo, mas depois começou a me acariciar de novo. Falei novamente para ele não por mais a mão lá que eu não queria. Então ele perguntou se podia tocar meus peitos. Fiquei meio sem jeito, mas acabei dizendo: “Só um pouquinho”.
Ele até que me obedeceu. Acariciou discretamente eles e depois parou. Mas não por muito tempo. Quase no final do filme, ele começou novamente a acariciar eles. Começou como não queria nada, e quando me dei conta, ele havia virado de lado, para me encobrir do casal que estava a umas cinco cadeiras do nosso lado, e com a maior cara de pau abaixou a alça da minha blusa e descobriu meu peito. Quase dei um tapa nele. Puxei a alça de volta e me arrumei. Falei para ele que se fizesse aquilo novamente, eu não olharia mais para a cara dele.
Ainda bem que o filme acabou logo depois.
Agora deitada aqui na minha cama, fico relembrando essas cenas. Será o que ele pretendia fazer? Ia só ficar acariciando ou ia tentar dar um beijo nele? Será que ele ia se arriscar a esse ponto? E se eu não tivesse empurrado a mão dele quando ele enfiou o dedo por dentro da minha calcinha? O que ele ia fazer com o dedo? Será que ele só ia ficar esfregando ele na minha xana? Ou ia tentar me enfiar ele?
 Mas eu sou uma idiota! É claro que ele só queria me acariciar! Vai ver que ele percebeu que eu estava sentindo prazer e queria me fazer sentir mais. O que será que ia acontecer se ele tivesse me acariciado com aquele dedo? Merda! Por que fui puxar a mão dele? Agora fiquei com vontade de saber .

sexta-feira, 12 de março de 2010

TEU SORRISO

O sorriso é sem sombra de dúvida a expressão mais bela que o ser humano é capaz de produzir. E captar o momento de um sorriso com todas as nuances e registrá-lo na memória é de um prazer inefável. O tempo pode passar, mas não dá para esquecer aquele momento. Aliás, são momentos assim que muitas vezes nos fazem lembrar de alguém. E um dia, ao olhar para um belo rosto, flagrei um sorriso, o qual ficou impresso na minha lembrança feito uma fotografia. Os versos abaixo falam desse sorriso.



Teu sorriso é como uma janela
Que dá para um imenso jardim
Onde flores brancas e amarelas
Exalam o doce perfume do jasmim;

Teu sorriso é como uma natureza
Virgem e totalmente inexplorada
Cheia de mistérios e de beleza
E ao mesmo tempo tão encantada;

Teu largo sorriso quando se abre
Deixa transparecer na sua totalidade
Toda a delicadeza que a ti cabe
Nessa alma de beleza e bondade.

Teu sorriso é como tudo de mais
Belo que há nesse mundão;
Teu sorriso é mais que demais,
É cheio de alegria, amor e paixão...

sexta-feira, 5 de março de 2010

ADEUS À INOCÊNCIA - CAP. 03

 -- É uma ilha! – disse Luciana, sorrindo, gritando e pulando de alegria na água, como se houvesse feito a maior das descobertas. A impressão que se tinha do nosso estado de euforia era de termos finalmente retornado para casa. – Estamos salvos! – acrescentou. Luciana era a mais velha e a mais alta de nós quatro. Era uma jovem de pele clara, cabelos castanhos e olhos negros. Na última vez em que a vira seus cabelos eram longos, no entanto, naquele dia, seu cabelo estava cortado bem curto, dando a impressão de uma certa rebeldia. Era uma menina de personalidade forte e muitas vezes levava as discussões até as últimas consequências, dando mostra de ser uma menina inteligente. E embora não a conhecesse bem, parecia usar isso para se sobressair.
As ondas nos ajudaram a chegar à praia. Quando atingimos a profundidade para podermos ficar de pé, fomos caminhando lentamente, quase sem forças. Na verdade, a maré era quem nos empurrava em direção à terra firme, como se o mar quisesse se livrar da gente.
Ao chegarmos à areia, simplesmente nos jogamos no chão e ali ficamos por algum tempo – uma meia hora talvez –, sem se preocupar nem com a água que vez ou outra nos atingia os pés e nem com os raios solares a nos queimar as costas já bastante queimadas pelo sol da manhã.
Em dado momento, ergui a cabeça, olhei para as meninas e depois para o céu. O dia estava quente, sem uma única nuvem ao alcance da vista. E o que mais me chamou a atenção ao fitá-las novamente foi justamente o tom avermelhado da pele. Imediatamente pensei: “Vão estar todas ardidas mais tarde!” Se o sol ardia minha pele, que aparentemente era menos sensível que a delas, imagine naqueles corpos femininos, cujos pequeninos biquínis deixavam-nas totalmente desprotegida? Assim, achei por bem levantarmos e procurar uma sombra para descansar. Então levantei e titubeante dei os primeiros passos em direção aos arbustos.
-- Vem, meninas! Saem desse sol que ele vai torrar vocês.
-- Mas eu não aguento andar – reclamou Ana Paula. – Minhas pernas estão duras.
-- Eu também estou toda dolorida. Parece que estou toda quebrada – disse Marcela.
-- Espere um pouco que vou te ajudar – falei.
Peguei-a pelos braços e a ajudei a se levantar. Em seguida, ela me enlaçou o pescoço com um dos braços, eu a agarrei pela cintura e seguimos Luciana e Ana Paula que se arrastavam a nossa frente. Aliás, abraçá-la me deu um enorme prazer, algo incapaz de explicar, pois era a primeira vez que a tinha tão perto. Quantas e quantas vezes não sonhei como esse instante nas últimas semanas. Pena que vivíamos um momento difícil naquele começo de tarde.
-- Estou morrendo de sede – disse ela.
-- Vamos descansar um pouco. Depois a gente sai a procura de água e de alguma coisa para comer. Não é possível que por aqui não tenha nada para se comer – falei. – Além disso, precisamos verificar se isso é uma ilha, se é habitada, ou se estamos no Brasil, ou se chegamos em algum outro país – acrescentei.
Não havia um local onde poderíamos nos esconder do sol próximo dali. Havia sim uma mata há alguns metros, mas para chegarmos até lá era preciso atravessar uma faixa de arbustos. E o medo de que houvesse cobras ou algum bicho? Quem se arriscaria? “Se eu não tenho coragem, as meninas menos ainda”, foi a conclusão a que cheguei. Dessa forma, ficamos os quatro ali, deitados sob uma palmeira, embora sombra mesmo quase não havia. Pois suas folhas não impediam os raios de solares de chegarem até nós, embora pelo menos davam a sensação de menos calor.
-- Vamos procurar água? Estou que não aguento mais de sede – sugeriu Ana Paula.
-- Então vamos – falei. – Mas todos juntos. É bom que a gente aproveita e dá uma explorada para ver se isso é ou não uma ilha.
-- Boa idéia, Silvio! – disse Marcela, que estava arrumando a alça arrebentada do biquíni.
Não precisamos ir longe para encontrar água potável. Há poucos metros dali, havia uma fonte a qual desembocava no mar. Era uma água límpida e transparente, dessas que só a encontramos em lugares desabitados, onde a ação do homem não emporcalhou o meio ambiente.
-- Será que esta ilha é habitada? – quis saber Luciana sentada sobre uma pedra com os pés na água, a qual escorrendo por uma fenda, caía, formando uma pequenina queda d'água, num lago de aproximadamente um metro de diâmetro. Aliás, nem bem se podia chamar aquilo de lago, pois além de pequeno não tinha profundidade – na parte mais funda a água não alcançava os joelhos.
-- Sei lá! Nem sabemos se é uma ilha – falei.
-- Mas só pode ser – falou Ana Paula. -- Onde poderíamos ter ido parar?
Houve um instante de silêncio, como se todos parassem para refletir.
-- Em algum ponto do litoral brasileiro – respondi. Por alguns instantes cheguei a conclusão de que poderíamos ter sido arrastados para o norte ou para o sul e depois de volta ao litoral.
-- Não sei não. Acho que a gente pode ter chegado a uma ilha perdida bem no meio do oceano – sugeriu Luciana. – Vocês não acham?
-- Nós só vamos saber quando fizermos uma exploração – falei.
-- Isso é verdade! – concordou Marcela.
-- Ta bom. Mas por que a gente não procura alguma coisa para comer antes?
-- Você tem toda a razão, Ana Paula. – disse Luciana, levantando-se e ajeitando o biquíni. -- Vamos comer alguma coisa.
-- Eu não vou entrar aí no nesse matagal todo para procurar comida. E se tiver alguma cobra ou algum bicho? – Protestou Ana Paula. Apesar de ser a menor do grupo, foi a primeira a expor os perigos daquela empreitada.
-- Mas nós temos que comer algo – disse Marcela que também acabara de e levantar. – Minha barriga está doendo de fome.
-- Calma, gente! – falei. – Vamos fazer o seguinte: viram que há pé de cocos bem próximo da areia. Então vamos pegar alguns, dar um jeito de partir eles e quebrar o galho com a polpa. Enquanto isso a gente pensa numa forma de procurar comida. Assim ta bom?
-- Por mim tudo bem – concordou Luciana.
Foi até divertido ver aquelas meninas procurando cocos pelo chão. Enquanto isso, sai a caça de uma vara que fosse comprida o suficiente para alcançar os cachos de cocos, pois até então no meu entender a única possibilidade de apanhá-los era cutucando-os com uma vara.
Procurei por algum tempo, mas nada encontrei. Quando encontrava algum pedaço de madeira, este estava tão podre que, ao pegá-lo, esfarelava-se em minhas mãos. A solução seria entrar na mata e quebrar o galho de alguma árvore. Isso porém não estava disposto a fazer enquanto não explorasse melhor aquele local para ter certeza de onde estávamos e se não havia perigo em entrar na mata, a qual me causava medo desde o primeiro momento em que a vi ao chegar à praia.
As meninas também não foram tão felizes. A maioria dos cocos que cataram estava estragado. A solução foi tentar subir na palmeira para apanhá-los.
Eu não tinha experiência quase nenhuma em subir em árvores. Todavia, não me restava escolha: ou subia ou ficaríamos com fome. Dessa forma, tive que me arriscar.
Custei subir. E mesmo assim, quando atingi a altura suficiente para alcançar a fruta com as mãos, o medo de despencar me impedia de soltar uma das mãos. Por algum tempo fiquei lá em cima sem se mexer, paralisado de pavor, com o coração a me soltar pela boca, pensando no que fazer. Aliás, ainda hoje sinto vertigens em lugares altos. As meninas ficavam lá embaixo tirando sarro e me chamando de medroso, principalmente Luciana, a qual ficava o tempo todo gritando:
– E aí, bichinha? Tá com medinho, tá?
O que eu poderia fazer? Realmente estava morrendo de medo? Gritava para elas que se soltasse a mão podia cair. Elas por sua vez diziam-me para abraçar fortemente o tronco da árvore e apanhar a fruta com a outra.
Depois de quase desistir, criei coragem e abracei fortemente a palmeira e balancei o galho que sustentava o cacho de cocos com a outra. Aos poucos, as frutas foram caindo, uma por uma até não restar mais nada no cacho. Então resolvi descer dali o mais rápido possível, pois o medo era tanto que só não mijei na sunga por vergonha, pelo temor de ser motivos de chacotas para o resto da vida e consequentemente jogar por terra qualquer chance de conquistar Marcela. A descida me causou mais medo que a subida, pois o mantinha os olhos no chão. E ao atingir o solo senti-me aliviado. Minhas pernas tremiam mais que tudo e eu tinha dificuldades em manter-me de pé. Tanto que comentei:
-- Não me peçam nunca mais para subir e pegar cocos que eu não vou.
-- Que nada! Você se acostuma – disse Luciana, dando risada.
Talvez ela tenha dito aquilo sem querer, mas em suas palavras havia um quê de verdade. E se por algum motivo tivéssemos que permanecer um longo período naquele lugar? Ninguém havia pensando nisso até então, mas não tardaria para que alguém cogitasse essa possibilidade.
Ah, como foi difícil abrir aquelas frutas! Precisamos tentar uma dezena de vezes, até que Marcela teve a ideia de pegarmos uma pedra bem grande e jogá-la sobre os cocos verdes para esmagá-los. Deu certo, no entanto não podemos aproveitar o líquido. Depois de matar a fome, chegou o momento de fazer o reconhecimento do lugar. Era preciso saber onde estávamos para então pensar numa forma de escapar dali. Caso não fosse uma ilha, a coisa seria mais simples pois caminharíamos até chegar em algum lugar habitado; mas e se tratasse duma ilha? Como iríamos sair? Como alguém nos encontraria? Eram perguntas que precisavam de respostas o mais rápido possível.
O dia estava lindo, com poucas nuvens no céu. Sinal de que não choveria tão cedo. Assim propus caminharmos pela areia e afim de descobrir a extensão do lugar. Era o mínimo que poderíamos fazer naquele momento.

quarta-feira, 3 de março de 2010

A MAGIA DO AMOR

 


















Tudo fica diferente
Quando se está amando.
O tempo passa lentamente
Como se tudo fosse parar
E os  olhos brilhando
Vêem tudo diferente
Como se jazesse uma cortina
Às vistas a embaraçar.

Mas se na visão tudo muda
A mudança mais profunda
Ocorre dentro do peito
Onde num bater descompassado
O coração revela o feito
De se estar apaixonado.

O amor é mágico
Como o mundo da fantasia
E tudo que há de lógico
Deixa de ter explicação,
Pois no mundo do amor
A razão é uma palavra vazia
Onde as sensações
Fazem até da noite dia.

terça-feira, 2 de março de 2010

A MENINA DO ÔNIBUS - Capítulo 3 - parte 3

 Se você, leitor, acabou de ler as anotações que Ana Carla fez em seu diário na quarta-feira à noite, já está ciente dos fatos, uma vez que ela não se absteve de resumir os pontos mais importantes. Desta feita talvez não fosse o caso de repetir aqui o que o leitor já sabe. Todavia, este encontro foi de extrema importância para que decididamente eu tomasse a resolução de levá-la para cama, o que por si só já seria motivo para narrar todos os pormenores já que ela não o fez. Mas ainda haviam outros tantos para fazê-lo: as impressões causadas por esses fatos, impressões essas que obviamente ela não poderia ter escrito em seu diário. De forma que, mesmo me tornando um tanto repetitivo, vou narrá-los. Agora se você é um leitor apressado, do tipo que prefere uma narrativa curta, sem muito blá-blá, aconselho pular esse capítulo e ir diretamente ao próximo. Ou melhor: leia apenas os trechos do diário, pois além de mais curto é mais objetivo. Mas se você é daqueles que acredita que um pequeno detalhe pode fazer muita diferença este capítulo lhe será bastante agradável.
Bem, deixemos os esclarecimentos de lado e vamos aos fatos.
Encontrei-a à tarde, assim que saí do trabalho. Marcamos nosso encontro no Anexo Secreto, como já havíamos feito outras vezes, pois eu acreditava que dessa forma ela se sentiria mais à vontade. Um lugar diferente e estranho poder-lhe-ia causar algum tipo de inibição.
Ao vê-la, a primeira impressão foi de estar extremamente atraente. Confesso ter ficado por demais afetado com sua beleza, beleza esta que parecia cada vez mais intensa, feito uma obra de arte que quanto mais se admira, mais nos fascina. Não sei se devido à roupa ou apenas tratava-se duma impressão, a verdade porém era que ela parecia mais jovem que realmente era. Talvez, se alguém indagasse sua idade, não lhe desse mais do que treze anos.
Como eu poderia me esquecer da roupa que usava? Não era nada além do que as jovens de sua idade gostam de vestir. Lembro-me que ela usava um shortinho curto, desses bem apertados e ajustados ao corpo, e vestia uma blusinha dessas decotadas e com alças, que deixam os seios mais salientes e volumosos. Talvez devido ao tipo de blusa, ela simplesmente não usava sutiã.
Ah, como ela estava deliciosa! Recordo perfeitamente que, ao vê-la assim, com aquele sorriso quase infantil, com aquele corpo viçoso irradiando jovialidade, senti um deleite o qual não sei como explicar. Procuro, mas não encontro palavras para descrevê-lo. Posso afirmar entretanto tratar-se de uma sensação incrível, um júbilo na alma, algo que me recordo de ter experimentado uma única vez, quando conheci Luciana. E agora essa sensação de novo. Eu me sentia como o homem mais sortudo do mundo. E ao tomá-la nos braços e beijar-lhe os lábios avermelhados, e ao sentir seu corpo colado ao meu, o coração sofreu um sobressalto. Todavia, contive aquele sentimento. “Não, não é isso que procuro! Só quero seu corpo, sua pureza, nada mais”, lembro-me de exclamar.
Depois de conversarmos por algum tempo, depois de nos beijarmos bastante, senti uma vontade persistente e quase insana de ir além, pois em minhas veias corriam o doce veneno da volúpia. Mas eu não queria ser-lhe indelicado e nem demonstrar que estava interessado somente em seu corpo. Por isso perguntei-lhe:
-- Posso te pedir uma coisa?
Ela me fitou com um olhar surpreso e ao mesmo tempo despreocupado, como se soubesse que meu pedido não lhe seria nada impossível, nada que não pudesse concordar.
-- Pode, meu amor – foi o que ela respondeu, num tom meigo e submisso. Era a primeira vez a chamar-me de “meu amor”.
Meu coração disparou naquele instante. Não pelo “meu amor”, o qual não dei importância, mas sim pelo “pode”. Pois esta palavra de quatro letras abria uma brecha, uma infinidade de possibilidades, abrindo espaço para que eu desse um grande passo em direção ao êxito. Ah, se ela soubesse as consequências daquela afirmativa, talvez jamais a teria asseverado; mas ela não fazia ideia, aliás como a maioria de nós, que muitas vezes damos uma resposta sem pensar no perigo que uma simples palavra representa. Contudo, não pensei nisso naquele momento, aliás nem houve tempo; hesitei apenas por um segundo ou dois, como quem para um instante antes de dar um passo, e então lhe fiz o pedido:
-- Você me deixa pegar neles? – apontei para seus seios.
Ana Carla desconsertou-se. A face afogueou-se e seus olhos esbugalharam-se como quem leva um susto. Sei que foi uma reação natural à minha pergunta, uma vez que tal pergunta era por demais indiscreta e mexia com os pilares de sua moral, ainda mais se levando em conta o fato de estarmos num local público, o qual tornava-se um motivo a mais para recusa. Tudo bem que no momento não havia ninguém nas proximidades, mas isso não diminuía a sensação de estarmos sendo observados. Claro que eu tomaria as devidas precauções para evitar que, se alguém se aproximasse, não nos visse.
-- Mas se você não quiser não tem problema – adiantei-me para tirá-la daquela situação embaraçosa. Na verdade, estava usando esse expediente como uma forma de não lhe passar a percepção de estar a dar demasiada importância ao pedido e ao mesmo tempo como forma de deixá-la numa encruzilhada; uma vez que se aquilo não era tão importante não havia porque negar.
Antes de responder, fez-me outra pergunta:
-- O que eles têm de tão interessante assim?
Aí eu percebi que havia conseguido. Ela não me faria esse tipo de pergunta se não estivesse disposta a dizer sim. Isso só não me dava a certeza de que ela havia concordado como também não lhe seria nenhum sacrifício conceder tal coisa.
-- Só por curiosidade – respondi, tentando ocultar o quanto estava louco para fazê-lo. – Só para ver se eles são durinhos mesmo – completei.
-- Ta bom, meu amor. Eu deixo – disse Ana Carla. – Mas só um pouquinho.
Ah! Não sei nem como descrever o estado em que fiquei. Tentei conter a exultação estampada em minha face, mas era em vão. Por sorte, Ana Carla era uma menina ainda incapaz de enxergar-me no rosto sinais de interesses maliciosos. Possivelmente ela não sabia nada ou talvez muito pouco acerca do desejo masculino, de como os homens põem o sexo acima dos demais sentimentos. Uma jovem feito ela não podia, num pedido como aquele, enxergar algo muito além. Era quase certo que ela visse somente aquilo que as palavras estavam dizendo, nada mais.
Então levei as mãos quase trêmulas por cima da blusinha dela e apertei levemente os dois seios. Ah, que deleite! Que sensação de prazer a tomar-me conta do espírito! Por um momento achei que choraria, sofrer uma vertigem ou coisa parecida.
Escorreguei a ponta dos dedos até a parte mais saliente e senti-lhe a rigidez dos mamilos. Ao apertar os dedos, percebi que aquilo causou algum tipo de reação nela. Sua pele arrepiou-se e pude notar um movimento sutil daqueles mamilos.
Em mim também houve uma reação. Foi com se, ao pressionar aqueles mamilos com as pontas dos dedos, a energia liberada pelas sensações de Ana Carla ultrapassassem os limites do corpo dela e me invadissem e me atingissem, provocando-me senão a mesma reação algo ainda mais intenso, algo que me fez vibrar por baixo da roupa.
Se eu não fosse um homem comedido, se não estivesse agindo de forma lúcida e calculada, talvez houvesse feito coisas que poderiam ter posto tudo a perder. Mas eu não era desse tipo de pessoa, aliás como o leitor já está cansado de saber. De forma que parei alguns instantes para respirar.
Eu tive vontade de deslizar uma das mãos para cima e dobrar os dedos através da borda da blusinha para dentro e tocar diretamente na pele lisa daquele seio saliente. Mas eu tive medo de parecer abusado e ousado demais. A ousadia é marcante em muitos homens, no entanto somente os homens superiores sabem usá-la com maestria na medida certa e no devido tempo. Confesso ter ficado um tanto inseguro e com receio de assustá-la. Por isso quis apertá-los só um pouco mais, por sobre a blusa. Ela porém disse com convicção:
-- Chega. Para.
Assim retirei as mãos.
Ah, querido leitor! Como foi difícil removê-las! Eu desejava loucamente que elas continuassem ali, que escorregassem por baixo daquela roupa e os sentissem. Todavia, eu sabia que não podia ser apressado. Ainda não chegara o momento. Não faltava muito, mas eu precisava ser paciente. Muitas vezes as pessoas põem tudo a perder exatamente por não saber o momento certo de parar. Aliás, não era o meu caso; pois eu sabia que dali não poderia passar, que havia atingido um obstáculo perigoso e seguir adiante seria não só sinal de fraqueza como também falta de inteligência. Este seria quebrada evidentemente, mas não naquele momento. Era preciso esperar um pouco mais. E foi o que fiz.
Aquilo para mim já tinha valido por toda semana. Tanto que, ao me despedir, retornei para casa com um sorriso estampado nos lábios ao som de Mistake number Three do grupo inglês Culture Club. Sim. Eu sabia que o momento aproximara-se mais rápido do que pensava. De forma que já era hora de dar o passo seguinte. E isso seria feito no outro dia.

segunda-feira, 1 de março de 2010

ADEUS À INOCÊNCIA - CAP. 02

A tempestade abrandou algum tempo depois, transformando-se numa chuva fininha. Durante esse meio tempo, nossa única preocupação foi tentar nos mantermos vivos. De forma que não sobrou tempo para pensarmos em meu tio, embora sua presença nos teria tornado as coisas bem mais fáceis. Mas quando começou a escurecer, quando a pouca claridade começou a desaparecer, fomos novamente tomados pelo pânico. Só a ideia de ficarmos à deriva, no escuro, na imensidão do oceano, sem noção de onde estávamos e sem esperança de que alguém nos encontrasse, gelavam-me os ossos. Se não bastasse, ainda era preciso encontrar forças para dar esperanças às meninas. Ana Paula jazia inconsolável, chamando pelo pai, ora implorando para que eu fosse procurá-lo, ora dizendo que ele havia morrido.
-- Não fique assim, amiga! – disse Marcela. – Seu pai pode ter se extraviado da gente, só isso. A onda deve ter levado ele para longe. Aí ele deve ter se perdido da gente. Por isso não conseguiu nos encontrar. – disse ela, com um braço na amiga e segurando o pedaço do barco com a outra. – Se nós, que somos mais inexperientes nos salvamos, por que ele, que tem mais experiência com o mar, não se salvaria também?
-- É mesmo, prima! – falei. – O tio só se perdeu da gente. Talvez ele soubesse em que direção nadar e foi em busca de socorro. – No fundo, eu não acreditava nisso, mas tinha de dizer-lhe alguma coisa, dar-lhe esperanças para confortá-la. Sabia que primeiro ele tentaria nos encontrar para depois pensar em buscar ajuda.
Ana Paula não ficou de todo convencida, entretanto acalmou-se por algum tempo.
A noite caiu rapidamente, mais rápido do que costumava chegar em terra. Em pouco tempo tudo ficou escuro. Não se podia enxergar nem um metro à frente, pois, para complicar, a lua não ajudava. Todavia, não tínhamos alternativa. Era só esperar, esperar... até que o dia amanhecesse e então poderíamos pensar em algo, numa forma de sair dali.
Por sorte a água não estava gelada. Também, naquela região, próximo à linha do equador, não havia como estar frio mesmo. Enquanto esperávamos, tomados por um silêncio terrível, tentei imaginar onde poderíamos estar. Claro que um garoto de quatorze anos, com pouquíssima experiência no mar, não seria capaz de calcular muita coisa. Mas eu deduzia que, se saímos do Refice em linha reta, poderíamos estar a num raio 50 milhas da costa. Claro que eu não fazia a menor noção da distância. Apenas chutei esse número ao acaso, da mesma forma que poderia ter chutado 20, 30 ou 40 milhas. A única coisa da qual havia alguma certeza era de que não seríamos encontrados com facilidade. A equipe de busca teria muito trabalho para nos encontrar, pois mesmo que encontrasse os destroços do barco, ainda sim não nos acharia. Por quê? Estava bastante claro para mim que nos afastávamos do ponto onde o barco naufragou. Eu só não sabia se avançávamos mar adentro ou se estávamos sendo arrastados para o litoral. Minhas esperanças estavam justamente nessa segunda possibilidade, pois nesse caso teríamos mais chances de sermos encontrados.
O que nos desesperava ainda mais não era só o fato de estar de noite e não enxergarmos simplesmente nada (aliás, nunca tive tanto medo do escuro quanto ali embora não estivesse sozinho), mas principalmente o cansaço, a fome e a sede. Faziam horas que não comíamos ou bebíamos uma única gota de água. Disso eu tinha certeza. Meu estômago doía consideravelmente. Marcela por sua vez reclamava amiúde que sua boca estava seca e que estava morrendo de fome.
Quando o dia amanheceu, pensei que teríamos mais um dia de sofrimento. E tudo começou a indicar que sim.
Que ironia do destino! Marcela sofreu um desmaio e quase se afogou. Justo ela, o motivo daquele passeio. Foi para agradá-la, para lhe fazer bonito que sugeri ao meu tio sairmos de barco. E ela não se afogou por pouco, pois na imobilidade do silêncio estávamos distraídos com nossos pensamentos, feito aqueles que após horas numa mesma estrada não encontra mais assunto. Na verdade, a fadiga e a sonolência nos deixava fracos e desorientados. De repente, Marcela escorregou e começou a afundar. Por sorte, Ana Paula deu um grito e eu mergulhei atrás dela. Consegui agarrá-la pelo braço antes que desaparecesse completamente embaixo da gente. Levamos um susto danado. E foi o suficiente para que Ana Paula descambasse novamente a chorar por causa do pai. Mas por outro lado foi bom, porque nos despertou antes que algo pior viesse a acontecer.
O milagre veio logo depois.
-- Estou vendo alguma coisa ali na frente – disse Luciana, apontando com o dedo em minha direção.
Todos viramos para olhar. Era algo ainda muito distante e não poderia ser identificado com facilidade. Para dizer a verdade achei que se tratava de uma miragem, pois aquela mancha verde não parecia em nada com um barco ou navio. Após olhar com mais atenção pude perceber que se tratava de uma montanha coberta por uma densa vegetação.
-- Vamos ver o que é. Talvez seja uma ilha – falei.
A possibilidade de encontrarmos algo que nos pudesse salvar nos deu novo ânimo. Por algum tempo esquecemos o cansaço, as dores pelo corpo, a fome e a sede e nadamos com o que ainda nos restava de disposição em direção àquele ponto.
Será que tínhamos encontrado uma ilha? Ou nossos sentidos estavam nos pregando uma peça? Não importava o que fosse, desde que pudesse nos salvar, o resto era tão somente um detalhe. Porém pouco a pouco, a medida que nos aproximávamos, aquilo foi ficando claro, mais nítido. Via-se a vegetação e o som das ondas quebrando na praia. Ondas? Praia? Um som como aquele só pode vir de um litoral, seja ele qual for. “Então não se trata de uma miragem”, foi a conclusão a que cheguei. E de fato não restavam dúvidas: estávamos chegando numa praia. Bem, se era uma ilha ou a costa do litoral brasileiro não fazia a menor diferença, os que nos contava era que estávamos a salvo. Quanto ao resto, quando chegássemos descobriríamos.